quinta-feira, 30 de abril de 2020

Interlúdio - O Globo - 1950

Em 1950 a Rádio Globo do Rio de Janeiro apresentava às segundas, quartas e sextas-feiras o programa romântico Interlúdio. Consistia basicamente em uma carta de alguma ouvinte narrando problemas de relacionamento amoroso. Após a apresentação do episódio, a conselheira sentimental Malu(?) comentava o fato e sugeria a solução para o dilema.

Nesse mesmo ano o programa foi transformado em uma seção em quadrinhos do jornal O Globo  que era publicada às terças e quintas-feiras e aos sábado, ou seja, nos dias anteriores às seções radiofônicas (não havia edição do jornal aos domingos), sempre com um anúncio do programa no rodapé da coluna impressa.

Os desenhos, sempre primorosos, ficaram por conta do haitiano radicado no Brasil, André LeBlanc, que já colaborava com o jornal. 

Em princípio a traço, os desenhos ganharam aguada de nanquim, uma das especialidades de LeBlanc, com o passar do tempo.

Para ler duas boas entrevistas e saber mais sobre o desenhista clique aqui e aqui.

André LeBlanc ilustrou toda a trajetória do famigerado bandido siciliano Salvatore Giuliano, morto em 1950, em capítulos para O Globo.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Agente OK - Zero Hora (RS) - 1969

Agente OK da L.I.M.P.A. contra a quadrilha da S.U.J.A. foi uma série promocional para a Lavanderia OK criada pela Martins & Andrade Propaganda, conhecida agência gaúcha e veiculada em 1969 no jornal Zero Hora de Porto Alegre.

Com desenhos de Nilo Costa e Silva e roteiros do hoje consagrado escritor Luís Fernando Veríssimo, criador do Ed Mort, a tira teve bastante sucesso, com enorme recall, trazendo grandes benefícios à lavanderia. O Agente OK era uma espécie de James Bond da limpeza!


Da série participavam:

  • Agente OK - O exterminador da sujeira, defensor dos fracos e limpos, bom de  briga, formado em artes marciais.
  • Alvinha - A bela e adorável mocinha. Noiva do nosso herói, o Agente OK.
  • Branca - A pombinha inteligente, expert em mímica e espionagem.
  • Dry Cleaning - Comandante chefe das organizações da L.I.M.P.A.. Perseguidor implacável das manchas e de todas as formas de sujeira.
  • Mago y Mundo, o imundo - Mais sujo que pau de galinheiro.
  • Nojento, o sebento - Anti-higiênico indigno, tem verdadeiro pavor de banho.
  • Murrinha, o chefe - Mais fedorento que seu companheiro gambá, que ele carrega sempre no colo. Não pode ouvir a palavra OK!
  • Sujô-Lôpa - Mais conhecido como o Dragão da Maldade, adora fazer o trabalho sujo. Tem a má fama de ser a vergonha do Oriente e do Ocidente.

Dizem que a série foi interrompida porque o dono de uma tinturaria local, de origem asiática, sentiu-se ofendido com a etnia de um dos vilões, promovendo um movimento de protesto junto com outras lavanderias da cidade.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Histórias de Meia-Noite - O Globo - 1950

O ex-repórter e detetive durão William Bonet, ao sair de um restaurante, percebe estar sendo seguido por dois homens. Despistando-os, consegue ler um telegrama enviado pelos dois, dizendo que estão no encalço de Len Ward.

Ao encontrar Len, Bonet constata que eles são sósias idênticos. Len é atingido por um tiro e Bonet será acusado pelo crime. No apartamento de Len, o detetive encontra 200 mil dólares! Para provar sua inocência, Bonet parte para Las Vegas na companhia da bela e misteriosa atriz Ann Weston, que pensa estar acompanhada de Ward...

Este é o enredo de O Caso do Sósia Assassinado, da série Histórias de Meia-Noite, publicada pelo jornal O Globo em 1950.

A série era uma ação promocional para a revista policial Meia-Noite, das Edições O Globo (futura RGE). Quadrinização de um dos contos da edição de setembro daquele ano, tinha roteiro de R. Carlton (?) e desenhos do cartunista francês recém chegado ao Brasil, Guy Lebrun.  Em início de carreira, nos desenhos de Guy, notamos influências de Frank Robbins, Milton Caniff e Alfred Andriola.
Ilustração de Guy Lebrun para O Globo mostrando os presidenciáveis de 1950: Cristiano Machado, Eduardo Gomes, Getúlio Vargas e João Mangabeira.

Nos anos seguintes, Guy viria a se tornar um dos grandes desenhistas de animação do país. 
Anúncios do Bamba 704 desenhados por Guy. Revistas Mandrake 155 e Fantasma 154, editora Rio Gráfica, 1969.

Para saber mais sobre Guy Lebrun, clique aqui.

Agradecimentos aos amigos Floreal  Andrade Silva e Quim Thrussel.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Fuzarca e Torresmo - Diário da Noite - 1953

A dupla de palhaços Fuzarca e Torresmo (Albano Pereira, 1913-1964 e Brasil José Carlos Queirolo, 1918-1996)  já era bem conhecida do público, tendo estreado na TV Tupi em 1950, quando ganhou, em 1953, uma tira diária no Diário da Noite paulistano.
 
Com desenhos do cartunista Ventura, as histórias giravam em torno de vários assuntos, não apenas motivos de circo. A série durou até 1957, sempre na página de TV e variedades do jornal.

Acima, página da revista Fuzarca e Torresmo da editora La Selva, de 1955, com desenhos de João Batista Queiroz e roteiros de Alberto Maduar.

Em 1955 a dupla teve revista própria pela editora La Selva com 27 edições até 1958.

Em 1966 Torresmo ganhou a revista Torresminho pela editora Pan Juvenil com duas edições e já fazendo dupla com o palhaço Pururuca, seu filho Brasil José Carlos.
Acima, página da revista Torresminho, da editora Pan Juvenil, de 1967, com desenhos de Sinforoso e já tendo Pururuca na dupla. Abaixo, cartum de Sinforoso para a revista humorística O Governador (SP), 1950.

Em 1974, Torresmo ganhou uma revista em quadrinhos pela editora Kultus. Com a participação do palhaço Pururuca, seu filho, era colorida e em formatinho. Teve capa de Toni Duarte e desenhos do miolo por Sergio Carpanese (abaixo).



.........................................................................


Álbum Fuzarca e Torresmo, editora Aquarela, 1960.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Shorts - O Globo - 1951

O desenhista Otelo Caçador (Otelo Caçador da Silveira, 1925-2006) começou a colaborar com suas charges esportivas no jornal O Globo em 1949. A autor sempre deu preferência a fazer seus comentários em formato de tiras, assim poderia desenvolver melhor suas ideias e acrescentar várias gags em um único trabalho. Observador atento do mundo futebolístico, fazia diariamente críticas ferinas aos times, jogadores, técnicos e cartolas do mundo do esporte.
 Acima, Otelo em 1949, já n'O Globo.
 
 Acima, Otelo em 1950 n'o Globo.

No princípio as charges não tinham um título fixo, mas em 1951 ganharam o nome de Shorts. Os trabalhos eram repletos de anglicismos, típicos do comentário esportivo da época, e geralmente focados em uma figura de destaque na semana. O título Shorts acabou sendo descartado pouco tempo depois e o autor ganhou também uma página semanal em O Globo Esportivo, sempre mantendo o formato de charge em quadrinhos e  o foco em um jogador específico. Vale ressaltar o seu traço espontâneo e o formato retangular do nariz das figuras coadjuvantes em seu trabalho.

Otelo em 1947 no Jornal dos Sports.

Otelo estreou em 1947 no Jornal dos Sports, com uma charge na qual o Almirante (mascote do Vasco) travava uma ferrenha batalha contra seus temíveis adversários Pato Donald (Botafogo), Cartola (Fluminense), Popeye (Flamengo) e o Diabo (América), personagens criados pelo argentino Lorenzo Molas, que também trabalhava para o mesmo jornal. A série se prolongou por várias edições, sempre acompanhando o desenrolar do campeonato.

Otelo em 1952 n'O Globo Esportivo.

De 1953 a 1986, Otelo manteve a coluna Penalty, publicada às segundas-feiras pelo jornal O Globo, e que rendeu dois volumes de “O Livro Negro do Penalty” em 1964 e 1973, com textos e desenhos do autor. 

Para saber mais sobre Otelo, acesse o site Museu da Pelada, clicando aqui.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Os Insaciáveis - Folha da Tarde - RS - 1968

Criados pela MPM Propaganda de Porto Alegre para promover os produtos da SAMRIG (S. A. Moinhos Rio Grandenses) e publicados três vezes por semana na Folha da Tarde, Os Insaciáveis tinha desenhos de Nilo Costa e Silva e roteiros da equipe de redatores da agência: Hiron Cardoso Goidanich, Paulo Totti, João Carlos Pacheco, Jeferson de Barros e Luís Fernando Veríssimo, que mais tarde se tornaria o ilustre criador de As Cobras e da Família Brasil.

O jornal era o de maior circulação no sul do país nessa época e a tira homenageava ídolos da jovem guarda em seus personagens: Roni Carlos, um roqueiro fanático por margarina e pelo Internacional; Rosiléa, a garota prafrentex que sonha ser miss; Apolônio, boa pinta e filho da Classe A; Simone, a intelectual e frequentadora de bibliotecas e o gato filósofo Sócrates.
No início os produtos da empresa, como o óleo e a margarina Primor, apareciam em destaque nas aventuras, mas com o passar do tempo entravam em segundo plano ou apenas como cenário das tiras, que são consideradas a primeira tentativa gaúcha de usar quadrinhos como ação promocional. Os desenhos apresentavam alguma influência da série Tiger, de Bud Blake, e foram reunidos em livro em 2000 pelo próprio Nilo, com edição de Hiron Goidanich, o Goida.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Formigando - Diário do Povo - 1977

Com o regime militar ainda em pleno vapor, mas com o presidente Ernesto Geisel acenando com a possibilidade de uma abertura política, a série Formigando, de Airon e Marcelo (Verde) usava e abusava do humor negro para criticar os regimes autoritários, na figura da rainha Içá Tânica I e seus súditos, em um formigueiro.
Além da aturar as maldades da rainha tirânica, as formigas ainda sofriam com os ataques de um sapo, cujo único objetivo era devorá-las.

O sapo aparecia também na série P.3014 no jornal Notícias Populares em 1976.

A série foi publicada no diário campinense Diário do Povo, dentro de uma ação do informalmente chamado Clube do Gibi, artistas que se reuniam na antiga Livraria Gibi em São Paulo e que iniciaram uma pequena agência distribuidora de tiras para jornais do interior. Do grupo participavam vários autores como Moretti e Nicoletti, Franco e Seabra, Novaes, Brenda Chilson, Paulo Paiva, Munhoz e Ricardo Dutra.

A agência conseguiu relativo sucesso, emplacando tiras em jornais como Diário do Povo (Campinas), Tribuna de Santos e Dia e Noite (São José do Rio Preto) e Viver Domingo, onde esta série recebeu o nome de Formigas.

Sobre Formigando, Airon declarou: "Eu fiz com o Verde, acho que pro Franco... Era um spin-off do P.3014, um saturniano. Coisa muito antiga!".

.....................................................

Sobre os autores:

AIRON BARRETO DE LACERDA - Cartunista, Ilustrador e Diretor de Animação.
 
Iniciou profissionalmente no estúdio de quadrinhos e animação do Ruy Perotti, criador de Sujismundo e Satanésio. Foi Diretor de Animação e Roteiro nos estúdios Mauricio de Sousa, onde colaborou com diversos curtas e comerciais da Turma da Mônica.

Produziu várias revistas em quadrinhos infantis para Editora Globo. Colaborou com cartuns e ilustrações para editoras: Abril, Globo, Símbolo, Escala, entre outras.
 
Publicou charges e cartuns, no jornal Folha de São Paulo, no semanário O Pasquim 21 e em outros veículos. Recebeu troféu HQMix como melhor cartunista de 2009. Também teve personagens de sua autoria publicados em revistas e jornais, como: Kika, Tati e Treco, Os Babões, entre outros.


VERDE (Marcelo Barreto de Lacerda) - Roteirista, cartunista, chargista e ilustrador.
 
É colaborador de várias editoras e jornais, desenvolvendo roteiros de histórias em quadrinhos, storyboards para desenhos animados e ilustrando livros didáticos e infantis.
 
É autor de vários livros de cartuns, tendo 9 publicações.  É artista premiado em vários Salões de Humor do Brasil e também do Exterior.
 
Seus cartuns podem ser vistos nas seguintes redes sociais:
Facebook: Vivendo com Humor
Instagram: @verde.cartunista
YouTube: Vivendo com Humor

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Os Cientistas - Correio Popular - 1994

Assinada por Jão & Cols, a tira Os Cientistas era publicada no Correio Popular, de Campinas (SP), e comentava com bom humor o universo dos cientistas e da ciência no Brasil. Muitas das ideias, atualmente, podem parecer datadas, principalmente por conta dos progressos científicos, mas os episódios que tratam dos cortes de verbas governamentais são assustadoramente atuais!

Em 1995, quando a série completava um ano de publicação, o jornal editou a matéria a seguir:


"'Os Cientistas' completa um ano no Caderno C
Andrea Malavolta

As tiras Os Cientistas, publicadas diariamente no Caderno C, completam hoje um ano, divulgando as últimas novidades da ciência. Criados em maio de 1993 com o objetivo de desmistificar a produção científica no Brasil, Os Cientistas só começaram a ser publicados no ano passado. Zilda, Zago e o Doutor Ego foram os primeiros personagens criados pelo jornalista é ilustrador João Antônio Rodrigues Garcia, que assina os quadrinhos como Jão & Cols. 'O Cols é uma abreviação de colaboradores', explica Garcia. Segundo o ilustrador, Os Cientistas são feitos 'a muitas mãos', por professores, pesquisadores e profissionais ligados à área de divulgação científica de diversas universidades brasileiras. 'Existe uma preocupação em checar as informações e transmitir dados científicos em primeira mão para o leitor', completa. Os quadrinhos com preocupação jornalística estarão divulgando, nas próximas histórias, a notícia da publicação do primeiro manual de reciclagem de livro, editado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).




Antigos cientistas dos quadrinhos, como Professor Pardal e Lampadinha, não acompanharam, na opinião de Garcia, a evolução da ciência. Queremos passar aidéia de que a ciência é produto de um trabalho conjunto. Não é instantânea, mas fruto de pequenas conquistas”, esclarece. Antíteses dos velhos cientistas, Zilda e Zago são exemplos de que cientistas podem ser pessoas normais. 'A Zilda é a mulher que cumpre dupla jornada', conta o ilustrador. Há, ainda, o Doutor Ego, símbolo da vaidade existente em qualquer profissão, Zildinho, filho de Zilda é o adolescente questionador, Zecão, o representante do senso comum, Lerdo, o burocrata responsável pelo gerenciamento das pesquisas, Vitório, o pesquisador mais jovem, Beato Salu, o cientista temente a Deus, e Gilberto, o esqueleto do laboratório que faz parte do imaginário de Zildinho. O mais recente integrante de Os Cientistas é Interneto, um estagiário provocador que domina as redes de informação e desafia os cientistas mais antigos. 'É ele que leva o computador ao laboratório e assusta os mais conservadores', diz Garcia. Apesar de introduzir a informática nas tiras, o cartunista reluta em usar 'modernismos' enquanto desenha. 'Sou mais pelo método tradicional. Se a intenção for produzir um material criativo, as técnicas têm de ser as tradicionais', argumenta.
 Em 1998 a tira já era publicada em cores.

Há dois meses, o Interneto chegou à Revista Nacional de Telemática, juntamente com Televaldo, a mais recente criação do jornalista de 43 anos que já passou pelas revistas Visão, Veja e pelos jornais A Gazeta Esportiva, Folha de S. Paulo e Jornal da Tarde. Para o autor, as tiras são meios de se provocar reflexões. 'O humor são cócegas na inteligência', conclui".

Jão ainda produz Os Cientistas, agora de maneira digital, para o boletim ComCiencia do Labjor/Unicamp. Para conhecer, clique aqui.

Agradecimentos ao amigo João Antônio Buhrer

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Vovô João - Correio da Manhã - RJ - 1963

Com o pretexto de distrair seus netos, Sílvia e Mário, o sábio Vovô João dá aulas de História Universal, História do Brasil, história natural, lendas brasileiras e vários outros temas, mesmo cometendo alguns deslizes, como colocar homens pré-históricos convivendo com dinossauros. 

Em tiras diárias, as aventuras que se completavam em 12 ou mais capítulos e a série foi publicada no Correio da Manhã do Rio de Janeiro entre outubro de 1963 e julho de 1964, desenhadas por Fernando de Lisboa, num traço já bastante maduro e elaborado.

Em março de 1964, Vovô João começa a narrar a história do livro O Guarani e torna-se praticamente uma quadrinhização da obra de José de Alencar. Infelizmente a aventura, já bastante longa, foi interrompida bruscamente, deixando a narrativa incompleta.

Sobre o autor sabe-se muito pouco, segundo o pesquisador Toni Rodrigues, Fernando de Lisboa é pseudônimo do desenhista Edmundo Rodrigues (1935-2012), que não queria que a editora RGE o identificasse como autor dos trabalhos. O site Guia dos Quadrinhos indica que ele desenhou aventuras de Targo para a editora Taika e do Falcão Negro para a editora Garimar. Sabemos que ele colaborou com a revista Sesinho, onde Edmundo Rodrigues também colaborava, e desenhou algumas tiras da série Colecionando Curiosidades para o Diário Popular de São Paulo em 1964.

Fernando de Lisboa na revista Sesinho em 1955.
 
Fernando de Lisboa na revista Targo nº 1.