sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Leão Negro - O Globo - 1987

Tira de aventuras criada por Cynthia Carvalho e Ofeliano Almeida, O Leão Negro começou a ser publicado em 1987 no jornal O Globo. No ábum O Filhote, editora Meribérica, 1990, o personagem é assim apresentado:

"Quem é Othan, o Leão Negro? Um guerreiro mercenário, a vagar aqui e acolá oferecendo sua força ao senhor da guerra que melhor remunere.

Voa livre no seu dragão Tofú, animal inquieto e mais ou menos fiel. Quando suas armas perdem o fio e o corpo clama por descanso, ele retorna ao lar doce lar: um castelo arruinado e isolado, onde ainda vive seu último parente, O irmão Isaúh. Isaúh poderia ser como Othan, mas optou por uma vida de paz e contemplação. Solitário, só tem a companhia de uma jovem escrava, a leoazinha Hera, que pacientemente espera desabrochar para desposar.

Os dois irmãos não se dão e sob qualquer pretexto chegam as vias de fato. Por estas e outras Othan nunca se demora em casa".

Na Wikipedia podemos ler um ótimo resumo da série:

"A série é protagonizada por felídeos antropomorfizados em um planeta sem nome, mas bastante parecido com a Idade Média da Terra. Suas histórias foram publicadas em inicialmente em tiras pelo jornal O Globo de 1987 a 1989.


A primeira página dominical do personagem, O Globo, 23/08/1987.

 
A segunda tira do Leão Negro, O Globo, 24/08/1987.

Leão Negro foi criado pela roteirista Cynthia Carvalho em 1979, aos 16 anos, inicialmente, Othan, o Leão Negro, inspirado no próprio pai de Cynthia, era um coadjuvante de "Espadas e Garras", cuja personagem principal era a leoa Shebba, que depois passou a ser chamada de Tchí, com quem Othan teria um filho, Kasdhan. Em 1987, O desenhista Ofeliano de Almeida, participa de um concurso de tiras realizado pelo jornal carioca O Globo, Ofeliano planejava criar um tira de humor, porém resolveu investir num projeto de tira de aventura, logo convence Cynthia a escrever a tira baseada em seu projeto da adolescência. Cynthia e o Ofeliano começam a publicar Leão Negro no jornal O Globo no formatos tira diária e Pranchas dominicais, a tira foi publicada durante dois anos jornal, em meio a censura e críticas por parte dos leitores do jornal. Em 1990, a dupla assina com a editora portuguesa Meribérica, está publica os arcos de história O Reencontro e O Filhote na revista Selecções BD e num álbum colorido chamado O Filhote. 

 
Álbum O Filhote, editora meribérica, 1990.

Em 1996, a dupla publica a história inédita Magala nas páginas da antologia Brasilian Heavy Metal, álbum com autores brasileiros baseado na revista Heavy Metal. Em 1997, publicam nos três números da revista de RPG de mesa Saga da Editora Escala. 

Em 2003 é lançado o site oficial do Leão Negro, no ano seguinte são lançados quatro álbuns independentes trazendo histórias publicados no jornal O Globo e a história Magala, que também esteve disponibilizada no site da Editora Nona Arte, os álbuns são vendidos através do site oficial da série, os leitores também puderam comprar o álbum O Filhote da Meribérica, diferente de O Filhote, todos os demais álbuns foram publicados em preto e branco, a dupla optou por não publicar o primeiro arco publicado em O Globo, por não gostarem do resultado de tantas intervenções. Em 2008, Cynthia assina contrato com a estreante HQM Editora, essa incia a publicação de duas séries de álbuns novamente em preto e branco: A série origens trazendo as republicações anteriores e uma história inédita Questão pessoal, história disponibilizada para download no site oficial juntamente com Magala, Questão Pessoal foi desenhada por Danusko Campos, um artista com influência dos quadrinhos japoneses, Danusko substituiu Ofeliano, que atualmente trabalha na elaboração de storyboards para cinema e televisão. A nova série teve histórias inéditas desenhadas por André Mendes e Danusko Campos, Em 2009, Cynthia lança a graphic novel independente A Vestal desenhada por André Leal, a história se passa na mesma época da Nova série publicada pela HQM. No ano seguinte, são disponibilizados no site oficial, contos do Leão Negro, primeira inciativa em prosa da série. No mesmo, são publicados novos álbuns pela HQM: O Filhote e Leão Negro – Volume 3: Histórias de Família, logo depois, Cynthia usa novamente seu site oficial para vender os álbuns Nalabar (da nova série) e o terceiro álbum da série Origens: Terra Polares. Em 2012, publica o livro Contos Sangrentos - Histórias do Universo do Leão Negro pela editora Agbooks, uma editora sob demanda, no ano seguinte, publica novamente o álbum A Vestal pela editora Clube dos Autores, uma editora parceira da Agbooks, no mesmo ano, a HQM volta a publica a série com o lançamento de quatro álbuns simultâneos:-Leão Negro – Série Origens – Vol.3: Terras Polares, Leão Negro – Série Origens – Vol.4: A Pantera, Leão Negro – Série Origens – Vol.5: Fêmeas e Leão Negro – Vol.4: Nabalar". 

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Revista Saga nº 03, editora Escala, 1997.

 

Sobre os autores no site Leão Negro:

Cynthia Carvalho - A roteirista

Desde que me entendo por gente, fazia quadrinhos. Primeiro uns sapos futuristas horrorosos, que desenhava em cadernos pautados e mostrava não a uma mãe, mas às namoradas do meu pai, que “achavam lindo” e assim conquistavam mais um pouco o coração do viúvo tirano.

Um pouco mais velha, ganhava uns trocados fazendo HQs com personagens da família. Uma tia comprava 1 gibi por semana, contanto que ela estivesse na história. Eu aproveitava para esculachar com todo mundo, era o único jeito de fazê-lo impunemente. Paralelo a isso eu fazia, para mim mesma, aventuras futuristas com os equinóides. Corpo humanóide e cabeça de cavalos. Haviam outros personagens, mas menos importantes.

Sempre fui muito introspectiva e escrever e desenhar era fundamental para mim. Até hoje eu não suporto ser interrompida quando estou escrevendo.

É como ser brutalmente arrancada de um universo e ser atirada a outro. Não dá pra não entrar em choque.Entre um choque e outro (ninguém respeitava minha introspecção), aos 16 anos fiz a primeira HQ com o Leão Negro. Na verdade ele era um personagem secundário na saga da Tchí, a leoa. Mas se mostrou tão forte que chamou atenção.

Aos 21 mostrei o rascunho para o Ofeliano, mentor de jovens quadrinhistas da época e mais tarde, companheiro. No traço do Ofeliano o personagem ganhou ainda mais personalidade. Quando o jornal O Globo nos contratou para produzir tirinhas de aventura é que a coisa deslanchou. Produzi freneticamente roteiros e mais roteiros.

Paralelo a isso, escrevi alguns roteiros e arte finalizei outras HQs de romance, sci-fi, humor e eróticas para editoras de São Paulo. Mas meu forte mesmo é roteiro. Não tenho o talento e a disciplina necessários para um bom ilustrador. Acabei me formando em design e fui trabalhar em agências de propaganda e editoras. Hoje sou uma designer que também faz roteiros.

Há poucos anos, graças ao entusiasmo do Vitor, me animei a retomar o Leão Negro. Voltei a escrever roteiros e procurei muito por um desenhista com talento e disposição para desenhá-los. Danusko foi um achado. Estou animada, finalmente o leão está de volta.


Nada vem do nada

Levei muito tempo para perceber isso. Nos roteiros mais recentes, o Leão Negro foi ficando cada vez mais parecido com uma pessoa muito importante para mim: meu pai. Colérico, infiel... um adorável canalha, como Othan. “Doutor Carvalho” pode ter sido tudo isso, mas, para mim, será sempre o homem orgulhoso e elegante que eu admirava. Criou sózinho os sete filhos que teve com duas mulheres numa enorme casa, isolada e encravada no alto de um morro (eis a Ilha de Gardo!). Dos sete capetas, um deles ficou tão parecido com ele próprio, que não podiam suportar-se (e eis Kasdhan!). Nos roteiros mais recentes vão despontando características de vários membros de minha louca família.

Sim, tenho material pra muitas histórias... tudo colhido na infância.

 
Brazilian Heavy Metal, editora Comix Book Shop, 1986

 
Ofeliano de Almeida - O desenhista

Minha primeira e permanente influência no desenho de aventura em quadrinhos é Principe Valente, de Harold Foster. Lembro-me, com nove anos de idade, indo visitar meus avós num ônibus para São Paulo, lendo uma revista do príncipe Val onde ele retorna a seu castelo. Vindo de mais uma batalha sangrenta ele invade a sala de banhos de sua mulher, a cinematográfica princesa Aleta. Foster desenhou Aleta em muitas cenas sensuais e embora ela lembrasse bastante as donas de casa da classe média dos seriados tipo I Love Lucy se tornou minha namorada por um tempo.

Afinal, Foster traçava tudo com a elegância e o esmero dos gravuristas românticos e transformava a Idade Média insalubre num verdadeiro resort charmoso e prazeroso. As cenas de batalha, tarefa complexa pra qualquer desenhista, ficaram impressas na minha mente como modelo pra desafios profissionais no futuro. Nenhuma criança escaparia a tal encantamento. Eu estava fisgado.

Creio que toda minha carreira de desenhista de quadrinhos vem sendo uma tentativa de perpetuar o impacto e a magia daquelas horas de viagem, folheando aquele gibi. A vida e o mundo seriam bons se eu os mantivesse daquele jeito. Como se minha carreira estivesse traçada nas estrelas desde o Big Bang, me tornei artista gráfico, com ênfase para os quadrinhos. Só não podia calcular que dedicar-me à HQ no “Terceiro Mundo” era muito mais arriscado do que enfrentar os monstros e guerreiros mongóis que o príncipe VAL destroçava com vigorosas espadadas. É que, em geral, ganhou-se pouco dinheiro na HQ brasileira, embora tenhamos muitos talentos verdadeiros. Mas se a luta seria inglória, pelo menos que fosse divertida. As causas perdidas sempre foram as mais atraentes e, afinal, meus heróis de juventude nunca foram Disney ou Kennedy, mas Carlos Lamarca e Sandino.

Porém, pesando tudo nestes 25 anos de batalhas gráficas, vejo que emplaquei algumas vitórias memoráveis e coloquei meus quadrinhos em gibis, livros, revistas e jornais, alguns deles com milhões de leitores mensais.

Conhecer Cynthia Carvalho e seu imaginário em HQ foi como um encontro zodiacal: harmonia cósmica. Fizemos dois anos de tiras diárias do Leão Negro em O Globo (de 1987 a 1989), depois o álbum a cores pela Meribérica (Lisboa), distribuído nos países de língua latina, mais tarde publicamos três aventuras na revista Saga e queremos vê-lo abrindo caminhos sempre, nem que seja com vigorosas espadadas.

7 comentários:

ofeliano de almeida disse...

GRANDE LUIGI, EU JÁ CONHEÇO SEU BLOG HÁ TEMPOS MAS NUNCA TINHA VISTO EM LUGAR NENHUM UMA RESENHA TÃO COMPLETA SOBRE O LEÃO NEGRO COMO ESTA, GRATO MESMO! SEU TRABALHO DE PESQUISADOR APAIXONADO (A GENTE PERCEBE O CARINHO Q VC TEM PELOS QUADRINHOS E PELA REALIDADE DOS AUTORES) É O NIÓBIO DE NOSSA MEMÓRIA, VALE MAIS QUE OURO; PARABÉNS E SUCESSO ETERNO!!!

Luigi Rocco disse...

Salve, Ofeliano. Muito obrigado pelas palavras de estímulo e incentivo. E obrigado pelas visitas ao blog também! Vamos em frente, tem muito material bom pra ser resgatado ainda. Abs

Anderson B. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anderson B. disse...

Descobri seu blog agora com um post sobre Os Halley e estou adorando. Parabéns pelo belo trabalho, Luigi!

Fiquei um tanto surpreso com a tira dominical do Leão Negro em preto e branco. Na minha memória (que sempre foi péssima, reconheço) as tiras dominicais do Leão eram em cores. Pode ser que apenas as primeiras tenham sido em p/b... Você sabe algo sobre essa questão? Tem alguma tira de domingo do Leão em cores?

Grande abraço e obrigado por esse importante resgate!

ofeliano de almeida disse...

CARO ANDERSON, VC TEM TODA RAZÃO, SUA MEMÓRIA É ÓTIMA: TODAS AS MEIAS-PÁGINAS DOMINICAIS DO LEÃO NEGRO EM "O GLOBO" FORAM COLORIDAS; ESTA AÍ EM P&B DEVE TER SIDO TIRADA DE UMA DAS PRIMEIRAS REVISTAS INDEPENDENTES QUE A CYNTHIA CARVALHO LANÇOU (REPUBLICANDO VÁRIAS AVENTURAS) POR CONTA PRÓPRIA NO INÍCIO DOS ANOS 2000; GRATO PELO COMENTÁRIO E GRANDE ABÇ.

Anderson B. disse...

Superobrigado pela confirmação e pela honra, Ofeliano! Nem precisa dizer que sou grande fã do seu trabalho com o Leão Negro (e da Cynthia também, claro!)

Seguirei então, buscando as tiras em cores, pois tenho grande curiosidade de comparar as cores do jornal com as do álbum da Meribérica (a publicação original, n'O Globo, deve ser a única versão das HQs do Leão Negro que não tenho hoje, e eu gardava tantas quando criança!).

Luigi Rocco disse...

Salve Anderson e Ofeliano. Obrigado pelas visitas. As páginas dominicais do Leão Negro eram todas em cores mesmo. Tenho alguns exemplares do Globinho, mas, para azar dos azares eles terminam justamente uma semana antes da estreia do Leão Negro. Então, as páginas apresentadas estão em PB porque fui obrigado a usar as imagens dos microfilmes do jornal. Grande abraço a todos.