sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Silvio Fukumoto - Entrevista - 1988

Em março de 1988, Silvio Fukumoto, então Diretor do Departamento de Quadrinhos da editora Abril, concedeu a entrevista abaixo ao jornal Portal. Embora um pouco datada a matéria nos dá uma boa ideia de como os quadrinhos eram vistos pela grande empresa gráfica. Leiam e tirem suas conclusões.
Fukumoto quadrinizou o romance O Garimpeiro (acima), de Bernardo Guimarães, para a revista Aventuras Heroicas da editora La Selva, onde havia começado como letrista, em 1955.
 
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HQ: a Abril abre o jogo

É o que Silvio Fukumoto, diretor dos quadrinhos da editora Abril, nos mostra nesta edição.

Entrevista de Goyo Yamashita

Os quadrinhos ou HQ, uma forma de comunicação de massa, têm uma longa e interessante história. Neste número, Silvio Fukumoto, Diretor Responsável da Divisão de Quadrinhos da Editora Abril, nos revela o porque da longevidade dos personagens, seus questionamentos e toda a gama de técnicas que envolvem os quadrinhos.


Atualmente, qual o carro chefe das histórias em quadrinhos?

O Almanaque Disney. Durante muitos anos foi a revista Tio Patinhas.

No caso dos personagens Disney, qual a porcentagem das histórias produzidas aqui no Brasil?

Boa parte é feita aqui, nós recebemos também diversas colaborações de outros países, principalmente da Itália que é a maior produtora Disney do mundo e que nos envia muito material.


Existe um estudo de mercado para se achar uma personagem?

A personagem não. O que existe é uma pesquisa sobre as revistas já existentes. Este estudo nos permite delimitar o tipo de público alvo. Há uns quinze anos, todas as outras publicações atingiam somente uma parcela de público. Um exemplo: revistas como a Luluzinha, o Bolinha, tinham uma porcentagem de 65% do público entre meninas de 8 a 10 anos. As revistas do tipo Tarzan e outras de aventuras tinham como público meninos. O que demonstra dois tipos de limitação, a primeira pelo sexo, a segunda pela idade. Então aí que as revistas Disney levavam vantagem, porque estas não sofriam estas restrições, pois elas eram feitas pra toda família.

Durante quanto tempo uma personagem se mantém? Ela não fica démodé?

O público de HQ sempre vai se renovando e como a personagem não envelhece, há sempre um renovação.

Mas e no caso dos super-heróis, eles têm uma tendência a sumir?

Não, eu acho que não, veja o caso do Super-Homem, ele já tem mais de 50 anos, o Batman também. Os super-heróis vão se adaptando, sofrendo mutações de acordo com as transformações que sofre o mundo. Veja o caso do Capitão América, que foi criado pelo oba-oba americano, no tempo da guerra como uma colaboração dos quadrinistas para o esforço de guerra americano. O Capitão América nasceu como uma exaltação da nação americana no combate às forças do eixo, principalmente a Alemanha. Depois que acabou a guerra, o Capitão América ficou sem função, acabou a missão para a qual ele havia sido criado.

Como é que funciona o sistema dos quadrinhos?

A HQ é uma modalidade de comunicação de massa, é uma história contada através de imagens e de preferência numa sequência cinematográfica. No início de HQ eles não contavam histórias complicadas, por isso não tinham textos. Com o tempo, a HQ começou a contar histórias mais complicadas e para isso precisava-se utilizar textos abrangendo os balões e recordatorios. Então os balões substituíram as falas porque os quadrinhos não têm som. Quanto a falta de movimento, esta parte é suprida pelo desenhista que procura dar a idéia de movimento através da sequência de desenhos. Agora o resto fica por conta da imaginação do leitor, para perceber aquela sequência. Então deve-se observar que uma legítima HQ não pode ter muito texto, as imagens devem contar a história.

E o processo gráfico?

O desenho é feito a nanquim. Depois é feito um filme das cores com base num guia de cores. Posteriormente, fotografa-se o original do desenho a traço que é reduzido a um filme positivo chamado rotofilme que reduz o desenho para o tamanho da revista 11,4 cm de largura mais ou menos. Feito o filme do preto, são feitos mais três filmes, um amarelo, um azul e um vermelho. Cada filme é gravado num cilindro que vai imprimir cada uma das quatro tintas, fazendo com que a superposição destas alcance o resultado final.

Os quadrinhos contaram muitas histórias relativas a best-sellers?

Como se trata de uma modalidade, pode-se contar qualquer história, até a Bíblia já foi feita em quadrinhos. A história do Brasil, os clássicos da literatura, os maiores best-seller foram quadrinizados, utilizando essa forma mais fácil de comunicação e que levou a cultura para milhões de leitores que de outra forma nunca teriam tomado conhecimento destas obras literárias, como é o caso de Romeu e Julieta, Don Quixote de La Mancha, Paraíso Perdido, Quo Vadis, Ben-Hur, Os Lusíadas, lracema, O Guarani, Primo Basílio, Don Casmurro etc.


E como está dividido o público leitor Disney?

Mais da metade do público é adulto, universitários. De um modo geral, as histórias Disney são feitas para todos os membros da família, sem distinção de sexo ou idade. Assim como todos os filmes que Walt Disney lançou, A Gata Borralheira, Bambi, e que foram mostrados para o Mundo. São histórias perfeitamente compreensíveis para as crianças mas que também agradam aos adultos. Veja o filme O Mágico de Oz, que não é do Disney, mas que é um clássico de literatura infantil criado por James Lyman Frank Baum no começo do século e que posteriormente foi levado às telas do cinema com um cenário deslumbrante. Uma história muito bonita e que acabou se tornando um clássico do cinema. Uma história que é basicamente infantil, mas que agrada também aos adultos.

A Abril tem algum tipo de publicação na linha erótica?

Em quadrinhos não. Essa modalidade a que você se refere, chama-se underground. Uma espécie apelativa que surgiu quando os quadrinhos entraram em decadência pela concorrência da televisão, pela mudança dos costumes, pela perda do espaço no tempo disponível de cada leitor. Então eles começaram a partir para outras modalidades e o underground foi uma das formas encontradas pelos quadrinistas americanos, franceses e italianos. O underground não chega a ser uma história pornográfica, pois ela contém muitos elementos artísticos, mas são histórias que subvertem a velha ordem, como esse negócio de final feliz, mensagens construtivas. E o underground não tem este tipo de preocupação. Há formas piores que o underground, que são as histórias puramente pornográficas, uma espécie de literatura de baixo nível de aventureiros que só querem ganhar dinheiro e não estão preocupados com o público.


Como você vê a questão de História D'O e os quadrinhos do Zéfiro?

Não tenho uma ideia formada, não posso comentar.


Como é que ficou o posicionamento do index após a abertura democrática?

No nosso caso, não são as autoridades que proíbem, nós é que temos que ter um auto policiamento, pois o nosso público é em grande parte formado por crianças. Então nós não temos o direito de entrar em todas as casas de família, levando mensagens negativas, anti pedagógicas.


Nunca houve um caso em que uma das histórias foi censurada?

Não, nas revistas não. Mas, às vezes, fomos obrigados a esclarecer alguns assuntos que as autoridades educacionais não gostaram.

Alguma vez o Sr. foi intimado a depor?

Algumas vezes, só que não foram coisas graves. Houve um caso, sobre uma propaganda de canetas, em que uma criança estava com a caneta no boca. As autoridades interpretaram este gesto como se a criança estivesse fumando. Isto pra eles parecia uma indução ao tabagismo. E é aí que você pode perceber que, numa edição qualquer, o herói não fuma. Pode aparecer um bandido fumando, mas o herói não pode dar mau exemplo. A não ser no caso underground que citei, onde o herói não é herói, é anti-herói. Mas, no geral, as revistas procuram seguir a linha exemplar, como no caso da Alegria, e as revistas europeias conhecidas, como a “Okapi" (francesa), a “Chickadee” (canadense), procurando não mostrar imagens negativas.

A discussão sobre a sexualidade das personagens Disney é um negócio muito discutido. Você poderia nos explicar por que os personagens Disney não têm pais?

Aí o caso é o seguinte: não está dito que eles não têm pais. Apenas eles não aparecem!

Porque Piconzé de Ype Nakashima foi o único longa-metragem feito até agora no Brasil?

Ah, não sei. Mas acredito que a principal causa tenha sido o problema financeiro. A falta de verba é o grande problema crônico dos novos lançamentos, pois estes podem não apresentar um retorno aos investidores.

Considerando-se que o Brasil já possui ótimos cartunistas, qual o maior empecilho para se criar um super-herói nacional?

O problema consiste na falta de verba, de recursos humanos e principalmente porque é difícil se criar uma personagem nova devido à grande concorrência dos heróis já existentes. Então, quem verdadeiramente decide é o público, que não quer saber se a personagem é nacional ou estrangeira. Se esta não agrada não adianta as campanhas tipo “AJUDE O MATERIAL BRASILEIRO”. Se você inventa uma personagem nova e escreve uma HQ, em curto espaço de tempo fica difícil vender este produto. Uma nova personagem não tem personalidade ainda, não tem vida, não tem currículo, não tem mundo. E estas coisas só são formadas ao longo da vida da personagem. Assim, quando o Mickey surgiu em 1928, o Walt Disney criou mundo dele. E é assim com todas as personagens, todas vão adquirindo peso e personalidade de acordo com as histórias em que se vai vivendo. Tudo isso leva um certo tempo e um grande investimento.

Você acredita na guerra do monopólio dos quadrinhos?

O monopólio dos quadrinhos não existe: Eu não conheço!

O senhor não acredita que hajam artistas cujos desenhos não foram devidamente apreciados?

Eu não conheço nenhum trabalho de valor que tenha sido engavetado, porque se um trabalho tem um bom potencial, qualquer editor gostaria de publicá-lo.

Mesmo que esse trabalho seja apreciado logo após uma campanha publicitária de uma personagem recém-lançada da mesma empresa?


Não sei se alguém faria isso, porque aqui na Abril, nós temos o interesse de encontrar cada vez mais material nacional.

Vai ter um montão de caras procurando emprego aqui, hein?


Risos... Eu quero é que apareçam muitas pessoas de talento. Nós aqui temos muitos colaboradores. Agora, argumentistas, o pessoal que escreve, está muito difícil de se encontrar, o que já não acontece com desenhistas. O mesmo problema. aconteceu no começo das HQ nos EUA, no século passado no jornal “New York World” de Pulitzer. Pulitzer era um jornalista de caráter muito inovador, um cara muito ousado que gostava de lançar novidades. Então, um dia, lançou uma série de histórias em quadrinhos. Só que nessa época, nos EUA, não havia desenhistas, nem cartunistas de quadrinhos, porque não havia a modalidade e, não havendo esta, não haviam especialistas. E o Pulitzer então encarregou um dos seus desenhistas, (estes tinham muito trabalho como ilustradores, porque até então, meados do século passado, não havia a fotografia. Assim, eram os desenhistas que ilustravam as matérias).

Os primeiros quadrinhos eram simples piadinhas, sem balões nem argumentação. Aí quando a idéia do Pulitzer vingou, muitos outros órgãos se interessaram pelos comics. Mas o Pulitzer tinha o seu desenhista, o Richard Fenton Outcault, que foi o precursor em criação dessas tiras em quadrinhos, os outros não. Aí então, os outros jornais americanos, como o New York Herald, Chicago Tribune, Washington Post, Examiner e outros, tiveram que importar especialistas da Europa, pois naquele continente havia uma grande safra de desenhistas, destacando-se as alemães e os austríacos. Então, os primeiros artistas da HQ americanas são alemães e austríacos, como Frederick Opper e Charles Kahles. Inclusive naquela série, Os Sobrinhos do Capitão, são alemães.

Como você vê a questão da dupla de criação (desenhista e redator) nas histórias em quadrinhos?

Eu acho que a maioria dos desenhistas tem condições de bolar as histórias. O ideal seria que o próprio autor soubesse desenhar, pois se um escreve e o outro desenha, há uma dessintonia, um descompasso no que o autor imaginou e o desenhista interpretou. Nessa transferência de pensamento do autor para o desenhista, existe uma perda. Então, no nosso caso, o argumentista costuma fazer um rafe, um esboço. E mesmo que não seja um desenho bem feito é melhor do que narrar, porque por melhor que seja a narrativa esta ainda é inferior a um desenho mal feito. Agora o grande criador do material Disney, Carl Barks, um gênio dos quadrinhos, escrevia e desenhava. Suas histórias eram geniais. Quando parou de escrever, o material Disney caiu muito de qualidade, o que refletiu muito na vendagem. Até hoje, paulatinamente, estamos republicando as histórias de Carl Barks. Histórias antológicas, geniais, que fizeram as revistas Tio Patinhas e o Mickey ficarem campeãs de vendagem no país e na América do Sul. A Tio Patinhas chegou a vender mais de 500 mil exemplares por mês, figurando como a revista que mais vendia no Brasil, não só quadrinhos, mas entre todo o segmento de revistas, isto na década de 1970.


SILVIO FUKUMOTO - Natural de Cafelândia, iniciou sua carreira nos quadrinhos como letrista na editora La Selva, foi jornalista e bacharel de Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), foi revisor e chegou a Diretor Responsável da Abril na Divisão de Quadrinhos por mais de 12 anos. Faleceu em 2009.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O Centauro Felisberto - Jornal do Brasil - 1973

Em tom de fábula e devaneio, às vezes como narrador e às vezes como protagonista, o Centauro Felisberto contava fatos e causos de um mundo mágico e de habitantes estranhos, como por exemplo uma barriga ambulante.

Com roteiro de Mauro Costa e desenhos de Orlando Mollica a série Conta-nos o Centauro Felisberto passou a ser publicado no suplemento infantil Caderno I, do Jornal do Brasil, a partir de setembro de 1973.


Felisberto teve uma aventura longa publicada no primeiro número da revista O Bicho (editora Codecri, março de 1975). Essa história havia sido produzida para a revista Crás da editora Abril, como não foi aproveitada, acabou saindo posteriormente na revista O Bicho dirigida pelo cartunista Fortuna (abaixo).


Centauro Felisberto em O Bicho, 1975.

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Sobre Mollica, Gonçalo Jr. escreveu no Jornal da ABI, nº 402, em julho de 2014, esta bela biografia:

Artista plástico e arquiteto

Orlando de Magalhães Mollica nasceu em 5 de agosto de 1944, no Rio de Janeiro. “Eu sou tamoio, sou natural daqui, descendente de ancestrais do Rio de Janeiro”, definiu-se, certa vez. Descrevia-se nos últimos anos como artista plástico e arquiteto — formou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, atual UFRJ, em 1969. Entre seus cursos complementares, estudou ilustração na School of Visual Arts, em Nova York, e fez Paisagismo no Instituto dos Arquitetos do Brasil, sob a orientação do professor Fernando Chacel, e de Introdução à Economia Política na ABI, coordenado por Paul Singer. Também estudou Semiologia com ninguém menos que Umberto Eco. Como profissional de Arquitetura e Urbanismo, foi projetista do escritório de Arquitetura Bernardo Figueiredo, além de autor e executor do projeto dos carros alegóricos da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira: “Pioneiros da Aviação”. Fez ainda pesquisa do levantamento da identidade Cultural do Bairro de Vila Isabel para o projeto “Perfil Cultural da Cidade do Rio de Janeiro”, junto à Fundação Rio. Em 1982, tornou-se o responsável pelo Projeto de Urbanização do Complexo do Morro do Alemão e Jacarezinho.

Na publicidade, Mollica entrou para a história ao se tornar, em 1979, o autor do cartaz pela Anistia Nacional, que percorreu o mundo. Ficou mais conhecido, porém, pela importante passagem pela imprensa a partir de 1972, quando estreou no caderno infantil do Jornal do Brasil como autor e responsável pela seção Diacor. Enquanto isso, adentrava no mundo dos livros como coautor do layout e arte final da capa e contracapa do livro O Golpe Contra Howard Hughes, de Stephen Fay. Criou também uma série de histórias em quadrinhos no Caderno I, do Jornal do Brasil. Fez o mesmo na revista alternativa Esperança no Porvir. Até ser contratado como chargista diário pelo Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Tornou-se também colaborador de O Pasquim e Opinião, ícones do jornalismo de resistência contra a ditadura. Em 1974, criou uma página de humor em suplemento da secular Revista Vozes, publicada pela editora católica de Petrópolis. No ano seguinte, virou chargista diário da Última Hora, enquanto era convidado pelo colega Fortuna para colaborar com a revista de quadrinhos nacionais O Bicho, da Editora Codecri, a mesma que publicava O Pasquim.

A paixão pelas histórias em quadrinhos fez com que ele, nas horas vagas dos cartuns e da arquitetura, adaptasse para os quadrinhos os romances Helena, de José de Alencar, e A Moreninha, de Joaquim Manoel de Macedo, pela Editora Etecetera. Seu nome, então, ultrapassou as fronteiras brasileiras depois do convite para participar da seleta Enciclopédia Latino-Americana de Humor. Antes de virar ilustrador exclusivo de O Globo, a partir de 1976, colaborou durante  algum tempo na revista masculina Ele Ela, da Bloch Editores. Em 1978, seus cartuns foram incluídos no livro O Novo Humor do Pasquim.


A despedida do humor se deu nos anos de 1999 e 2000, quando colaborou com a revista Bundas, criada por Ziraldo. Um ano antes, participou do júri do Salão Carioca de Humor de 1998, na Casa de Cultura Laura Alvim. Se não bastasse tudo isso, teve duas passagens pelo cinema. Primeiro, em 1977, quando se tornou responsável pelos figurinos, cenografia e apresentação do filme Cordão de Ouro, do diretor Antonio Carlos Fontoura. Em 2005, cuidou da produção e direção do curta metragem Eu, Rio.


Há dois anos, Mollica havia transferido seu ateliê do Jardim Botânico para o Rio Comprido, bairro onde nasceu e cresceu. Uma mostra de seu trabalho celebrou seu retorno à região e a inauguração do novo espaço de trabalho. Considerado um dos arquitetos mais irreverentes, somava à sua rica personalidade as facetas de jornalista, chargista e pintor. Com seu olhar atento e provocativo, estimulava a inteligência e a sensibilidade em relação à paisagem que nos cerca. Sem trocadilhos, viveu e traçou o mundo com seu talento singular.


Mollica no JB em 1973 e no Pasquim em 1990, com a caricatura do ex-presidente Fernando Collor.

Mollica na revista independente Esperança no Porvir, 1973.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Capitão Cascudo - O Jornal - 1963

  
 
Em junho de 1963, com 82 anos e mais de 50 anos de carreira como ilustrador, cartunista e quadrinhista Max Yantok (Max Cesarino Yantok - Soledade/RS, 1881 - Rio de Janeiro/RJ, 1964) aceita um novo desafio: criar uma tira para os Diários Associados: Capitão Cascudo. O trabalho será publicado simultaneamente em O Jornal (RJ) e no Correio Braziliense (DF), ambos pertencentes ao grupo de Assis Chateaubriand.

Capitão Cascudo é mais um dos muitos heróis aventureiros realizados por Yantok em sua imensa produção. Cascudo, encontrado boiando em alto mar, amamentado com leite de baleia e capitão aos oito anos, vive suas aventuras marítimas junto a seu fiel escudeiro Tung-Li, também encontrado naufragado.

Recheada de trocadilhos e humor nonsense, Capitão Cascudo não faz feio perante as tiras estrangeiras junto às quais era publicado.


Por ocasião do lançamento da tira, em 14 de junho O Jornal publicou a seguinte matéria:

"YANTOK 'ASSOCIADO' — Max Yantok é o mais novo dos nossos velhos colegas. Criador de um mundo especial de personagens incorporados à infância de todos nós — Kaximbown, Pipoca e outros — o octogenário Yantok permanece jovial e disso vai dar provas aos leitores de O JORNAL e Correio Braziliense, a partir de domingo, quando iniciaremos a contar, em quadrinhos, as aventuras e desventuras do Capitão Cascudo.
Antes, Yantok pôs o preto no branco, quando assinava, assistido pelo jornalista Ofir Pinheiro, secretário da Redação, o contrato que o fará a mais recente aquisição 'Associada'".


A última tira do Capitão Cascudo (03/10/1964) e também o último trabalho de Max Yantok.

Cascudo foi o último trabalho do desenhista, falecido em 01 de outubro de 1964. Quando de sua morte O Jornal publicou:

"Chargista Max Yantok morreu aos 83 anos e será sepultado hoje

Será sepultado, hoje, às 9 horas, no cemitério de São Francisco Xavier, o caricaturista Max Yantok, ontem falecido aos 83 anos, vítima de insulto cerebral, após mais de meio século de atividade ininterrupta, deliciando gerações de meninos brasileiros, com as 'charges' agudas e irreverentes, publicadas em tantos jornais e revistas, inclusive O JORNAL, onde a morte encerrou a sua carreira.

Criador de Kaximbow e Pipoca, personagens de historietas que fizeram época na imprensa infantil brasileira, Max Yantok, cuja estréia como caricaturista ocorreu em 1908, sustentou incansável atividade até a véspera do ataque que lhe cortou a vida.

NOSSO COLABORADOR

Era a O JORNAL que o notável caricaturista, desenhista e pintor que ele foi, dedicava a atividade que viria a constituir o ponto final na mestria de seu lápis e o inesgotável fluir de sua verve sempre tão marcadamente pessoal. Vai para um ano, Yantok lançou neste jornal as historietas do Capitão Cascudo, personagem que, com os companheiros de aventuras as mais fantasiosas que se pudessem imaginar, ia já alcançando a notoriedade de suas antigas personagens, que foram as já lembradas, e mais Pandareco, Para-Choque e Viralata, nas revistas de outros tempos, como O Tico-Tico, O Malho, Fon-Fon, Dom Quixote e mais recentemente, Tiquinho, para só citar algumas das publicações periódicas mais conhecidas.

Na imprensa diária, Yantok fez charges para os nossos principais jornais, como Jornal do Brasil, Correio da Maranhão, O Imparcial, Estado de São Paulo etc.

ESCRITOR

Era, a mais de suas aptidões em várias modalidades artistico-plásticas, escritor de imaginação, fazendo-se autor de contos que tiveram destaque nos suplementos literários.

BIOGRAFIA

Max Yantok era natural do Estado do Rio Grande do Sul. Muitos o julgavam estrangeiro pelo acento que demonstrava em seu linguajar por vezes italianizado. Nasceu no lugarejo gaúcho denominado Soledade no ano de 1881. Seu pai Giovanni Cesarino, era italiano, sua mãe, de nome Maxui, era índia. Daí ter recebido o nome indígena de Y-anta-oca, que em tupi quer dizer rio (Y), animal que bebe no rio (anta) e moradia (oca). O nome do grande caricaturista ontem falecido, por corruptela, passou a ser Yantok e seu sobrenome pouco conhecido, era Cesarino.

Sempre assinou porém, seus trabalhos com o nome pelo qual se tornou conhecido. Temendo a febre amarela, seu pai levou-o para Salerno (Itália) onde estudou no Colégio Padre de Cavia e conjuntamente começou o estudo das primeiras letras e fez estudos de desenho, ramo pelo qual sempre demonstrou vocação.

Em seguida ingressou no Conservatório de San Pietro-a-Majella, onde cumpre curso brilhante, tornando-se violinista aplaudido. Na Escola de Belas Artes vem a obter a Medalha de Prata, e não obstante teve sucessos alcançados, o jovem Max Yantok forma-se também em engenharia e contabilidade.

De retorno à Pátria, em 1908, exerceu as várias profissões até decidir-se pela que o sustenta numa atividade permanente e intensa, — a caricatura. Seu traço, no gênero, é inconfundível, acentuando uma personalidade artística que forma então os nossos mais categorizados humoristas do desenho".


Auto caricatura de Yantok.

Agradecimentos ao amigo Francisco Dourado.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Maria - Diário de Pernambuco - 1937

  

A escritora Regina Melillo de Souza iniciou sua carreira em 1937 nas páginas do suplemento infantil O Gury do Diário de Pernambuco, com a personagem Maria.

As histórias apresentavam várias crianças em situações de ingenuidade que causavam risos por sua espontaneidade. 

O trabalho de Regina em O Gury já era muito próximo àquele que ela viria a realizar nos anos seguintes, nas páginas da revista O Tico-Tico e do jornal Folha de São Paulo.

 


Para saber mais sobre Regina clique aqui.

sábado, 2 de janeiro de 2021

O Avião Negro - Diário de Pernambuco - 1937

Em março de 1937, com apenas treze anos, o médico, quadrinhista, arquiteto e estilista de moda Gil Brandão, faz sua estreia nos quadrinhos nas páginas do suplemento infantil O Gury do Diário de Pernambuco com a aventura O Avião Negro.

Na história, passada na cidade de Boston, os aviões do correio aéreo estão sendo atacados por uma aeronave negra. Peter, um valente piloto, é destacado para conduzir o próximo voo. O avião negro logo aparece e lança uma nuvem de fumaça, obrigando o avião correio a pousar. Em solo, o misterioso piloto do avião negro rouba os valores transportados por suas vítimas, mas é identificado por uma cicatriz na mão. Surpreendido, o bandido atira em Peter, que é salvo por seu colete a prova de balas. Peter e seu companheiro Henry enganaram o vilão, entregando-lhe um saco de areia. 

Novamente no ar, o aeroplano de Peter fica sem combustível, caindo nas águas do lago Erie. Avistados, os dois ocupantes do avião naufragado são salvos por Mr. Masterman, diretor do aeródromo de Boston.

Peter descobre que tudo não passava de um plano de Mr. John, o gerente, para falir a companhia de Mr. Masterman.

Para saber mais sobre Gil Brandão, clique aqui.