sábado, 27 de julho de 2019

Beleléu - Folha de São Paulo - 1965


Criado por Izomar, Beleléu aparecia na Folhinha de S. Paulo em meados da década de 1960. Ambientadas no período medieval as aventuras do herói primavam pelo bom humor.

Aparentemente, Izomar gostava de histórias ambientadas nessa época, como podemos ver abaixo, com outros personagens criados por ele e com histórias passadas na Idade Média.
Izomar nas revistas das editoras La Selva e Trieste.

Izomar foi criador também de Bugrinho e Zé Pessimista.

Sobre o autor, ficamos sabendo: 

"IZOMAR - Brasil, (1938).

Izomar Camargo fez parte da equipe que começou na década de 1950, nas antigas e muito caprichadas revistas editadas por Vito Antonio La Selva. Participou da criação de Fuzarca e Torresmo e Joãozinho Nada Teme. Sempre ligado a um estilo mais próximo para histórias infantis, Izomar ainda criaria, mais tarde, para outras editoras, Dingo e Dungo (uma dupla de endiabrados duendes), Reco (cuja figura principal era um pato maluco) e Zing, Zong Crunch".
Enciclopédia dos Quadrinhos, Goida / André Kleinert, editora L&PM, 2001.
Caricatura de Ivan Wasth Rodrigues feita por Izomar em 1957.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Dom Inácio - O Poti - 1971

Dom Inácio é um pároco que se divide entre as contradições dos tempos contemporâneos e suas convicções em relação à fé. Criado por Lindberg Revoredo em 1971, aparecia nas páginas do jornal O Poti, de Natal, RN, e fazia parte da primeira leva de personagens e autores do GRUPEHQ (Grupo de pesquisas e Histórias em Quadrinhos), criado nesta cidade.

Dom Inácio, visualmente, era baseado na figura do "professor Walfredo Brasil (1928-2010), conhecido também como Dom Lucas Brasil por seu passado como sacerdote católico, que há muito tempo estudava Histórias em Quadrinhos e dava aulas sobre o assunto em colégios religiosos da cidade de Natal, RN".
Dom Inácio apareceu posteriormente, em 1974, nas páginas do revista alternativa Cabramacho, de Lindenberg Revoredo e Aucides Sales.
Dom Inácio na revista Cabramacho, 1974, já com um visual aprimorado e um traço mais maduro.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Hotel Babel - Estado de Minas - 1987

Hotel Babel, criado por Alexandre Albuquerque Santos, mostrava o dia a dia de um hotel bastante peculiar. Como um microcosmo de nossa sociedade, no Hotel Babel se desenrolavam todas as mazelas presentes em uma comunidade organizada, como as lutas de classe e o crime organizado, mas sempre de maneira bem humorada.

Participavam das tiras o dono do hotel, Seu martini, um pão-duro inveterado; Joilson, o mensageiro pirracento; Pierre, o cozinheiro; Irene, a faxineira e seu filho pequeno Claudinelson, além de toda a sorte de hóspedes, é claro, e até mesmo o próprio autor, em algumas sacadas metalinguisticas.

A série foi publicada entre 1987 e 1988 nos jornais Estado de Minas e Diário de Minas e foi posteriormente reunida em livro, numa edição independente.

Sobre o autor: "Desenho desde os três anos de idade e fui autodidata, copiando os moldes de minha mãe costureira e seus motivos de bordado em "ponto cruz". Sou cartunista, aqui em BH, num jornal bastante popular".
Cartum de Alexandre Albuquerque.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Primaggio - Entrevista - 1972

Em março de 1972, o desenhista Primaggio Mantovi, autor da tira O Veterinário, concedeu a entrevista abaixo à página 'Quadrinhos' do jornal O Poti, de Natal, RN. Já com dez anos de experiência e antes de começar a colaborar com a editora Abril, onde fez carreira, Primaggio conta seus sonhos e projetos para o futuro. Vale a pena dar uma lida e confirmar como os acontecimentos se desenrolaram. A entrevista foi realizada pelos membros do GRUPEQ (Grupo de Pesquisas e História em Quadrinhos). Aproveitem.

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A COMUNICAÇÃO É PRIMAGGIO

Do GRUPEHQ exclusivo para O Poti

Sim, Primaggio  Mantovi, um  ítalo-brasileiro de 26 anos, casado, com uma filha de nome Cláudia (2 anos) e que nasceu na mesma cidade de Cristovão Colombo: Gênova, é um comunicador.
Como que fazendo jus à cidadania genovesa que já dera ao mundo o abridor de caminhos da comunicação genográfica, Primaggio irradia muita poesia e comunicabilidade, não só no que cria com seus desenhos em quadrinhos, como também em qualquer entendimento  pessoal que se queira estabelecer com ele. Tendo vindo para o Brasil ainda muito criança, com apenas 9 anos, teve sua formação e educação inteiramente à base do tropicalismo. Aqui descobriu sua vocação para o desenho, sentindo que podia interpretar esteticamente as nossas coisas, a simplicidade das crianças, o riso da gente humilde. Atualmente chefe de arte da Rio Gráfica Editora é considerado por muitos como um dos mais promissores desenhistas de quadrinhos do Brasil. O seu SACORROLHA foi o personagem que venceu o concurso lançado pela Editora entre o próprio pessoal do Departamento de desenho, para publicação de uma revista com material totalmente nacional.

O primeiro número já está sendo vendido nas bancas de revistas de todo o país. Trazendo uma poesia e um humanismo que fluem espontaneamente das recordações de infância de todos nós, quem é que não vai querer ler suas histórias? Sim, por que, quem é que não viu passar nos dias descompromissados de sua infância o encanto de um circo as suas atrações, os malabaristas, mágico, as bailarinas e principalmente a ternura gaiata do palhaço? Pois é a graça viva do palhaço que Primaggio revive na figura de SACAROLHA.

Foi para conhecer de perto o mundo imagístico do seu criador que o GRUPEHQ encontrou-o e fez-lhe algumas perguntas, durante algumas horas. Ao fim das quais resultou esta entrevista que trazemos aos leitores dominicais de O POTI, na certeza de que já estão comprando e saberão apreciar a nova publicação da Rio Gráfica, com as surpresas e as atrações do Gran Circo Kabun, o palhaço Sacarrolha, o domador de feras Gambini em suas diversas situações engraçadas. Aí vai a entrevista:

GRUPEHQ — Desde que idade que você desenha?

Primaggio — Desenho desde os os seis anos de idade.
Sempre gostei muito de desenhar. Quando eu era pequeno não podia ver um muro, parede ou calçada que logo começava a rabiscar, enchendo tudo de garatujas e bonecos. Fiquei de castigo várias vezes na escola e em casa por desenhar onde não devia. (Neste momento Primaggio para um pouco fita o vazio como que lembrando uma cena de sua infância. Por alguns segundos parece ficar alheio ao mundo ao seu redor, depois com um sorriso continua):

É interessante! Naquela época eu ficava de castigo por desenhar muito, hoje em dia quanto mais eu desenho, mais ganho. Sou pago pra encher folhas de papel em branco com garatujas e bonecos de minha criação.

GRUPEHQ — Qual foi o seu primeiro desenho publicado?

PRIMAGGIO — Não sei o ano em que ele foi publicado. Sei apenas que foi na Revista RISCO, uma revista de fotonovelas de aventuras que existia naquela época. Toda semana eles escolhiam os melhores desenhos que os leitores enviavam e publicacavam na contracapa da revista. Enviei para lá alguns desenhos e eles foram publicados.

GRUPEHQ — E profissionalmente ccmo foi que você se iniciou?

PRIMAGGIO — Na Rio Gráfica, precisamente em janeiro de 1962, com apenas 16 anos de idade.

GRUPEHQ — Você começou fazendo o quê?

PRIMAGGIO — Como todo desenhista de Quadrinho eu não podia ser exceção, comecei fazendo complementação dos desenhos das historietas americanas que vinham para o Brasil, como, Kid Colt, Búfolo Bill, Flash Gordon e outras.

GRUPEHQ — Qual foi a sua primeira história em quadrinhos publicada?

PRIMAGGIO — Relacionado a isso aconteceu um fato muito interessante comigo. Na minha infância o meu personagem predileto de quadrinhos era o Rock Lane e o meu maior sonho naquela época era chegar um dia a desenhar uma aventura com o meu herói preferido. Após entrar para a Rio Gráfica não só tive a oportunidade de realizar o meu sonho, como também fiquei encarregado de desenhar mensalmente uma historieta para a revista em que saia este herói.

GRUPEHQ — Quantas historietas do Rock Lane você desenhou mais ou menos?

PRIMAGGIO —  Desenhei muitas, num período de mais de dois anos. Umas 50 talvez.

GRUPEHQ — Qual foi a sua primeira grande chance de se tornar conhecido?

PRIMAGGIO — Foi quando, por motivo de falta de material americano, me convidaram para fazer o Recruta Zero. Dei o máximo de mim mesmo nos textos e desenhos e o resultado não demorou a chegar. Até a tiragem aumentou consideravelmente. Evaldo também desenhou o Recruta Zero durante mais ou menos três anos.

GRUPEHQ — Você também desenhou muitas capas, não foi mesmo?

PRIMAGGIO — Sim. Fui inclusive chefe do setor de capas da Editora. Fiz capas para as revistas: FANTASMA, MANDRAKE, BÚFALO BILL, ROBIN WOOD, TEXAS KID, CAVALEIRO NEGRO, RECRUTA ZERO, ROCK LANE, JAMES BOND, FLEXA LIGEIRA, RIQUINHO, TININHA, BROTOEJA, BOLOTA e para algumas revistas de terror de São Paulo. Fiz também as quatro primeiras capas do extinto jornal de quadrinhos SUPER PLÁ.
GRUPEHQ — Como e quando você passou a chefe de arte da Rio Gráfica?

PRIMAGGIO — Tudo aconteceu quando o Luna, que era o nosso chefe foi embora. Todo mundo ficou surpreso, inclusive eu próprio, quando fui escolhido para substituir o Luna na chefia do departamento.

GRUPEHQ — Você deve ter ficado um bocado contente, não é?

PRIMAGGIO — De certa maneira, fiquei meio chateado, sabe? Sempre gostei muito de desenhar e como chefe de arte me ver impossibilitado de fazer quadrinhos. Agora com o Sacarrolha tenho novamente oportunidade de voltar a desenhar, o que me deixa muito feliz.

GRUPEHQ — Como foi que você criou o SACARROLHA?

PRIMAGGIO — Bem o negócio foi o seguinte: a Rio Gráfica lançou no ano passado um concurso interno, no qual todos os desenhistas aqui do departamento artístico poderiam participar. A
finalidade era escolher um personagem infantil ou adulto que seria lançado numa nova revista em cores, totalmente nacional. Entrei no concurso com o Sacarrolha e ganhei.

GRUPEHQ — Por que você fez o Sacarrolha palhaço em vez de um bichinho, um inseto ou uma outra característica qualquer?

PRIMAGGIO — Pelo seguinte fato: quando pequeno, sempre fui um cara vidrado em espetáculos de circo. Adorava ir ao circo ver as estripulias do palhaço. Morria de rir com aquele nariz vermelho, aquela careca, aquela cara pintada, com os saltos malabarísticos e as caretas engraçadas. O SACARROLHA sempre foi uma coisa viva dentro de mim querendo saltar para o mundo e fazê-lo sorrir. Consegui botá-lo pra fora, só não se se ele vai atingir o que eu espero.

GRUPEHQ — Será que O Sacarrolha fará sucesso?

PRIMAGGIO — Se depender da propaganda, que por sinal tem sido grande e intensa, na televisão, em revistas e em cartazes, creio que o sucesso será garantido. Mas, o mais certo é esperar pra ver se o pessoal gosta.

GRUPEHQ — Você pretende lançar outro personagem além do SACARROLHA?

PRIMAGGIO —  Provavelmente, mas não por enquanto.
GRUPEHQ — Você acha que os desenhistas brasileiros tem condições de fazer frente aos desenhistas estrangeiros?

PRIMAGIO — Claro que sim! Não vejo necessidade alguma de importar histórias em quadrinhos estrangeiras se as nossas são tão boas ou melhor que elas. Temos desenhistas brasileiros que superam muitos dos grandes desenhistas americanos como é o caso do Flávio Colin, do Ziraldo, do Walmir, do Gutemberg e de muitos outros que eu levaria o dia todo para enumerar. O que o denhista brasileiro precisa é de uma chance para mostrar ao mundo o valor do nosso quadrinho.

GRUPEHQ — Qual o denhista brasileiro de Histórias em Quadrinhos que você mais admira?

PRIMAGGIO — Nas HQ clássicas, considero o Walmir como o maior de todos, não por ele ser meu companheiro de gráfica, mas porque realmente eu o considero como o “Gênio das Histórias em
Quadrinhos nacionais”.

GRUPEHQ — E nos quadrinhos cômicos?

PRIMAGGIO — Tem muitos bons por aí, o Ziraldo, o Joselito (embora ambos tenham atualmente abandonado os quadrinhos), o Mauricio de Sousa e uma infinidade por aí a fora.

GRUPEHQ — O que você acha das criações do GRUPEHQ?

PRIMAGGIO — Tenho lido os suplementos que vocês me enviaram e posso afirmar, sinceramente: gostei muito. Conheço os problemas que vocês enfrentam por lá, e acho incrível a força de vontade e desejo de vencer do grupo. Tenho certeza absoluta que dentro de pouco tempo vocês estarão colhendo os frutos que agora plantam com tanto esforço. Por outro lado quero oferecer qualquer ajuda que estiver ao meu alcance.

GRUPEHQ — Todos nós sabemos da onda de insatisfação que atualmente gira em toro dos desenhistas nacionais. Você também participa da onda?

PRIMAGGIO — Não. Absolutamente! Estou satisfeitíssimo com a minha situação atual. Tudo que tenho agradeço à Rio Gráfica e Editora. O meu primeiro e único emprego. A mesma oportunidade que tive gostaria que todos os outros desenhistas nacionais também tivessem. Por falar nisso, a Rio Gráfica está planejando lançar mais outras revistas com personagens de autores nacionais, o que dará, obviamente, oportunidade a muita gente boa por aí.

GRUPEHQ — Quais os seus planos para o futuro?

PRIMAGGIO — Botar o SACORROLHA pra frente. Tenho também um sonho que pretendo realizar muito breve: Criar uma equipe de desenhistas nacionais.

GRUPEHQ — Uma segunda Maurício de Sousa Produções?

PRIMAGGIO — Não, uma primeira Primaggio Mantovi Produções (Risos Gerais).

GRUPEHQ — Você gosta de ler?

PRIMAGGIO — Só se for livro sobre histórias em quadrinhos.

GRUPEHQ — Quais os personagens que você mais gosta nas HQ?

PRIMAGGIO — Gosto muito de personagens infantis tipo os do Walt Disney, que por sinal considero como o gênio insuperável dos quadrinhos e dos desenhos animados. Agora, tenho verdadeira aversão a personagens super-heróis.

GRUPEHQ — Qualo seu tipo de música?

PRIMAGGIO — Música popular orquestrada.

GRUPEHQ — E cinema?

PRIMAGGIO — Gosto de desenhos animados e filmes de far west.

GRUPEHQ — Tem alguma mensagem ou declaração a fazer?

PRIMAGGIO — Sim. Faço votos para que seja criada no Brasil uma lei de proteção ao desenhista de quadrinho nacional, para que esta arte no Brasil possa se desenvolver e mostrar lá fora, que no Brasil também existe bons desenhistas e boas Histórias em Quadrinhos. Espero que o governo reconheça o valor dos quadrinhos, que é acima de tudo arte, comunicação, divulgação de nossa cultura além de ser um meio de divulgar o Brasil no exterior.
Sacarrolha foi publicado em forma de páginas dominicais no Suplemento Quadrinhos, da Folha de S. Paulo, entre 1976 e 1977.