sexta-feira, 8 de maio de 2020

Edú - Entrevista - 1992

Eduardo Carlos Pereira, o Edú, concedeu esta entrevista ao pesquisador e jornalista Worney Almeida de Souza (WAZ) em 18/18/1992 e que permaneceu inédita até hoje. Aproveitem!!!

WAZ: Fale do começo da carreira. Como é que foi?

Edú: Bom, eu comecei fazendo charges para o Diário de S. Paulo, juntamente com meu pai, que trabalhava lá como jornalista e eu bolei o meu primeiro personagem, chamava-se Arbustinho.

WAZ: Isso foi em que época?

Edú: Eu tinha 12 pra 13 anos, começo da adolescência...

WAZ: 1965, 1966?

Edú: Não, 1965 eu já tinha 18 anos. Começo dos anos 1960*.

*Arbustinho foi publicado em 1964, Edú tinha então 17 anos.

WAZ: Eram tirinhas ou eram charges mesmo?

Edú: Eram tirinhas. Tirinhas semanais.

WAZ: E chegaram a sair?

Edú: Chegaram a sair. Eu tenho inclusive o clichê em chumbo.

WAZ: Então começaram a sair junto com o comecinho do Mauricio (de Sousa) lá, que ele tinha a distribuidora...

Edú: Sim, inclusive eu fiz um pouco de estágio lá no Mauricio depois que eu parei de fazer as tirinhas. Como um aprimoramento, né? Fiz um estágio no Mauricio. Fiz alguma coisa lá no Mauricio, com arte final.

WAZ: Então me volta a falar das tirinhas. Como era o personagem?

Edú: É um personagem bem soft, já com aquela minha facilidade de estereótipo. Um personagem redondinho, com um cabelinho, daí o nome Arbustinho, e com influências do Mauricio de Sousa, aquele traço grosso em volta, traços mais finos dentro da figura.

WAZ: E tinha um universo com mais personagens ou era ele só?

Edú: Não, era abrangente, não era só infantil, eu procurava fazer ele assim, abrangente. Pra adulto, criança, né? E esse foi o começo.

WAZ: E você tem tiras dele aí?

Edú: Tenho, tenho os clichês, tenho alguma coisa publicada, que eu poderia até te mostrar...

WAZ: E no Mauricio? Como é que você entrou lá?

Edú: No Mauricio foi devido ao meu pai ter muito conhecimento no meio jornalístico, né?

WAZ: Qual o nome do seu pai?

Edú: J. Pereira... Que aliás eu devo muito a ele. Sempre incentivou muito a minha carreira, e ele me apresentou, quer dizer, manteve contato lá no Mauricio, né. E a gente foi lá. Sempre teve muita amizade com o Mauricio, devido ao meio jornalístico, né? Experiência lá na Folha (de S. Paulo). E a gente começou assim, devido ao conhecimento, né? E aí o Mauricio gostou muito e tal. Eu era jovem, né?  Devia ter uns 14 anos nessa época. 14, 15 anos. E aí ele me incentivou bastante pra que eu continuasse na carreira, e foi o que eu fiz.


 Capa de livro para a editora Hemus.

WAZ: E lá no Mauricio você ficou quanto tempo?

Edú: Eu só fiquei uns dois anos.

WAZ: E o que você fazia mais lá? Fazia todos os personagens ou já tinha algum que você trabalhava mais?

Edú: Eu fazia arte final. Arte final... E é o que eu precisava mesmo. Na época eu era meio fraquinho de arte final, tinha muita criatividade mas eu precisava aprender ainda muito. Era ainda no começo. E realmente eu encarei aquilo como uma escola mesmo, sem outras preocupações.

WAZ: E depois do Mauricio?

Edú: Depois do Mauricio eu fui pra Start Filmes. E lá sim foi a minha lapidação. Eu fiquei dois anos lá no Walbercy (Ribas Camargo). Na Start Filmes, fazendo desenho animado e aí sim você aprende tudo. Mesmo porque você tem que fazer o storyboard, que é o desenho da cena. Então, não só você faz o storyboard de desenho animado como também havia filmagens ao vivo, então você treinava também desenho mais acadêmico. Bem rápido, aquele desenho bem publicitário, né? E é o que eu digo pra você: foi uma grande escola! Esses dois anos pra mim foram muito especiais.

WAZ: Foi aí que você começou a desenvolver esse traço que você tem?

Edú: Exatamente.

WAZ: Bem esguio, os personagens longos...

Edú: É, eu fui me soltando. As informações que me eram dadas eram muito importantes. Qualquer profissional precisa ter uma base. Você não se soltaria se você não tivesse talento. Como não era esse o meu caso, eu tinha talento, eu precisava só me lapidar mesmo. E de orientações. E foi o que aconteceu. E sorte também!

WAZ: E no Walbercy, você lembra algum trabalho que você fez? Que você se empenhou mais, que você gostou mais?

Edú: Ah! Fiz diversos trabalhos lá. Me divertia muito lá também, porque as filmagens ao vivo eram um barato. Me lembro particularmente das cuecas Baldo. O Chicão, na época, era o modelo mais solicitado, então eu curtia muito, porque eu fazia o storyboard, o desenho das cenas e ficava orientando o câmera. E era uma loucura, era tudo improvisado. Me lembro que pra esse comercial das cuecas Baldo, a gente teve que parar na rua um conversível, um Thunderbird conversível, tinha que ser um carro conversível porque na cena final ele é assaltado, ele está com uma garota e ele é assaltado, e roubam toda a roupa dele, e ele fica só de cueca, né? E ele sai do carro, pula do carro pra correr atrás dos ladrões, e ele para e a câmera dá um zoom no bumbum dele e aparece o logotipo Baldo. Então, eu já gostava muito de fazer storyboard pra desenvolver essa parte acadêmica que eu te falei. E Piraspuma também nós fizemos, aquele sultão da Piraspuma. Colchões Piraspuma. Mas olha, teve tantos, que na hora assim eu nem me recordo! E sempre com a orientação do Walbercy. Eu fazia todo o desenho aí ele vinha e fazia o copydesk.

WAZ: Nessa época tinha muita gente trabalhando no estúdio?

Edú: Não, a coisa era bem artesanal mesmo!

WAZ: Então você fazia tudo?

Edú: É, tinha uma equipe resumida. Desde o chefe, o câmera, que curtia muito o trabalho da gente, quando não tinha o que fazer ficava lá batendo papo com a gente. Todo mundo ajudava todo mundo, era uma espécie de família.

WAZ: Você trabalhava já com cores naquele tempo?

Edú: Ah! Sim! Pra você animar um cliente, um layout por exemplo, você tinha que usar cores. Mas eu nunca fui assim muito legal nessa parte, minha parte era mais criatividade e traço, sabe? Eu não fujo muito das minhas origens.



Capa de livro para a editora Hemus.

WAZ: No seu trabalho você já definia logo a cena e o personagem ou você demorava muito?

Edú: Olha, é uma coisa que eu não sei te explicar, você na sua área e eu na minha. Eu sinto na hora que eu tenho que dar, por exemplo, uma capa, você tem o título. Eu leio o título começa me dar uma batedeira, uma taquicardia, eu acho que é a convulsão de criação. Eu não sei te explicar bem o que acontece, que aí já começa a passar um negócio na tua cabeça, um monte de gravuras que você já viu. Esse negócio de você falar eu criei, é meu... Não! Eu acho que é uma soma de tudo aquilo que está no seu subconsciente, que você já viu. E você, através do tempo, você desenvolve essa capacidade de passar na tua cabeça o que você viu, detalhes de coisas. Porque o artista é um detalhista, coisa que não acontece com as pessoas em comum. Pessoas gostam de ver no geral, eu não, eu gosto de ver detalhes. Então, isso inconscientemente fica gravado. Quando você começa a criar, essa máquina começa a disparar, então é legal!

WAZ: E depois do Walbercy para aonde você foi?

Edú: Eu fui pra uma outra agência, menor, a Acelan, na (rua) Barão de Itapetininga. Fiquei pouco tempo lá. Não posso dizer muita coisa, que era mais filmagem ao vivo, não tinha desenho animado. E aí fui pra Rio Claro, trabalhar no departamento publicitário da Skol.

WAZ: E lá era mais cartazes, essas coisas?

Edú: É, tenho bastante material pra te mostrar. Desenvolvi bastante. Fiquei dois anos lá e deixei saudades, porque o pessoal gostava muito de mim. Eu inovei, né? Com os bonecos, com a linha soft, a linha estereótipo, os cartazes da Oktoberfest, festas da cerveja. Eu fazia todos os cartazes! E eram todos impressos em silk screen, um negócio bem artesanal.

WAZ: E você desenvolveu algum personagem?

Edú: Não! Um personagem específico não.

WAZ: Eram vários bonequinhos que você fazia especificamente?

Edú: Isso!

WAZ: E nos cartazes você trabalhava com cores?

Edú: Sim, claro.

WAZ: E era pintado ou você indicava?

Edú: Eu fazia a indicação pra que a pessoa que fosse fazer a tela do silk screen acompanhasse. E era tudo pintado a guache. Guache com traço preto. Bem pintura mesmo, pintura chapada. E eu me sentia até em segundo plano, vendo o camarada que fazia o recorte do silk screen, porque realmente é um trabalho de muita paciência, sabe? De habilidade tremenda! Você pega um estilete e tem que recortar cor por cor, tudo vazado pra você gravar na tela e fazer passar a tinta... Você conhece o sistema do silk screen?

WAZ: Conheço!

Edú: Hoje não, porque eles trabalham com fotolito. E isso que eu estou te contando é 1969. Fiquei lá dois anos, 1971... E eu casei.

WAZ: Casou lá ou aqui?

Edú: Aqui. Por que que eu casei? Porque... veja bem... eu acho que...

WAZ: Você gostava da moça!?!

Edú: Eu acho que o artista... Eu imaginei o seguinte: eu não queria mais trabalhar de empregado. Queria trabalhar de frelancer, e a primeira editora que me deu a chance, diria, financeira... Que até então, tudo o que eu te contei, foi tudo escola. Mesmo em Rio Claro, não posso dizer que houve assim uma evolução na parte financeira. Na parte profissional, que eu acho muito importante, o pessoal acha que não, que o artista tem que ser artista. Eu acho que se você puder coadunar as duas coisas é ótimo!

WAZ: Tem que comer também!


Capa de livro para a editora Hemus.

Edú: Principalmente hoje em dia. Naquela época nem tanto! Então, o editor que me deu a grande chance, a oportunidade, de mostrar o meu trabalho na praça de São Paulo foi o Eli Behar, da editora Hemus, ali na rua da Glória. Esse homem foi assim um pai. Eu lembro dele com saudade, já é falecido. Embora os filhos dele que estão tocando a editora também são muito meus amigos, mas aquele homem foi quem me deu a mão. E aí, a coisa começou. Começaram a aparecer meus bonecos. Vim pra São Paulo e meu telefone começou a tocar.

WAZ: O que você fazia pra ele?

Edú: Capas. Comecei a fazer capas, ilustrações, capas de livros. E ele adorava meu estilo, o estereótipo.

WAZ: E era o mesmo estilão do Praça (Atrapalhado)?

Edú: Sim, exatamente. Bem com tendência... não sei se você reparou, mas tem alguma coisa assim, meio do Ziraldo, o tipo do boneco. Eu me influenciei demais, eu sempre adorei o Ziraldo. Em termos de síntese, do estereótipo, né? A inteligência do estereótipo! Acho que o Ziraldo é o exemplo máximo! Bom, aos poucos, é lógico, fui me livrando, fui adquirindo um estilo próprio. E a minha evolução mesmo começou na editora Ática. Em termos de produção de grande escala, aí já comecei a fase de grande escala.

WAZ: E o que é que era? Livro didático?

Edú: É, livro didático, que é onde você tem trezentas, quatrocentas figuras num livro!

WAZ: Você sempre trabalhou no seu estilo ou foi no desenho anatômico?

Edú: Não, no meu estilo! Aliás, eu tenho orgulho de dizer isso pra você, eu fui o primeiro desenhista que levou pro livro didático o estereótipo.

WAZ: Foi em que época?

Edú: 1971. Época do estouro dos livros de estudos dirigidos. Português, estudo dirigido de matemática... Quando o Emerson Fittipaldi ganhou o Grande Prêmio de Fórmula 1, eu estava às voltas com uma capa de matemática, aliás, a primeira capa que eu fiz pra livro didático, livro de matemática do professor Orlando Zambuzzi. E eu aproveitei a capa e fiz um fórmula 1 com um garotinho levantando a taça e tal, a turma toda vibrando, com alguns códigos de matemática, a fórmula 1 tem tudo a ver com matemática, a tomada de tempo, aquela coisa toda. E em cima desse tema eu fiz a capa e a contracapa.




WAZ: Era o carrinho voando, não tava no solo?

Edú: No solo mesmo, chegando, já recebendo a taça de campeão, eu posso até te mostrar, devo ter aí. Então, essa capa causou muita polêmica dentro da editora mesmo, o professor Anderson, o dono da editora Ática, que tava começando, ele achou aquilo um absurdo, ficou com muito medo. Houve uma polêmica geral! Só não suspenderam a capa porque já tinha rodado o fotolito, já tinham investido muita grana, então, eles deixaram sair assim mesmo! Mas tinha sido aprovado pelo pessoal lá, e quando caiu nas mãos do diretor...

WAZ: Ele não gostou?

Edú: Não é que não gostou, ele ficou com medo! Ele pensou que ia ficar tudo encalhado, devido àquela mudança de 360º, até então havia Osvaldo Sangiorgi, aquelas capas duras... você lembra, né? Bom, até hoje não se sabe de livro que tenha vendido mais que aquele! Foi o recorde dos recordes! A meninada pegava, isso os professores contando, que a novidade era tanta que a molecada tirava a capa e fazia poster no quarto! Aí os livros todos sem capa, você abria a capa e a contracapa, uma novidade, né? E a coisa foi uma bola de neve, foi se desenrolando, eu tive oportunidade de conhecer os intelectuais do livro didático, os professores, né? Foi muito bom!

WAZ: Você trabalhava por indicação dos autores da editora ou os editores te passavam os livros?

Edú: Os autores queriam que eu ilustrasse! E se não fosse na Ática, nas outras editoras, eles me procuravam! E fatalmente me achavam...

WAZ: Mas o pessoal dava o tema pra você ou você fazia assim da sua cabeça?

Edú: Não, eles me davam os originais. No caso de ilustrações internas você recebe os originais normalmente já com a arte final do texto pra você saber a dimensão da ilustração, e você faz uma reunião rápida, pra pessoa te passar uma sinopse do que se trata, como é que é, que linhas você tem que seguir. Normalmente é aquela que eu faço, porque, se me chamam, é porque gostam mesmo do meu trabalho e querem aquele, e é assim. Agora, na capa, normalmente você tem o título, e aí você tem que pesquisar, tem que se virar, fazer uma coisa bonita.

WAZ: E você começou em 1971 fazendo livro didático, por aí?

Edú:
Eu posso ser preciso com você, foi em 1971 que eu comecei no livro didático!

WAZ: E você não interrompeu, até hoje você trabalha com livro didático?

Edú: Sim, 1971, são vinte e um anos de livro didático!

WAZ: E você tem uma ideia de quantos livros você já fez?

Edú: Não tenho...

WAZ: E geralmente é no segundo semestre que você produz mais?

Edú: Não! Por exemplo, hoje eles estão programando no começo do ano, pra em julho, agosto, é o mês fatal. Você tem que ter todo o material impresso pros divulgadores virem, saberem o que vai ter, trabalharem em cima, e em novembro já estar tudo pronto, já estar tudo vendido!

WAZ: Você começou com a Hemus, com a Ática, e qual as outras editoras que você já trabalhou?

Edú: Com livro didático? As principais, né? A editora Ática, a primeira, com a IBEP, a Saraiva, a FTD, Moderna...

WAZ: Você nem imagina quantos livros deve ter feito?

Edú: Ah, foram muitos! Eu acho que dentre os desenhistas, tenho quase certeza, acho que quem mais produziu em termos de ilustração pra livro didático sou eu! Porque eu comecei a fazer essa linha pro livro didático, como te falei. Até então, os livros didáticos eram acadêmicos, sérios... e eu, por uma proposta até, eu não estou sozinho, entendeu? A Ática, por meio da pessoa do Sergio Simioni, que trabalhava lá na época, viu meu estilo e gostou, porque eles estavam introduzindo a série de estudos dirigidos, que é onde você tem a leitura do texto, a interpretação do texto, depois vem o exercício, a parte de exercícios sobre o texto, então esse é o esquema do estudo dirigido, e que existe até hoje, na verdade. Então era uma novidade com uma outra novidade. A novidade de texto, de estrutura de livro, com a novidade da ilustração. E calhou de eu estar ali no momento, como pessoa, de ter apresentado o trabalho na hora, a proposta, e não demorou muito eles me ligaram e a gente começou a fazer.

WAZ: E você sempre trabalhou com estúdio próprio?

Edú: Sempre!

WAZ: E você trabalha dentro da editora?

Edú: Não, eventualmente! Houve uma época, de 1977 a 1979, eu trabalhei como freelancer em uma sala dentro da editora Ática, como se estivesse em casa, mas eu era freelancer, não era funcionário.

WAZ: E o Colonnese tem ainda na Ática, tem uma...?

Edú: O Colonnese faz tempo que eu não vejo, ele ficou muito doente, não sei...

WAZ: Ele tinha uma salinha numa vila lá...

Edú: Inclusive, na época em que eu estava lá, mais ou menos nessa época também, a gente se encontrava muito no refeitório, eu almoçava na editora e como ele tinha uma salinha, numa vilinha ali ao lado, ele almoçava lá, então a gente batia um papo, trocava ideia lá no refeitório.

WAZ: Quantas ilustrações em média tem num livro didático?

Edú: Umas 300...

WAZ: Incluindo a capa?

Edú: Não, ilustrações internas. O livro mais difícil pra você ilustrar, que tem mais ilustrações, é o livro de inglês. Que eu não fiz muitos, fiz uns dois ou três, esse é o que tem mais ilustrações, é o livro de inglês. Depois vem o de estudos sociais, que é um livro muito trabalhoso. Você tem que fazer relevos, mostrar mais a realidade pro aluno, de bairros, habitações, praças. Já foge um pouco à minha linha de trabalho, mas eu fiz alguns. É uma carreira excitante porque cada livro é um livro. Apesar de ao longo desses anos, você encara barreiras que você transpõe, no começo você acha assim super difícil, porque são propostas bem inovadoras que estão pedindo atualmente. É um eterno aprendizado.

WAZ: E o teu traço de 1971 pra cá, nessa parte de ilustração, você acha que mudou muito? Eu conheço teu traço dos quadrinhos...

Edú: Não, realmente eu procurei preservar a movimentação. É lógico que tudo modifica na vida. Acho que nada permanece, mesmo que você queira, até os grandes artistas, os clássicos, têm diversas fases. Aliás, acho isso muito necessário, acho que a mesmice não tem nada a ver com o artista. Então, acho que mudou sim, analisando friamente, como técnico. Como leigo talvez você nem possa perceber, mas como técnico sim, mudou. Procuro fazer um traço assim mais simples, um traço não Disney, que é um traço grosso/fino, eu faço um traço mais uniforme, fininho. Mesmo porque as figuras são pequenas e se você começar a engrossar muito o traço elas acabam dando problema no fotolito.


Edú na revista Pancada, da editora Abril, em 1978.
 
WAZ: A dimensão delas como é que você faz? Duas ou três vezes maior?

Edú: Não, uma vez e meia maior, porque os espaços são pequenos. E muitas vezes trabalho no tamanho natural! Dependendo do tempo. Isso é muito importante, porque o cronograma do trabalho livro didático não é fácil.

WAZ: Qual é o tempo que você tem?

Edú: Normalmente você tem 30 dias pra fazer dois livros, quinze dias pra cada livro com 300 ilustrações. Daí você vê, eu fico com a parte de criação e desenho e contrato mão de obra de terceiros para a pintura, senão não teria condições. Mais a pintura, porque eu acho que a arte-final, o traço, é a vida do desenho. É muito pessoal, não dá pra você terceirizar. Mesmo que eu tenha um lápis super limpo, só com muita sorte que você vai encontrar uma pessoa que vá colaborar com você que tenha a mesma capacidade de assimilação.

WAZ: Porque geralmente o arte finalista modifica bem o traço...

Edú: É, eu conserto muita coisa, eu mudo muita coisa na hora de arte finalizar o traço.

WAZ: E o outro vai fazer também em cima do seu lápis...

Edú: E vai fazer também, às vezes até, sei lá, o traço é a interpretação do lápis. O lápis é a interpretação do rafe e assim vai. A finalização do desenho é uma crescente.

WAZ: Quais os últimos livros que você fez, os mais recentes?

Edú: Bom, ultimamente estou trabalhando pra Scipione. Nós fechamos pacotes anuais, e estou sendo assim quase que um desenhista exclusivo, sem ser exclusivo. Devido ao volume de trabalho tremendo, tipo duas a três mil páginas por ano!

WAZ: Há quanto tempo você está trabalhando com eles?

Edú: Com a Scipione?

WAZ: É.

Edú: Desde 1984, quando começou a Scipione, porque a Scipione é um grupo da editora Ática.

WAZ: Um desmembramento?
Edú: É, um desmembramento. Era do professor Scipione, depois passou... fizeram uma sociedade, não sei bem como foi, pro mesmo grupo da editora Ática. E então, o pessoal já me conhecia e tal. E começamos em 1984 e depois houve uma parada... Uma falha minha que esqueci de dizer, que também me orgulho muito na minha carreira, de ter renovado a cartilha da professora Branca Alves de Lima, da editora Caminho Suave, que é a primeira cartilha, que permaneceu até hoje. Então, eu renovei a cartilha Caminho Suave, e eu me orgulho muito disse, porque até hoje, em termos de cartilha, é a que mais tem conceito no meio dos professores, todo aquele esquema da professora Branca Alves de Lima. Isso em 1984, agora, em 1985 nós começamos na Scipione, aí houve um hiato devido aos planos econômicos, houve uma paralisação e em 1989 nós recomeçamos a ilustrar pra valer mesmo, e estamos até hoje.



WAZ: O pacote quantos livros tem?

Edú: Normalmente o pacote tem três coleções, três títulos. Normalmente são três livros de cada coleção e é muito trabalho!

WAZ: Mas você pega tudo de uma vez e tem um prazo?

Edú: Não, às vezes o pacote já está contratado e tem livros que ainda estão com o autor, que ainda nem começaram. Os que estão prontos eu vou fazendo. O cronograma é feito assim, quase que improvisado, mas dentro de uma lógica.

WAZ: Por exemplo, se o livro tem que estar pronto em junho...

Edú: Agosto! Agosto é o prazo fatal! Até o final de agosto os fotolitos têm que estar prontos. Aí entra em máquina pra imprimir, para os divulgadores no final de setembro, no começo de outubro virem pra São Paulo, os divulgadores de todo o país, virem pra São Paulo e montarem a divulgação.

WAZ: Qual a tiragem média desse material?

Edú: Dois milhões, três milhões de exemplares.

WAZ: E tem aumentado de 1971 pra cá? Essa tiragem aumentou?

Edú: Não tenho conhecimento, não é minha área, então, não me preocupo com isso. Eu sei que é por aí! Um milhão, dois milhões a três milhões de exemplares.

WAZ: E quanto aos quadrinhos? Você fez estágio no Mauricio, depois você foi pra Rio Claro e quando você voltou você entrou na Abril?

Edú: Eu saí do Mauricio, aí entrei na Start Filmes, na Acelan e aí eu fui pra Rio Claro. Isso nos anos 1960, nos bons tempos.

WAZ: Aí você voltou pra São Paulo e entrou na Abril?

Edú: Não, na Abril, no começo de casado eu fazia histórias em quadrinhos pra Abril, mas logo deixei porque aí eu entrei na Ática, comecei a ter produção em alta escala e parei, porque eu trabalhava sozinho e não tinha mais tempo.

WAZ: E o que você chegou a fazer lá?

Edú: Fiz muito Pato Donald, Mickey, fiz muito Disney. Agora o que eu produzi mais mesmo foi a Pantera Cor de Rosa. Foi muito legal, foi um período muito bom.

WAZ: Mas aí você fazia tudo? Recebia o roteiro e fazia tudo?

Edú: Exatamente, recebia o roteiro com um rafe, indicação de cena, e aí você tinha aquele (papel) schoeller já diagramado e aí você dividia a página em branco e você que fazia o desenho. Com o model sheet, que é o modelo original do personagem, né? Eu diria a você que quadrinho no Brasil, pro artista, você precisa gostar muito e não pensar em outra coisa a não ser no teu dom e na tua arte, e não ter outras preocupações, porque se você tiver outras preocupações... é muito desgastante. Eu acho muito legal, mas é muito desgastante no sentido de você trabalhar muito e ganhar pouco. Vamos ser realistas! Eu acho que aí eu não mexo com ninguém mas a realidade é essa, a verdade está aí. Então é o que digo, você não pode ter outras preocupações a não ser aquela de gostar muito e fazer por gostar, porque se você precisar viver do quadrinho é difícil.

WAZ: Nessa época da Abril você fazia também em casa?

Edú: Sim, eu recebia o schoeller, o roteiro, trazia pra casa pra desenvolver a história. Também com prazo, e você ganhava por produção, por página.

WAZ: Você fazia ilustração de livro e trabalhava pra Abril também?

Edú: Sim.


 
Anúncio de 1973 com ilustração de Edú.
 

WAZ: E qual era a média de horas por dia que você trabalhava nessa época?

Edú: Olha, eu sempre trabalhei muito! Muito mesmo! Hoje em dia já não faço muito isso, mesmo porque minha vista não me ajuda muito. E porque já não tenho muita disposição pra isso, mas no começo de 1971 que a gente já começou a ter mais responsabilidade, eu trabalhava uma faixa de 18 horas. Eu tinha primeiro, segundo e terceiro tempo! De manhã, à tarde e à noite. E adentrava a madrugada. Você tinha a mocidade, a energia. E é fato, hoje em dia eu até trabalho demais também. Nessa época do didático, quando a gente está fechando, normalmente as coisas começam a se atropelar, a atrasar. Aquela tensão de você encerrar o cronograma dentro do prazo, eu não tenho tempo pra nada, eu não saio, fico dentro de casa no final de semana, fico trabalhando. e isso porque eu tenho uma equipe legal.

WAZ: E naquela época você tinha uma média de quantas páginas você fazia por dia? Porque só por ver teu trabalho na (editora) Saber, é sinal que tua produção era bem alta!

Edú: Sim! Olha, vou dizer uma coisa pra você: eu desenho muito rápido! É aquilo que eu te falei no começo da entrevista, é o dom. Não estou querendo me valorizar nem nada disso, é um dom. Cada profissional tem que saber aquilo que você pode desenvolver com perfeição. Eu não diria perfeição, porque aí já é demais, eu digo quase perfeição! O que eu faço com perfeição? É criar e desenhar, essa é a minha grande paixão! Arte final não é o meu grande forte não, realmente! Então eu posso dizer pra você que eu posso fazer... você está perguntando quantas páginas eu fazia de quadrinho?

WAZ: É!

Edú: De quadrinho eu fazia umas três, quatro páginas por dia, porque, você veja bem, é um schoeller enorme, com o desenho ampliado, pra reduzir, então você tinha uma média de 5 a 8 quadrinhos por página, então você imagina: você ler o texto, você desenhar o personagem, cada quadrinho é uma cena, cada quadrinho é um desenho, então acho que a produção era razoável! Três a quatro páginas por dia.

A Bruxa, editora Super-Plá.

WAZ: E quando você começou na Saber?

Edú: Na Saber eu comecei em 1966, 1967...

WAZ: E o que você fazia? Era ilustração?

Edú: Eu fazia de tudo lá, na verdade. Porque eles tinham alguns past-upistas, uma editora de desempenho caseiro, né? Da família. Eles tinham alguns past-ups que faziam alguma coisa com desenho, completavam desenho, aquela coisa toda e praticamente só eu que desenhava. Então, tinha livro de piadas...

WAZ:
Você trabalhava lá dentro?

Edú: Não, não! Em casa, sempre no meu estúdio, sempre tive meu estúdio.

WAZ: Falando em piadas, você criou alguns personagens, por exemplo, eu me lembro de uma velhinha hippie que você fazia. Como é que chamava a velhinha? Que não tinha nome a velhinha!

Edú: O Coroa Hippie!

WAZ: Ah, era um coroa!

Edú: Era um personagem sim, que era um barato!

WAZ: Ele era só pra piada mesmo, né?

Edú: Só pra piada! Não havia histórias longas, eram piadas rápidas de dois três quadrinhos, exatamente.

WAZ: E este dois aqui, a duplinha aqui? Era um baixinho e um português. Esses você publicava nessa (revista) Ha! Ha! Ha! Especial.

Edú: Era o Ha! Ha! Ha! Especial!

WAZ: Tinham nomes os personagens? Esses dois?

Edú: Olha, eu acho que não! Eles eram uma família portuguesa, né? E o baianinho que você vê aqui. Era um nordestino baixinho e o português. No caso eu desenvolvi as piadas nessa faixa, sem me preocupar com nomes. Eles não tinham nome, não. Pode ser que em uma ou outra piada o personagem nordestino tenha algum nome, falaram o nome ou vice-versa, mas que eu lembre assim, não.



WAZ: Como é que você produzia esse material de piada? Eles encomendavam um número de piadas e depois eles que editavam a revista? Porque eles mesclavam com material importado também.

Edú: Olha, o que eu pudesse fazer eu entregava, quanto mais... Porque eu ganhava por unidade. Já que você é freelancer, você tem que trabalhar por tarefa. Não adianta você ser freelancer e receber um X mensal! Aí, então, você vai trabalhar de empregado! Então eu trabalhava por unidade e quanto mais eu produzia mais eu ganhava. Mas, por mais que você queira, haja criação pra você bolar! Então, existia um certo limite.

WAZ: E nessa época você trabalhava exclusivo pra Saber ou não?

Edú:
Não, inclusive nessa época a gente já fazia alguma coisa pra Hemus, pra diversas. Eu sempre gostei de estar com o leque aberto. Isso é muito bom! Eu incorporei o freelancer mesmo! Eu não queria mais viver fechado numa sala.

WAZ: Esse material, por exemplo, essa dupla, o personagem português, o velhinho hippie... Você teve alguma referência, alguma inspiração?

Edú: Não, eu criei, quer dizer, sentei, comecei a fazer uma série de rafes, uma série de estudos e cheguei nesses personagens. Aliás, é sempre assim, né?


WAZ: E você chegou a fazer piadas do Bocage, né? Chegou a fazer algumas páginas de quadrinhos que era ele no Brasil.

Edú: O gozado é que você vai falando e eu vou lembrando. É legal! Tou gostando! É um flashback!

WAZ: Ele tinha aquela roupa do tempo dele mesmo, mas você colocava ele no Brasil (atual).

Edú: Exato! É porque precisava caracterizar o cara. Porque senão como é que você iria caracterizar o Bocage? O Bocage ele é um camarada rococó. Ele é bem século XVIII, não pode ser... Por mais que você queira introduzir ele no século XX, ele é o camarada que respira século XVIII rococó!

WAZ: Inclusive nos balõezinhos a linguagem era diferente...

Edú: É, pra não fugir muito da linha, mesmo no texto. Porque a gente lia muito e o Bocage ele é bem assim "labioso", daí a fama dele! Numa conversa...

WAZ: Mas aí você trabalhava no personagem a partir dos textos dele?

Edú: Não, só assim pra você sentir o personagem que eu li um pouco de Bocage, depois não, porque aí se você começar a se prender muito... Eu acho que toda criação você tem que se soltar, e aí foi fluindo as historinhas.

WAZ: Eu me lembro de uma história, que eu acho que você se baseou nas histórias dele, que ele tinha ido a um restaurante, os amigos foram lá com ele, e os amigos todos dele saíram e ele teve que pagar a conta. E essa, apesar de você colocar as roupas atuais, era da época dele.

Edú: É, realmente é aquilo que no começo você me falou, o Bocage ele tá muito preso à época dele, tinha que ser. E dentro das possibilidades eu fazia ele no presente, e eu me divertia muito. Era muito gostoso fazer essas piadas. Apesar de que é um personagem muito perigoso, porque na época a censura estava muito em cima, a censura militar, anos 1970, tudo isso que nós estamos falando, tudo aconteceu nos anos 1970, a censura era terrível! Mesmo o caso do... me adiantando um pouco, entrando na tua área, o Praça Atrapalhado, por exemplo, é uma coisa que quase deu problema pro editor, devido ao regime militar, mas nada assim muito problemático.

WAZ: Mas você chegou a ter algum material proibido?

Edú: Não, porque eram todas piadas sem conotação política. Mesmo porque eu sou totalmente apolítico, procuro me manter no máximo informado, não mais que isso. Nunca fiz referência política nenhuma, só coisas assim bem engraçadas, sátiras... Aliás, fui muito criticado não parte assim estrutural da coisa, mas na parte racial, isso sim, recebi muita crítica.



WAZ: Por que?

Edú: Porque era um soldado negro, mas não houve intenção nenhuma, realmente. É que eu quis fazer um personagem avesso, ao contrário do recruta Zero, que era um soldado americano, branco. E era um soldado brasileiro! Assim como eu fiz preto, poderia ter feito branco. Mas achei melhor pra caracterizar.

WAZ: No caso do Praça, da Bruxa, do Big Músculus, o roteiro era todo seu?

Edú: Sim! Queimação de pestana legítima!

WAZ: E como é que era? Porque na Saber eles publicaram uma infinidade de títulos. O cara falava: publica assim, um título! Ou você que ofereceu os personagens? Como é que foi?

Edú: No caso, por exemplo, do Ha! Ha! Ha! Especial, fui eu que criei. Era um livro de piadas que eles queriam por (nas bancas). Mais um livro de piadas, e eles tinham muito material importado, então daria pra fazer outra publicação. E juntamente com esses personagens, o casal de portugueses com o nordestino, eles queriam fazer mais uma publicação. Então surgiu o Ha! Ha! Ha! Especial.

WAZ: Ele tinham (a revista) Piadas em Quadrinhos, né?

Edú: Piadas em Quadrinhos! Quer dizer, eles faziam um monte de publicações!

WAZ: Por exemplo, o Praça, eles te diziam: faz aí que tem espaço pra publicar ou você que levou lá?

Edú: Lógico que no começo, quando eu fui até a editora, eu é que mostrei, eu ofereci meus trabalhos e foram aceitos. Aí eles encaixaram. E logo eles pediram. Como o pessoal começou gostar, eles receberam muitas cartas de leitores, eu mesmo recebi cartas, na época, de pessoas que queriam essas publicações, fizeram com que me pedissem um personagem, pra revista específica de um personagem. Mas como eu não tinha muita produção, lá eu fazia metade da revista do personagem e metade eles tinham material importado e colocavam, enxertavam na revista.

WAZ: O Praça foi ideia sua ou eles sugeriram?

Edú: Não, sugeriram. E aí eu levei a proposta. Sugeriram não o personagem, sugeriram: bola um personagem qualquer que a gente quer fazer  uma revista. E aí eu bolei o Praça. Pensei no Recruta (Zero) e falei: por que eu não posso fazer um recruta brasileiro? E aí vem uma série de etapas, você criar o nome do personagem, o tipo do personagem...

WAZ: E como é que foi a receptividade do público, do leitor?

Edú: Segundo o editor foi excelente!

WAZ: Acho que na época foi um dos personagens mais populares! Porque a Mônica tinha começado naquela época... Nacional mesmo acho que era um dos mais populares!

Edú: E eu tive a oportunidade de ir a uma convenção de historia em quadrinhos, patrocinada pelos jornalistas, foi na editora Abril, na rua co Curtume, houve um seminário de história em quadrinhos e o Mauricio foi um dos oradores. Isso foi em 1972, 1973, e comentaram muito sobre os meus personagens também! Eu não sei se nessa época você já era fã. Não, né? Mas é o que eu digo, o quadrinho foi uma escola para mim. Não guardo mágoa absolutamente! Eu acho que eu curti pra caramba essa época, foi uma época de criação muito intensa, sabe? Porque quadrinho, além da habilidade como desenhista, você tem que ter cabeça, você tem que criar mesmo! Não tem meio termo.

WAZ: E como foi a criação do Big Músculus?

Edú: O Big Músculus também! Eles queriam um super-herói, mas um super-herói mesmo! O que fazer? O que fazia sucesso era o Mauricio com a Mônica, pro público infantil. Agora, como fazer um super-herói pra pegar o público infantil e satisfazer o público juvenil? E aí fiz uma série de estudos também e saiu o Big Músculus. Um estereótipo!

 

WAZ: Porque ele era aquele negócio da fórmula secreta, né?

Edú: É, exato! É um dos personagens que eu curto, também.

WAZ: Você produziu dois, né? Porque, pelo o que eu tenho de conhecimento, só saiu um nas bancas! Então o material deve estar perdido!

Edú: Olha, eu estive recentemente com um dos donos da editora Saber e eles não tem não! Só se o outro, o irmão deles, o Bártolo Fittipaldi, que fazia o Big Músculus*, talvez tenha, mas ele, que é o da Saber mesmo, ele não tem!

*Big Músculus foi reeditado em 2019 pela editora Criativo.

WAZ: E a Bruxa, como é que foi a ideia? Porque ela é um personagem mais simples, né?

Edú: Olha, como a coisa começou a dar certo e meus personagens recebiam cada vez mais cartas, pedindo os personagens, então... Praticamente só eu fazia os desenhos pra eles, e eu fazia as capas do Mandrake, do Fantasma, do Recruta Zero, fazia todas as capas pra eles...

WAZ: Você chegou a produzir material importado? Porque o Colonnese chegou a desenhar o Fantasma...

Edú: Não, não! Só o meu. Desenho assim, de material importado, só capa! É como eu digo, eu sempre desenvolvi essa parte, a parte de criatividade

WAZ: Porque na verdade você assinava as capas, além do estilo, que dá pra reconhecer, você assinava as capas!

Edú: É, eu acho que é importante, aliás, não só o desenhista como o jornalista, como qualquer outro, você tem que mostrar teu trabalho e assinar mesmo!

WAZ: E como é? O Praça Atrapalhado você fez e é engraçado, porque tinha a história do chulé dele, do dedinho fora do coturno, isso você já começou a desenvolver no comecinho do personagem ou você foi fazendo assim...?

Edú: Não! O personagem na minha cabeça já estava pronto! Apesar de eu não ter servido o exército, eu imagino que a coisa não deve ser fácil. O camarada que sai de casa e é uma coisa assim... Mas nada violenta, né? E ele é um cara simples, né? E ele é atrapalhado mesmo! A bota dele tinha um calo que incomodava e ele não se preocupava, cortava a bota e botava o dedinho pra fora! Isso na realidade seria impossível, mas é uma coisa que chama atenção porque é totalmente impossível mesmo! A intenção era essa! É que nem ele ir no banheiro, não ter papel higiênico e ele gritar, chamar o sargento! Isso é uma coisa absurda e eu botava mesmo!

WAZ: Ele fazia sopa no capacete!

Edú: Exato! Pra ele não tinha tempo ruim, tranquilão!

WAZ: Ele, ao contrário do Zé Carioca, não tinha personagens secundários! Era ele, o sargento e tinha alguns praças. Não tinha tanto um universo, centravam mais em cima dele as piadas.

Edú: Claro... Exatamente!

WAZ: Porque o Recruta Zero, com o passar dos anos, começou a mudar o roteiro e ele começou a trabalhar com um monte de personagens diferentes.

Edú: E o que eu digo pra você, aí a gente já entra em uma outra área. Você veja, um desenhista de história em quadrinhos americano ele tem uma estrutura violenta. Além do potencial dele, ele tem uma estrutura econômica por detrás dele, que induz o camarada a desenvolver cada vez mais o trabalho, essa é que é a verdade. Então, tudo isso que você vê, o volume de personagens, o universo... Acho isso maravilhoso. Por que? O artista desenvolve, justamente devido ao estímulo financeiro, essa é a realidade. Enquanto que eu e todos os meus colegas que estavam na área, a gente batalhava, mas por ideal, por gostar mesmo, e aí fica difícil. Se você a ampliar a gama, começa a trabalhar muito o desenho, cai a produção, você já ganha pouco e cai a produção, uma série de fatores, uma série de coisas, e é isso exatamente o que você falou, é a evolução. Não só você está desenhando como você tem uma estrutura. O King Features, o syndicate e outras organizações que fazem com que o artista se entusiasme pela coisa e goste cada vez mais porque é um estímulo. Enquanto que aqui até hoje não há isso.

WAZ: E você trabalhou na Saber até quando?

Edú: Até 1974, por aí.

WAZ: Porque tinha a revista em formato de livro, depois o Praça passou pra formato 32 páginas coloridas. Essa fase você participou? Porque nessa fase o Franco (de Rosa) desenhou, o Fabiano (Dias), eles desenhavam teu personagem. Você passou a produzir menos pra eles?

Edú: Aí, como eu já estava no livro didático e existiam dificuldades econômicas dentro da empresa, da editora, pra quem eu fazia esses personagens, então, nessa fase colorida de 32 páginas, foi realmente o finalzinho. Mesmo porque, como você pode ver, o fotolito foi muito mal feito e eu fiquei, assim, muito desgostoso. Eu esperava uma coisa e realmente saiu outra. Era preferível ter saído preto e branco, porque o traço realmente continuou aquele traço espontâneo e as cores deturparam bastante todo o trabalho.

A gravação foi interrompida aqui.

FIM


Agradecimentos aos amigos Worney e Antonio Buhrer.

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