Depoimento de Luiz Sá, realizado na redação do jornal O Povo no dia 26 de fevereiro do ano de 1976 com a presença de Eliezer Medeiros, repórter cultural do jornal, perguntas formuladas por Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo) e Eliezer. Depoimento este feito especialmente para o Museu Cearence da Comunicação.
MCC: Primeiramente, qual seu nome completo?
Luiz Sá: Luiz Sá de Araújo.
MCC: E seu nome artístico?
Luiz Sá: Apenas Luiz Sá.
MCC: Onde nasceu?
Luiz Sá: Nasci em Fortaleza, no dia 28 de setembro de 1907.
MCC: Qual sua filiação?
Luiz Sá: Minha mãe chamava-se Francisca Sá de Araújo e meu pai João Teófanes de Araújo. Sou neto de pintor. Meu avô era pintor e chamava-se Luiz Sá. Minha mão pintora e professora de desenho e caligrafia da escola normal.
MCC: Como decorreu sua infância?
Luiz Sá: Em Porangaba. Me criei em Porangaba até a idade de... Até o colégio, né? Estudei em escola pública e e tirei o curso no Liceu do Ceará.
MMC: Isso quando?
Luiz Sá: O Liceu do Ceará terminei em 1926.
MMC: E as primeiras letras onde frequentou?
Luiz Sá: Primeiramente numa escola pública de uma prima, Maria Perdigão Raposo, no antigo trilho de ferro.
MMC: E qual curso foi?
Luiz Sá: O curso preparatório para o próprio Liceu do Ceará. Era o curso ginasial completo da época.
MMC: E quando começou a desenhar?
Luiz Sá: Desde menino eu rabiscava, né? E minha mãe me botava, e meus primos, para aprender desenho, e eu também, e meu irmão, e já botava um modelo para copiar, para desenharmos, mas eu em vez de fazer o modelo, fazia meus bonecos malucos, Tom Mix, e o outro encapuzado, que eu via no cinema. E minha mãe achava que eu não ia dar pra nada, porque naquele tempo a caricatura era uma coisa espúria e não havia divulgação no Ceará.
MCC: E qual a moda na época em pintura?
Luiz Sá: Seria a pintura natural, real. Não havia modernismo, não havia coisa alguma. Era a pintura clássica, do tipo do século XVI, XVII, por aí assim. Caricatura era uma coisa completamente abstrata, sabe? Não se dava valor.
MCC: Fale então sobre o cinema, como você falou, qual a influência do cinema sobre o seu trabalho inicialmente?
Luiz Sá: Eu via fitas em série, e aí reproduzia nas calçadas o Tom Mix, um cavalo, uns encapuzados, feitos a giz e a carvão nas calçadas e muitos donos, muitas donas das casas (reclamavam), porque que sujava.
MCC: Teve influência de algum desenhista famoso?
Luiz Sá: Não, não tive, porque só fui ter contato definitivo em 1930 quando comecei a desenhar e criei meus bonecos redondos. Agora, porque os criei redondos, até hoje não sei. Não foi procurado nem espontâneamente, e assim fiz.
MCC: Quando deixou o Ceará?
Luiz Sá: Deixei o Ceará no dia 5 de outubro de 1929.
MCC: Por que seguiu para o Rio de Janeiro?
Luiz Sá: Ganhar a vida, que no Ceará eu achava que não tinha lugar pra mim, para o que eu pretendia ser.
MCC: Até então, qual o tipo de trabalho em Fortaleza, o que você fazia?
Luiz Sá: Eu trabalhei no Jornal do Commércio, do Meton Gadelha, na gravura, como gravador de clichê, com o Clóvis Meton que era o diretor, o jornal era do Meton Gadelha, fiz alguns bonecos, lá, para o jornal, mas pouca coisa. Comecei a entrar em definitivo, com o traço.
MCC: Trabalhava na própria gravura?
Luiz Sá: Na própria gravura, é, na gravação, nos clichês. Trabalhava na gravura. Quer dizer, zincografia.
MCC: Quer dizer que aqui não havia condições?
Luiz Sá: É, fui para o Rio. Quer dizer, como o dinheiro era difícil, para ir para o Rio, meu irmão, por intermédio de um amigo, Rui Guedes, me arranjou uma passagem, de primeira classe! A primeira vez, de primeira classe, como um milionário! Mas com pouco dinheiro no bolso.
MCC: E chegando no Rio, qual foi sua primeira atividade?
Luiz Sá: Você sabe, cheguei numa época, em 1929, na época da Grande Deflação Mundial, o dólar tinha caído, havia um desemprego que era total, e um dos meus primeiros trabalhos foi encerar casa, com um amigo, que arranjava, pequenos escritórios, depois trabalhei como servente de pedreiro na construção do Hospital de Cascadura, um belo dia, graças a Deus, eu caí doente!
MCC: Graças a deus?
Luiz Sá: É, graças a Deus. Depois eu explicarei por que o graças a Deus. Caí doente e fui para o hospital lá na Gamboa. Internado no Hospital da Gamboa como indigente. Lá não recebia visitas, porque meus companheiros de infortúnio não tinham nem dinheiro para o bonde. Mas um belo dia me entram pela enfermaria três velhos amigos, colegas do antigo Liceu do Ceará, o dr. Bié, o dr. Dedéu e o dr. Tarcísio. Foram fazer uma visita, levaram um maço de cigarro e disseram que iriam escrever pro meu irmão dizendo meu estado. Eu pedi que não, que não queria incomodá-lo, mas mandaram. E uns dias depois eles entraram novamente na enfermaria e traziam cem mil réis que meu irmão tinha mandado. E conversamos mais um pouco e no fim da conversa o Bié me perguntou: Luiz, você precisa desses cem mil réis? Pelo menos agora? Eu disse, não, aqui não, a não ser para um cigarro... Então nós vamos levar 90 emprestados e você fica com os 10 que nós três também estamos lisos! Pouco tempo depois, no fim do mês, dois deles foram lá. Mas não me deram 90, me deram 100, não descontaram os 10 que eu tinha gasto.
E no hospital, nesse tempo, só se falava em revolução, em revolução, revolução pra aqui, revolução pra cá. E o governo baixou um decreto que todos aqueles, cabos, terceiros sargentos, segundos sargentos, primeiros sargentos, se eles tivessem deixado o exército por sua livre e expontânea vontade, poderiam regressar com o mesmo cargo. Ora, havia no hospital um vigia da noite, cearense, chamado Alceu, ele tinha sido cabo do exército, então ele se engajou e deixou vago o cargo de vigia. A irmã da enfermaria em que eu estava internado, gostava muito de mim, colocou um dia o santo que ela tinha ganho quando recebeu o hábito, mocinha, já era uma senhora nessa época, com um pouco de idade. Chegou chorosa, que ela tinha quebrado a imagem que tinha recebido no dia de sua..., quando recebeu o hábito, né? Eu, que tinha alguma prática, que ajudei muito à minha mãe quando menino, a consertar santo, que ela consertava muito santo. Eu não pintava santo, que santo não se pinta, santo encarna-se, como dizem, né? Então eu consertei o santo e encarnei o santo, e a irmã perguntou: Sr. Luiz, tem uma vaga aqui de vigia, do Alceu. O sr. quer esse emprego? Agarrei com unhas e dentes! Ora, casa, comida, roupa pra trabalhar e sessenta mil réis por mês, tava milionário!
Aí, como eu trabalhava de sete horas da noite às quatro horas da manhã, sem poder dormir, nem dar um cochilo, porque havia três rondas durante à noite, feitas por irmãs de caridade. Então, pra passar o tempo, já tinha dinheiro, comprei papel, nanquim, pus numa mesa e ficava no corredor, entre duas enfermarias, rabiscando, rabiscando, rabiscando. Procurando desenhar. Um dia me veio uma ideia!
MCC: Qual o tipo de desenho?
Luiz Sá: Ainda não tava definitivo...
MCC: Era quadrinho?
Luiz Sá: Ainda não tava com o quadrinho. Fazia qualquer cena! Nada de quadrinho.
MCC: E os desenhistas famosos dessa época, quem eram?
Luiz Sá: Ah! Tinham muitos, J. Carlos, K. Lixto, Storni. Gente muito boa. Agora eu não lembro os nomes...
MCC: Tinham dois Storni?
Luiz Sá: Tinham, um era o velho (Alfredo), eu chamo caricaturista, e o outro, o Oswaldo, mais desenhista do que caricaturista, excelente ilustrador, ilustra essas revistas da (editora) Melhoramentos, esse é o filho.
Então, como eu ia dizendo, comecei a riscar e me veio uma ideia de fazer fatos da História do Brasil, e comecei a riscar. Daí veio o descobrimento do Brasil, fazendo assim, daí, não sei porque, eu comecei a fazer aquele curvo, daí comecei a fazer meus desenhos curvos. Fiz a História do Brasil quase toda, um grande número de fatos da História do Brasil: Descobrimento do Brasil, Caramuru, Fundação da cidade do Rio de Janeiro, tudo isso. Nessa fundação da cidade do Rio de Janeiro, há um fato histórico, para mim, né? Que depois eu contarei! Foi um fato histórico para mim que depois eu contarei!
MCC: E havia um toque de humor nessa época nesses seus trabalhos?
Luiz Sá: Já, todos, meus quadros da História do Brasil eram todos humorísticos, né? Eram todos engraçados. Eu fiz, por exemplo, Matança do Primeiro Bispo da Bahia. No descobrimento do Brasil, mostrando o monte Pascoal rindo, alegre, satisfeito, por ter sido descoberto. A civilização dos índios pelos jesuítas, jesuítas com vitrolas, tudo isso...
MCC: Tocando pros índios?
Luiz Sá: Tocando pros índios. Os índios já tocando violino, como sendo civilizados, e assim foi que eu bolei todo um universo até o fim.
Luiz Sá em O Malho, 1931.
Depois um dia, eu tinha um amigo que trabalhava na Vanguarda, Teotônio Queiroz, eu mostrei e disse pra ele arrumar um negócio pra mim, essas coisas. Aí, eu peguei esses desenhos e levei pra ele. Ele gostou e disse: Ô Luiz, eu tenho um amigo que trabalha no Malho. O Malho tinha sido empastelado, ele tava lá, trabalhando em outra revista, Eu Vi, que foi editada em substituição ao Malho, enquanto tinha sido empastelado por causa da revolução. A revolução já tinha vencido, né? Levou os desenhos para o Adolfo Aizen, que hoje é o dono da EBAL. Um dos maiores editores de histórias em quadrinhos do Brasil. Ele viu os quadros e pediu para eu levar lá. Eu fui lá e ele disse: Ô, rapaz, tá muito bom e tá muito interessante. Muito engraçado, traço diferente, fez uma abertura boa vendo o primeiro quadro que saiu, mas, ele disse: nós estamos numa situação não muito boa, eu lhe pago 10 mil réis por publicação de cada um, era semanal a revista, e você guarda os originais pra fazer uma exposição.
Aí, comecei a fazer. Trabalhando no hospital à noite e recebendo. Quando foi um dia ele me disse: Ô, Luiz, vê se me cria uns personagens aí, infantis, que pode ser que eu coloque no Tico-Tico. Aí então eu criei Reco-Reco, Bolão e Azeitona, que foi publicado no Tico-Tico pela primeira vez no dia 14 de março de 1931*.
*Na verdade a primeira aparição de Reco-Reco, Bolão e Azeitona se deu em 8 de abril de 1931, ilustração acima.
MCC: E a inspiração dos personagens?
Luiz Sá: Também não sei como dei. Foi assim, vem sem a gente nem esperar. A gente pensa, de repente vem. Chega um depois do outro. Batizei assim, Reco-Reco, aquele negócio de Reco-Reco, Bolão porque era gordo e Azeitona porque tinha um pretinho que brincava comigo na rua 24 de Maio, era pretinho então chamavam de Azeitona. Se bem que, azeitona, aqui, era o jamelão. Nós chamávamos azeitona, lá é o jamelão. Então, eu não botei jamelão, botei o nome de Azeitona.
Então, comecei a trabalhar no Tico-Tico, a fazer semanalmente uma história. De vez em quando havia um extraordinário, a ilustração de um conto, depois o próprio Adolfo Aizen disse: Ô, Luiz, faça uma coisa aí para O Malho, nessa altura O Malho estava novamente em circulação, que pode ser que você consiga alguma coisa, então, eu fiz uma página de desenhos. Quer dizer, com aqueles personagens da revolução, como eles deveriam ser. Cada um que tinha um nome exótico, eu fazia a cabeça com o nome exótico. Osvaldo Aranha, a cabeça era uma aranha. Belisário Penna, era uma pena. Magalhães Barata, era uma barata, numa página. E o diretor d'O Malho gostou muito e me convidou pra colaborar n'O Malho. Mas como efetivo, como empregado. Aí, passei a ganhar 200 mil réis por mês. Com 40 d'O Tico-Tico, eram 240. Estava rico! Deixei o hospital, fui para uma pensão, naquele tempo a gente pagava casa, comida e roupa lavada por 120 mil réis, ainda me sobravam 120 mil réis pra gastar, que era um dinheiro bom! Aí fui, fui, fui. Fiz exposição com esses quadros da História do Brasil e um dia, no dia da exposição, eu estava lá, a noite chegou um senhor muito bem vestido, tirou um cartão, e comprou um meu quadro, fui ver, era A Fundação da cidade do Rio de Janeiro. Eu me apresentei, ele chegou pra mim e disse: Olha, rapaz! Esse seu quadro é conhecido em 400 agências da Otis do mundo inteiro! Eu não entendi. Eu disse: E como é isso? Olha, eu sou o gerente da Otis no Rio de Janeiro, quando saiu na Eu Vi e me disseram, eu comprei 400 revistas e mandei pra cada agência da Otis, explicando o que era!
É que eu tinha feito o seguinte: eram uns índios trabalhando em uma construção, e no meio deles, assim, tinha uma tabuleta escrito: Aqui há Otis! Porque, quando chegavam no Rio de Janeiro, em todo prédio tinha: Aqui há Otis, Aqui há Otis! E eu via, aqui há Otis, e eu fiz isso sem uma intenção, com maldade nem nada! Fiz inocentemente e me dei bem!
MCC: E qual foi sua reação? Por que o quadro era sobre a fundação do Rio de Janeiro.
Luiz Sá: E eu fiquei todo entusiasmado porque o quadro era conhecido até fora do Rio de Janeiro. E eu fui indo, fui indo, fazendo coisas, fui melhorando, fui melhorando, em 1933 casei! Já tava pra casar, né? Em 33, casei.
Depois fui missionário pra Saúde Pública, desenhista. Eram uns jornais de cinema, não os jornais nacionais, os antigos jornais cinematográficos da Fox Filmes, o Metro Jornal, eram obrigados a passar no final, um letreiro de anúncio de propaganda de saúde. Era obrigatório. Então me chamaram se eu queria fazer aquele negócio. Fui nomeado funcionário. E comecei a fazer, mas o negócio era o seguinte: ia lá, toda segunda-feira, eles me davam o texto, eram seis desenhos, na outra segunda-feira eu levava os desenhos, assinava o ponto e assim fui. Trabalhei na Saúde Pública 12 anos nessa base. Então, um belo dia, chegou um moço querendo moralizar tudo e disse: Esse negócio não! Que eu ia de manhã. Tinha que ser de manhã à noite, trabalhar 11 horas por dia, 50 horas por semana. Eu disse adeus, até logo! Pedi demissão!
MCC: Fale o que o sr. fez nesse período lá no Ministério da Saúde.
Luiz Sá: Eu ilustrei todas as doenças!
MCC: Mas qual teve maior impacto e fez sucesso no Brasil?
Luiz Sá: No cinema? Uma das coisas que me deu bastante popularidade no Brasil? São duas coisas: para uma época, Reco-Reco, Bolão e Azeitona, pros quarentões de hoje, 45 anos, Reco-Reco, Bolão e Azeitona. E dessa geração, criançada, cinema, né? Eu fiz durante 20 anos dois jornais.
MCC: É que o sr. falou que trabalhou nesse período lá no Ministério da Saúde. Qual foi a campanha de saúde?
Luiz Sá: Eram todas as doenças.
MCC: Qual foi a campanha que chamou mais atenção do povo brasileiro?
Luiz Sá: Eram todas elas. Eu ilustrava os textos, eram textos desde tuberculose até o câncer. Era um conselho com uma ilustração adequada ao texto.
MCC: Era só um conselho, não era?
Luiz Sá: Sempre levando para o lado humorístico. Mesmo no câncer eu fiz o desenho direto, mas sem levar ao ridículo.
MCC: E o povo, ele compreendia?
Luiz Sá: Compreendia. Lia na revista. Saia demais. Estava em milhares e milhares em todo o Brasil. Foi distribuído. Hoje em dia eu não tenho nada porque eu fui muito relaxado. Quem chegava e pedia eu dava e eu não tenho nada hoje.
Então, eu pedi demissão. Mas eu ganhava até que bem. Trabalhava no cinema, fazia essas aberturas dos jornais cinematográficos, né? Quer dizer, de todos os assuntos, futebol e tudo isso.
MCC: Foi convidado por quem?
Luiz Sá: Pelo dono da Enec, que ele tinha feito um jornal, o Globo Esportivo, de acordo com O Globo. Queria um desenhista e um rapaz: Olha, aquele rapaz tem um desenho gostoso. Então comecei a fazer, fiz isso durante três anos. Foi em 1939, 40 e 41. 1942 acabou o jornal e eu fui fazer outras coisas, ainda era funcionário público. Quando foi em 44, o Ribeiro me chamou. O Ribeiro Jr., não o velho. Luiz Severiano Ribeiro Jr.. Aí trabalhei pra ele até 1964, durante 20 anos. Deixei de trabalhar porque, os jornais, os cinemas eram obrigados a exibir um jornal de cinema nacional e quando foi em 64 houve um decreto do governo tirando essa obrigatoriedade, quer dizer, já não interessava mais aos cinemas e aí acabou com os jornais*.
* A partir de 1916, os cineastas brasileiros se organizam em cinejornais, produzidos e exibidos semanalmente, mantendo o pessoal de cinema em atividade com filmagens de futebol, carnaval, festas, estradas, inaugurações, fábricas, políticos, empresários etc. Muitas pautas eram claramente encomendadas, misturando jornalismo e propaganda. Daí o termo pejorativo "cavação", ou picaretagem. Até 1935, existiram 51 cine-jornais no país, alguns de vida curta. O Canal 100 e os cine-jornais de Primo Carbonari e Jean Manzon são um prolongamento do período da cavação, sendo mostrados nos cinemas até o final dos anos 70, quando desistem de competir com a instantaneidade dos telejornais.
MCC: Teve algum fato muito interessante das charges de política feitas em cinema, que havia, que os políticos não gostavam?
Luiz Sá: Tem duas passagens interessantes. Uma veio, porque eu recebia, e eles não me davam explicação do assunto, não, dizia só isso: Futebol, fulano de tal! Turfe! Box! Banquete! casamento!
MCC: Era só o mote!
Luiz Sá: Era só o título! Daí eu tinha que bolar. Então, um belo dia: Banquete! Peguei e fiz um desenho. O desenho foi o seguinte: Na cabeça de uma mesa, ponta duma mesa, um sujeito com uma lente olhando num prato com um grão de feijão dentro. Era um grão de feijão. Pois bem, uma semana depois a Cinegráfica São Luiz recebeu uma carta desse tamanho! Porque era uma matéria paga! Que o banquete que ele tinha dado... esse sujeito não tinha senso de humor, não podia ter senso de humor! Que o banquete que ele tinha dado era pra 300 pessoas e eu tinha feito um sujeito olhando um feijão no prato! Não fazia sentido! Aí eu disse: Ora, quando for negócio de matéria paga vocês me digam que eu vou caprichar, que eu não quero "carrancatura", não! Eles não querem caricatura! Muitos, em matéria paga, queriam em caricatura a abertura, mas esse moço achou que eu desmoralizei o banquete dele apenas por isso!
Outra passagem também interessante é que um deputado, que tinha mania, que tinha um hobby de fazer filme 16 mm, e tinha câmara e tudo isso, e revelava na Cinegráfica São Luiz. Um dia eu estou lá e eu fui apresentado a ele. Conversando com ele, ele me disse: Olha, Luiz Sá, eu gosto muito do seu desenho, e tudo isso e muito bom, mas tem uma coisa que não tava certa! Eu disse: E qual é deputado? Ele disse: Você fez a Câmara dos Deputados alegre, com todo mundo rindo! A Câmara dos deputados não ri, sr. Luiz Sá! Eu disse: Tá certo, Deputado, é você que está dizendo isso, mas não há alguém na Câmara que dorme? É certo que há. Pois bem, eu fiz esse que dorme de vez em quando. Aí ele deu uma gargalhada! O sr. tem razão mesmo! São tantos fatos interessantes. No cinema tem muita emoção.
MCC: E no esporte, não tem fato interessantes, não?
Luiz Sá: Não, no esporte sou Flamengo, doia mas as eu fazia meu Flamengo arrasado, e quando ele perdia mas tinha que fazer. Agora, fazia com satisfação quando o Vasco perdia e principalmente para o Flamengo, né?
MCC: Qual eram seus contemporâneos, de chargistas?
Luiz Sá: Chargista tinha o Péricles, do Amigo da Onça, formidável, meu amigo. Tinha o Paulo Affonso, tinha o Theo, que era bom caricaturista pessoal, J. Carlos, grande amigo, que era o mestre. O Storni, já quase no fim, com oitenta e tantos anos e ainda tem um caricaturista n'O Tico-Tico...
MCC: Yantok?
Luiz Sá: Yantok, é bom... Que agora o Jornal do Brasil fez uma página inteira com o cinquentenário d'O Tico-Tico, que se fosse vivo faria 50 anos, então, lembrou todo mundo, inclusive o Loureiro, que começou em 1905, foi quem adaptou o Chiquinho, o Jagunço e o Benjamim, que eram americanos, para O Tico-Tico, e terminou comigo que era o mais novo daquela turma d'O Tico-Tico.
MCC: E essa turma tinha assim uma preocupação de um estilo como caricaturista?
Luiz Sá: Tinha! O Theo, por exemplo, era um excelente chargista político. Sabia fazer a charge política.
MCC: Havia bronca com censura?
Luiz Sá: Não, não, não. Censura depois, no tempo do Getúlio houve uma censura, mas não havia censura. No cinema havia censura.
MCC: Era só com os outros chargistas? O J. Carlos?
Luiz Sá: J. Carlos, o Péricles do Amigo da Onça, formidável. Aí começou a aparecer o Carlos Estevão, depois veio o Ziraldo, que pra mim é um excelente caricaturista atualmente. Carlos Estevão morreu há pouco tempo.
MMC: Tico-Tico por que terminou? Quais as razões?
Luiz Sá: Tico-Tico terminou pelo seguinte: a Sociedade Anônima O Malho não podia competir com as revistas lançadas pel'O Globo, que pagavam reproduções americanas, um preço barato, revendia reproduções. Não podia pagar o preço de uma reprodução, que ninguém ia fazer. Quer dizer, por uma revista Tico-Tico ia vender pelo preço três ou quatro vezes superior aos Gibis. Então, não aguentou. Foi indo, foi indo até que estourou, terminou e fechou. Foi isso. O que matou o quadrinho brasileiro foi isso. Ninguém entra numa revista daquelas porque não querem pagar, né? Se eu for procurar 200, 300 cruezeiros por uma página eles me matam, porque eles compram aquilo por uma ninharia, né? Então, tem uns compadres que é muito meu amigo e que nunca me pediu pra fazer. Ele sabe que eu poderia fazer, mas não pelo preço que ele paga. E ele tá certo, porque é um comerciante, né? E eu dou razão pra ele, porque se ele é um comerciante, tá certo, né? E ele faz pra ter lucro, se for pra ter prejuízo ele não vai fazer.
MCC: O sr. trabalhou para a editora O Malho e que outras revistas?
Luiz Sá: Trabalhei para a Revista Esportiva, fiz ilustrações para uma revista que chama A Semana, para o Fon-Fon trabalhei, lá o Alziro Zarur dirigia, trabalhei pra ele, muita revista.
MCC: E jornal?
Luiz Sá: Jornal? Trabalhei na Vanguarda, chargista, tinha uma página de esporte na Vanguarda. E ilustrava muita coisa, calendários, quando tinha campanha contra acidentes de trabalho, eu fiz durante uns 15 anos calendário colorido, tudo isso. Aqueles livros de conselhos, sabe? Pra operários, tudo isso e muito, muito serviço.
MCC: Sua atividade sempre foi o boneco?
Luiz Sá: Só fazer boneco. A única coisa que eu sei fazer, faço muito bem, gosto de fazer! Parece mentira!
MCC: É muito difícil?
Luiz Sá: Muito difícil? A maioria dos filmes brasileiros, do Jece, do Roberto Farias, do Paulo Porto, todos lá, daqueles do cinema, sou eu que faço as letras.
MCC: É mesmo?
Luiz Sá: É. Agora mesmo, minha filha tá mandando um envelope com fotografias pra eu abrir um letreiro para o Farias, num filme que ele vai fazer, tá fazendo. Eu estou aqui, fazendo, pagam muito bem, letra você não precisa pensar muito, basta pensar num tipo de letra. É por letreiro, se é a palavra FIM, pagam o mesmo preço de uma que tem 4 ou 5 nomes, 40 cruzeiros.
MCC: Quais os filmes?
Luiz Sá: Fiz tantos! Todos do Jece Valadão fui eu que fiz. Do Herbert Richers quase todos eu fiz, agora o Herbert não tá produzindo mais. Roberto Farias eu faço, todos os principais.
MCC: E para a televisão, fez alguma coisa?
Luiz Sá: para a televisão ilustrei um jornal do Heron Domingues, durante um ano. Até a TV Rio fechar. O Heron dava a notícia e aparecia uma charge da notícia por trás. isso na TV Rio.
MCC: Quando foi o seu casamento? Lembra-se a data?
Luiz Sá: Casei-me no dia 16 de setembro de 1933.
MCC: E a esposa, qual o nome?
Luiz Sá: Marcília Rosa de Araújo.
MCC: E da família inteira?
Luiz Sá: Dois filhos: Luiz Sá de Araújo Filho e Jacira Araújo. Tenho seis netos, um com 21, próximo de casar. Daqui a pouco serie bisavô!
MCC: Qual sua opinião sobre a história em quadrinhos americana?
Luiz Sá: Aquilo é feito um trabalho de equipe, os bonecos sempre iguais. Em 1940, quando Walter Disney esteve no Brasil, eu fui na reunião que ele deu para os artistas todinhos e eu conheci um deles, chama-se não-sei-o-quê Lee, falava espanhol, falando com ele, ele desenhava o pato igualzinho o Walter Disney, todos eles faziam o desenho! Quem trabalhava na equipe, todos eles sabiam fazer o pato igualzinho ao Walter Disney!
O desenho animado de Luiz Sá.
Eu fiz um desenho animado, né? Produzi um desenho animado. Todo mundo gostou! E quando eu quis mostrar ao Walter Disney, levei pra mostrar, no dia lá da sessão no DIP, um senhor, que era nesse tempo, diretor da Agência Nacional, disse: Não, eu não vou mostrar isso, uma coisa pobre! E é mesmo, tem que ser pobre! Foi feito por mim! Foi pra mostrar o esforço, que no Brasil pode se fazer desenho bem alijado como todo o mundo, com os movimentos, com tudo isso! E esse desenho, depois, fiz uma cópia e depois chegou um sujeito, tinha feito uma fábrica de projetorezinhos pra criança, ele chegou e disse: Quer vender seu filme? E eu vendi o filme a ele. Ele cortava em pedacinhos e quem comprava o projetor levava um pedacinho. E agora, numa reportagem que fizeram sobre mim, em O Bicho, eu falei que tinha feito esse desenho animado e tudo isso, então, o Fortuna, que era o editor da revista, ele descobriu um rolinho de fita desses, e n'O Bicho tá publicado, lá! Não foi na primeira reportagem, foi na segunda reportagem que ele disse: Eu disse que ele havia feito o desenho animado, e quando eu mato a cobra eu mostro o pau. Eu matei a cobra, tá aqui a cobra, e mostrou os quadrinhos com aquela sequencia do desenho animado.
Eu desisti (do desenho animado), que aquilo é trabalho de equipe!
MCC: E qual a diferença fundamental entre as histórias em quadrinhos antigas e as atuais?
Luiz Sá: Hoje é uma realidade diferente. Tá de acordo com a mentalidade da criança. A mentalidade da criança de hoje é completamente diferente da antiga, né? Hoje nós não podemos fazer aquelas histórias tão infantis como se fazia, hoje não se pode fazer como fazíamos antigamente. Hoje não! Quer uma história moderna. Se ele vê uma história daquelas, tão bobinha, tudo isso aí...
Eu criei diversos personagens, além de Reco-Reco, Bolão e Azeitona; eu tinha Maria Fumaça, uma crioulinha; Faísca, um papagaio, feito antes do Zé Carioca, eu fiz em 1937, chamava-se Louro, depois eu mudei pra Faísca; e tinha a Formiguinha Inteligente, uma formiguinha inteligente que resolvia os problemas dela; e Pinga Fogo, esse fiz em livro, um detetive errado. Publiquei um livro de Pinga Fogo, publiquei um livro de Reco-Reco. Isso os personagens principais. Daí ilustração de tudo, ilustrações sempre me couberam, obviamente, nunca soube desenhar. Incapaz de fazer uma caricatura. Não faço a minha de jeito nenhum. Sou um sujeito anguloso e meu traços são todinhos redondos, não dá certo de jeito nenhum!
MCC: Se fosse começar tudo de novo, qual profissão escolheria?
Luiz Sá: Sou um sujeito estravagante, não tenho nada! Não ganhei fortunas, mas ganhei bem. Mas ganhei pencas! Assim como o dinheiro entrava, saia. Não me arrependo de coisa alguma. Se tivesse que fazer novamente, faria tudo o que fiz. Não tenho nada, não tenho aposentadoria, não tenho emprego. Até hoje ainda vivo de free-lancer. Fiz o bem quando pude, o mal nunca fiz, por isso não me arrependo do que fiz! Viveria novamente a mesma vida. Que eu gostava de uma boa Ypioka, um bom uísque, um bom bar, uma boa boate.
Decorei, por exemplo, com o Ziembinski, cenários para o Cassino Atlântica, até em 1944, quando o cassino fechou eu parei. Trabalhei com o Ziembinski. Já no final, trabalhei com o velho e grande amigo Paurilo Barroso! E cheguei aqui, infelizmente não encontrei mais ele. Quando comecei o presidente era o Crisanto Moreira da Rocha, trabalhei dois anos lá. Fiz uma peça com ele, aqueles teatrinhos de bolso que havia com Gisa Bôscoli, era Banana Nanica, com Aracy de Almeida, o Colé, tudo isso. Cenários e texto meu e da Gisa Bôscoli. Escrevia isso pra crianças.
MCC: E nessa época, do Cassino, você conviveu com grandes personalidades da música, do teatro?
Luiz Sá: Principalmente com os daqui. Daqueles artistas estrangeiros que vinham se apresentar, não travava conhecimento com ninguém. É mais com aquelas grandes orquestras, do maestro Borba, grandes pessoas, o Ziembinski, um grande artista, daquele meio artístico e muitas pessoas!
MCC: E desses meios todos, qual foi a tendência que mais marcou sua vida?
Luiz Sá: Pra mim foi o cinema, porque a grande vantagem do cinema é a seguinte: quando eu fazia uma charge boa, todo mundo ria, quando a charge não era boa, ninguém vaiava! Quer dizer, a vantagem estava sempre comigo (risos)! Quer dizer, se houvesse a vaia, eu ia pesar numa balança! E o jornal era disputado pelas cenas que vinham. Tanto quanto o filme, quanto o desenho, porque era muito mais interessantes do que os outros jornais parados, que só tinham figuras, pelo menos tinha realmente alguma coisa pra você ouvir, né? Eram dois jornais, um esportivo e o outro social. O esportivo era melhor do que o social. O social às vezes viam...
MCC: E qual o conselho que você daria aos artistas que fosse começar?
Luiz Sá: Faça aquilo que vier na sua cabeça. Não deixe ser influenciado por ninguém, faça! Se não estiver bom, com o tempo ele vai melhorando, melhorando, como aconteceu comigo. Meus bonecos hoje são completamente diferentes, evoluiram, têm mais elegância. Meus bonecos eram pequenos, baixinhos, difíceis de fazer o movimento, então eu estiquei as pernas pra dar mais movimento à figura, e é uma transformação. E isso não acontece só comigo não! Você pega um pato Donald do Disney, completamente diferente do bico comprido de antes. Você pega um Mickey mouse é um rato completamente diferente, ele tem evoluído.
MCC: Tá em progressão!
Luiz Sá: Tá em progressão, é isso mesmo. Eu farei um desenho hoje, amanhã eu verei o desenho e direi: hoje eu faria melhor!
MCC: E a sátira, mudou? Como?
Luiz Sá: A sátira ainda existe! E o Ziraldo? Tem muita coisa boa, né? Tem o Lan, ele e o Ziraldo se revezam, têm uma boa charge, né? O Pasquim!
MCC: Dentro do seu estilo nunca caricaturou ninguém?
Luiz Sá: Não, mesmo porque não dá o meu traço, né? O meu nariz é uma batata, a orelha é um três, um rosto anguloso como o meu não dá, não pode, fica redondo, nunca tive jeito de fazer caricatura. Nem quando não tinha um traço definido, tentava fazer e nunca deu certo. É um estilo completamente diferente.
Há pessoas que que fazem a caricatura e a charge e fazem a caricatura pessoal muito bem, como tinha o Martiniano, formidável, né? Martiniano, um grande caricaturista. Ah, tinha o Mendez, ainda! Mendez agora é pintor, deixou a caricatura e tá pintando.
MCC: E a sua pintura? Fale um pouco dela.
Luiz Sá: A óleo, só fiz agora, foi a última exposição que fiz, fiz uma exposição sacra, fiz quadros desde o nascimento de Cristo até o altar da crucificação. Mas eu só desenhava as figuras não santificadas. Por exemplo, tenho um São Jorge, esse quadro eu tenho em casa, tem um dragão no chão botando fogo, um cavalo pisando com a pata e em cima do cavalo uma chama assim, de luz, um facho de luz, representa São Jorge com uma lança matando o dragão, São Jorge é uma luz.
MCC: Todos os santos são representados como luz?
Luiz Sá: Todos os santos são representados como luz. O mesmo com Jesus Cristo, aparece no meio dos ladrões na crucificação, no canto o mau ladrão, um cabra feio, todo vermelho, parece o diabo. Mais do lado o bom ladrão com as feições mais suaves, e no centro sem você ver, da cruz, tem aquele facho de luz, você vê a coroa de espinhos, vê os cravos na ponta das mãos e dos pés e o sangue no peito. E ele é aquela luz. Aquilo com um degradê de fogo! Um degradê do azul ao preto. E fiz toda a história sagrada. O Cristo expulsando os vendilhões do templo, a fuga para o Egito, tudo! Por exemplo, no nascimento de Cristo tem no primeiro plano um pastor, o bracinho cruzado, a mangedoura cheia de capim e de dentro dessa mangedoura sai aquele facho de luz. No fundo você vê um cajado, que era aquela bengala que São José usava, um cajado e aquela auréola e ao lado uma auréola maior que é Nossa Senhora. E fiz um bom sucesso, vendi quase tudo, dei um bocado, que eu fiz trinta e tantos quadros, vendi vinte e poucos, dos mais me pediam e eu dava, mas tem uns que não saem daqui de jeito nenhum. Tem lá em casa esse São Jorge, tem Salomé e a cabeça de Batista, quer dizer, Salomé com a mão saindo assim com a bandeja, uma espada daquela grande e dentro da bandeja aquele facho de luz que é a cabeça de Batista. E tem outro, que tem até uma fala muito engraçada de um amigo meu, é um leiloeiro muito espirituoso, que é O Diabo Tentando Cristo na Montanha, então, vem aquele facho de luz e tem o diabo assim, então ele disse que o diabo tava jogando figurinha com Cristo! (risos)
MCC: E seus planos para o futuro?
Luiz Sá: Viver o resto da vida como puder, né? Eu tenho inspiração, tendo trabalho posso trabalhar!
MCC: Em termos profissionais?
Luiz Sá: Posso trabalhar! Tô com a mão firme! Tô fazendo um bocado de desenho para as sobrinhas. Cada uma quer! Já fiz catorze desenhos, coisas do Norte, coisas daqui! Dois dedos! Caboclo fazendo assim: dois dedos, ponha dois dedos! Uma pinguinha assim, naquelas vendinhas de beira de estrada, que tem, né? Fiz também um outro, eu tenho um sobrinho que é carioca, então, eu fiz um pra ele assim: um feijão forte, um feijão alto e forte, né?
Eu sempre tive, modestia á parte, muita facilidade de ter a legenda daquilo que eu faço, sempre tive boa legenda.
MCC: Com guache ou aquarela?
Luiz Sá: Com guache, gosto do guache!
MCC: E a fonte de inspiração sua, qual é?
Luiz Sá: Ah, depende do assunto, do momento! Eu fiz agora, já fiz treze desenhos, todos coloridos, todos a guache, coloridos, seis pra um, sete pra outro, ainda tenho um pra fazer lá. E a inspiração vem!
MCC: Por que não faz uma exposição em Fortaleza?
Luiz Sá: Eu fiz, em Fortaleza eu já fiz!
MCC: Mas quando? Eu quero dizer agora!
Luiz Sá: Não dá tempo, agora não dá tempo! Que eu tenho esses compromissos, eu tenho que fazer esses desenhos pra família!
MCC: Quando foi feita essa exposição, então?
Luiz Sá: Foi em 1938, quando eu estive aqui. A última vez que eu estive aqui.
MCC: Onde foi?
Luiz Sá: Foi no Salão Moderno. No antigo Salão Moderno, no Raimundo's, eu estive no salão para expor. Lá eu tive uma boa crítica, uma boa tudo. Foi onde encontrei essa pessoa que fez uma boa reportagem, muito boa, o João Jacques, que era d'O Povo, presidente.
MCC: E a que se deve essa sua atual visita?
Luiz Sá: À minha cunhada. Eu não tinha pensado em vir ao Ceará, mas aí minha cunhada foi ao Rio e disse: seu irmão quer lher ver, você vai? Então vamos? E eu vim correndo. Daí em diante tive que vir por outros também. No entanto, eu ia embora agora, mas recebi uma intimação do Dr. Bié, para esperá-lo no dia dez de março aqui. Quer dizer, vou ter que ficar até o fim do mês de março.
MCC: Mas não chegou a servir o exército, né?
Luiz Sá: Só o tiro de guerra. Tirei caderneta de reservista no Tiro 38, aqui! Foi antes de eu ir, foi em 1928.
MCC: Não quis participar da Revolução?
Luiz Sá: Não! (risos)
MCC: Agora falta agradecer essa entrevista, esse depoimento, que realmente vai dar um subsídio muito bom e importante para a história da arte cearence.
Luiz Sá: O agradecido aqui deve ser eu, não esperava isso!
MCC: É um trabalho que merece toda a nossa admiração!
Luiz Sá: Muito obrigado, estou às ordens para qualquer coisa!
FIM
*Agradecimentos a Weaver Lima e ao amigo João Antonio Buhrer pelo envio da entrevista.
Para ler outra entrevista de Luiz Sá, clique aqui.
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9 comentários:
Fui atrás do tal Lee, era Lee Blair, irmão mais novo do Preston Blair e marido da Mary Blair, confirmei no livro Getúlio (1930-1945) - Edição especial: Do governo provisório à ditadura do Estado Novo do Lira Neto.
Valeu pela complementação, amigão!!!
Fantástica reportagem!!! Um documento HISTÓRICO, sobre um dos artistas mais marcantes das HQs brasileiras, que, literalmente, se dedicou à arte até o último suspiro! só tenho algo a dizer: na parte em que Luiz Sá fala de sua experiência com o universo da animação, vemos que um burocrata idiota disse que não permitiria que o Luiz exibisse seu trabalho ao Sr. Disney, por considerá -lo "pobre". Vemos daí que o descaso e, por que não dizer, o preconceito com a arte e a cultura no Brasil, já vem de longa data... O lamentável incêndio no Museu Nacional, no RJ, é apenas o produto cumulativo de todos estes anos...
É a pura verdade, Dyel. E o pior, ao analisarmos o desenho animado de Luis Sá percebemos que ele não era nada "pobre", pelo contrário, era superior até às primeiras animações de Disney, que ele já produzia com uma equipe. Abs.
Bela entrevista.Exemplo que é possível ser seguido pelo iniciantes hoje.Sempre será possível romper barreiras.Valeu ! ! Abraços.
Fiquei muito feliz e grato por sua brilhante e riquíssima entrevista meu caro Luigi. Casualmente a encontrei e quero ler a outra entrevista que você fez com o Luiz. Só lamentei uma coisa: foi você não ter explorado mais a respeito do Bolão. As historinhas do Bolão nos chicletes PingPong foram muito marcantes para mim. O Bolão nos Esportes, o Bolão nas Profissões, o Bolão no Zoológico, e muitas outras. E queria muito ter algum material para fazer um artigo sobre isso. Minhas lembranças não são suficientes. Mas já foi um grande presente ler esta sua entrevista. Muito grato. E parabéns!!
Obrigado pela visita, Alberto.
Sou eu quem tenho que agradecer a você pelo trabalho feito. Ah! Uma curiosidade: você é parente da Patrícia Rocco?
Não sou parente dela, Rocco é meu segundo nome. Grande abraço!
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