Em novembro de 1961 chegava às bancas de revista o primeiro número do Jornal Juvenil.
De propriedade da Empresa Jornalística Guarany e sob a direção de Waldemar Donadio, Américo de Torres Bandeira e Edmilson Viana Moura, com Direção de Arte de José Luís Alemán Alvarez, o jornal começou com periodicidade quinzenal, mas mudando rapidamente para mensal.
Com uma fórmula que reunia reportagens educativas e um caderno central de histórias em quadrinhos o tabloide de 16 páginas tinha a clara intenção de servir como instrumento paradidático, fórmula que viria a ser usada futuramente no suplemento Folhinha, da Folha de S. Paulo.
Em suas quase 30 edições, até novembro de 1964 (edição 27), o jornal foi um porto seguro para dezenas de desenhistas brasileiros, entre eles: Mauricio de Sousa com tiras do Cebolinha, Hiro e Zé e Chico Bento, que nele conseguia publicar após sofrer perseguição política em virtude de sua atuação como presidente da ADESP (Associação dos Desenhistas de São Paulo) e ser demitido da Folha de S. Paulo; Manoel Victor Filho com Tamacavi; Zezo (José Rivelli Neto) com o Tubarão Voador e Rumo ao Infinito; Tito com Johnny Charuto; Lyrio Aragão com ilustrações; Giorgio Cappelli com Flávio; Luiz Sanches com o personagem Zé Luiz; Luís Sátiro (mais tarde Victor Forde) e Luiz Rettamozo como leitores colaboradores e lendas gregas em forma de quadrinhos nas páginas centrais.
Acima, ilustração de Minami Keize publicada em maio de 1964, ou seja, antes do autor modificar seu traço, que tinha forte influência dos mangás, por sugestão dos editores paulistas, para torná-lo mais aceitável aos leitores da época.
O Jornal Juvenil destaca-se também por ter dado a primeira oportunidade de publicação a Minami Keizi, futuro fundador das lendárias editoras Edrel e Minami & Cunha (M&C), com dois contos publicados: A Greve dos Relógios em outubro de 1963 e Pedrinho e a Ameaça dos Cupins (ilustrado por Zezo) em abril de 1964. Na seção de correspondências do jornal podemos seguir a saga de Minami a procura de um lugar ao sol:
- No nº 18 (janeiro de 1964) ele sinalizou: "Embora goste de escrever, não posso exprimir em palavras a emoção que senti ao ver o meu conto A Greve dos Relógios publicado no JJ. Gostaria que o Jornal Juvenil fosse semanal ou quinzenal".
- No nº 25 (setembro de 1964): "Que tal publicar sem interrupções as minha colaborações? Obrigado pelas chances que o JJ tem me dado".
- No nº 27 (outubro de 1964): "Peço que me enviem dois exemplares do JJ de outubro de 63 e dois de abril de 64. Para tal envio a importância correspondente".
Carteirinha de colaborador do JJ, pertencente a Minami Keize.
Cartum de Luís Sátiro publicado em no Jornal Juvenil nº 21, abril de 1964. Sátiro (ou Victor Forde) viria a ser um grande colaborador de Minami Keize na primeira fase da editora Edrel.
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Sobre o Editor de Arte, José Luís Alemán Alvarez, Elza Alemán, viúva de José Luís, nos enviou a seguinte biografia:
"JOSÉ LUIS ALEMÁN ALVAREZ, nasceu em Lisboa, Portugal em 5 de setembro de 1937. Desde a mais tenra idade trocava qualquer brinquedo por uma folha de papel e um lápis. Dos 12 aos 16 anos frequentou o atelier de Mário Costa, importante pintor e cenarista. O atelier, por sorte, ficava no mesmo prédio onde Alemán morava e ele pode aprender a utilizar os materiais de pintura e dar um grande passo no aprimoramento do desenho. Nessa ocasião o rapaz ganhou um concurso para criação do logotipo de um time de Futebol de Lisboa e criou a marca para um magazine de roupas.
Em 1954 veio morar no Brasil e radicou-se em São Paulo. Sem demora foi descoberto e ingressou no meio publicitário, trabalhando em várias agências. Criou seu próprio Estúdio. De seu estúdio jorraram logotipos, marcas, folhetos, outdoors...
No início dos anos 60, junto com amigos, cria o Jornal Juvenil, revista dedicada ao público jovem. Embora com algum sucesso e desenhistas de renome, o JJ teve a duração de pouco mais de quatro anos.
No Grupo Itaú (Banco, Rações Anhanguera, Deca, Duratex) como chefe do departamento de arte trabalhou por mais de seis anos, onde criou farto material publicitário, inclusive o famoso rinoceronte Toc-toc, o símbolo das chapas Duratex (hoje com muitos pais), padrões para Duraplac, símbolos para os diversos tipos de rações...no SERROTE, o jornal da empresa, as artes ficavam com ele, o Zezo, e o Célio.
Em 1980 transfere sua residência para a cidade de Embu, muito próxima a São Paulo. Tinha como meta exclusivamente dedicar-se as artes plásticas. Levou suas telas a praça, na famosa Feira e juntou-se ao movimento de arte local. Não deixou em nenhum momento de desenhar, ilustrando o jornal da cidade, o Folha de Embu. Eram folhetos, logotipos para o comercio e indústria e trabalhos para os políticos em voga. Por dois anos foi Diretor de Comunicação do MAIS EMBU, uma Associação de Artistas e Intelectuais que arregimentava a nata artística.
Ganhou medalhas e menções nas exposições de arte local com suas telas. Nos anos 90, foi Secretário de Turismo da Prefeitura de Embu, por dois anos. Que se saiba, os pincéis e os lápis nunca descansaram no ateliê do Alemán. Suas telas foram para exposições no exterior e constam em coleções particulares em Portugal, Canadá e Venezuela.
Em 2014, os 77 anos, decorrente de uma cirugia de tireoide, Alemán veio a falecer".
Nebulosa da Águia, tela de José Luis Alemán.
Agradecimentos aos amigos Elza Alemán e José Antonio Buhrer.
Um comentário:
O acervo do Aleman é maravilhoso. Tive a sorte de tê-lo como tio e ser uma das colecionadoras de seus esplêndidos trabalhos. Fico a disposição caso alguém deseje conhecer mais obras desse genial artista.
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