terça-feira, 19 de maio de 2020

O Guarani - O Jornal - 1933


Em novembro de 1933, em seu Suplemento Infantil, o periódico carioca O Jornal passou a publicar o romance O Guarani, de José de Alencar, aos domingos em capítulos semanais.

Com desenhos de Francisco Acquarone, ou Acqua, como assinava, desenvolveu a história até abril de 1934, quando a mesma passou para as mãos do então iniciante Alceu Penna.
O Guarani de Alceu Pena.

Acquarane, em 1937, lançou pelas edições do Correio Universal, um álbum com a história de O Guarani completa, mas com os desenhos refeitos. Comparando as duas versões podemos notar que a primeira, publicada pelo O Jornal, tinha os desenhos bem estilizados e bem mais interessantes do que a versão mais realista do álbum do Correio Universal.


Acima, a versão do Correio Universal.
No caso da continuação realizada por Alceu Penna, o artista, apesar de em início de carreira, conseguiu um efeito moderno e sintonizado com o grafismo da época.

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Sobre os autores: 


Francisco Acquarone (Rio de Janeiro RJ 1898 - idem 1954). Historiador, pintor, desenhista, caricaturista, ilustrador, professor, crítico, escritor, jornalista. Cursa a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde é aluno dos pintores Baptista da Costa, Modesto Brocos, Rodolfo Chambelland e Rodolfo Amoedo. Dedica-se à pintura, desenho, caricatura e ilustração. Trabalha como jornalista e ilustrador do periódico Dom Quixote, a partir de 1918. Posteriormente, colabora com retratos e ilustrações a bico-de-pena e crayon para periódicos como O Jornal, A Noite e Dom Casmurro, revista de cultura voltada para a divulgação das artes plásticas. Participa dos Salões de Belas Artes, entre 1926 e 1941, com paisagens, retratos, pinturas históricas e de gênero. Torna-se conhecido principalmente por sua atuação como historiador da arte e publica títulos como Mestres da Pintura no Brasil, s.d., em parceria com Queirós Vieira; História da Arte no Brasil, em 1939; Obras-Primas de Rodolfo Amoedo, Mestre da Pintura Brasileira, em 1941; e Primores da Pintura no Brasil (1942), entre outros.

Alceu de Paula Penna (Curvelo, Minas Gerais, 1915 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1980). Desenhista, ilustrador, figurinista. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1932 e publica seus primeiros trabalhos no Suplemento Infantil de O Jornal. Nesse ano, matricula-se no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes - Enba e, durante os cinco anos que estuda nessa instituição, freqüenta como ouvinte diversos cursos ligados às artes plásticas. Em 1933, passa a ilustrar a revista O Cruzeiro. Em 1937, realiza tradução de histórias em quadrinhos norte-americanas, além de adaptar diversos clássicos literários para essa linguagem. Esses trabalhos são publicados no tablóide O Globo Juvenil, lançado em 1937. No ano seguinte, começa a escrever e ilustrar, na revista O Cruzeiro, uma seção intitulada As Garotas, que se mantém ininterruptamente até 1964. Nesse período, As Garotas passa a ser uma referência de moda, estilo e comportamento para o público feminino. Em 1941, depois de algum tempo em Nova York, onde conhece Carmem Miranda (1909 - 1955), passa a dedicar-se à criação de figurinos para os espetáculos apresentados nos cassinos cariocas. De 1946 a 1952, trabalha na execução de uma série de calendários para a empresa Moinho Santista Indústrias Gerais e, paralelamente, na mesma empresa, ilustra a revista Tricô e Crochê e responsabiliza-se por sua publicação. Na década de 1950, desenvolve figurinos e cenários para diversos shows e espetáculos teatrais. Em 1960, por meio de uma parceria estabelecida entre as empresas O Cruzeiro e a multinacional francesa Rhodia, torna-se o responsável pela criação dos figurinos utilizados até 1975 na apresentação das coleções anuais da marca.

Alceu Penna é um dos primeiros a desenvolver a técnica dos quadrinhos no Brasil. Cria para O Globo Juvenil adaptações em quadrinhos dos clássicos da literatura, como O Fantasma de Canterville, Um Yankee na Corte do Rei Arthur, Sonhos de uma Noite de Verão e Alice no País das Maravilhas. Os desenhos são feitos em preto-e-branco e o roteiro é do escritor Nelson Rodrigues (1912 - 1980). Esses trabalhos são publicados entre 1937 e 1939 ao lado de quadrinhos estrangeiros como Mandrake, Fantasma e Brick Bradford. Nos anos 1950, Alceu Penna faz para a revista A Cigarra os quadrinhos Marido da Madame, em que os personagens Gonçalo e Lolita vivem situações do cotidiano de um típico casal de classe média alta da época. O texto é da cronista Helena Ferraz, que usa o pseudônimo "Álvaro Armando", e apresenta uma série de diálogos escritos em rima, que lembram a literatura de cordel.

Seu trabalho de maior expressão é a seção As Garotas, publicado semanalmente na revista O Cruzeiro, do final da década de 1930 até meados da década de 1960. Representando moças jovens, na faixa dos 18 a 25 anos, As Garotas inauguram uma nova forma de representar a feminilidade ao valorizar mais sensualmente o corpo da mulher. Os cabelos estão mais compridos, volumosos e realçados com acessórios; brincos e bijuterias são obrigatórios; a maquiagem marca e aumenta o contraste nos rostos; o quadril afina, os ombros se alargam e as pernas expostas do joelho para baixo não são mais o foco de sedução; os seios passam a ser valorizados, transbordando ou insinuando-se sobre os decotes, ao contrário do colo anteriormente liso; o bronzeado opõe-se à brancura anteriormente valorizada. A delicadeza e suavidade d'As Garotas de Alceu Penna substituem a eletricidade das melindrosas de J. Carlos (1884 - 1950). O desenhista traz para as páginas da imprensa brasileira uma nova modalidade de sensualidade. O desenho é ao estilo das pin-ups norte-americanas, porém As Garotas atraem também o público feminino, jovens adolescentes e pós-adolescentes que passam a copiar os penteados, roupas e os gestos dos tipos criados por Alceu Penna. Por meio d'As Garotas, Penna dita a moda carioca dos anos 1940 e 1950, transportando para O Cruzeiro as novidades publicadas nas revistas estrangeiras. As Garotas passam a figurar também nas folhinhas (calendários) que são distribuídas gratuitamente pelos representantes dos produtos da S. A. Moinho Santista Indústrias Gerais. Nessas folhinhas, diferentemente d'O Cruzeiro, As Garotas surgem mais maduras, mais sensuais e com menos roupa - os desenhos são, por vezes, até censurados pela empresa, que obriga o desenhista a vestir sua criação.

Como estilista, Alceu Penna assina suas primeiras criações para shows e espetáculos teatrais, já na década de 1930. É responsável pelo figurino dos espetáculos do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, além da decoração e das fantasias para bailes de carnaval. Nos Estados Unidos, o desenhista sugere a renovação do figurino da cantora Carmem Miranda (1909 - 1955) e de seus músicos. Para a cantora, desenha saias multicolores, turbantes e sapatos de solas grossas; para os músicos, calça de smoking, camisas listradas e, na cabeça, chapéu panamá. Na década de 1960, Alceu Penna é contratado pela Companhia Rhodia para desenhar os modelos para os grandes desfiles anuais organizados pela empresa. É um dos pioneiros do desenho de moda no Brasil, e viaja periodicamente para a Europa, especialmente para a França, para observar as tendências do setor. Ao voltar, utiliza essas tendências como referência nas suas criações para a indústria de tecelagens e para os figurinos das exposições anuais da Rhodia.

O interessante na biografia de Alceu Penna, que é considerado como grande colorista, é o fato de ele ser daltônico. Isso porém, não é problema para o artista, que utiliza o recurso de marcar por escrito as cores nos tubos de tintas.
 

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