sábado, 26 de dezembro de 2020

O Gordo e o Magro - Diário de Pernambuco - 1936


Em 1936 o cartunista Figueiredo apresentou no suplemento infantil O Gury, do Diário de Pernambuco, as aventuras da dupla O Gordo e o Magro, baseadas nos cômicos do cinema norte-americano Stan Laurel e Oliver Hardy.


Embora as histórias não fossem identificadas como sendo dos dois comediantes, nas legendas os personagens eram identificados como o Gordo e o Magro.

A dupla já havia tido histórias em quadrinhos desenhadas por outro brasileiro, o desenhista Francisco Acquarone na revista O Tico-Tico em 1934, mas eram anúncios em forma de quadrinhos de produtos de higiene e cosméticos como o sabonete Beija-Flor e a pasta de dentes Oriental (abaixo).

Para saber mais sobre O Gordo e o Magro d'O Tico-Tico visite o site HQ Retrô clicando aqui.

 

 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

As Aventuras do Gury - Diário de Pernambuco - 1936

Em janeiro de 1936 estreava, no Diário de Pernambuco, o suplemento infantil O Gury, com direção de Tio Juca, o jornalista Fernando Spencer.


Com isso estrearam também As Aventuras do Gury, criação do cartunista Corrêa (segundo Enrique Lipszyc no catálogo da Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, MASP, 1970, é Abílio Corrêa, criador do Zé Farol). A série focava nas travessuras e ingenuidades de um garoto e seu cachorro Cotó, bem na linha dos quadrinhos infantis da revista O Tico-Tico.

Os desenhos de Corrêa mostravam forte influência dos personagens do animador norte-americano Charles Mintz, como podemos notar na figura abaixo.

A revista O Guri (Gury), lançada em 1940, pertencia ao Diário da Noite, do Grupo Diários Associados, que também comandava vários Diários regionais, como o Diário de Pernambuco e de Natal. Então o nome O Gury, não é mera coincidência. O suplemento O Gury, do Diário de Pernambuco republicou muito material do suplemento infantil de O Jornal (RJ) também dos Diários Associados.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Samanta - Jornal do Brasil - 2004

Apesar de ser uma garota moderna, Samanta vive focada em seus problemas amorosos e de relacionamento, junto com sua amiga Milu.

Com um traço excelente, Samanta foi criada pelo cartunista Alpino para A Gazeta de Vitória e publicada no Jornal do Brasil em 2004.


Sobre o autor na Wikipedia:

"Alberto Correia de Alpino Filho, o Alpino (Baixo Guandu, Espírito Santo, 4 de junho de 1970) é um cartunista e quadrinista capixaba. Criador das tiras Luzia (2001) e Samanta (2004), ilustrador do jornal Folha de S.Paulo, chargista do portal de comunicação Yahoo! Brasil e cartunista da revista Playboy. Após duas indicações por suas produções em 2011 e 2012, recebeu o Troféu HQ Mix de Desenhista de Humor Gráfico de 2013.

Sexto, dos oito filhos de Maria Neves de Alpino e Alberto Correia de Alpino. Seu pai trabalhava como guarda-chaves na Companhia Vale do Rio Doce, em Aimorés (MG). Em 1977 ele foi transferido e mudou-se com a família para atuar na mesma função na estação de Piraqueaçu, situada no lugarejo de mesmo nome, no município de João Neiva (ES). Cercada de vegetação, a casa ficava defronte à linha férrea e próxima à estação. A terra alaranjada e macia da propriedade propiciou ao jovem Alpino, de posse de gravetos, a base para seus primeiros rabiscos. Em 1983, após a aposentadoria de seu pai, a família muda mais uma vez, agora para a cidade de João Neiva. Aos 17 anos, Alpino consegue seu primeiro emprego na única gráfica local, a Hércules. Seis anos mais tarde, vendo limitadas as suas possibilidades de evoluir no campo da tipografia e as poucas ofertas de emprego na região, passa a trabalhar como guarda bancário no Banestes, na cidade vizinha, Ibiraçu.

Luzia - Em 1997 passa a ilustrar cartilhas institucionais para a agência publicitária M&M, em Vitória (ES). Ali toma contato com o mundo dos quadrinhos capixabas, se tornando amigo de outros cartunistas como Zota, Gió, J. Carlos e Zael. Nesse período cria a personagem Luzia, tendo como base a foto de sua esposa, Luzia Caliman no jardim de infância. Faz vinte tiras e passa a oferecê-las ao maior jornal do Espírito Santo, o diário A Gazeta. Três anos mais tarde, a editora Silvana Holzmeister cancela a tira Garfield, que encarecia novamente e cede o espaço à Luzia. No dia 21 de novembro de 2001, a tira estreava no Caderno Dois.

Samanta - Mesmo com o sucesso alcançado por Luzia, Alpino passa a testar novos personagens no espaço que conquistou em A Gazeta. São desse período os cartuns de A Doce Vida e Super Dog. A melhor resposta veio com Samanta, personagem batizada com o mesmo nome de sua única filha. A tira é levada à apreciação da Intercontinental Press, representante dos syndicates norte-americanos e detentora dos direitos de tiras clássicas como Recruta Zero e Hagar, o Horrível. A tira tem boa aceitação e passa a ser publicada no jornal O Sul (RS), A Crítica (AM), Jornal do Brasil (RJ) e Agora (SP).

Folha Vitória - Em maio de 2007, sem deixar as tiras, inicia a produção de charges diárias para o site de notícias da Rede Vitória, o Folha Vitória. Desse período inicial com as charges, relembra um fato. "Era o primeiro mês em que eu fazia a charge do Folha e me utilizei de uma notícia que vi na TV. A Polícia Federal havia apreendido uma grande quantidade de maconha e faria uma solenidade onde queimaria um quilo em uma pira. O restante seria incinerado mais tarde no alto-forno de uma empresa local. A destruição televisionada daquele quilo de maconha contou com a presença do alto escalão do governo e da Polícia Federal. Quando acenderam a pira, o vento começou a soprar a fumaça da maconha em direção às autoridades. A imagem era engraçada. Todas aquelas pessoas que haviam discursado minutos antes sobre o combate às drogas, agora estavam ali, envoltas naquele nevoeiro de maconha. Fiz a charge da seguinte forma: tendo ao fundo as autoridades, a pira e a fumaça, dois policias conversam entre si. O primeiro diz: "Está faltando uma coisa ...". O segundo policial deduz: "Aumentar o fogo?". O primeiro reponde: "Não... um CD de reggae...". Gostei imensamente da charge, mas não agradou ao comandante da Polícia Federal, que ligou para a redação do Folha Vitória, reclamando. A charge saiu do ar minutos depois.

Yahoo! Brasil - Dois anos mais tarde, mesmo com o sucesso de Samanta, Alpino decide retomar os cartuns de A Doce Vida, seguindo a escola dos cartunistas norte-americanos da revista The New Yorker. Dessa safra, ele produz quarenta cartuns, que passou a oferecer a revistas e jornais online. A única resposta positiva que recebeu foi do portal de comunicação Yahoo! Brasil. Pelas mãos do editor Rafael Alves e Edson Costa, seus cartuns ganharam uma página dentro do portal. Com a boa aceitação dos cartuns, Alpino é convidado a ser o primeiro chargista do Yahoo! Brasil, estreando no dia 1º de Abril de 2010, se unindo ao elenco de colunistas célebres como Regis Tadeu, Bernardo Ricupero e Sérgio Rizzo.

Antes do fim do seu primeiro mês como chargista do Yahoo! Brasil, sua esposa Luzia toma conhecimento do 4º Concurso de Ilustração da Folha de S.Paulo e o incentiva a participar. Mesmo reticente ele se inscreve na categoria cartum com três trabalhos. Alpino hesitou até o último momento para se inscrever pois acreditava que o seu traço não tinha relação com o dos cartunistas consagrados da Folha, como Angeli, Laerte e Glauco. No dia 21 de maio, a Folha de S.Paulo estampava a matéria sobre o concurso e o primeiro lugar alcançado pelo cartunista capixaba.

No final de dezembro de 2011, em acerto com Edson Aran, editor da edição nacional da revista Playboy, Alpino cria uma página mensal com cinco cartuns. A estreia se deu na edição de janeiro de 2012, tendo em sua capa, Vanessa Zotth. Alpino produziu 240 cartuns para a revista até dezembro de 2015, quando a Editora Abril decidiu parar de publicar a revista".

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Zé Latinha - Jornal da Tarde - 1966

Com o lançamento do Jornal da Tarde, do Grupo Estado de S. Paulo, em 1966, estreou também o Zé Latinha de Rivaldo Macedo, uma das mais comentadas e menos conhecida das tiras nacionais. 

Zé Latinha é um robô às voltas com Napinha, um gato narigudo; João das Dúvidas, um caracol questionador; sua irmã robô, Luzinha e outros coadjuvantes humanos.

As histórias abordavam temas bastante variados com questionamentos filosóficos e psicológicos, como quando Zé Latinha sofre uma regressão à infância pela chegada de sua irmã Luzinha ou quando ignora a paixão platônica por parte de uma bomba de gasolina.

Havia também muitos comentários com assuntos da atualidade, como a rodada de futebol da semana. Rivaldo devia ser um fanático torcedor do Santos, pois transpôs essa paixão ao gato Napinha. Na série também foi abordada a chegada do homem à lua e até a exposição 'História em Quadrinhos & Comunicação de Massa’, ocorrida no MASP, Museu de Arte de São Paulo, em 1970.

Zé Latinha, aparentemente, teve bastante repercussão na época pois foi tema de baile a fantasia na boate Paparazzi em fevereiro 1967, na Noite do Zé Latinha, e fez parte da dita exposição no MASP. Apesar disso, do bom texto e dos desenhos excepcionais de Rivaldo, nunca teve uma republicação em álbum ou livro. A tira perdurou até o início dos anos 1970, quando, devido a alguns atrasos por parte do autor, foi substituída por uma tira estrangeira.


Ilustração de Rivaldo para o Jornal da Tarde.

Para saber mais sobre Rivaldo clique aqui.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Leão Negro - O Globo - 1987

Tira de aventuras criada por Cynthia Carvalho e Ofeliano Almeida, O Leão Negro começou a ser publicado em 1987 no jornal O Globo. No ábum O Filhote, editora Meribérica, 1990, o personagem é assim apresentado:

"Quem é Othan, o Leão Negro? Um guerreiro mercenário, a vagar aqui e acolá oferecendo sua força ao senhor da guerra que melhor remunere.

Voa livre no seu dragão Tofú, animal inquieto e mais ou menos fiel. Quando suas armas perdem o fio e o corpo clama por descanso, ele retorna ao lar doce lar: um castelo arruinado e isolado, onde ainda vive seu último parente, O irmão Isaúh. Isaúh poderia ser como Othan, mas optou por uma vida de paz e contemplação. Solitário, só tem a companhia de uma jovem escrava, a leoazinha Hera, que pacientemente espera desabrochar para desposar.

Os dois irmãos não se dão e sob qualquer pretexto chegam as vias de fato. Por estas e outras Othan nunca se demora em casa".

Na Wikipedia podemos ler um ótimo resumo da série:

"A série é protagonizada por felídeos antropomorfizados em um planeta sem nome, mas bastante parecido com a Idade Média da Terra. Suas histórias foram publicadas em inicialmente em tiras pelo jornal O Globo de 1987 a 1989.


A primeira página dominical do personagem, O Globo, 23/08/1987.

 
A segunda tira do Leão Negro, O Globo, 24/08/1987.

Leão Negro foi criado pela roteirista Cynthia Carvalho em 1979, aos 16 anos, inicialmente, Othan, o Leão Negro, inspirado no próprio pai de Cynthia, era um coadjuvante de "Espadas e Garras", cuja personagem principal era a leoa Shebba, que depois passou a ser chamada de Tchí, com quem Othan teria um filho, Kasdhan. Em 1987, O desenhista Ofeliano de Almeida, participa de um concurso de tiras realizado pelo jornal carioca O Globo, Ofeliano planejava criar um tira de humor, porém resolveu investir num projeto de tira de aventura, logo convence Cynthia a escrever a tira baseada em seu projeto da adolescência. Cynthia e o Ofeliano começam a publicar Leão Negro no jornal O Globo no formatos tira diária e Pranchas dominicais, a tira foi publicada durante dois anos jornal, em meio a censura e críticas por parte dos leitores do jornal. Em 1990, a dupla assina com a editora portuguesa Meribérica, está publica os arcos de história O Reencontro e O Filhote na revista Selecções BD e num álbum colorido chamado O Filhote. 

 
Álbum O Filhote, editora meribérica, 1990.

Em 1996, a dupla publica a história inédita Magala nas páginas da antologia Brasilian Heavy Metal, álbum com autores brasileiros baseado na revista Heavy Metal. Em 1997, publicam nos três números da revista de RPG de mesa Saga da Editora Escala. 

Em 2003 é lançado o site oficial do Leão Negro, no ano seguinte são lançados quatro álbuns independentes trazendo histórias publicados no jornal O Globo e a história Magala, que também esteve disponibilizada no site da Editora Nona Arte, os álbuns são vendidos através do site oficial da série, os leitores também puderam comprar o álbum O Filhote da Meribérica, diferente de O Filhote, todos os demais álbuns foram publicados em preto e branco, a dupla optou por não publicar o primeiro arco publicado em O Globo, por não gostarem do resultado de tantas intervenções. Em 2008, Cynthia assina contrato com a estreante HQM Editora, essa incia a publicação de duas séries de álbuns novamente em preto e branco: A série origens trazendo as republicações anteriores e uma história inédita Questão pessoal, história disponibilizada para download no site oficial juntamente com Magala, Questão Pessoal foi desenhada por Danusko Campos, um artista com influência dos quadrinhos japoneses, Danusko substituiu Ofeliano, que atualmente trabalha na elaboração de storyboards para cinema e televisão. A nova série teve histórias inéditas desenhadas por André Mendes e Danusko Campos, Em 2009, Cynthia lança a graphic novel independente A Vestal desenhada por André Leal, a história se passa na mesma época da Nova série publicada pela HQM. No ano seguinte, são disponibilizados no site oficial, contos do Leão Negro, primeira inciativa em prosa da série. No mesmo, são publicados novos álbuns pela HQM: O Filhote e Leão Negro – Volume 3: Histórias de Família, logo depois, Cynthia usa novamente seu site oficial para vender os álbuns Nalabar (da nova série) e o terceiro álbum da série Origens: Terra Polares. Em 2012, publica o livro Contos Sangrentos - Histórias do Universo do Leão Negro pela editora Agbooks, uma editora sob demanda, no ano seguinte, publica novamente o álbum A Vestal pela editora Clube dos Autores, uma editora parceira da Agbooks, no mesmo ano, a HQM volta a publica a série com o lançamento de quatro álbuns simultâneos:-Leão Negro – Série Origens – Vol.3: Terras Polares, Leão Negro – Série Origens – Vol.4: A Pantera, Leão Negro – Série Origens – Vol.5: Fêmeas e Leão Negro – Vol.4: Nabalar". 

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Revista Saga nº 03, editora Escala, 1997.

 

Sobre os autores no site Leão Negro:

Cynthia Carvalho - A roteirista

Desde que me entendo por gente, fazia quadrinhos. Primeiro uns sapos futuristas horrorosos, que desenhava em cadernos pautados e mostrava não a uma mãe, mas às namoradas do meu pai, que “achavam lindo” e assim conquistavam mais um pouco o coração do viúvo tirano.

Um pouco mais velha, ganhava uns trocados fazendo HQs com personagens da família. Uma tia comprava 1 gibi por semana, contanto que ela estivesse na história. Eu aproveitava para esculachar com todo mundo, era o único jeito de fazê-lo impunemente. Paralelo a isso eu fazia, para mim mesma, aventuras futuristas com os equinóides. Corpo humanóide e cabeça de cavalos. Haviam outros personagens, mas menos importantes.

Sempre fui muito introspectiva e escrever e desenhar era fundamental para mim. Até hoje eu não suporto ser interrompida quando estou escrevendo.

É como ser brutalmente arrancada de um universo e ser atirada a outro. Não dá pra não entrar em choque.Entre um choque e outro (ninguém respeitava minha introspecção), aos 16 anos fiz a primeira HQ com o Leão Negro. Na verdade ele era um personagem secundário na saga da Tchí, a leoa. Mas se mostrou tão forte que chamou atenção.

Aos 21 mostrei o rascunho para o Ofeliano, mentor de jovens quadrinhistas da época e mais tarde, companheiro. No traço do Ofeliano o personagem ganhou ainda mais personalidade. Quando o jornal O Globo nos contratou para produzir tirinhas de aventura é que a coisa deslanchou. Produzi freneticamente roteiros e mais roteiros.

Paralelo a isso, escrevi alguns roteiros e arte finalizei outras HQs de romance, sci-fi, humor e eróticas para editoras de São Paulo. Mas meu forte mesmo é roteiro. Não tenho o talento e a disciplina necessários para um bom ilustrador. Acabei me formando em design e fui trabalhar em agências de propaganda e editoras. Hoje sou uma designer que também faz roteiros.

Há poucos anos, graças ao entusiasmo do Vitor, me animei a retomar o Leão Negro. Voltei a escrever roteiros e procurei muito por um desenhista com talento e disposição para desenhá-los. Danusko foi um achado. Estou animada, finalmente o leão está de volta.


Nada vem do nada

Levei muito tempo para perceber isso. Nos roteiros mais recentes, o Leão Negro foi ficando cada vez mais parecido com uma pessoa muito importante para mim: meu pai. Colérico, infiel... um adorável canalha, como Othan. “Doutor Carvalho” pode ter sido tudo isso, mas, para mim, será sempre o homem orgulhoso e elegante que eu admirava. Criou sózinho os sete filhos que teve com duas mulheres numa enorme casa, isolada e encravada no alto de um morro (eis a Ilha de Gardo!). Dos sete capetas, um deles ficou tão parecido com ele próprio, que não podiam suportar-se (e eis Kasdhan!). Nos roteiros mais recentes vão despontando características de vários membros de minha louca família.

Sim, tenho material pra muitas histórias... tudo colhido na infância.

 
Brazilian Heavy Metal, editora Comix Book Shop, 1986

 
Ofeliano de Almeida - O desenhista

Minha primeira e permanente influência no desenho de aventura em quadrinhos é Principe Valente, de Harold Foster. Lembro-me, com nove anos de idade, indo visitar meus avós num ônibus para São Paulo, lendo uma revista do príncipe Val onde ele retorna a seu castelo. Vindo de mais uma batalha sangrenta ele invade a sala de banhos de sua mulher, a cinematográfica princesa Aleta. Foster desenhou Aleta em muitas cenas sensuais e embora ela lembrasse bastante as donas de casa da classe média dos seriados tipo I Love Lucy se tornou minha namorada por um tempo.

Afinal, Foster traçava tudo com a elegância e o esmero dos gravuristas românticos e transformava a Idade Média insalubre num verdadeiro resort charmoso e prazeroso. As cenas de batalha, tarefa complexa pra qualquer desenhista, ficaram impressas na minha mente como modelo pra desafios profissionais no futuro. Nenhuma criança escaparia a tal encantamento. Eu estava fisgado.

Creio que toda minha carreira de desenhista de quadrinhos vem sendo uma tentativa de perpetuar o impacto e a magia daquelas horas de viagem, folheando aquele gibi. A vida e o mundo seriam bons se eu os mantivesse daquele jeito. Como se minha carreira estivesse traçada nas estrelas desde o Big Bang, me tornei artista gráfico, com ênfase para os quadrinhos. Só não podia calcular que dedicar-me à HQ no “Terceiro Mundo” era muito mais arriscado do que enfrentar os monstros e guerreiros mongóis que o príncipe VAL destroçava com vigorosas espadadas. É que, em geral, ganhou-se pouco dinheiro na HQ brasileira, embora tenhamos muitos talentos verdadeiros. Mas se a luta seria inglória, pelo menos que fosse divertida. As causas perdidas sempre foram as mais atraentes e, afinal, meus heróis de juventude nunca foram Disney ou Kennedy, mas Carlos Lamarca e Sandino.

Porém, pesando tudo nestes 25 anos de batalhas gráficas, vejo que emplaquei algumas vitórias memoráveis e coloquei meus quadrinhos em gibis, livros, revistas e jornais, alguns deles com milhões de leitores mensais.

Conhecer Cynthia Carvalho e seu imaginário em HQ foi como um encontro zodiacal: harmonia cósmica. Fizemos dois anos de tiras diárias do Leão Negro em O Globo (de 1987 a 1989), depois o álbum a cores pela Meribérica (Lisboa), distribuído nos países de língua latina, mais tarde publicamos três aventuras na revista Saga e queremos vê-lo abrindo caminhos sempre, nem que seja com vigorosas espadadas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sarnento, o fiscal - O Globo - 1986

Em 1986, com os vários fracassos dos planos econômicos do período, Ofeliano de Almeida criou Sarnento, o fiscal. A tira criticava o momento econômico e principalmente a pouca eficácia do Plano Cruzado, do governo do presidente José Sarney e foi uma das obras premiadas no I Concurso Nacional de Quadrinhos do Globo.

Em março de 1992, ao próprio jornal, Ofeliano deu o seguinte depoimento:

"Na época, o povo parecia se aliar aos seus inimigos eternos, os políticos oportunistas. E aqueles que realmente lutavam por uma causa popular ficaram sem função, falando ao vento. As tiras comportavam muitos personagens: o Sarnento, o fiscal combativo, fiel escudeiro do Rei, e os anti-heróis, todos desempregados, caducos, como Robin Hood, que no desenho era um rato, e o Zorro, que era uma raposa".

Infelizmente a tira não teve publicação regular, pois o autor preferiu substituí-la pela série Leão Negro.

Ofeliano na revista Androide, editora Press, 1986.
 
Para saber mais sobre o autor clique aqui.