sexta-feira, 26 de maio de 2023

Valmir, o camelô - 1977

Valmir, o camelô, é um personagem criado pelo cartunista e publicitário gaúcho Roberto Silva. Apareceu na Folha de S. Paulo em fevereiro de 1977 e fazia humor com a situação vivida pelos vendedores ambulantes, acrescentando forte dose de crítica social. "Um camelô como qualquer outro, aquela figura que teme o 'rapa' e anda com três relógios em cada pulso, correntinha de ouro no pescoço, óculos escuros por todos os bolsos, bagana de cigarro sempre dependurada no lábio grosso de quem vive de falar e falar com convicção".

Roberto colaborou também com o suplemento Folhetim do mesmo jornal.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Os Batutas - 1981

Duda, Pipoca e Penteado são Os Batutas, um grupo de garotos às voltas com problemas cotidianos: escola, família, brincadeiras de rua e... o terrível vilão Barata!

Criados pelo desenhista Eduardo Luís em 1981 e publicados no suplemento Folhinha de São Paulo, Os Batutas tiveram uma longa pausa, voltando em 1992 nas páginas de diversos jornais como A Gazeta do Tatuapé; Gazeta da Zona Leste; Hora do Povo (São Paulo); Jornal da Manhã (Marília); Jornal da Cidade (Bauru); Diário de Osasco e J.J. (Jundiaí).

Os Batutas tiveram também revista própria pela editora C.Q. Orient com dois volumes publicados.


Acima, página da revista Os Batutas nº 01, 1992.

Os Batutas na Folhinha de S. Paulo em janeiro de 1981.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Caubói Pixote - 1981

Caubói Pixote é uma série humorística criada por Rivaldo Macedo e publicada na revista Johnny Pecos da editora D'Arte em 1981. Conta as aventuras de um cowboy nanico no velho oeste. Rivaldo colaborou com uma revista da editora Taika chamada Cow-Boy Pixote em 1966, mas eram aventuras humorísticas de outros personagens como Carcará Jones; Ben Peter e Pena e Pesado, nenhum com o nome de Cow-Boy Pixote. A revista durou quatro números.

Para saber mais sobre o autor clique aqui.

Acima um dos últimos trabalhos conhecidos de Rivaldo. Folheto promocional para os Correios, anos 1990.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

As Aventuras do Juiz Frajola

Com um traço bastante retrô, lembrando as tiras clássicas do início do século XX, o desenhista e caricaturista Ney Penteado criou As Aventuras do Juiz Frajola, um juiz de futebol atrapalhado cujas histórias faziam humor com temas esportivos.

Quem tiver alguma informação sobre o autor e sua obra por favor deixe uma mensagem!

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Katteca - 1973

Katteca, uma mistura de catequizado com carateca segundo Britvs seu autor, conta as peripécias de um índio que vai como repórter à cidade grande tentando entender os antagonismos do mundo urbano e não se eximindo de temas polêmicos.

Katteca estreou em 1973 nas páginas do jornal O Popular de Goiânia (GO) ainda como Cateca, posteriormente Kateca e finalmente Katteca. O personagem contracena com sua mulher Carmita e seu filho Kattequinha.

A tira também foi uma das selecionadas no concurso para descobrir novos talentos da revista Gibi Semanal, aparecendo na edição nº 27 em 1975. 


Acima, o visual definitivo do personagem.

João Luiz Brito Oliveira, o Britvs (1952-2023), nasceu em Pastos Bons (MA) indo aos seis anos para Goiânia, trabalhando como engraxate e jornaleiro e exibia seus desenhos na banca de jornal. Em 1969 conheceu o jornal O Pasquim, sofrendo grande influência do cartunista Henfil (leia mais aqui), logo em seguida conseguiu um emprego no jornal O Popular como paginador e fotógrafo, onde em 1973, Katteka iniciou sua carreira.

Para saber mais sobre Britvs clique aqui.


sexta-feira, 21 de abril de 2023

Tiras Animadas 1900 - 2001

Série promocional criada por Ely Barbosa em 2001 e publicada na revista Millenovecento Passatempo para ser distribuída na rede de pizzarias de mesmo nome.

Tiras Animadas 1900 contava com a participação de um casal de crianças interagindo com seu avô. Todos os temas giravam em torno da pizza do estabelecimento.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Os Tutti-Frutti - 1977

Os Tutti-Frutti já apareciam nos livros ilustrados da Coleção Bauzinho Encantado, da Bloch Editores no início da década de 1970, quando ganharam sua versão em quadrinhos na revista Cacá e sua Turma da editora Abril em 1977.

Mais uma família de personagens de Ely Barbosa, a turminha de vegetais foi sendo aperfeiçoada com o passar do tempo até ganhar sua versão definitiva com João Banana, Chiquita Banana, Tio Melâncio, Melâncinho e muitos outros.

Além de aparecerem nas revistas de linha dos personagens de Ely, teve título próprio pela RGE em 1980, Almanaque Os Tutti-Fruttis, e saíram também no Jornalzinho do Cacá em 1981.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Os Incríveis Amendoins - 1977

Casca Suja, Nhoc Nhoc, Dentuça, Torradinho... os Incríveis Amendoins já estavam na primeira versão da revista A Turma do Cacá em 1977 quando o desenhista Ely Barbosa começou, por meio de seu estúdio, a investir em suas próprias criações em quadrinhos.

Um batalhão do exército prá lá de atrapalhado, os Incríveis Amendoins faziam todo o tipo de piada com a vida na caserna.

Além das revistas de linha de Ely Barbosa, os Amendoins também tiveram título próprio pela Rio Gráfica e Editora (RGE) a partir de 1982 e participaram também do Jornalzinho do Cacá, distribuído pela Metrô News em 1981.

Obviamente, os Incríveis Amendoins foram garotos propaganda da pasta de amendoim Amendocrem!


Acima os Amendoins no Jornalzinho do Cacá (1981).

Acima, Revista do Poupancinha, onde os personagens de Ely Barbosa contracenam com o personagem do banco Bradesco (1984).

sexta-feira, 31 de março de 2023

Cacá e sua Turma - 1977

Ely Rubens Barbosa (15 de março de 1937 - 19 de janeiro de 2007) nasceu em Vera Cruz, São Paulo. Grande admirador do desenhista e ilustrador Messias de Mello chegou a manter um estúdio de animação com o filho deste, Daniel Messias. 

Em 1959 já prestava serviços para a RGE Linx Filmes, uma das principais produtoras de animação daquele período. Em 1961, com o movimento pela aprovação de uma lei que favorecesse o quadrinho nacional, junta-se à ADESP (Associação dos Desenhistas Profissionais do Estado de São Paulo), onde assumiu o cargo de vice-presidente, ao lado de Mauricio de Sousa, Júlio Shimamoto e muitos outros artistas. Em virtude dessa possível abertura do mercado começa a pensar na série de quadrinhos Jarbas e seus amigos, onde podemos ver uma primeira versão do personagem Nenê que, reformulado posteriormente, viria a participar de outra série do autor, a Turma da Fofura. Com o fracasso da tentativa de nacionalização dos quadrinhos no Brasil, Ely parte de vez para o setor de animação, onde permaneceria por muitos anos, trabalhando principalmente para o Grupo Silvio Santos, onde criaria a figura do Zé Apostador, mascote do Carnê do Baú.


Acima, a Turma do Jarbas, criada por Ely Barbosa em 1961 no clima de euforia produzido pela lei de nacionalização dos quadrinhos, onde podemos notar uma primeira versão do personagem Nenê.

Em 1977, Cacá e sua Turma, depois de aparecerem em livros ilustrados e em algumas animações comerciais desenvolvidas por Ely Barbosa, como a abertura do Programa Silvio Santos de 1976 (clique aqui) e até em uma campanha de segurança no trânsito, finalmente ganham revista própria pela editora Abril. 

O cachorro Cacá contracenava com as crianças Lili, Dentinho e Nenê, João Banana e o coelho Escovão. Nessa revista, de cuja produção participavam Gerson Carrer; Joaquim Vila Real; Aparecido (Mimoso) Norberto; Carlos Alberto Moreira; Ricardo Schivel e Waldir Odorissio, já apareciam várias famílias de personagens do autor como Os Tutti-Fruttis, Os Incríveis Amendoins e o coelho Escovão da Turma da Fofura.

A publicação teve 8 edições pela Editora Abril, de fevereiro de 1977 à junho de 1978. Nesse mesmo ano a editora RGE começou a publicar revistas em quadrinhos com os personagens de Hanna-Barbera. Ventilou-se na época que uma editora concorrente, tentando boicotar a iniciativa de editora carioca, comprou todos os bromuros (originais para impressão) disponíveis junto às agência distribuidoras de material para imprensa. Com falta de material disponível a RGE contratou os estúdios de Ely Barbosa para a confecção de histórias inéditas. Foi o embrião da equipe que vira a produzir as aventuras dos Trapalhões em quadrinhos para o Bloch (saiba mais aqui).

Em março de 1981 foi lançado o Jornalzinho do Cacá, com oito páginas coloridas produzido pela Ely Barbosa Edições Comerciais e distribuído gratuitamente pela Metrô News nas estações do Metrô de São Paulo.

A revista Cacá e sua Turma teve mais 25 edições pela Rio Gráfica Editora (RGE, atual Editora Globo) de fevereiro de 1980 a agosto de 1982 quando foi definitivamente cancelada.

A Turma do Cacá na Coleção Bauzinho Encantado nº 04, 1977, "Aventuras do coelhinho Escovão" - BF utilidades Doméstica S/A e Bloch Editores.


Material para campanha política produzido pelos estúdios de Ely Barbosa em 1988.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Tarzim - 1976

Tarzim, uma sátira ao personagem Tarzan, foi publicado no jornal Destaque da editora Rondon em 1976.

Tarzim foi criado pelo ilustrador, professor e cartunista Ismael dos Santos (1930-2015) que ficou bem conhecido por suas aulas de desenho no programa História do Desenho Animado na TV Cultura de São Paulo no início dos anos 1970. Ismael também manteve durante muitos anos uma escola de desenho, o Núcleo de Arte, de onde saíram dezenas de ótimos profissionais do desenho e da propaganda e foi responsável também pelos desenhos da revista Família Negritude Júnior (editora Jazz, 1996).


Acima, página do livro Desenho para Comunicação de Ismael dos Santos, editora Mundo Musical, 1975.

Acima, retrato de Ismael por João Spacca, um de seus inúmeros alunos.

sexta-feira, 17 de março de 2023

O Bagassauro - 1993

Criado em 1993 pelo cartunista Kayser, o Bagassauro era um dinossauro com os trajes típicos do estereótipo de um malandro: camisa aberta, topete e costeletas.

Bagassauro aprontava das suas ao longo da história, com situações na pré-história, no Antigo Egito ou na Grécia Antiga.

Bagassauro teve algumas tiras reunidas pela Grafar no livro Edição de Risco da editora Tinta China em 2005.

Para conhecer mais sobre o autor clique aqui.

sexta-feira, 10 de março de 2023

Ado - 2000


Ado surgiu em 25 de maio de 2000 no jornal Folha do Sul (Caxias do Sul - RS). Um jovem solteiro às voltas com garotas, diversões e bebedeiras foi criado pelo cartunista Kayser.

Kayser (Luciano Kayser Vargas) nasceu em 22 de outubro de 1970 em Porto Alegre (RS). Vivendo em Canos (RS) por 32 anos estreou como cartunista profissional nesta cidade em 1991. Atuou como chargista no Jornal do Comércio (Porto Alegre); O Timoneiro (Canoas) e Jornal do Vale (Lajeado).

sexta-feira, 3 de março de 2023

Entrevista - Ely Barbosa - 1985

Entrevista realizada de forma presencial em 11 de junho de 1985 pelo jornalista Worney Almeida de Souza (WAZ) com ênfase na produção de quadrinhos dos Trapalhões pelos estúdios do desenhista Ely Barbosa. Aproveitem!

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Capa do primeiro número de Os Trapalhões produzido pelos estúdios de Ely Barbosa.

Worney Almeida de Souza (WAZ): Eu queria saber como surgiu a ideia de se fazer uma revista dos Trapalhões?

Ely Barbosa: Os Trapalhões já vinham sendo, desde 8 anos atrás, produzidos pela Bloch, mas a revista era muito ruim, os desenhos eram péssimos, eram mal desenhados, os personagens não tinham nada a ver com os personagens da TV, inclusive, graficamente, a revista deixava tudo a desejar, e um dia eu vinha fazendo antes Hanna-Barbera, eu montei uma equipe e nós, durante dois ou três anos, produzimos Hanna-Barbera, e fizemos uma escola, lançando Hanna-Barbera. Não só pra desenhistas, que a gente lançou alguns desenhistas, como também na área de roteiros, então criamos diversos roteiristas, chegamos a fazer escolinha, chegamos a fazer cursos de desenho, de letras, de cor, tinha um curso de cor que a gente dava. 

E de repente, a Rio Gráfica (atual editora Globo) que fazia os gibis, ela percebeu que não estava vendendo aquilo que precisava vender pra manter a publicação. Então eu percebi que a gente ia acabar parando o esquema todo e eu tinha preocupação com a equipe que a gente tinha montado, tinha formado. Gente de muito talento fazendo quadrinhos, produzindo quadrinhos. Então um dia eu fui numa banca, eu tinha uma reunião, eu passei numa banca e vi a revista dos Trapalhões jogada num canto, a revista mal posta na banca, muito mal colocado o negócio. Peguei a revista, dei uma lida naquele negócio todo, aí eu liguei pra Manchete, marquei reunião com o diretor da Manchete e fui pra lá. E cheguei, falei com ele, expliquei que eu tinha...

Ah! A primeira coisa que eu fiz, eu recriei os personagens, eu sentei, redesenhei todos os bonecos, a minha área é bem infantil, arranjei um desenhista pra fazer as caricaturas (Carlos Cárcamo), e trabalhamos a quatro mãos ali. Fazer a barriga assim, fazer o corpo assado e tal, e recriamos os tipos especialmente pra quadrinhos. Aí eu criei uma história chamada Carga Pesada, que eu mesmo fiz o roteiro, e fizemos diversas situações, desenhamos os model-sheets, guia de cores, fiz todo um projeto, fiz uma proposta na qual eu coloquei preço, condições de pagamento e tudo, peguei e fui pra Bloch. Lá eu fui falar com o diretor da Manchete, não tinha a ver com o negócio, aí ele me encaminhou pro Jatib. Aí aconteceu um diálogo muito engraçado, o Jatib que é um sujeito muito ativo, ele é elétrico, super elétrico, ele não tem muito tempo a perder, ele é um cara despachado. Então ele sentou comigo, e eu não conhecia ele: Muito prazer, quem você é? Sou o Ely Barbosa. Ah, sei, você que faz o Hanna-Barbera!

Falei é, sou eu que faço o Hanna-Barbera. É eu gosto do teu trabalho. O que você quer falar comigo? Eu falei: é o seguinte, eu vi a revista dos Trapalhões, tô vendo que vocês estão fazendo, e eu vim aqui fazer uma proposta, porque eu acho que a revista de vocês é ruim, tá horrível. Tá mal feita e os caras tão na TV, na TV Globo e você estão com uma revista muito ruim, tá mal feita, mal desenhada, em suma, pra te falar o português claro, a tua revista é uma bosta! Aí ele falou: cê tá me dizendo aqui na Manchete que a minha revista dos Trapalhões é uma bosta? Eu falei: Tô, cê desculpa a sinceridade, mas a revista não passa de uma bosta! Ele falou: não, cê não tá sendo sincero comigo, a revista na verdade está uma GRANDE bosta!

Então, o que você sugere pra revista? Eu falei: tá aqui na pasta. Ele falou: Deixa eu ver. Eu coloquei, mostrei, ele olhou e falou: onde é que eu assino? Eu falei: é em baixo! Ele olhou o preço e falou: Tá caro! Mas seu trabalho é bom e eu vou assinar! Vamos começar a trabalhar!

Aí já fiz capa, já fui preparando os números, aí a gente adiantou um pouco e eu montei uma equipe de novo! Quer dizer, nessa altura já tinha parado Hanna-Barbera, eu não dispersei a equipe, reaproveitei os melhores elementos que eu tinha, e recomeçamos a fazer a revista. Isso há oito anos, no começo tivemos alguns problemas na linguagem, colocar política. Quando você toca no assunto político vem uma situação e a Bloch não se envolve nisso, então a gente teve alguns probleminhas e de repente a coisa começou a andar, andar, andar muito bem. Hoje os Trapalhões passam aqui pelo estúdio e tem muita gente que não sabe o que nós fazemos. A revista é feita aqui, tá bem feita a revista, vendendo bem, dentro do mercado que é o mercado hoje.

Os Trapalhões por Eduardo Vetillo.

WAZ: Qual que era basicamente a equipe original, a primeira equipe?

Ely Barbosa: A primeira equipe, pra lembrar, dos Trapalhões, a primeira equipe tinha um chileno, Carlos, Carlos..., o sobrenome dele eu não lembro (Carlos Cárcamo), um desenhista do Chile que veio foragido pro Brasil, esse camarada esteve na editora Abril, e a editora Abril não pode pegá-lo por problemas políticos, não tinha documentação, não tinha nada, eu vi os trabalhos dele, gostei e peguei esse cara pra trabalhar com a gente. Era o Carlos, o Eduardo Vetillo, que já fazia Hanna-Barbera, depois eu peguei o (Ademir) Pontes e foram surgindo outros, né? O Pontes, tem também um rapaz que é cria da casa, o Mimoso, o nome dele é... eu até esqueço o nome dele, deixa eu lembrar..., é Aparecido (Norberto), trabalha aqui no estúdio, é fixo no estúdio, também ele começou a desenhar. Basicamente a equipe, só tirando o Carlos e um outro também que eu não lembro o nome, a equipe tá com a gente já faz muito tempo, que é o Eduardo Vetillo, o Pontes, que é muito bom, muito rápido. Ele não é só detalhista, o desenho dele é muito rápido. 

O Eduardo, o desenho dele o resultado vem no final com a cor, ele trabalha com a cor enquanto eu trabalha com o traço mesmo. Quem mais além desses? Tem o Watson (Portela)! Trabalha em Recife pra nós, que ele veio do Recife!

Os Trapalhões por Watson Portela e franco de Rosa.

WAZ: E os roteiros?

Ely Barbosa: O roteiro dos Trapalhões também a equipe praticamente é a mesma, eu tô com muito pouca gente. Também é cria nossa o Flávio (da Costa Pinheiro), um rapaz de muito talento que apareceu e começou a trabalhar com a gente, ele é muito criativo, muito bom. O Genival (Assis de Souza), um roteirista também cria da casa, começou com Hanna-Barbera. 

Temos três roteiristas hoje, é o Flávio, tinha um outro rapaz que também desenhava bem, desenhou muito pouco, é um rapaz de cor, esse também não vou lembrar o nome dele, tinha um outro Flávio e tinha também o Jorge (Kimura), também muito bom, o Jorge parou um pouco agora e quer voltar. Basicamente essa é a equipe.


Os Trapalhões por Bira Dantas.

WAZ: Você também faz roteiro?

Ely Barbosa: Eu também, eu faço muito roteiro. Eu também faço muito roteiro e a gente produz os roteiros, geralmente eu junto com a equipe ou falo por telefone, e eu já designo o tipo de história que a gente quer, de acordo com os filmes que estão aí, sátiras, e oriento muito a equipe e também trabalho num sistema que eu raramente recuso roteiro, eu acho que dificilmente, se você tem uma equipe boa dificilmente você tem um roteiro recusável, você tem um roteiro readaptável! 

Então, eu tenho uma facilidade muito grande em criação, graças a Deus em roteiro, história, filme, boneco, eu seguro a situação. Então, eu oriento a turma, se é uma história que ela tem uma ideia básica boa, eu sinto que no meio ela se perde, no final não termina bem e tal, então às vezes eu mesmo mudo! Então a turma já trabalha comigo num esquema assim de velocidade, precisa ter de muita velocidade, então às vezes eu mesmo mudo ou então oriento o cara, olha, faz assim, faz assado, aqui não fica bem assim e tal. E quando às vezes eu crio, eu passo, por exemplo, (Didi) Tarzan é uma criação minha, então eu criei, fiz o Didi de Tarzan, e criei outros personagens que a gente tá utilizando agora e seus coadjuvantes.


Os Trapalhões por Ademir Pontes.

WAZ: Bem, deixa eu perguntar uma coisa: no começo a revista era feita por outra equipe e a aceitação dela na banca era baixa. Como é que foi, depois desses oito anos, a comparação do começo do trabalho com agora? Como é que está a vendagem?

Ely Barbosa: Olha, não foi bem assim. A aceitação demorou um pouco pra vender a revista, por problemas de promoção, por problemas do público se acostumar com a revista. Apesar dos Trapalhões estarem na Globo eles não promovem a revista, então, não foi basicamente não, porque no começo, hoje eu pegando as revistas antigas, pegando as revistas atuais, a gente vê que tem muita coisa antiga que era até melhor do que é atualmente, coisas boas, alguns desenhos muito bons também, o Carlos desenhava muito bem, eu não atribuo isso à adaptação da equipe, eu acho que os Trapalhões desde que a gente começou a fazer eles começaram muito bons. o projeto começou muito bem, eu acho até que muito melhor do que o que era feito antes.

Ruim foi pegar no breu até a gente se acostumar com o personagem e tudo, inclusive as revistas antigas e até as atuais, eu enfrentei um problema aqui e quero aproveitar a tua entrevista pra falar, que de repente a TV Globo começou a utilizar as nossas histórias. Então eles começaram a utilizar diretamente, chupava, pegava nossa história da revista e transportava pra televisão! E isso alguns roteiristas andaram falando, dizendo que eu tava vendendo as ideias pra Globo, vendendo os roteiros deles pra Globo e não tava pagando eles. Isso é uma mentira, não houve isso! Houve sim que a Globo utilizou em diversos Trapalhões na TV histórias nossas! Mas eu só tomei conhecimento após o terceiro ou quarto programa, os desenhistas vieram falar comigo, eu falei que ia falar com o pessoal, falei com o Renato (Aragão), falei com o irmão dele, daí eles me disseram: Pô, e nós vamos brigar com a Globo?

Eu falei: não, não vamos brigar com a Globo mas se eles quiserem utilizar eles que utilizem e pelo menos paguem a gente e eu repasso o dinheiro pra minha equipe. E a partir daí eles devem ter tomado alguma providência porque a TV Globo parou de utilizar.


Os Trapalhões por Watson Portela.

WAZ: E o contrário? Vocês se baseiam em situações da TV pra fazer histórias em quadrinhos?

Ely Barbosa: Não! Primeiro porque não tá legal o que eles estão fazendo na televisão, não é coisa assim que você possa se basear e criar em cima. A única coisa em que a gente se baseia são os tipos, o linguajar deles, as situações, isso a gente se baseia, mas as nossas histórias são totalmente desassociadas da televisão, tanto que a equipe de roteiristas raramente assiste aos Trapalhões na TV. De vez em quando eu falo: Olha! Assiste aos Trapalhões um pouco pra não fugir do tipo dos personagens, mas eles não tiram realmente nada da televisão.

WAZ: É porque tá fraco mesmo!

Ely Barbosa: Tá fraco! Eles inclusive estão se distanciando da criança brasileira! Aliás, pelos quadrinhos, o Renato Aragão um ano atrás mandou o irmão dele aqui falar comigo e pediu que eu assumisse a criação dos roteiros para a televisão, porque eles tavam sentindo que os roteiros realmente estavam muito ruins. Aliás a TV Globo tá em crise de criação, uma crise séria de criação. As novelas são ruins, os humoristas tão fracos, os programas tão caindo pelas tabelas, essa série que eles fizeram aí, O Tempo e o Vento, foi terrível e não tão acertando, alguma coisa está acontecendo lá dentro. E os Trapalhões vêm sentindo esses sintomas bem antes, então o Renato me pediu se eu poderia criar para os Trapalhões da mesma forma que eu estava criando os quadrinhos, produzir textos pra ele, então eu chamei a equipe toda, todo mundo colaborou e eu criei 15 textos para ele. Dos 15 textos nossos, 12 foram aprovados pelo Renato, dois foram pedidos pra modificar e um não foi aprovado. Só que na hora que a gente tentou acertar a parte financeira não conseguimos. Não com o Renato, mas com a TV Globo não, não conseguimos acertar. Eles acharam que a gente estava pedindo muito e o assunto morreu. 

Nós criamos personagens novos, criamos cenários, criamos todo um esquema que a gente tinha certeza absoluta que funcionaria e aquele medo do Renato, que ele estava sentindo faz um ano atrás parece que agora tá voltando a acontecer, que é a TV de repente se distanciando da criança, se distanciando do jovem brasileiro, e virando uma outra coisa. Uma coisa que não tem nada a ver com o humor que está aí, um humor típico de quatro patetas brasileiros.

Os Trapalhões por Kimura.

WAZ: Como foi essa ideia, uma coisa bem bolada, de quatro Trapalhões caracterizados de super-heróis? E inclusive a última era até do He-Man?

Ely Barbosa: Eu senti a necessidade, a medida que a gente começou a fazer, eu fui sentindo a necessidade. Porque ficar só nos quatro a coisa iria ia se tornar muito repetitiva. Então o primeiro super-herói que eu achei que tinha que satirizar foi o Super-Homem, então eu pedi histórias com ele, até a primeira história do Super-Homem acho que foi minha, eu acho que foi minha e depois eu pedi pra equipe desenvolver. Aí nós partimos pro Batmão, que o nome fui eu que criei, o Rubinho, a situação toda dele e a partir daí a gente sentiu que a coisa funcionou. 

Aí foi surgindo outras ideias, o Homem Aranha, a Nêga Maravilha também foi ideia minha, foi a primeira história que eu fiz. A Nêga Maravilha surgiu antes do Super-Homem, parece que foi isso, aliás quem fez a história foi um roteirista da antiga guarda, o Sérgio Valezin, que também foi cria nossa, era excelente roteirista, excelente, só que ele tava na TVS e largou o quadrinho! mas a primeira ideia eu peguei o Sérgio e falei: Sérgio, pô, vamos satirizar alguma coisa em cima do Mussum. Aí eu tinha visto que a Mulher Maravilha tava fazendo sucesso, então vamos fazer a Nêga Maravilha! Vamos fazer a mesma coisa e tal e ainda vamos usar como arma o sovaco dele, a catinga do sovaco. E a partir daí começamos a fazer depois o Super-Homem e o Batman. E agora cheguei a fazer o Brucutu. Então pedimos pra satirizar o Brucutu, cheguei a fazer o Popeye, o Hulk também, fizemos o Hulk. Porque eles permitem um voo, se você observar.

FIM

Para assistir a uma outra entrevista de Ely Barbosa clique na imagem abaixo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Blequinho - 1975

Blequinho estreou em 5 de julho de 1975 no Jornal de Caxias (Caxias do Sul - RS) em substituição a O Turista, outro personagem do mesmo autor, Neucery Otávio Venturin, que aparecia semanalmente mas sobreviveu muito pouco tempo.

Acima, a primeira aparição de Blequinho.

Apesar do nome do personagem remeter ao famoso penteado black-power, bastante em voga na época, a série pouco ressalta questões de identidade racial. Blequinho era mais um personagem sádico no estilo Fradim de Henfil e com o tempo foi ficando mais preocupado em criticar problemas municipais de Caxias do Sul. 

A tira de Neucery também foi bem duradoura e apareceu até finais de 1979, quando a autor (agora Neuceri), nascido em Dois Lajeados (RS), abriu uma empresa de fotogravura em Caxias do Sul.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Mortófolis - 1975

Protagonizada por esqueletos a tira Mortófolis estreou em 15 de janeiro de 1975 no Jornal de Caxias (Caxias do Sul - RS). 

Criada por José Mário Cândido a tira "mostra um traço firme e peculiar, trazendo como temática os fatos, as ocorrências do dia a dia, que muitas vezes passam despercebidas".

E realmente, na maioria das vezes, a tira se aproximava muito da charge, comentando fatos ocorridos na época, como o processo de abertura política, a corrida inflacionária, a perda do poder aquisitivo da população e até mesmo o aumento do preço do leite.

Charge de Cândido em 1981.

Bastante longeva, a série durou até meados do ano de 1981. Sobre o autor, sabe-se que publicava charges no próprio Jornal de Caxias e era publicitário.


Acima, a primeira tira da série.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Luiz Saidenberg - Entrevista - 2008

Clássicos de Terror nº 17. Editora Taika, 1961. Argumento de Ivan Saidenberg e desenhos de Luiz Saidenberg


Entrevista com o desenhista Luiz Saidenberg realizada em 29 de outubro de 2008 pelo jornalista Worney Almeida de Souza (WAZ) de modo presencial. 

Saidenberg é responsável pela criação de várias histórias de terror no início dos anos 1960 para a editora Outubro de São Paulo, além do álbum “Na trilha de Masamune” que foi lançada pela editora Opera Graphica em 2003. A entrevista é focada principalmente a participação do autor na ADESP (Associação dos Desenhistas de São Paulo) e na editora Outubro, no início da década de 1960. Aproveitem!

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Luiz Saindenberg: Nem eu lembrava da Associação, eu passei vários e vários anos sem sequer lembrar, a não ser muito vagamente que tinha tido a ADESP e tal. Você veja que a vida vai levando a gente por vários caminhos por aí, trabalho, correrias, problemas e tal. Então eu, que sou justamente conhecido por ter boa memória, por lembrar bem dessas fases de juventude, eu não lembrava quase nada da ADESP. Pode ser também um processo de rejeição, eu dei várias deletadas (risos).

Aí, conversando com o Shimamoto, ele me mandando essas fotos, esses velhos jornais aí, comecei a lembrar, não é? E isso vai levando, uma coisa puxa a outra. E você perguntou por que (a sede da Associação) seria no nosso estúdio? Porque não tinha outro lugar.

Worney Almeida de Souza (WAZ): Mas o estúdio quando que ele começou? Quando que vocês quatro se juntaram para abrir um estúdio? Foi em 1961?

Saidenberg: Não, foi em 1960. Eu também não tinha lugar, porque eu morava num apartamento pequenininho, com minha mãe e meu irmão, e era bastante desconfortável para desenhar. E eu trabalhei num estúdio de uma companhia de turismo que fazia flâmulas também, e dali eu tive algumas indicações. O dono da coisa, que gostou do meu trabalho. Eu trabalhei em desenhos animados, uma firma pequenininha, e teve um aluno dele, desse dono da empresa, que era o Almir Bortolassi, que trabalhava no SESI da rua do Carmo, alguma coisa dessas, e esse aluno de desenho dele, conhecia o Cortez, tinha feito algumas coisas pra editora e a coisa entrou. O Cortez gostou quase que imediatamente dos meus desenhos. Ele quis um teste de uma página, eu fiz e ele disse: Mas tu já trabalhaste nisso? Eu falei, não, imagina. Você vive muito o quadrinho mas não podia trabalhar, e aí eu passei a fazer, mas realmente não tinha lugar, e aí, conhecendo mais o pessoal da editora, eu ia algumas vezes lá, não que fosse sempre, aí o Lyrio Aragão, o Igayara e tal, eles estavam procurando também um lugar que pudessem desenhar sossegadamente e me convidaram, simpatizaram comigo, eu era tímido e bobão naquele tempo.


Histórias Macabras 43, Editora Outubro, 1965. Texto de Ivan Saidenberg. Desenhos de Luiz Saidenberg.

WAZ: Quantos anos você tinha? 

Saidenberg: Tinha 17 anos, 17 pra 18, por aí. Procuraram algum lugar que fosse barato, acessível, naquele tempo o acessível era no centro, e encontraram essa sala no prédio Martinelli, 1928. Uma sala bastante grande, essa sala aqui tem 30 metros, teria quase isso, três janelas, uma pra Libero Badaró, outra pra São João, e outra pro Anhangabaú, a janela central, que era um janelão.

WAZ: Era uma esquina do prédio?

Saidenberg: Era a esquina da Libero Badaró com a ladeira São João.

WAZ: Que andar que era?

Saidenberg: Décimo nono andar. Eu estive há pouco tempo lá, eu te contei, tirei umas fotos, infelizmente meu computador deu um tilt e perdi tudo. Eram fotos eletrônicas e não como as velhas fotos em papel dos bons tempos. 

WAZ: Você não gosta de foto eletrônica?

Saidenberg: É, mas elas têm suas vantagens, como teriam neste caso. E aí nós ficamos, estávamos já há um ano e tanto quando surgiu esse conhecimento que nós tivemos do Plano de Nacionalização (dos quadrinhos).

WAZ: Mas vocês quatro, o serviço básico de vocês era produzir pra (editora) Continental?

Saidenberg: Pra Outubro, não era mais Continental, era Outubro. E eram histórias de terror. O Shima (Júlio Shimamoto) veio mais tarde, ele ficava em Vila Luzita, em Santo André e nos convencemos ele que ele ficava muito isolado do mundo, nosso trabalho já era uma coisa meio isolada do mundo, imagine só você morando em Vila Luzita, que ficava há três horas de São Paulo!

WAZ: No começo era você, o Igayara e o Lyrio?

Saidenberg: E o Lyrio. E aí, com custo, convencemos o Shima e o Shima veio.

WAZ: E era muito caro o aluguel?

Saidenberg: Não, acredito que não, viu Worney. Porque senão nós não teríamos condições de pagar. A nossa condição de quadrinhos era pequena, era pouca coisa. A gente tava aprendendo, né? Nós estamos sempre aprendendo, mas naquele tempo, realmente, e queríamos fazer a coisa bem feita, o que era muito difícil, dado às condições financeiras. O único cara que faturava uma bela grana com isso aí era o Gedeone. Ele tinha o processo de cópia por projetor e tudo o mais e produzia uma quantidade enorme de quadrinhos de várias espécies.

WAZ: Mas você, por exemplo, naquele período, você se lembra quantas páginas você produzia por mês?

Saidenberg: Não lembro muito bem não, mas vamos dizer que uma por dia talvez eu conseguisse fazer. Você ainda tinha que bolar o roteiro, não seria muito mais de 20 páginas. Nem sei quanto que faturava, quanto que dava pra ganhar por mês.

WAZ: Mas além de quadrinhos vocês faziam mais outras coisas, material de publicidade, mais alguma coisa?

Saidenberg: Não, não! Quadrinho. Publicidade era um mistério. Houve algumas tentativas. O Shima foi a agências de propaganda e tal, e o que ele tinha pra mostrar era quadrinho e não aceitaram e ele ficou indignado. Então, no meio desse processo, apareceu essa notícia de que havia uma tentativa de nacionalização e que essa tentativa partia por parte do governo Jânio Quadros.

WAZ: É, e pelo que eu entendi, parece que três deputados apresentaram um projeto de lei.

Saidenberg: Apresentaram. Você tem o nome todos deles aí. Não vou lembrar o nome de todos agora.

WAZ: Um é Aarão Steinbruch, José Alves e Elói Dutra. Pelo que entendi eles apresentaram um projeto, um texto e o governo se interessou, mandou aquele Fábio B. Giannini pra fazer um contato com os desenhistas. A partir daí eu não entendi. Ele levou um texto pra vocês darem um parecer?

Saidenberg: É, o que eu acho que faltava ao governo. Ele tinha boa intenção mas tinha desconhecimento da causa. Não havia ninguém nesse projeto aí que tivesse se envolvido alguma vez com história em quadrinho. Nem sei se tinha lido história em quadrinho. Então, o Miguel penteado, que era uma pessoa muito arguta e também muito consciente, ele pegou essa coisa no ar e repassou pra nós, e mais especificamente pro Mauricio (de Sousa). E o Mauricio já naquele tempo, ele era um cara muito articulado, tinha, o que nós não tínhamos, bem mais velho, e bastante mais mais experiência da vida e das suas dificuldades também. Tinha sido repórter policial na Folha (de S. Paulo), acho que era por aí. E o Mauricio imensamente ambicioso aí, de inteligente, então, realmente pra nós era a pessoa certa. Agora, como a gente poderia colocar essas coisas? Onde poderia fazer por nós? O único lugar disponível, porque os outros desenhistas, quando não tinham outro emprego, desenhavam em casa mesmo. E o nosso estúdio, de certa forma, meio que automaticamente, foi conduzido pra ser a sede do movimento.

WAZ: Eu não entendi uma coisa, esse Fábio aqui ou antes, o pessoal apresentou o texto do projeto pra vocês ou não?

Saidenberg: Não, eu não li esse texto. Se o Mauricio chegou a ler, talvez!

WAZ: Mas esse contato que ele fez, esse Fábio, ele chegou no estúdio e disse vamos nos reunir?

Saidenberg: Ele queria ideias.


Revista O Sobrenatural, anos 1960.

WAZ: Aí juntou todo mundo, cada foi falando alguma coisa?

Saidenberg: Isso, ele queria ideias do que poderia ser. De como poderia ser essa nacionalização. Proporções, possibilidades, veículos. Onde poderia ser veiculadas as histórias e tal. E a coisa começou bem! Ainda mais tendo em vista a nossa precariedade, da nossa falta de estrutura, da nossa inexperiência. Começou bem e marchou! Só que marchou de forma meio atabalhoada, nós mesmos não tínhamos muita noção do que fazer! 

O Mauricio queria fazer uma associação que englobasse todos os desenhistas. Uma associação que englobe desenhistas de quadrinhos já é uma coisa complicada, agora você imagine uma associação que englobasse desenhistas técnicos, desenhistas de publicidade ou seja lá o que for. A gente não tinha ideia de como era louco esse projeto.

WAZ: Aí é que tá, eu não entendi uma coisa, esse papo foi lá naquela reunião, que vocês se reuniram com ele, deram ideias, o homem anotou tudo, aí aconteceu uma reunião posterior, algum contato?

Saidenberg: Teve mais uma ou duas reuniões. Com o Fábio talvez mais uma que eu me lembre. Mas teve muitas reuniões com jornalistas, nós estivemos na TV Tupi.

WAZ: Isso que eu tô querendo saber, essa situação, reúne os desenhistas e tal, mas com o governo teve duas na prática?

Saidenberg: Teve duas, não teve mais que isso.

WAZ: Por que eu vi que a Associação, pelo que eu vi nos registros, vocês se reuniram de junho a setembro de 1961.

Saidenberg: Não, foi menos ainda! O Jânio renunciou em 24 de agosto, se não me engano. No mesmo dia que o Vesúvio explodiu e acabou com Pompéia! Renunciou e a coisa acabou, se esvaziou! O que houve foi um enorme desgaste da gente nesses poucos meses, principalmente meu e do Shimamoto. Nós éramos o braço direito do Mauricio e os caras que realmente botavam a mão na massa, em entrevistas, audiências, divulgação e seja lá o que for.

WAZ: Eu tô entendendo o seguinte: vocês fizeram a reunião com o tal do Giannini, então supostamente ele levou as informações, as reivindicações ao governo ou aos deputados, não sei exatamente. Aí depois desse período vocês passaram um tempo divulgando a ideia.

Saidenberg: Sim e atendendo pessoas.

WAZ: As pessoas estavam interessadas na situação.

Saidenberg: Sim, muitas pessoas, então, trabalho nem pensar. Era tanta gente que você tinha que ver portfólio, ouvir histórias, bons desenhistas, maus desenhistas, péssimos desenhistas, então nosso estúdio foi pro espaço em matéria de trabalho. Já não faturávamos muito passamos a faturar nada. Aconteceu outra coisa, as editoras que de certa forma tinham sido responsáveis por esse movimento, como a Outubro, começaram a ficar com medo. De repente aqueles bobocas lá, começaram a reivindicar coisas, eles que sempre ficavam quietos, aceitavam os preços e as condições sem ungir nem mugir, de repente começam a ficar reivindicativos. Aí eles cortaram nosso trabalho. Então, alegando excesso de estoque, as encomendas de quadrinhos foram cortadas.

WAZ: Foram dos quatro ou só de você?

Saidenberg: Foram dos quatro, mas afetou mais a mim porque nós não tínhamos a quem recorrer.

WAZ: Vocês também eram os mais novos.

Saidenberg: Éramos os mais novos! O Lyrio e o Waldir Igayara, por exemplo, eram investigadores de polícia, eles tinham o seu salário garantido pro resto da vida se fosse o caso. Então foi mesmo uma trabalheira, talvez por isso minha relutância em lembrar alguns fatos disso. Eu sei que com isso perdi trabalhos, perdi namoradas, perdi uma porção de coisas (risos). Haveria um belo ganho, sim, se ele fosse concretizado. Ao que parece o projeto foi aprovado!

WAZ: Mas aí é que está, eu tô achando que não!

Saidenberg: Mas eu acho que sim, viu Worney, por tudo que eu me lembro a coisa tinha sido aprovada. Agora, como que se encaminha o aprovado é que também eu não sei.

WAZ: Porque é assim: o projeto ele é apresentado pros deputados e tem que passar por algumas comissões, análise de texto, esse lance de conveniência ou não. E o tempo pra se fazer isso, por exemplo, se tivesse sido apresentado no começo de junho, por exemplo, até agosto, digamos assim, eu acho muito pouco tempo pra ser aprovado. tem aquele projeto que era do tempo do Jango (o presidente João Goulart, que assumiu após a renúncia de Jânio), mas eu tô achando que não era o mesmo projeto.

Saidenberg: Não, não é o mesmo. Esse é posterior.

WAZ: O que eu tô imaginando, eu vou ter que tentar fazer uma pesquisa lá na Câmara dos Deputados, eu quero ver esses três deputados aqui, até se algum  está vivo, por exemplo, não sei, mas ver se esse projeto foi pra frente, porque eu tô achando que não foi aprovado.


A tira  O Bandeirante também foi publicada como O Caçador de Rebanhos no jornal A Nação (SP) em 1963. A história era a mesma mas os desenhos foram refeitos.

Saidenberg: A notícia que eu tive é que tinha sido. 

WAZ: Mas essa notícia que você teve foi naquele período mesmo?

Saidenberg: É, foi naquele período mesmo. Como nós éramos bastante inocentes, então, certamente essa notícia hoje em dia não me satisfaria, assim sem maiores detalhes, sem mais nada, mas a notícia era que realmente tinha sido aprovado e isso foi em agosto. Passaram-se poucos dias e o Jânio renuncia.

WAZ: Mas aí é que está, se tivesse sido aprovado, mesmo ele renunciando a lei está lá!

Saidenberg: É, alguma coisa não tá casando bem no meio, tá meio gozado. Foi aprovado até que ponto? Talvez alguma instância, uma primeira instância e depois a coisa, quando da renúncia dele, foi desconversada. Talvez tenha sido alguma coisa assim.

WAZ: Não virou uma lei.

Saidenberg: É, não virou, senão independeria da renúncia dele.

WAZ: E agora eu quero ver se eu consigo achar o texto disso, o texto original.

Saidenberg: Seria ótimo se você achasse. Talvez o Mauricio possa te esclarecer melhor o encaminhamento do negócio. Ele que era, afinal de contas, o encarregado da parte política.

WAZ: Você fala do Mauricio. Ele ia nos  programas? Dava coisas pra imprensa?

Saidenberg: Com certeza!

WAZ: Ele tinha mais contato com o governo que vocês?

Saidenberg: Não, não creio que tivesse, não. Ele tinha mais contato com os meios de comunicação.

WAZ: Mais pra divulgar a ideia, não muito pra influenciar ou interferir no governo.

Saidenberg: Acho que nada pra interferir. Mesmo hoje em dia, acho que mesmo com toda a sua fortuna e o império que construiu, ele também não teria poder pra interferir em coisa nenhuma no andamento do processo.

WAZ: Eu estava vendo pela lista de nomes que vocês tinham de 20 a 30 pessoas, que pagavam ou não pagavam etc. Esse era o número de pessoas que participaram desse processo? Tinha muito mais gente?

Saidenberg: Não! Muito pouca gente participou realmente do processo, além de mim e do Shima e evidentemente o Mauricio, as outras pessoas se afastaram. Elas queriam se beneficiar do movimento mas não estavam dispostas a se envolver em coisa nenhuma.

WAZ: É sempre aquele negócio, algumas pessoas até que colaboram, pelo que eu vi.


A tira  O Bandeirante também foi publicada como O Caçador de Rebanhos no jornal A Nação (SP) em 1963. A história era a mesma mas os desenhos foram refeitos.

Saidenberg: Sim, colaboraram monetariamente.

WAZ: Mas nas reuniões, vocês faziam reuniões? Tirando essa reunião com o cara do governo, vocês faziam algumas reuniões que apareciam as pessoas pra conversar? Pra decidir alguma coisa?

Saidenberg: É, apareciam, aparecia muita gente. Mesmo sem reunião as pessoas costumavam aparecer lá pra ter notícia, os desenhistas. Você vê que tem essa lista de colaboração que é extensa, tem um monte de gente, nomes bastante variados. Então haviam algumas reuniões. Mas não foram muitas não, viu Worney? Foram poucas! Muito barulho por nada em muito pouco tempo!

WAZ: Na verdade vocês se preocuparam mais em divulgar a situação, né? Porque você falou da Associação e tem uns recortes (de jornal) que falam que vocês se encontraram com o Fábio Gianinni e uma semana depois vocês se reuniriam pra constituir a Associação. Isso aconteceu mesmo?

Saidenberg: Aconteceu. E houve uma constituição mesmo! A coisa não foi registrada mas eu tinha o meu posto lá, não sei qual seria (risos)! Meu irmão (Ivan Saidenberg) era tesoureiro! Meu irmão e eu tínhamos postos, agora, qual a graduação que nós conseguimos ali no exército, não sei (risos)! Não lembro mais qual que eram, mas existiam postos. Mas tinha muita gente e pouca gente disposta a fazer alguma coisa. Bom, dando dinheiro já se fazia bastante, ajudava bastante.

WAZ: Lá diz que vocês tinham um vizinho que ajudava vocês!

Saidenberg: Até o vizinho! Era um amigo nosso, um japonês cego que era negociante de produtos de limpeza, e ele conseguiu fazer um certo dinheiro com isso. Ele tinha o escritório dele e tinha seus apaniguados ali que vendiam os produtos por ele, que já não cuidava mais disso. E era uma ótima pessoa, e ele, veja só, ele até hoje parece que continua amigo do Shima, de vez em quando se telefonam. Ele esteve no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá, na casa do Shima e com isso ele se reencontrou depois de quase 50 anos, conseguiu descobrir o telefone do Shima, alguma coisa assim. Mas até ele colaborou, veja só, não tinha nada a ver com desenho, com quadrinho, com a nossa organização, com coisa nenhuma, foi como amizade. Então, houve mesmo uma... acho que porque todo mundo percebia que eram necessários melhores dias, né? Você sabe que todo mundo queria contunuar nos quadrinhos. Eu com a esperança de que tudo melhorasse. Esse dilema a gente continua enfrentando até hoje, né? É muito complicado!

WAZ: Nesse período em que o estúdio esteve funcionando vocês chegaram a produziram tiras?

Saidenberg: Eu cheguei. Cheguei, mas acho que não no período do estúdio. Eu cheguei a fazer algumas tiras.

WAZ: Foi posterior?

Saidenberg: Foi posterior, foi após o período de Porto Alegre. Quando eu voltei pra São Paulo já trabalhava em publicidade. Então, o Barbosa Lessa me encomendou algumas tiras e o meu personagem não lembra mais o que era!

WAZ: Era um aventureiro.

Saidenberg: É, era um aventureiro, mas...

WAZ: Acho que era alguma coisa de bandeirante. Eu vi esse material no Última Hora*.

*N.E.: A tira chamava-se O Bandeirante, mas foi publicada também com o nome de O Caçador de Rebanhos.

Saidenberg: Acho que é O Bandeirante mesmo. Eu estava pensando em um gaúcho, mas não pode ser um gaúcho porque O Gaúcho foi o Shimamoto que fez! Então cheguei a fazer durante algum tempo e foi publicado no Última Hora (SP).

WAZ: E esse Barbosa Lessa, como é que era o contato com vocês? Ele tinha uma distribuidora de tiras? Porque também ele distribuía o material do Rodolfo Zalla, do José Delbó.

Saidenberg: Exato. Ele iniciou um projeto de distribuição, me parece que no começo a coisa foi muito bem mas depois não deu certo, não sei o porquê.

WAZ: E esse Barbosa Lessa que que ele era? Era uma pessoa ligada à imprensa?

Saidenberg: Era um jornalista, foi compositor também. Acho que aquela música, Negrinho do Pastoreio, é dele. Um escritor gaúcho, acho que escreveu livros também, embora eu não tenha lido nenhum deles. E acho que ele tinha naquele tempo alguma ligação com a imprensa e também com publicidade, tinha um escritoriozinho na avenida Nove de Julho, foi lá que eu fui algumas vezes. Depois, por causa de trabalho, não pude continuar fazendo o personagem. E acabou ficando por aí. O Shima tinha também tiras distribuídas pelo Mauricio, mas também não no período da ADESP, após a CETPA, de Porto Alegre.

WAZ: E essa história que você fez do Bandeirante, você finalizou algumas aventuras ou não?

Saidenberg: Olha! Veja só! Eu nem lembrava que eu tinha feito isso, mas aí o Rodolfo Zalla me mandou algumas tiras que eu fiz, acho que não foram muitas, não sei se cheguei a finalizar alguma coisa. Ele saiu durante algum tempo, não sei quantas também.

WAZ: Alguns meses.

Saidenberg: É, talvez uns dois meses.

WAZ: Mas a distribuidora dele durou muito pouquinho?

Saidenberg: Muito, muito pouco mesmo!

WAZ: Juntou só algumas pessoas no caso? Tinha até o José Delbó, a Gatinha Paulista. Aquela durou bastante.

Saidenberg: É, você veja que o Mauricio foi muito mais bem sucedido.

WAZ: Mas ele distribui só pelo Última Hora ou você se lembra de algum outro jornal?

Saidenberg: Só o Última Hora.

WAZ: Porque eram três tiras!

Saidenberg: Já o Mauricio foi pro lado da Folha. Que ele já tinha trabalhado lá anteriormente.

Saidenberg em 1961.

WAZ: Porque depois, em 1967, 1968, o Mauricio pegou metade de uma página (no Última Hora), que eram só as tiras dele. Uma parte eram tiras dele, que ele desenhava ou era já o pessoal do estúdio, acho que ainda não era estúdio ainda, e outros desenhistas nacionais.

*Mauricio ocupou durante alguns meses meia página vertical do jornal Última Hora com tiras de sua autoria e de outros artistas de seu estúdio entre 1966 e 1967.

Saidenberg: Não, já tinha pessoal no estúdio! Paulo Hamasaki naquela época já trabalhava pra ele. E ele sempre foi um gênio no marketing, na divulgação. 

WAZ: Um bom comerciante, sem dúvida!

Saidenberg: Foi muito bom, excelente comerciante, excelente marketeiro.

WAZ: E depois que vocês saíram do estúdio? Foi logo depois de setembro de 1961 que vocês dois saíram do estúdio, não foi?

Saidenberg: Nós fomos expulsos de lá! 

WAZ: Então, mas foi nesse período?

Saidenberg: Foi logo depois da renúncia do Jânio. Porque aí acabou havendo briga, o estúdio tinha ficado um lugar que não era mais um estúdio, era uma casa da mãe joana e os outros dois sócios não estavam nada felizes com isso. Com aquela invasão que tinha diariamente ali. Então nós acabamos discutindo e acabamos sendo expulsos de lá, acolhidos justamente por esse cego que eu falei, que era o vizinho, que é amigo do Shimamoto, botamos nossa prancheta lá, mas também não tinha trabalho pra fazer! Depois esse mal estar todo se desfez, as amizades foram refeitas. O período que eu tive em propaganda foi na McCann Erickson de São Paulo e eu estava naquele tempo em Porto Alegre. Eu tinha saído da CETPA, nós estávamos tentando fazer uma agenciazinha de publicidade, e a coisa começou bem depois foi indo muito mal, eu estava desesperado e de repente a minha boa sorte entrou em ação. O Lyrio me telefona me convidando pra fazer dupla com ele na McCann, fazendo storyboards e aí eu comecei em propaganda.

WAZ: Depois que vocês saíram o estúdio durou mais quanto tempo?

Saidenberg: Ah! O estúdio continuou lá, o estúdio continuou. O Lyrio acho que era o titular, e eu sei que continuou pelo seguinte, no ano passado uma pessoa me entrevistou, não lembro como ele chama, mas ele era fã do Aragão. É fã do Aragão! É um desenhista de Minas Gerais que tem um site. E no site dele eu vi que ele procurava informações sobre o Aragão, alguém que o tivesse conhecido. Ele não sabia nada! E aí eu contei a ele que eu era amigo do Lyrio, e contei algumas coisas da vida do Lyrio, e foi mais, procurei os filhos do Aragão.

WAZ: Marcos e Marcelo?

Saidenberg: Isso, isso. O Marcelo é um big, um poderoso aí da propaganda, tem agência de publicidade e tal. Então conversei com eles e eles contaram que o Lyrio, antes de sua morte, ele suicidou-se na passagem de 1969, de 1968 pra 1969, ele desaparecia de casa, a mãe ia procurar e encontrava ele lá no Martinelli sozinho, fechado no estúdio. Então continuou acho que até a morte dele provavelmente.

WAZ: Porque o Igayara em 1961, 1962 foi pra (editora) Abril, né? Foi trabalhar na Abril.

Saidenberg: Foi pra Abril.

WAZ: Supostamente ele deve ter saído do estúdio também.

Saidenberg: É, mas acho que de vez em quando ele fazia alguma coisa lá, e eles continuaram, eles mantiveram o estúdio. 

WAZ: Mantiveram o espaço.

Saidenberg: Eu que nunca mais voltei, a não ser depois de sua destruição.

WAZ: E você levou a prancheta pra casa ou não?

Saidenberg: Levei, levei tudo pra casa. Depois eu comecei a trabalhar em propaganda e já nem usava mais prancheta nenhuma.


Tira O Bandeirante - 1964

WAZ: Você se lembra o preço de página daquele período?

Saidenberg: Não lembro!

WAZ: Mas era razoável o preço?

Saidenberg: Não, sempre foi pouco, era baixo, sempre foi, viu, Worney! Antes, depois, agora, sempre foi a mesma coisa.

WAZ: O pessoal ganhava na produção, né? De fazer bastante.

Saidenberg: É, ganhava na produção, e aí você sacrificava a qualidade. Isso era complicado, até nós tentamos fazer um esquema desses. Aconteceu várias vezes isso. Como eu sempre fui muito rápido com esboço, eu esboçava as páginas e o Shimamoto passava a tinta! Mas olha, não dá! Não fica bom mesmo. Não é possível, não tem nada a ver.

WAZ: Eu lembro de uma história sua, daquela do elmo!

Saidenberg: Ah, sei, a do capacete! 

WAZ: Nossa! Aquela é muito legal!

Saidenberg: Acho que eu tenho aí uma cópia dela.

WAZ: Você chegou a trabalhar com o teu irmão? Como é que ele começou a fazer roteiro de quadrinhos? Ele começou nesse período?

Saidenberg: Começou! 

WAZ: Ele é mais novo que você?

Saidenberg: É, um ano e pouco mais novo.

WAZ: Ele começou a escrever nesse período os roteiros?

Saidenberg: Exatamente. Ele era bancário. Acho que era procurador do Banco Comércio e Indústria, e o sindicato dos bancários também era no prédio Martinelli, aliás é até hoje, não sei se era no segundo andar ou qualquer coisa e hoje fica no térreo, onde era antigamente o Banco Itaú América. Com isso ele comparecia de vez em quando ao nosso estúdio e ele sempre foi muito imaginoso, um cara muito criativo, então ele sacou que poderia fazer roteiros e fez mesmo muitos roteiros, e alguns muito bons pra editora Outubro. Aí depois, em outras circunstâncias ele voltou a trabalhar nisso na Abril. E aí sim, teve um belo período como roteirista porque ele era o melhor e mais produtivo roteirista de infantis da Abril. Ele fez, criou uma porção de personagens, o Morcego Vermelho, da turma Disney. Ele trabalhou acho que talvez dezoito anos pra Abril.

WAZ: Mas vocês dois fizeram dupla na Outubro ou não?

Saidenberg: Fizemos! Chegou a escrever alguns roteiros. Eu também escrevia, mas ele escrevia alguns. Eu tenho até um muito engraçado, poucas páginas e aí sim, é uma tripla, eu desenhei, Shimamoto finalizou e ele escreveu.

WAZ: Os três fizeram a mesma história, então?

Saindenberg: Fizemos. Eu tenho uma cópia dessa aí também. Não tenho muita coisa, tenho pouca coisa dessa época, e tudo também nessa base, esse amarelado, esfarelando.

WAZ: Você chegou a fazer capa para a (editora) Outubro?

Saindenberg: Não, só histórias, geralmente era o (Jayme) Cortez que fazia as capas, pra Outubro eu não cheguei a fazer. Naquele tempo eu mexia mais com traço não tinha quase experiência com o colorido. Até hoje eu sou muito mais do traço do que o colorido, apesar de eu ter pintado várias coisas, ilustrado várias coisas, eu tenho mais facilidade com o preto e branco.

WAZ: E o teu irmão (Ivan Saidenberg), a participação dele na Associação (ADESP) foi até importante. Ele era tesoureiro

Saidenberg: Tesoureiro, ele é quem cuidava da arrecadação desse dinheiro.

WAZ: E ele participava das reuniões também?

Saidenberg: Participava!


FIM


Histórias Sinistras nº 21 - Ivan Saidenberg e Júlio Shimamoto - Editora Outubro.