sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Vida, Paixão e Drama do Deputado Tenório - 1954

Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque (1906 — 1987) conhecido como o "Homem da Capa Preta" ou Tenório Cavalcanti, foi um advogado e político brasileiro com base eleitoral no Estado do Rio de Janeiro, principalmente na Baixada Fluminense e no distrito de Duque da Caxias, possuindo um estilo político agressivo, muitas vezes violento. Nascido em Alagoas, sua infância foi humilde, na maior parte passada no sertão nordestino. Mudou-se jovem, com 19 anos, para o Estado do Rio de Janeiro fixando-se no atual município de Duque de Caxias, na época então distrito de Nova Iguaçu, no fim dos anos vinte.

Tenório andava sempre ao lado de sua "Lurdinha", uma submetralhadora MP-40 de fabricação alemã, similar àquela utilizadas por soldados nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1954 fundou o jornal A Luta Democrática, que usaria como ferramenta de propaganda política, especialmente para atacar desafetos e adversários, entre eles Getúlio Vargas. O jornal, de forte apelo sensacionalista, chegou a ser o terceiro maior do Rio de Janeiro nos anos 60.

Já nos primeiros números, o terceiro, A Luta Democrática passou a publicar a biografia de Cavalcanti em forma de tiras diárias: Vida, Paixão e Drama do Deputado Tenório ou Vida, Drama e Paixão de Tenório. As histórias abordam inclusive o famoso "Caso Imparato", onde um delegado paulista, Albino Imparato, convocado pelas elites de Duque de Caxias para controlar as ações violentas de Tenório, foi assassinado com  comprovada participação direta de Cavalcanti no crime.

A série era contada com imagens sobrepostas a versos, como num livreto de cordel, com certeza para cativar o vasto eleitorado nordestino que habitava a Baixada Fluminense, base eleitoral de Tenório.

O versos ficaram por conta de Zé Alagoano e os desenhos sob responsabilidade de Arno Voigt e posteriormente Walter Peixoto. Peixoto chegou a desenhar algumas aventuras de O Falcão Negro para a editora Garimar no final da década de 1950.


Abaixo o Falcão Negro nº 01 por Walter Peixoto - editora Garimar, 1958.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Bocage

Bocage, o poeta português Manuel Maria Barbosa l'Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de setembro de 1765 – Lisboa, Mercês, 21 de dezembro de 1805) apesar de ter sido, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano, acabou tornando-se conhecido por seus textos provocativos e muitas vezes de caráter erótico. Por ter morado no Brasil por alguns anos a partir de 1786 seu trabalho desenvolveu um interesse especial em nosso país.

Com o passar do tempo e com sua obra caindo em domínio público, dezenas de editoras populares acabaram publicando livros com o título genérico de Piadas ou Anedotas do Bocage, com fatos atribuídos à biografia do autor e outros sem a menor relação com sua obra, muitos agrupando piadas de salão e atribuindo sua autoria ao escritor.

Pequenas editoras como a Livraria Império (Rio de janeiro, 1956) e a Livraria A Barateira (Lisboa, 1954) lançaram edições como essas, mas as que nos interessam particularmente são duas editoras brasileiras que lançaram versões em quadrinhos do personagem:

Editora O Livreiro - depois de ilustrar vários livros com literatura de cordel, narrando fatos engraçados ou pitorescos atribuídos a Bocage e usando uma figura de nariz proeminente como sendo o autor lusitano, a editora lançou várias edições com quadrinhos ou cartuns com esse modelo, no traço de João Batista Queiroz e Nico Rosso.

Nas figuras abaixo o Bocage narigudo da editora Luzeiro no traço de Nico Rosso e João Batista Queiroz.

Saber / Super-Plá/ Savério Fittipaldi - as várias editoras da família Fittipaldi, tradicionais editores paulistanos, também têm sua a versão ilustrada do Bocage, estas sempre realizadas pelo desenhista Edú (Eduardo Carlos Pereira), assíduo colaborador dos Fittipaldi e lançadas a partir de meados dos anos 1970 em revistas formato livro tais como: Bocage, Piadas do Bocage e Piadas em Quadrinhos. Edú tinha duas versões gráficas do poeta, uma mais jovem e de cabelos escuros e outra um pouco mais velha, usando uma peruca branca. Ambas vestiam roupas de época, mas frequentemente viviam suas aventuras na atualidade.

Abaixo os dois Bocages de Edú em Anedotas e Piadas do Bocage (Editora Super-Plá) e O Gozador (Editora Savério Fittipaldi).

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Sobre Queiroz na Wikipedia: João Batista Queiroz é um quadrinista e ilustrador brasileiro. Começou sua carreira trabalhando como ilustrador nas revistas do grupo La Selva. Nos anos 1950, foi responsável pelas revistas em quadrinhos de personalidades populares à época, como as duplas de palhaços Arrelia & Pimentinha e Fuzarca & Torresmo e os atores Grande Otelo e Oscarito. Nos anos 1970, criou o personagem infantil Zuzuca para a publicação Álbum Infantil. Nos anos 1980, trabalhou com o gibi do grupo humorístico Os Trapalhões. Em 1988, ele ganhou o Prêmio Angelo Agostini de Mestre do Quadrinho Nacional".

Para saber mais sobre Edú clique aqui.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Ensaio Sobre a Bobeira - 2010

Em 22 de janeiro de 2010, uma sexta-feira, estreava no jornal O Estado de S. Paulo a série Ensaio Sobre a Bobeira, de Lourenço Mutarelli.

Afastado dos quadrinhos por quase 5 anos, Mutarelli, que já era um artista multimídia nessa época, retomava sua produção justamente com uma tira de jornal. No dia anterior à publicação o jornal declarou: "uma experiência gráfica cheia de non-sense e estranhamento, um tipo de comentário visual sobre a natureza humana". 

Usando o personagem Bob, "uma brincadeira com bobo", que mudava de aparência a cada aparição, o autor explicou assim o processo criativo do material: "Às vezes faço um desenho e, a partir do desenho, crio algum diálogo, algum texto, que é o processo inverso de você fazer um roteiro de quadrinhos. Você cria uma imagem e vê o que essa imagem quer dizer, complementa ela com alguma frase". "E tem esse ensaio, uma homenagem ao Zéfiro, essas mulheres com bifes sobre o rosto, que é só para eu ser perseguido pelas feministas (risos)".

A série teve curta duração, sobrevivendo por poucas semanas, mas foi reunida no livro Sequelas da editora Comix Zone em 2023.

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Sobre o autor, na Wikipedia:

"Lourenço Mutarelli (São Paulo, 18 de abril de 1964) é escritor, ator, professor, dramaturgo e autor de histórias em quadrinhos brasileiro. Forçado pelo seu pai, cursou a Faculdade de Belas Artes. Durante três anos, trabalhou na Maurício de Sousa Produções, no começo como intervalador e depois como cenarista.

Entusiasmado pelo grande número de revistas que surgiram na década de 1980, tentou publicar suas histórias sem sucesso - foram consideradas muito "estranhas". Também fez humor criando o personagem "Cãozinho sem pernas" que ainda hoje, é lembrado com saudade por seus leitores. 

Iniciou sua produção em histórias em quadrinhos por meio dos fanzines, distribuídos pelo próprio autor. Seus dois títulos, Over-12 (1988) e Solúvel (1989) tiveram 500 exemplares impressos pela extinta Editora Pro-C, de Francisco Marcatti, importante nome nos quadrinhos underground na década de 80, e hoje são raridades.

Publicou ainda tirinhas e histórias de uma página na revista Animal – publicação mensal sob a editoração de Rogério de Campos, Fabio Zimbres, Priscila Farias e Newton Foot que publicava, entre materiais nacionais, um leque de autores europeus – e em outros títulos da Editora Vidente – de Gilberto Firmino. Com Marcatti e Glauco Mattoso editou dois números da revista "Tralha", também publicada pela Vidente.

Recebeu vários prêmios e é aclamado por sua participação no cinema e no teatro. Criador da arte do filme Nina, dirigido por Heitor Dhalia, autor do romance O Cheiro do Ralo, adaptado para o cinema, dirigido por Heitor Dhalia e estrelado por Selton Mello. O protagonista, que tem o nome velado no romance, no cinema recebe a alcunha do autor do livro.

Seu romance O Natimorto foi adaptado para o teatro pelo dramaturgo Mário Bortolotto e ganhou as telas em 2011 com Mutarelli no elenco.

A maior parte de suas publicações aconteceram por intermédio da Devir Editora e pela Companhia das Letras. Compartilhou seu cotidiano no seu blog (durante 2007) e na revista Piauí Nº 35 em uma matéria desenhada.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Marcello Quintanilha - 2010

A partir de 22 de janeiro de 2010, Marcello Quintanilha começou a publicar uma tira em quadrinhos no Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo.

Seguindo o trabalho que o autor já desenvolvia em seus álbuns, sem um título específico e sem personagens fixos, Quintanilha nos contava semanalmente uma espécie de crônica em quadrinhos, abordando os dramas cotidianos das periferias, com seus dramas, amores e situações pitorescas da população brasileira. Infelizmente a série teve curta duração.

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Sobre o autor, no site Cultura Niterói:

"Nascido em Niterói (RJ) em 1971 e radicado em Barcelona, Marcello Quintanilha, também conhecido pelo pseudônimo Marcello Gaú, é um famoso quadrinista brasileiro, autor de diversos livros que retratam o cotidiano brasileiro em crônicas visuais.

Seu primeiro trabalho em quadrinhos foi publicado em 1988. Ainda adolescente, ele desenhou histórias de artes marciais para a revista Mestre Kim, da Bloch Editores. Na época, assinava como Marcello Gaú, por acreditar que as histórias em quadrinhos não poderiam servir como profissão.

Aos 18 anos, tendo concluído o Segundo Grau, começou a trabalhar como animador para uma escola de inglês. Passou sete anos no emprego, usando o tempo livre para desenvolver seus projetos pessoais. A convite de Rogério de Campos, diretor da Editora Conrad, passou a colaborar com as revistas General e General Visão, nas quais publicou histórias como “Granadilha” e “Dorso”. No mesmo período, criou trabalhos também para as revistas Nervos de Aço, Metal Pesado, Zé Pereira e Heavy Metal.

Sua primeira graphic novel foi publicada em 1999. “Fealdade de Fabiano Gorila” era uma história baseada na vida de seu pai, que foi jogador de futebol do Canto do Rio na década de 1950. No mesmo ano,durante a primeira edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, conheceu o francês François Boucq, que se interessou pelo seu trabalho e convenceu-o a enviar seus desenhos para editoras europeias. Em 2003, publicou La promesse (A promessa), primeiro volume da série Sept balles pour Oxford (Sete balas para Oxford), pela editora belga Le Lombard, com roteiro do argentino Jorge Zentner e do espanhol Montecarlo. A série teve, ao todo, sete volumes, que foram publicados no período entre 2003 e 2012.

O contrato com a editora belga levou Quintanilha a mudar-se para Barcelona, para ficar mais próximo dos roteiristas da série. Passou a publicar também ilustrações nos jornais espanhóis El País e Vanguardia.

Ao mesmo tempo, continuou produzindo álbuns para o público brasileiro. Em 2005, publicou “Salvador”, na coleção Cidades Ilustradas da editora Casa 21. Seguiram-se “Sábado dos meus amores” (2009, troféu HQ Mix de melhor desenhista nacional) e “Almas públicas” (2011). Em 2016, recebeu o prêmio Fauve Polar SCNF do Festival de Angoulême, principal premiação francesa das histórias em quadrinhos, pela HQ “Tungstênio”.

Entre suas princinpais obras, podem ser citadas: “Fealdade de Fabiano Gorila” (Conrad, 1999); “Salvador” (Casa 21, 2005); “Sábado dos Meus Amores” (Conrad, 2009); “Almas Públicas” (Conrad, 2011); “Ateneu” (Ática, 2012); “Tungstênio” (Veneta, 2014); “Talco de Vidro” (Veneta, 2015) e “Hinário Nacional” (Veneta, 2016), além da série de sete volumes “Sept Balles Pour Oxford” (2003-2012). Também inclui em seu currículo a arte do disco “A invasão do sagaz homem fumaça” (2000), do Planet Hemp e animações para o filme espanhol “Chico & Rita” (2010), que foi indicado ao Oscar em 2012."