A CETPA foi um movimento capitaneado pelo desenhista José Geraldo, com o apoio do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, a partir de 1961, com o objetivo de fomentar os quadrinhos brasileiros.
O texto abaixo foi publicado na primeira edição do livro Quadrinhos para Quadrados, de Diamantino da Silva - editora Bels, e publicado em 1976. Este é um dos raros livros que abordou o assunto. Como o capítulo foi retirado na 2ª edição (editora Laços, 2018), poderá ser lido a seguir.
Tira de Zé Candango por Renato Canini e José Geraldo - CETPA - 1963
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RGS - CETPA
História do Rio Grande do Sul. Capa de Thierry de Castro, desenhos de Júlio Shimamoto e João Mottini (abertura não creditada), argumento de João Cândido Maia Neto. CETPA - 1962.
"Merece citação especial dentro deste capítulo dedicado ao quadrinho nacional, o movimento que nos chegou do sul do país em 1961, reunindo desenhistas e argumentistas e, culminando com a fundação da Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre - CETPA.
Talvez influenciados pelo exemplo argentino, visavam nossos confrades sulistas, abrirem uma nova frente de trabalho com a criação e publicação de revistas e heróis nacionais, como bem afirmava o editorial abaixo, estampado na contra capa de seu primeiro número (revista Aba Larga):
"A 'Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre Ltda.' é o resultado da luta desenvolvida há anos por desenhistas e argumentistas patrícios, no anseio de aqui produzirem histórias brasileiras identificadas com nossos hábitos e costumes. É imperiosa a necessidade de elevar a exploração desse gênero de literatura, sabendo-se como é nefasta a influência que exerce sobre o condicionamento moral da infância e da massa semi-alfabetizada.
Há muitos anos nossa juventude vem assimilando, exclusivamente, histórias estrangeiras de 'Super-men', 'cow-boys', 'Dick Tracy', 'Steve Canyon', 'Roy Rogers' etc., vivendo temas falsos, completamente alheios à nossa realidade e tradição.
O espírito da CETPA não é de xenofobia, nem de restrição, e sim, um legítimo ato de defesa de nossos artistas, ora esmagados pela avalanche do material importado. Na árdua e longa luta em busca de um mercado que possibilite transformar sua arte em autêntica mensagem de nosso folclore, hábitos e costumes, o artista brasileiro, graças à compreensão e apoio do Governo do Rio Grande do Sul, concretiza a sua mais cara aspiração: descobrir um Brasil novo, rico de belezas históricas e heróis autênticos. PINTAREMOS O BRASIL DE VERDE E AMARELO.".
Tira de Sepé, por Flávio Colin - CETPA, 1963.
Muito embora em si, não possamos classificar como pioneiro, esse movimento gaúcho teve pelo menos o mérito de levar a coisa a termos mais concretos.
Pena que por falta de uma melhor estrutura editorial, a CETPA tenha sido forçada a encerrar suas atividades em fins de 1963, justamente quando nosso público, através da divulgação de outros órgãos de nossa imprensa (Jornal do Brasil, Última Hora etc.), começava a se inteirar do trabalho desenvolvido por esses novos artistas.
Foi uma bela oportunidade que se perdeu, em que pese o esforço dos desenhistas: Getúlio Delphim (Aba Larga), Flávio Colin (Sepé Tiaraju), Renato Canini (Zé Candango), Anibal Bendati (Lupinha), Flávio Luiz Teixeira (Piazito), Luiz Saindemberg (História do Cooperativismo), Júlio Shimamoto (História do Rio Grande do Sul), e dos argumentistas: Carlos Freitas, Hamilton Chaves, Cavalheiro Lima, José Geraldo e outros.
Tira do Aba Larga, por João Mottini, CETPA, 1963.
Valeu no entanto como mais uma tentativa feita querendo eliminar o quadrinho brasileiro de risco, dentro de um mercado consumidor acostumado a digerir material americano há mais de cinquenta anos".
História do Cooperativismo, CETPA, 1962 (2ª edição). Capa e miolo de Luiz Saindenberg, argumento de Walter Castro de Freitas.
Tiradentes, CETPA, 1963, capa e miolo de Gutemberg Monteiro, texto da "Equipe da CETPA".
Vida do padre Reus, CETPA, 1963, capa de Thierry, desenhos de Gedeone Malagola, texto do Padre Sérgio Raupp.
Aba Larga nº 1, CETPA, 1962. Capa de Thierry, desenhos de Getúlio Delphin, argumento de Hamilton Chaves.
Aba Larga nº 2, capa de Luiz Saindenberg. Aba Larga nº 3, capa de Flávio Luiz Teixeira. O 4º número, nunca publicado, teria capa de João Mottini (figura acima). 1962.
Sepé nº 1, 1962. Capa de Thierry, miolo de Flávio Colin, argumento de Clima.
As revistas Lupinha, Piazito e Zé Candango, embora anunciadas, nunca foram editadas. Então, na totalidade foram publicadas pela CETPA três números do Aba Larga, um número do Sepé, as revistas Tiradentes, História do Cooperativismo, História do Rio Grande do Sul e a Vida do Padre Reus e as tiras de jornal Zé Candango, no Jornal do Brasil e no Última Hora gaúcho, Aba Larga, Lupinha e Sepé, todas no Última Hora. Aylton Thomaz, apesar de, aparentemente, não ter participado diretamente da empreitada, teve sua tira Bingo, o pequeno jornaleiro, publicada junto às outras tiras da CETPA no UH.
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