sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Manco Capac - 1976

Quando a editora Noblet lançou a segunda edição de Mister No as revistas eram praticamente idênticas às da primeira edição com uma pequena diferença, ao invés de terem as 100 páginas da edição anterior, tinham 84. Não há informações de data de lançamento em nenhuma das duas edições, mas geralmente os sites sobre quadrinhos indicam 1976 para a primeira edição e 1982 para a segunda!

A boa notícia é que essas páginas extras da primeira edição foram ocupadas pela história Manco Capac com desenhos de Roberto Kussumoto e texto de Ataíde Braz, dupla que produziu centenas páginas de quadrinhos, sendo este, talvez, o primeiro trabalho publicado pelos dois autores.

Sobre a data de publicação o próprio Kussumoto esclarece: "1976 foi o ano que estudamos no Senac, eu e o Ataíde. No final do curso a classe ficou de apresentar algum trabalho referente sobre qualquer tema. Foi quando Ataíde propôs fazermos uma HQ, e surgiu o Manco Capac. 

Quanto ao Manco Capac que foi publicado na revista Mister No, pegamos esse projeto do curso e o refizemos. Acredito que não seja 1976, mas não sei precisar a data da produção desse material, mas foi um trabalho feito às pressas e é uma arte de qual não gosto do resultado final".

O pesquisador mineiro Edgard Guimarães ajuda a dar uma luz a essas datas: "Sempre achei que a coleção de Mister No de 100 páginas fosse a primeira. Por uma questão de lógica. É mais lógico que uma editora pequena queira ganhar mais uns trocados reeditando um material que já tenha pronto diminuindo o número de páginas e publicando menos números (só 6) do que lançar nova coleção aumentando o número de páginas com nova série e publicando mais dois números (foi até o 8), sendo que provavelmente não tinha mais licença da Bonelli para publicar novo material.

Eu não tenho nenhuma informação confiável sobre as datas de lançamento das duas coleções. Apenas o preço impresso na capa.  
A série com 100 páginas custou de Cr$ 12,00 (o número 1) a Cr$ 14,00 (o número 8). A  moeda Cruzeiro (com centavo) vigorou no Brasil entre maio de 1970 e agosto de 1984.
A série com 84 páginas custou de Cr$ 3.000 (o número 1) a Cr$ 5.000 (o número 6). A moeda Cruzeiro (sem centavo) vigorou no Brasil entre agosto de 1984 até fevereiro de 1986.
Portanto a série com 84 páginas é posterior e foi lançada entre 1984 e 1986. A série com 100 páginas foi lançada em algum período entre 1970 e 1984, mas não muito próximo de 1984, pois os preços ainda não estão muito altos. Se o Kussumoto diz que não foi em 1976, então foi pouco depois, enquanto o preço da revista em Cruzeiros ainda não estava muito alto".

No enredo, um avião comercial cai nas selvas amazônicas. Um grupo de quatro jovens sobreviventes, Juan, Carlos, Ana e Márcia, se embrenha pela mata procurando por socorro mas são encontrados por um grupo de antigos incas. Levados ao chefe da tribo, Manco Capac, os nossos heróis são aprisionados. Mas Manco Capac na verdade é um homem civilizado que atingiu uma posição privilegiadas junto às tribos locais. Em meio a intrigas palacianas, o casamento proibido de Capac com a linda amazona Acálya e lutas pelo poder, nossos heróis passam a tentar escapar e voltar à civilização.

Não fica claro se se tratam de tribos incas esquecidas pelo tempo ou se o avião ao cair atravessou um vórtice do tempo indo parar no século XVI. Infelizmente, após seis episódios distribuídos pelos oito números da revista, a série é interrompida deixando várias dúvidas no ar.

Para saber mais sobre Roberto Kussumoto clique aqui.

Sobre o roteirista: Ataíde Braz (Pernambuco, 26 de agosto de 1955) começou sua carreira em 1978 na editora Vecchi, onde trabalhou na revista Spektro, em parceria com o desenhista Roberto Kussomoto. A dupla passou a colabora com a Grafipar de Curitiba, onde Ataíde escreveu diversos roteiros de quadrinhos.

Após o encerramento das atividades da Grafipar, Ataíde Braz voltou a São Paulo, onde trabalhou com a editora Nova Sampa. Lá, editou quadrinhos eróticos e de terror. Em 1983, casou-se com a ilustradora Neide Harue. Em 1985, lançou a série em estilo mangá "Drácula A Sombra da Noite", ilustrada por Neide Harue, inspirada em Drácula de Bram Stoker, a série foi encerrada em 1987 com a publicação de O Retorno de Drácula - Vampiro no Ragtime" Logo em seguida, o casal produziu Skorpion - Arma Mortal para a Imprima Comunicação.

Em 1989, pela EBAL roteirizou histórias baseadas nas séries japonesas de tokusatsu Jaspion e Changeman com desenhos de Roberto Kussumoto, Neide Harue e Edson Kohatsu.

Nos anos 1990, escreveu quadrinhos para editoras da Bélgica, França e Holanda através da agência belga Commu, da qual também foi coordenador da filial brasileira. Na Abril Jovem, roteirizou uma história do anime Zillion com desenhos de Roberto Kussumoto.

Em 1994, lançou uma de suas principais obras, Mulher-Diaba no Rastro de Lampião, desenhada por Flavio Colin, que mistura ficção e realidade. No ano seguinte, esse trabalho ganhou o Prêmio Ângelo Agostini de melhor lançamento e o Troféu HQ Mix de melhor graphic novel nacional.

Em 2013, publicou o livro Velozes e Vorazes, com capa de Arthur Garcia e Flavio Soares e arte interna por Mozart Couto, publicado pela Editora Minuano.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Manda Chuva - 1985

Em junho de 1985, Franco de Rosa publicou no jornal Folha da Tarde (SP) uma charge caracterizando o então presidente José Sarney como o gato Manda Chuva, personagem dos estúdios Hanna-Barbera. O editores se entusiasmaram com a ideia e pediram a ele, e também aos cartunistas Novaes e Nicoliélo, algumas tiras com cunho político baseada na famosa série de TV.

Em colaboração mútua os três autores começaram a bolar a tirinha diária e a satirizar todos os personagens da política nacional daquele período por meio da Turma do Manda Chuva. Assim tivemos José Sarney como Manda Chuva; Antônio Carlos Magalhães como Batatinha; Ulisses Guimarães como Guarda Belo; Gênio como Dornelles; e várias criações do trio como o Gatuf (Paulo Maluf); Gazola (Leonel Brizola); Frajola (Jânio Quadros); Juca Pato (Fernando Henrique Cardoso); Gatarazzo (Eduardo Suplicy); Gatayad (João Sayad); Soneca (Franco Montoro); um cão velho (Ernesto Geisel) e um gato misterioso (Freitas Nobre).

Apesar da boa repercussão a série parou depois de apenas um mês. O representante da Hanna-Barbera no Brasil, já escaldada com várias sátiras eróticas publicadas por pequenas editoras de quadrinhos como a Nova Sampa, reclamou sobre o uso de seus personagens, por isso, houve uma reunião com os editores da Folha da Tarde, e o representante da HB só concordaria que a série continuasse se o jornal publicasse uma tira diária dos estúdios HB ao preço de 100 dólares por semana, um preço muito muito alto para a época, e a direção da Folha da Tarde pediu o cancelamento da Turma do Manda Chuva.

Um final infeliz para uma ideia bastante feliz, mas Novaes não se deu por vencido e partiu para uma nova empreitada, desta vez caracterizando José Sarney como Sir Ney (conheça aqui)!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Meia Lua - 1974

Embora com um nome bastante poético, Meia Lua é uma divertidíssima sátira aos super-heróis criada por Paulo Paiva (1957-2021) para o concurso de novos talentos promovido pela revista Gibi Semanal em 1974. Apresentada no número 23 da publicação, a série, infelizmente, não teve continuidade, mostrando que o Gibi perdeu uma grande oportunidade de cultivar um ótimo material.

A série foi apresentada sem título, apenas com o nome do autor, como várias outras, mas pudemos recuperar o nome do personagem graças ao auxílio de Suely Furukawa, esposa de Paulo.

Com o traço sintético típico do autor e inovações gráficas na divisão dos quadrinhos, Meia Lua tinha tudo para deixar sua marca na história de nossos quadrinhos.

Para saber mais sobre Paiva clique aqui e aqui.

Acima, o Capitão Mumunha, outra sátira aos super-heróis produzida por Paulo Paiva.