sexta-feira, 10 de maio de 2019

Super-Cupim - O Poti - 1971

Criado para o semanário O Poti (Orgão dos Diários Associados), o Super-Cupim era uma tira humorística que antecipou em vários anos muitos quadrinhos de caráter metalinguístico no Brasil, em suas conversas com o leitor e em suas brigas com o autor/desenhista. Foi concebida pelo cartunista Emanoel Amaral (1952-2019) em 1971. Amaral fazia parte do Grupehq (Grupo de Pesquisa em História em Quadrinhos), fundado nesse mesmo ano em Natal - RN.

Sobre este assunto, o desenhista Cláudio de Oliveira escreveu na apresentação de seu e-book 'Em Quadrinhos na Maturí'

"Selecionei para este e-book os desenhos que preparei para a Maturí, revista de quadrinhos alternativos que começou a circular em Natal, em março de 1976. 

Alguns trabalhos foram publicados, outros continuaram inéditos. Um anos antes, havia contatado o Grupehq, o Grupo de Pesquisa de História e Quadrinhos, criado em 1971 e que, naquela altura, reunia nomes já consagrados na cidade, como Aucides Sales, Edimar Viana, Emanoel Amaral, Enock Domingos, Lindberg Revoredo, Luiz Pinheiro e Reinaldo Azevedo, entre outros. Juntos aos artistas do traço atuavam ainda dois estudiosos da chamada nona arte, o jornalista Anchieta Fernandes e o professar Dom Lucas Brasil.
O Grupehg brilhara nas páginas do suplemento dominical de quadrinhos do jornal O Poti, lançado em agosto de 1971, o suplemento circulou até abril de 1972, tempo suficiente para que a equipe mostrasse o seu talento em vários gêneros da arte sequencial. Dos quadrinhos de terror de Reinaldo Azevedo, com O Coveiro, à ficção científica no desenho primoroso de Luiz Pinheiro, com o Tenente Wilson, passando pelo traço cômico de Aucides Sales, com o seu Capiroto, ao metalinguístico Super-Cupim, de Emanoel Amaral.

O Grupehq editou várias publicações, como o Gibi Notícias, durante a ano de 1971, e a revista Cabramacho, que circulou três números em 1974, sob a batuta de Lindberg Revoredo. E, em março de 1976, lançou a Maturí, no pequeno formato de 32 por 8 centímetros, com 16 páginas. Daí o nome maturí, o pequeno fruto do caju, ainda broto, mas de sabor forte. 

O Grupehq abrigava diferentes expressões do quadrinho potiguar, mas a maioria dos quadrinistas não era politicamente ingênuo, principalmente a núcleo que editava a revista. Ainda nas páginas de O Poti, em 1971, o Super-Cupim, de Emanoel Amaral, ironizava os super-heróis norte-americanos, como protesto possível contra a Guerra do Vietnã, numa época em que o Brasil vivia sob a censura e a repressão do regime instalado em 1964. Para reforçar a espírito critico da revista, a Maturi passou a receber a colaboração de Henfil, um dos mais consagrados cartunista político do país, que morou mm Natal de 1976 a 1978. Zeferino, Graúna e o bode Orelana marcaram presença nas páginas da pequena publicação".

Em um dos números da Revista de Cultura Vozes (nº 1 - 1972), Moacy Cirne escreveu: 

"Com uma verdadeira fúria metalinguística, o  Super-Cupim (companheiro: Pulguinha) está sempre em conflito com o seu criador.

Ainda na área da metalinguagem, mas em outra direção, há uma página excepcional da série, publicada no dia 3 de outubro: toda a problemática do quadrinho brasileiro é colocada em situação. O Grilo Falante de Walt Disney, “saturador de mercados”, é expulso da página pelo Super-Cupim. No último plano da história, o Grilo Falante comanda uma invasão de super-heróis, montado no Capitão América, para que o nosso herói seja esmagado. A epígrafe no quadro de apresentação é bastante significativa: '...Levantai-vos heróis do Novo Mundo' (Castro Alves). Como significativo é o grito final do Super-Cupim: 'Mônica! Pererê! Fradinhos! Socooooorro!!!'.

A excepcionalidade desta página não se resume em seu significado primeiro: veja-se, ao nível do significante, a exploração criativa operada pelo autor na linha do quadro, obedecendo a uma direcionalidade paralabiríntica. No penúltimo plano, o Pulguinha quebra a geometria da linha, segurando-a. No início, o balão que encerra um discurso pensado contendo um 'Quem será?' assume boa forma interrogativa. E se estamos diante de um desenho simples, e se a narrativa é estruturada sem maiores inovações, podemos, contudo, extrair de seus elementos conotativos uma nova dimensão significacional que, inclusive, remete o leitor para a problematização de um dado nível ideológico.

O Super-Cupim, pois, desponta como uma série quadrinizada de estatura nacional. Das onomatopéias de Jorge Fernandes à metalinguagem de Emanoel Amaral, o Rio Grande do Norte se insere dentro das coordenadas operacionais dos quadrinhos. E da vanguarda".

Nenhum comentário: