terça-feira, 29 de setembro de 2020

Ércio Rocha - Notícias Populares - 1989

Ércio Rocha é um jovem estudante criado por seu pai adotivo, o escritor Bento Lobato, e pela administradora da casa de Lobato, Anabenta de Jesus Silva. Ao ganhar uma viagem a Brasília em um concurso televisivo, Ercio acaba viajando, junto ao capitão aviador da FAB, Inácio de Loiola Motta, à capital do Brasil. No meio da viagem o avião, um bimotor do Correio Aéreo Nacional, acaba caindo no pantanal mato grossense, iniciando assim uma grande aventura envolvendo sequestro, explosões, um prefeito corrupto e até uma plantação clandestina de papoulas para a fabricação de drogas.

As tiras criadas por Giorgio Cappelli (nascido em 1926) e assinando Gior Capp, foram desenhadas em 1964, com alusões à inauguração de Brasília, tiveram suas primeiras partes redesenhadas e adaptadas em 1981 e finalmente foram publicadas em 1989 pelo jornal paulista Notícias Populares e mostra forte influência do trabalho de Milton Caniff e Frank Robbins.

Cappelli lançou, de forma independente, cinco revistas de Ércio Rocha entre 1992 e 1993. As revistas apresentaram também histórias do herói gaúcho Minuano e da heroína Jôse, em aventuras de ficção científica passadas no universo de Cris Colom, outro personagem de Giorgio.


Flávio de Giorgio Cappelli no Jornal Juvenil nº 19/20, 1964.

Cris Colom de Cappelli na revista Garatuja nº 4, 1983.

Para ler as aventuras de Ércio Rocha, clique aqui.

domingo, 27 de setembro de 2020

O Guardião - Notícias Populares - 1987



Em julho de 1987, depois de elaborar dezenas de aventuras de seu personagem Laserman, o desenhista Ricardo Andrade de Ponte cria uma nova odisseia cósmica para o jornal Notícias Populares: O Guardião.

Um rapaz de outro planeta recebe de seres alienígenas uma "injeção anabólica especial misturada à vacina imortalizadora", ganhando assim a força de cem homens e o dom da imortalidade, tornando-se o herói mascarado O Guardião, que também pode ler pensamentos.

Vindo ao planeta Terra, o herói passa a ser assediado por um agente governamental que tenta cooptá-lo a espionar planos inimigos, oferecendo-lhe um apartamento e um carro "zerinho"! Nosso herói encontra aqui o amor de sua vida, Shaiena, partindo para outras aventuras espaciais.

O Guardião foi publicado até 1990.



Para saber mais sobre Ricardo Andrade clique aqui.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O Gato - Notícias Populares - 1984

O Gato é um violento herói mascarado que não poupa o uso de métodos violentos para atingir seus objetivos. Sabemos ser um jovem que por muitos anos estudou nas melhores academias de kung fu do mundo. Seu pai contratou mestres de caratê, capoeira e acrobatas de circo para treinar o rapaz e torná-lo uma verdadeira arma viva.

Tudo isso com a intenção de que o filho pudesse se vingar dos bandidos que assassinaram sua esposa, vazaram seu olho e cortaram seus dedos, fazendo justiça com as próprias mãos.

O jovem cumpre sua missão, tornando-se o justiceiro O Gato, sempre auxiliado por seu pai, o investigador de polícia aposentado Otávio Cristovão.

Com o passar do tempo, o personagem se mete em aventuras espaciais onde seu pai é mentalmente controlado pelo poderoso Molok, um construtor de androides que se alimentam de sentimentos humanos e tenta se apoderar do corpo de João Bala, o assassino da mãe de O Gato

Em uma outra aventura O Gato chega a enfrentar o temido Conde Drácula.

O Gato estreou em agosto de 1984 no jornal Notícias Populares criado por Antônio Ivan Ferreira. Muito produtivo, Antônio realizou centenas de tiras do personagem.


 

Ao blog, Ivan Ferreira concedeu o seguinte depoimento:

"Nessa época eu tinha 24 anos e trabalhava à noite em uma empresa de segurança, então, tinha muito tempo para usar minha imaginação! Em uma dessas noites estava fazendo a ronda sozinho em meu plantão quando, de repente, um gato preto se assustou comigo, passou entre meus pés e, numa velocidade de felino, rapidamente saltou da janela ao muro e sumiu na escuridão da noite. Foi aí que me surgiu a ideia de criar o personagem O Gato, oi seja, naquela noite foi fácil criar em minha mente todo o roteiro da origem do herói.

Lembro que gostava muito de ler gibis, foi uma paixão minha desde criança. Até hoje leio de vez em quando. Além do mais eu ainda desenho. Comecei a me interessar por essa arte aos oito anos, quando um irmão me me mostrou pela primeira vez um desenho de um colega de escola dele. Fiquei tão impressionado com aquele desenho que imediatamente comecei a rabiscar alguma coisa no papel e não parei mais.

A ler quadrinhos eu comecei muito cedo! Gostava muito de super-heróis, entre eles o Homem Aranha, Capitão América, Incrível Hulk, Batman, Super-Homem, Turma Titã, Legião dos Super Heróis, Namor, Aquaman, Super Moça, Liga da Justiça e por aí vai. Além disso gostava de revistas de terror como: Kripta, Calafrio, Spektro e tantas outras.

Já a minha fase de desenhar tiras para o Notícias Populares foi possível porque nesse jornal existia uma coluna que dava chance aos artistas amadores. Foi aí que comecei a publicar as primeiras tiras. Depois disso vendi alguns roteiros de terror para a editora D'Arte do Rodolfo Zalla e depois comecei a desenhar alguns roteiros para uma editora que estava iniciando seus trabalhos, ali na Av. Paulista, mas que também não durou muito em virtude do Plano Real, do governo Sarney.

Aos poucos observei que aqui no Brasil não dá para ficar rico fazendo quadrinhos e acabei arranjando um emprego de grafiteiro na Prefeitura de Guarulhos e me especializei em desenhar painéis em muros. Hoje eu tenho uma página no Youtube onde procuro mostrar um pouco do meu talento. Quem quiser acessar é só digitar as palavras 'ANTONIO IVAN FERREIRA' com letras maiúsculas e pronto. É só digitar o meu nome e você encontra minha página.

Hoje estou aposentado mas ainda tenho muito interesse em criar quadrinhos. Espero que algum dia essa chance apareça para mim. Grande abraço!" 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Jim Trovão - A Gazeta Juvenil - 1948

Em 1948, após um período suspensa em virtude da 2ª Guerra Mundial, a Gazeta Juvenil, antes chamada de A Gazetinha, volta às bancas trazendo várias novidades. Entre elas encontramos a série Jim Trovão, um repórter aventureiro e valentão que resolvia com suas próprias mãos, ou com o auxílio de sua noiva Marina, casos policiais, e era produzida por Zaé Júnior.

Jim Trovão era uma história autenticamente interativa, num período em que esse termo sequer era usado, pois o último quadrinho era apagado e a conclusão da história ficava por conta do leitor, que deveria enviar sua sugestão ao jornal. A melhor solução recebia um prêmio em dinheiro de Cr$ 100,00; algo em torno de R$ 146,00 em valores atuais. Para termos uma noção de preço, cada exemplar da Gazeta Juvenil era vendido a Cr$ 2,00.

Zaé era muito jovem nessa época e a maior parte de sua produção para a Gazeta Juvenil eram textos e contos sobre a fauna e o folclore brasileiros.

 
Apesar de desenhar relativamente pouco na Gazeta, Zaé fez a bela ilustração acima para a radionovela Perdidos no Igapó, (adaptação de Os Náufragos do Igapó ("Afloat in the Forest" ou "A Voyage among the Tree-Tops" no original, de Maine Reid publicada na Coleção Terramarear da Companhia Editora Nacional) da Rádio Gazeta. A quadrinização da obra no jornal foi realizada por Messias de Mello, um dos seus mais assíduos colaboradores. Para saber mais clique aqui.

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Sobre o autor, no site Pró-TV encontramos a seguinte biografia:

Zaé Mariano Carvalho de Nascimento Júnior é o nome inteiro de Zaé Júnior.

Nascido em Botucatu, interior de São Paulo, sempre sentiu muito orgulho de suas origens e sempre se considerou um “caipira”. Nasceu em 8 de junho de 1929 e desde os 10 anos fazia sonetos a 4 mãos com seu pai. Gostava também de desenhar e com isso ganhava uns “trocados”, para ir ao cinema ou algum passeio. Fazia “caricaturas”.

Adorava desenhar, mas trabalho prá valer foi na Serviços Holerit, desenhando letras muito miúdas, para pagamento de funcionários públicos. Zaé estava com 14 anos. Passou depois a fazer “histórias em quadrinhos”, pequenos trabalhos em revistas. Em seguida foi para a Rádio Cosmos, e depois para a Rádio Gazeta. Ao mesmo tempo cursava Filosofia na USP( Universidade de São Paulo). Casou-se cedo, com uma colega de faculdade e tiveram duas filhas: Cibele e Cilena. Aí já estava na televisão. Esteve na Tupi, na Excelsior, na Record, indo em seguida para uma agência de publicidade.

E foi aí que o rapaz eclético encontrou seu grande campo: no departamento de criação de várias agências. Sua vida sempre foi inteiramente louca: dava aulas à noite, trabalhava em mais de um jornal ao mesmo tempo, escrevia para revistas, trabalhava em rádio, em televisão e em agências de publicidade. Cinema de propaganda criou e dirigiu mais de 2000 trabalhos. Dentre eles alguns ficaram famosos e permaneceram anos no ar.

Fez também muitos roteiros para televisão, inclusive para a TV Globo. Criou e dirige sua própria agência: a Promark Propaganda e Marketing, que existe desde 1973. Zaé Junior também compôs músicas, sendo que uma delas, gravada pela Odeon, foi o disco mais vendido em 1965. Livros também escreveu. Um deles “O homem e seu quintal” recebeu muitos elogios de Vinícius de Moraes, que sobre ele disse: “Zaé é poeta inteiro, dos grandes”. Sempre esteve na cúpula intelectual das emissoras de televisão e das agências de publicidade em que trabalhou. Escolheu grandes astros e estrelas, entre eles Regina Duarte que lançou na novela “A Deusa Vencida”. Zaé Júnior é claro, e ainda elegante. E ele diz que deve isso ao fato de gostar sempre de coisas simples, como “bom caipira” que é.

Zaé veio a falecer recentemente, em 20 de agosto de 2020.

Ilustrações para o livro A gruta misteriosa, do próprio Zaé, para a Editora do Brasil.

domingo, 20 de setembro de 2020

Ararinha - A Cidade - 1991

Ararinha é o caipira torcedor símbolo do União São João de Araras E. C., da cidade de Araras - SP. Criado pela cartunista Maurício Pestana em 1991 com apoio das empresas Sbarro e Duraferro.

Ararinha foi inspirado em José Fernandes de Mattos, o verdadeiro Ararinha

As tiras, sempre atuais, publicadas pelo jornal A Cidade, faziam humor com os jogos da semana, os resultados das partidas e com os jogadores do time do União.


Ararinha
foi reunido em livro em 1992 e nele podemos ler o seguinte depoimento de Pestana:

"Nasce um baita torcedor caipira! Criar um personagem astuto, motivador, alegre e fiel ao seu time. Este foi o desafio que recebi dos amigos da SBARRO e DURAFERRO há um ano.
Vocês podem pensar que bastava juntar as características, fazer o homem e pronto! Mas no decorrer desse ano, Ararinha ganhou vida própria, criou família, caiu no mundo. E, como bom caipira, desenvolveu personalidade própria e forte, juntando as qualidades iniciais a um jeito simples e inteligente de ver seu time, os amigos e sua cidade. Hoje, é Ararinha quem decide as coisas, cria situações. E agora que o União subiu para a 1ª DIVISÃO DO CAMPEONATO BRASILEIRO, o homem tá mais convencido do que nunca!
É o que vão ver nas páginas seguintes...".


Sobre José Fernandes de Mattos, a artista plástico Paulo Monteiro deu o seguinte depoimento ao pesquisador João Antonio Buhrer:

"Veja que coincidência sobre o Ararinha! Eu morei de 1990 a 2003 em Araras e fui vizinho do Ararinha. Eu morava na mesma rua que ele e éramos amigos. Ele sempre passava na minha casa e conversávamos muito. Durante todos os anos em que convivi com ele até a sua morte, jamais vi o Ararinha com outra roupa que não fosse o uniforme do União São João. Até pra ir à missa não era diferente: ele ia uniformizado. O carro do Ararinha era uma Brasília, o qual tinha, permanentemente na parte traseira interna, uma bandeira do União São João. Ele tinha um bom humor permanente, muito divertido. Como era torcedor símbolo, o time o levava para todos os lugares onde fosse jogar. Essas viagens foram interrompidas no final da vida quando o mulher dele ficou muito adoentada. Mesmo muito doente e o Ararinha aparentemente mais saudável, curiosamente, ele morreu antes dela.
Além do gibi, ele teve uma biografia escrita por um ex-radialista de Araras, Sérgio (me esqueci do sobrenome dele), falecido antes do Ararinha. Eu fui ao lançamento desse livro.
Um grande abraço e um ótimo fim de semana para você!"

 
José Fernandes de Mattos, o verdadeiro Ararinha. 

Maurício Pestana também produziu a tira Os Urbanos em 1985.

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No site do autor encontramos a seguinte biografia:

Maurício Pestana nasceu em Santo André, São Paulo. É jornalista, publicitário, gestor público e cartunista, sendo considerado o cartunista negro de maior sucesso na história do Brasil. Iniciou seus estudos acadêmicos na Fundação Santo André e, posteriormente ingressou na Fundação Cásper Líbero, primeira instituição de jornalismo do País. Sua trajetória profissional começou nos anos de 1980 no Jornal O Pasquim como Cartunista político e depois teve passagem pelos jornais Diário do Grande ABC, Diário Popular e Gazeta Esportiva.

O reconhecimento pela sua trajetória intelectual como jornalista, escritor e cartunista esteve ligado, principalmente com seu ativismo na luta pela igualdade racial no Brasil e, pelos livros publicados mais de 60 obras, entre elas destacam-se: A Transação da Transição (1985); Negro no Mercado de Trabalho (1986); Educação Diferenciada (1989); Meu Brasil Brasileiro (2002); Racista, Eu!? De Jeito Nenhum (2001); São Paulo Terra de Toda Gente (2004); Revolta dos Malês: a Saga dos Muçulmanos Baianos (2010); (2010); Revolta das Chibatas: a Revolta Cidadã dos Marinheiros (2011); 2 de Julho: a Bahia na Independência do Brasil (2013); Negro, uma Outra História: Aplicando a Lei 10.639 (2014); A Presença Negra e Indígena na Independência do Brasil (2014); Racismo Cotas e Ações Afirmativas (2014).

Entre os países no qual se apresentou como conferencista sobre igualdade, expositor e para lançar livros estão: Estados Unidos, Espanha, França, Portugal, Argentina, Venezuela e Senegal. Em 2007 assumiu a função de Diretor executivo da Revista Raça Brasil, (única revista de circulação nacional direcionada a população negra do Brasil), entre as principais reformas editoriais que realizou, criou a seção Páginas Pretas, onde mensalmente, nos oito anos que esteve a frente da revista, entrevistou dezenas de personalidades do Brasil e do exterior com foco na questão racial.

Foi membro do conselho Deliberativo do Fundo Baobá - Fundo de Equidade Racial, do Conselho Administrativo do Museu Afro Brasil adquiriu, em 2014, o cargo de Secretário Adjunto da Secretaria Municipal da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo, Gestão do Prefeito Fernando Haddad, e assumiu em 2015 o cargo de Secretário, que além de outras realizações criou a lei de cotas na cidade de São Paulo, que destina 20% de todos os cargos e concurso público para afro descendentes e idealizou o primeiro fórum São Paulo Diverso, encontro que durante três anos consecutivos reuniu centenas de empresas em sua maioria multinacionais como o Google, Microsoft, IBM, iniciativa essa que hoje tem sido reproduzido em todo país e que visa a colocação de negros em cargos estratégicos nas grandes empresas com o apoio do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Atualmente o jornalista escreve quinzenalmente para a revista Isto é Dinheiro, dirige sua empresa a Pestana Arte e Publicações, empresa que desenvolve produtos como cartilha, cartuns, exposições e consultoria de como implantar ações afirmativas nas empresas, além de produzir a Revista Raça e o programa Raça na TV.

 Agradecimentos aos amigos João Antonio Buhrer e Bira Dantas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A semana em quadrinhos - O Semanário - 1956


Em 1956 o periódico carioca O Semanário publicava em suas páginas a série A semana em quadrinhos, criada pela cartunista alemã radicada no Brasil, Hilde Weber.

A seção, em formato de tira, era mais uma que fazia um resumo bem humorado dos principais fatos da semana anterior.

Foi a segunda e última tentativa de Hilde em utilizar o formato tira de jornal (a primeira foi com o Sr. Tribulino em 1950), embora não fosse exatamente uma série em quadrinhos, mas uma sequencia de charges enfileiradas.


A Semana em quadrinhos durou pouco tempo, sendo rapidamente substituída por charges em painel único, como visto abaixo.

O Semanário era um jornal de tendências pró Carlos Lacerda e tinha a presidência de Oswaldo Costa e a superintendência de Carlos Prado de Mendonça.

Para saber mais sobre Hilde Weber clique aqui.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Os acontecimentos da semana - Diário da Noite - 1926


Em 1926 o artista alemão de passagem pelo Brasil, Kurt Wiese, publicava no Diário da Noite, de São Paulo, a série Os acontecimentos da semana.

Periodicamente, aos domingos, Wiese resumia em forma de tiras e de maneira bem humorada, os fatos ocorridos na semana anterior. Essa prática acabou se estabelecendo de forma usual por toda a imprensa brasileira em toda a primeira metade do século XX, sendo usada por vários outros veículos de imprensa.

Wiese também comentava, em forma de tiras, outras notícias importantes, como o voo Nova York-Buenos Aires. Esses raides aéreos ocupavam boa parte do noticiário jornalístico na década de 1920.


Em 1927, com a partida de Wiese para os EUA, a série foi retomada pelo cartunista Urbano (pseudônimo do pintor Di Cavalcanti) com o nome de A semana a traços.

 

Em 1928, Wiese foi o primeiro ilustrador da edição em inglês do livro Bambi de Felix Salten.

Acima, ilustrações para o livro Os grandes rios do mundo de Anne Terry White, edições Record, 1964.

Para saber mais sobre Kurt Wiese clique aqui.

Para saber mais sobre Urbano clique aqui.

domingo, 13 de setembro de 2020

Um pamonha de Piracicaba - Jornal de Piracicaba - 2007

As principais séries de tiras de Érico San Juan para o Jornal de Piracicaba foram Leco (1990 a 1993) e Dito, o bendito (1993 a 2005). Mas houve uma terceira: Um pamonha de Piracicaba (2007 a 2009).

O personagem era um individualista neurótico e platônico, muito parecido com seu autor. A tira foi a primeira experiência do desenhista com cor, vetor e computador.

Após seis meses de publicação no caderno de variedades das sextas-feiras, um conselheiro editorial "pediu" que a tira mudasse de nome. A alegação era que a referência ao puro creme do milho verde caipira "denegria a imagem da cidade"...

No entanto, Um pamonha de Piracicaba saiu com seu nome original nos jornais Agora (Sertãozinho, SP) e GrapHiQ (Suzano, SP), em 2008 e 2009. E ganhou o primeiro lugar na categoria tiras/HQ do Salão Dino de Humor, promovido em 2008 pela Unisanta, em Santos, no litoral paulista.

Segundo Érico, "o prêmio e as publicações além-rio comprovaram o óbvio: pamonha de casa não faz milagre!".


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Feijão - Folha de S. Paulo - 1974

Ainda bastante jovem, aos 18 anos, o cartunista Angeli criou em abril de 1974, para o Suplemento Quadrinhos da Folha de São Paulo, o personagem Feijão.

Feijão contava aventuras de um menino preto, extremamente bondoso, que sempre deixava de lado seus desejos em benefício ao próximo. Apesar disso, em sua primeira aparição, o personagem já questionava as homenagens aos vultos históricos, fazendo à sua maneira, uma crítica ao racismo vigente em nossa sociedade.

Com alguma influência do cartunista Zélio, colaborador do Suplemento, nos desenhos, Feijão teve vida curta, não durando mais que meia dúzia de episódios, tendo sua última página publicada em outubro daquele mesmo ano.

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Angeli é bastante conhecido, mas publicamos abaixo uma biografia encontrada no site Enciclopédia Itaú Cultural:

"Arnaldo Angeli Filho (São Paulo SP 1956). Cartunista e chargista. Aos 14 anos, Angeli publica seu primeiro desenho na revista Senhor. Autodidata, aprende a desenhar copiando os trabalhos de Millôr Fernandes (1923), Jaguar (1932) e Ziraldo (1932). Seu trabalho tem influência dos cartuns underground do norte-americano Robert Crumb (1943). No jornal Folha de S. Paulo, publica charges, a partir de 1973, e, desde 1983, tiras diárias em que cria personagens que retratam tipos urbanos, com destaque para Rê Bordosa, Bob Cuspe e os velhos hippies Wood & Stock. Na década de 1980, publica, pela editora Circo, a revista Chiclete com Banana, que lança novo elenco de personagens de sua autoria, como Walter Ego, Rigapov, Rhalah Rikota, Bibelô, Meiaoito e Nanico, Ritchi Pareide, Aderbal e Os Skrotinhos. Com Laerte (1951) e Glauco (1957-2010) cria a série Los Três Amigos, também publicada em Chiclete com Banana. Em 1983, ilustra o livro da historiadora Lilia Moritz Schwartz, República Vou Ver!. Em 1995, publica FHC: Biografia Não Autorizada, pela Editora Ensaio, coletânea de charges produzidas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1931). Para a TV, Angeli produz esquetes e roteiros, atuando junto às equipes dos programas TV Colosso e Sai de Baixo, ambos da Rede Globo. Com base em seu trabalho, o diretor Otto Guerra lança, em 2006, o longa-metragem de animação Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll. Em 2008, é um dos homenageados no 1º Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro, que apresenta Angeli/Genial, uma mostra retrospectiva da produção do cartunista. Também nesse ano, é lançado o curta-metragem de animação Dossiê Rê Bordosa, dirigido por César Cabral e baseado na personagem criada por Angeli. Seus desenhos estão incluídos na Enciclopédia del Humor Latino Americano, da Colômbia, na Antologia de Humor Brasileiro e no Museu do Cartum e Caricatura de Basiléia, Suíça. Atualmente, desenha para a Folha de S. Paulo e para o seu site no portal Universo On-line, com destaque para as tiras Let´s Talk About Sex, Luke e Tantra e, na "net-novela" A Morta Viva, Rê Bordosa.
Análise

Angeli desenha desde criança. Na adolescência, conhece o periódico O Pasquim e se interessa pelos cartuns de Millôr Fernandes, Jaguar e Ziraldo. Ele confessa que começou copiando o trabalho desses desenhistas. Na mesma época conhece quadrinistas como Robert Crumb, Wolinski (1934) e Jean Marc Reiser (1941-1983), que o influenciam profundamente. Com 14 anos de idade, publica seu primeiro desenho, na revista Senhor. Em 1973, inaugura o espaço de charge política no jornal Folha de S. Paulo, em que permanece até 1982. Nesse intervalo colabora também com os periódicos Movimento, Versus e O Pasquim. Em 1975, fica em segundo lugar no 2º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

Em 1983, abandona a charge para se dedicar às histórias em quadrinhos. Na Folha de S. Paulo, deixa o caderno de política e passa para a Ilustrada, caderno de cultura, em que publica tiras de seus personagens ao lado de quadrinistas estrangeiros. Pouco depois, com o editor Toninho Mendes, funda a Editora Circo, destinada a quadrinhos adultos, sobretudo de autores brasileiros. Em 1984, a Circo lança o livro, Chiclete com Banana, reunindo as tiras de Angeli com alguns tipos urbanos criados para o jornal. O sucesso da publicação leva a editora a criar uma revista bimestral homônima, e, o primeiro exemplar vai para as bancas em 1985.

Angeli cria tiras e histórias em quadrinhos, com narrativas de situações tipicamente paulistanas, da boêmia e da vida cotidiana. Surgem aí personagens como Tudoblue e Moçamba, Mara Tara, Wood & Stock, Rê Bordosa, Bob Cuspe, Meia-Oito e Nanico, Bibelô e Os Skrotinhos. Sua produção se afasta do tom politizado de suas charges e reencontra as influências do underground das décadas de 1960 e 1970, com abordagem ácida à crítica de costumes. Seu traço se torna mais sujo, aproximando-o de quadrinistas como o francês Vuilleimin (1958).

Na década de 1990, Angeli retorna à charge política na Folha de S. Paulo. Em 1995, a Editora Ensaio reúne algumas de suas tiras no volume FHC: Biografia Não Autorizada. O cartunista publica tiras diárias na Folha de S. Paulo e em mais 15 jornais brasileiros, e no Diário de Notícias, de Lisboa. Seu trabalho ganha cor. Além de charges e tiras, publica ilustrações, menos narrativas que os desenhos anteriores. Algumas das tiras desse período são reunidas nas coletâneas Wood & Stock, Sexo É uma Coisa Suja, Luke e Tantra e Os Skrotinhos, lançadas pela Editora Devir".

Feijão, em sua estreia.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Sonin - Correio do Brasil - DF - 1986

Sonin, foi criado pelo cartunista Edra (Élcio Danilo Russo Amorim) em 1983 para a revista caratinguense Pimpolho editada pelo próprio autor.

Sonin, como o nome já diz, é um garoto dorminhoco e suas histórias giram em torno desse fato. Atuam com Sonin os meninos Bujão, Diririm, Mico, Peralta a menina Fafinha e o bebê Tutinha, além do galo Xocota.

Em 1986 a turma do Sonin passou a frequentar as páginas do Correio do Brasil (DF), além de outros jornais como a Gazeta de Taguatinga (DF) em 1991 e o Diário de Caratinga (MG) em 2005. Circulou também no Diário do Aço (Ipatinga - MG) e Jornal de Brasília. Sonin teve uma edição em livro pelo próprio Edra.


 
Para saber mais sobre o Edra clique aqui.

domingo, 6 de setembro de 2020

Sumio & Sumô - Jornal da Liberdade - 1996

Sumio & Sumô é uma criação de Olair D. Furlani (Lelo) e Joás Dias de Lima (Jodil) na década de 1990. As tiras foram publicadas nos jornais: Expressão da Liberdade, do Movimento Humanista de S. Paulo, Jornal da Liberdade, do bairro oriental homônimo de S. Paulo e na revista independente FãSim-HQ.

 

O cartunista Jodil foi ilustrador e publicitário, tendo trabalhado na Editora Brasileira de Agricultura na década de 1970, além de ser bem atuante no movimento fanzinístico brasileiro dos anos 1990. Nasceu em Catende, PE em 1950 e faleceu em Praia Grande, SP em 2020.

 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Alia Jacta Erat - Diário do Povo - 1976

Concebida por Ricardo Dutra a aventura bélica Alia Jacta Erat conta a história do afundamento do navio de guerra inglês H.M.S. Glowworm por uma frota alemã durante a 2ª Grande Guerra. O Glowworm afasta-se de sua frota para tentar resgatar um tripulante caído ao mar durante uma tempestade quando acaba sendo surpreendido pelos inimigos.

Ricardo Dutra, aluno de Ignácio Justo, começou a publicar em revistas da editora Minami & Cunha no início dos anos 1970. Apesar de ter feito histórias de humor e aventuras mitológicas, acabou se especializando em narrativas de guerra, às quais desenhava com surpreendente fidelidade histórica. Dutra era um dos integrantes do informalmente chamado Clube do Gibi (formado por frequentadores da Livraria Gibi, em São Paulo) junto com artistas como Sebastião Seabra, Fernando Moretti, Brenda Chilson e Cassiano Roda, quando conseguiu emplacar a publicação de suas tiras e as de vários outros artistas do grupo em jornais do interior de São Paulo e até de outros estados.

Alia Jacta Erat já havia sido publicada completa e colorida no Suplemento Quadrinhos da Folha de S. Paulo em outubro de 1975 quando saiu em capítulos no Diário do Povo de Campinas - SP em 1976.

Abaixo Ricardo Dutra no Almanaque Calafrio da editora Minami & Cunha.

Sobre Ricardo Dutra o Diário Popular (SP) em 20.11.1975 publicou:


"HISTÓRIAS DE GUERRA É COM O RICARDO DUTRA
Quartanista da Escola Politécnica de Engenharia Naval, Ricardo leva de 40 a 50 horas para desenhar uma página de suas histórias. Especialista em histórias de guerra, tem um estilo acadêmico é retrata batalhas navais da 2ª Guerra Mundial. Verídicas, as suas histórias requerem estudos profundos e consulta a fontes fiéis.
por exemplo, no meu caso, as informações são extraídas de livros e revistas especializados. Inclusive detalhes que aparecem em meus desenhos.
Ricardo gosta do Ziraldo: “ótimos desenhos utilizando personagens de nosso folclore”.
Atualmente Ricardo faz histórias fictícias em trabalho conjunto com o Cassiano Roda, e publicam tiras diárias, visto a sua especialidade que são as histórias de guerra, exigirem muito tempo e estudo. Contudo, explica, "a vontade é de continuar com as histórias verídicas de guerra”.

Abaixo Ricardo Dutra no Suplemento Quadrinhos da Folha de São Paulo em julho de 1974 assinando Artud.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Aventuras de Serapião - Diário da Noite - 1926

Em 1926, o Diário da Noite - SP, com direção de Plínio Barreto e redação principal de Pedro Ferraz, lançava aos domingos uma página infantil semanal chamada O Diário das Crianças. Nessa página Monteiro Lobato publicava em capítulos seus livros infantis, como por exemplo, As viagens de Hans Staden.

O Diário das Crianças apresentava também a tira em quadrinhos Aventuras de Serapião, desenhadas por Kurt E. Wiese. Serapião era um caipira que vivia aventuras engraçadas na roça, mas chegou a empreender uma viagem ao Rio de Janeiro, remetendo ao Nhô Quim, personagem do cartunista italiano radicado no Brasil, Ângelo Agostini, um dos pioneiros dos quadrinhos brasileiros e mundiais.

 
Charge de Kurt Wiese para uma matéria do Diário da Noite.

Kurt Wiese era um jovem ilustrador alemão em passagem por nosso país e essa proximidade com Lobato fez com que ambos empreendessem uma série de trabalhos juntos. Wiese foi o primeiro ilustrador do livro As caçadas de Pedrinho, além de ilustrar o Jeca Tatu e O Garimpeiro do Rio das Garças, todos de Lobato, desse modo podemos afirmar que Kurt ajudou a criar graficamente a figura do morador rural do sudeste brasileiro.


 
Acima, Kurt Wiese e Lobato trabalhando juntos.

Wiese, além dos quadrinhos, fazia também ilustrações e charges para o Diário da Noite, além de escrever matérias também ilustradas por ele, contando suas viagens pelo Brasil, como a série Na região dos Botocudos.

 
Matéria de Wiese ilustrada por ele mesmo: Na região dos Botocudos.

 
Charge de Kurt Wiese sobre as revoltas populares em São Paulo na década de 1920. Como podemos ver a polarização política não é exclusividade de nossos tempos...

 

Há muito pouca informação sobre o ilustrador em português. A História da Caricatura no Brasil, de Herman Lima, por exemplo, faz uma única menção a Wiese, em uma legendo de uma caricatura de Voltolino realizada por ele por ocasião da morte do renomado caricaturista. Na internet, os vários sites citam Kurt apenas de passagem como um dos muitos ilustradores da obra de Monteiro Lobato, mas neste site em inglês sobre o personagem Freddy, o porco, concebido artisticamente por Wiese, há esta bela biografia:

Como muitos outros ilustradores célebres que começaram a trabalhar nos Estados Unidos nas décadas de 1920 e 30, Wiese (1887-1974) era um imigrante, tendo nascido em Minden, Alemanha, onde, como ele mesmo disse, cresceu “sob uma notável coleção de pinturas da Escola de Dusseldorf. ” No entanto, ele não foi encorajado a estudar arte; em vez disso, foi enviado a Hamburgo para aprender os meandros do comércio de importação e exportação. “Depois de ser capaz de contar os fios de uma camisa de dez xelins apenas sentindo-a com a mão”, ele lembrou certa vez, “fui enviado para a China”. Chegando em 1909 quando tinha apenas vinte e dois anos, ele passou os cinco anos seguintes viajando, negociando e se tornando familiarizado com o chinês. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ele foi feito prisioneiro pelos japoneses em 1914 e entregue aos britânicos. Os cinco anos seguintes foram passados ??como prisioneiro de guerra, um ano em Hong Kong e quatro na Austrália. Foi lá que ele descobriu seu dom para a ilustração. “Profundamente impressionado com a paisagem e o mundo animal da Austrália, comecei a começar a desenhar e escrever.” Retornando à Alemanha em 1919 com um caderno de desenho volumoso, ele trabalhou por quatro anos projetando livros infantis e cenários para uma empresa de cinema. Então, com saudade, disse ele, “de viver sob um sol quente novamente”, ele partiu para o Brasil em 1923 e passou um ano “viajando pela selva, sobrevivendo a uma revolução e encontrando índios”. Após essas aventuras, ele se acomodou e passou os três anos seguintes ilustrando livros didáticos e infantis para uma editora brasileira. Ele também trabalhou para um jornal, desenhando cartuns e produzindo uma página infantil semanal.

Então veio 1927 e “saudade novamente”, lembrou Wiese. “Desta vez, foi o chamado do Norte”, continuou ele,“em uma manhã cinzenta de inverno em um píer coberto de neve em Hoboken, Nova Jersey, fui levado para a ilha Ellis para um copo de leite e um sanduíche e depois vieram longas semanas viajando pelos cânions de Manhattan com uma coleção de desenhos de amostra debaixo do braço. ”
A história sugere que não muitas dessas semanas foram realmente gastas marchando pelos desfiladeiros de Manhattan, uma vez que um trabalho na revista Collier's Weekly logo se materializou, seguido por suas primeiras encomendas de livros. Em 1929, sua carreira estava em plena floração, como demonstrou ao ilustrar a primeira edição americana do imortal Bambi de Felix Salten. Embora ele possa ser mais lembrado por seus desenhos de linhas incrivelmente fluidas e dinâmicas (como nos livros de Freddy, o porco), ele também era um mestre da técnica que usou em Bambi: a litografia. Seu trabalho em litografia colorida é especialmente notável como no caso do belo livro de Newbery Honor de Phil Stong, Honk the Moose (Wiese teve uma colaboração quase tão frutífera com Stong quanto com Brooks, os dois homens trabalharam juntos em quatorze livros).

 
Caricatura de Voltolino por Kurt Wiese, 1926.

Foi a vida de Wiese na China que parece ter deixado a marca mais indelével em sua memória visual e sua manifestação em seu trabalho. “Ele deixou a marca de seu estilo na China por uma geração”, observa Bader. Na verdade, dois dos dezenove livros que ele escreveu e ilustrou - You Can Write Chinese e Fish in the Air - foram, cada um, premiados. Mais lembradas com carinho, talvez, sejam as ilustrações feitas para o clássico de Marjorie Flack, The Story about Ping, a história de um patinho chinês que é o último a chegar à casa flutuante à noite e receber uma "palmada!" por seus problemas. Ping é historicamente importante por ter sido um dos primeiros livros ilustrados americanos a ser escrito por um talento e ilustrado por outro. Anteriormente, os livros ilustrados eram escritos e ilustrados pela mesma pessoa.

 
Ilustrações de Wiese para o livro The Story about Ping de Marjorie Flack.

Se a China viveu na memória de Wiese, o próprio homem viveu, de forma mais prosaica, em Nova Jersey. Recordando seus primeiros dias na América, ele disse uma vez: “Casei-me e comprei uma pequena casa de fazenda na orla da floresta que cobre as margens rochosas do rio Delaware, cerca de vinte e cinco milhas acima de Trenton, Nova Jersey. É uma boa vida. Posso sentar na minha janela e os animais vêm até mim. Eles me fazem entender como eles vivem ”.

As aventuras de Serapião foram retomadas em 1927 pelo cartunista, pintor e gravador Sergio Linn (abaixo).

 
Abaixo, ilustração de Sergio Linn, agosto de 1927.