sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Feijão - Folha de S. Paulo - 1974

Ainda bastante jovem, aos 18 anos, o cartunista Angeli criou em abril de 1974, para o Suplemento Quadrinhos da Folha de São Paulo, o personagem Feijão.

Feijão contava aventuras de um menino preto, extremamente bondoso, que sempre deixava de lado seus desejos em benefício ao próximo. Apesar disso, em sua primeira aparição, o personagem já questionava as homenagens aos vultos históricos, fazendo à sua maneira, uma crítica ao racismo vigente em nossa sociedade.

Com alguma influência do cartunista Zélio, colaborador do Suplemento, nos desenhos, Feijão teve vida curta, não durando mais que meia dúzia de episódios, tendo sua última página publicada em outubro daquele mesmo ano.

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Angeli é bastante conhecido, mas publicamos abaixo uma biografia encontrada no site Enciclopédia Itaú Cultural:

"Arnaldo Angeli Filho (São Paulo SP 1956). Cartunista e chargista. Aos 14 anos, Angeli publica seu primeiro desenho na revista Senhor. Autodidata, aprende a desenhar copiando os trabalhos de Millôr Fernandes (1923), Jaguar (1932) e Ziraldo (1932). Seu trabalho tem influência dos cartuns underground do norte-americano Robert Crumb (1943). No jornal Folha de S. Paulo, publica charges, a partir de 1973, e, desde 1983, tiras diárias em que cria personagens que retratam tipos urbanos, com destaque para Rê Bordosa, Bob Cuspe e os velhos hippies Wood & Stock. Na década de 1980, publica, pela editora Circo, a revista Chiclete com Banana, que lança novo elenco de personagens de sua autoria, como Walter Ego, Rigapov, Rhalah Rikota, Bibelô, Meiaoito e Nanico, Ritchi Pareide, Aderbal e Os Skrotinhos. Com Laerte (1951) e Glauco (1957-2010) cria a série Los Três Amigos, também publicada em Chiclete com Banana. Em 1983, ilustra o livro da historiadora Lilia Moritz Schwartz, República Vou Ver!. Em 1995, publica FHC: Biografia Não Autorizada, pela Editora Ensaio, coletânea de charges produzidas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1931). Para a TV, Angeli produz esquetes e roteiros, atuando junto às equipes dos programas TV Colosso e Sai de Baixo, ambos da Rede Globo. Com base em seu trabalho, o diretor Otto Guerra lança, em 2006, o longa-metragem de animação Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll. Em 2008, é um dos homenageados no 1º Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro, que apresenta Angeli/Genial, uma mostra retrospectiva da produção do cartunista. Também nesse ano, é lançado o curta-metragem de animação Dossiê Rê Bordosa, dirigido por César Cabral e baseado na personagem criada por Angeli. Seus desenhos estão incluídos na Enciclopédia del Humor Latino Americano, da Colômbia, na Antologia de Humor Brasileiro e no Museu do Cartum e Caricatura de Basiléia, Suíça. Atualmente, desenha para a Folha de S. Paulo e para o seu site no portal Universo On-line, com destaque para as tiras Let´s Talk About Sex, Luke e Tantra e, na "net-novela" A Morta Viva, Rê Bordosa.
Análise

Angeli desenha desde criança. Na adolescência, conhece o periódico O Pasquim e se interessa pelos cartuns de Millôr Fernandes, Jaguar e Ziraldo. Ele confessa que começou copiando o trabalho desses desenhistas. Na mesma época conhece quadrinistas como Robert Crumb, Wolinski (1934) e Jean Marc Reiser (1941-1983), que o influenciam profundamente. Com 14 anos de idade, publica seu primeiro desenho, na revista Senhor. Em 1973, inaugura o espaço de charge política no jornal Folha de S. Paulo, em que permanece até 1982. Nesse intervalo colabora também com os periódicos Movimento, Versus e O Pasquim. Em 1975, fica em segundo lugar no 2º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

Em 1983, abandona a charge para se dedicar às histórias em quadrinhos. Na Folha de S. Paulo, deixa o caderno de política e passa para a Ilustrada, caderno de cultura, em que publica tiras de seus personagens ao lado de quadrinistas estrangeiros. Pouco depois, com o editor Toninho Mendes, funda a Editora Circo, destinada a quadrinhos adultos, sobretudo de autores brasileiros. Em 1984, a Circo lança o livro, Chiclete com Banana, reunindo as tiras de Angeli com alguns tipos urbanos criados para o jornal. O sucesso da publicação leva a editora a criar uma revista bimestral homônima, e, o primeiro exemplar vai para as bancas em 1985.

Angeli cria tiras e histórias em quadrinhos, com narrativas de situações tipicamente paulistanas, da boêmia e da vida cotidiana. Surgem aí personagens como Tudoblue e Moçamba, Mara Tara, Wood & Stock, Rê Bordosa, Bob Cuspe, Meia-Oito e Nanico, Bibelô e Os Skrotinhos. Sua produção se afasta do tom politizado de suas charges e reencontra as influências do underground das décadas de 1960 e 1970, com abordagem ácida à crítica de costumes. Seu traço se torna mais sujo, aproximando-o de quadrinistas como o francês Vuilleimin (1958).

Na década de 1990, Angeli retorna à charge política na Folha de S. Paulo. Em 1995, a Editora Ensaio reúne algumas de suas tiras no volume FHC: Biografia Não Autorizada. O cartunista publica tiras diárias na Folha de S. Paulo e em mais 15 jornais brasileiros, e no Diário de Notícias, de Lisboa. Seu trabalho ganha cor. Além de charges e tiras, publica ilustrações, menos narrativas que os desenhos anteriores. Algumas das tiras desse período são reunidas nas coletâneas Wood & Stock, Sexo É uma Coisa Suja, Luke e Tantra e Os Skrotinhos, lançadas pela Editora Devir".

Feijão, em sua estreia.

Um comentário:

Dyel disse...

É interessante notar que o Feijão, também conhecido como Feijãozinho, é um personagem que em nada lembra as criações posteriores do Angeli. Ele se especializou em criar personagens cínicos, ácidos, libertinos , viciados ou complexados, o extremo oposto do Feijão. Além disso, foi o único outro personagem do Angeli voltado para o público infantil; o outro viria a ser o Ozzy, criado no fim dos anos 1990,com um estilo politicamente incorreto, que se aproxima bastante do estilo da obra do autor.