sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Benedito Veloso - Entrevista - 2018

Entrevista realizada com o jornalista e roteirista Benedito Veloso em setembro de 2018. Veloso roteirizou aventuras para a série Vizunga e também para o personagem Zé Carioca, de Walt Disney. Aproveitem esta rara oportunidade!

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Revista Intervalo nº 01 - editora Abril - 1963

Luigi Rocco: Quando e onde nasceu?

Benedito Veloso: Nasci em 1939 na cidade de Tambaú, interior de São Paulo, mas muito cedo me mudei para a capital, para o bairro de Vila Mariana.

LR: Qual a sua formação?

Veloso: Sou formado em desenho comercial.

LR: Como se interessou pela área de comunicações?

Veloso: Naquela época, o convívio social era muito intenso, a cidade era menor e as pessoas se conheciam. esse convívio com os amigos facilitou meu interesse por essa área.

LR: Em entrevista ao jornalista Rodrigo Romero, você declarou ter produzido roteiros para histórias do personagem Zé Carioca. Como foi isso?

Veloso: Todo esse convívio social, que me levou a fazer o curso de desenho comercial, muitos amigos fizeram esse curso, também me levou a ingressar na editora Abril.

LR: Em que ano?

Veloso: Humm... Isso foi em 1960. Naquele tempo não era necessário o diploma de jornalista. Você passava por um período de experiência de 2 anos e depois podia ser efetivado como jornalista.

Revista Intervalo - 1963

LR: Em qual redação você começou?

Veloso: Entrei na redação das revistas femininas. Em 1963 fui fazer a revista Intervalo, que era uma espécie de guia da televisão, uma revista em formatinho com matérias sobre celebridades da música e da TV e também com a programação dos poucos canais que existiam. Surgiu pra fazer concorrência com uma outra revista chamada 7 Dias na TV (editora Empress). 7 Dias na TV vendia muito mais que a Intervalo, mas com o tempo, aparentemente por um acordo entre as duas editoras, essa outra revista deixou de ser editada e passou a fornecer material para a Intervalo.

O primeiro número da Intervalo, o número zero, por assim dizer (edição "première"), foi distribuído de graça, encartado nas outras revistas da editora: Capricho, Claudia, Ilusão etc. Eu fiz uma charge onde um leitor vai até a banca, compra a revista Claudia, destaca a Intervalo e joga a Claudia fora. A charge foi um sucesso dentro da redação. Alessandro Porro, que era o meu editor, gostou tanto e levou pra mostrar pro Luís Carta, editor da Claudia e irmão de Mino Carta, pra tirar uma onda com a cara dele! Por conta disso, passei a fazer uma charge semanal na Intervalo. Aparecia na última página da revista por muitos anos!

LR: Como o Zé Carioca aparece nessa história?

Veloso: Eu trabalhava no grupo das (revistas) femininas, mas as outras redações eram perto umas das outras. As histórias Disney eram todas importadas, nós só fazíamos a tradução, adaptações dos espaços dos balões e as legendas, mas não haviam histórias estrangeiras do Zé Carioca, então passou a ser necessário produzir essas histórias por aqui mesmo. O Zé era um personagem brasileiro e estava fazendo muito sucesso, então me convidaram pra escrever roteiros para o personagem, mas eu sempre fiz esses roteiros em caráter de freelancer, não era contratado da redação das infantis. Era um trabalho que me divertia muito, era uma espécie de hobby remunerado! Nessa época havia muita carência de mão-de-obra nessa área, o profissional era bastante disputado, então fazíamos freelancer para a própria editora.

LR: Quantos roteiros você produziu para o Zé Carioca?

Veloso: Não sei com certeza... Vamos fechar em dez, mas foram bem mais que isso! Eu não guardei nenhum desse material. Sabe como é, você fica achando que sempre estarão disponíveis nos arquivos da editora, o tempo vai passando e isso tudo vai se perdendo.

LR: Eram histórias longas ou de uma página?

Veloso: Longas! Histórias longas.

LR: Você lembra o título de alguma delas?

Veloso: Puxa, não lembro! Mas lembro de uma que causou bastante alvoroço na redação, era uma que falava de transplante de suvacos!!! Caramba, que vergonha! Não publique isso! (risos)

LR: Em que época foi?

Veloso: Entre 1964 e 1966.

LR: E quem desenhou?

Veloso: Waldir Igayara e Jorge Kato. 

Eu cheguei a fazer fotonovelas também! As fotonovelas publicadas pela editora Abril eram todas importadas da Itália, mas um dia chegou um editor do sul do país, que fazia uma revista chamada Rainha e que queria publicar fotonovelas. Nós explicamos que as nossas era todas importadas, publicadas sob licenciamento e tal, mas eu acabei dizendo que poderíamos, sim, produzir fotonovelas pra ele. Caramba! Outro papelão! Essas eu não mostro pra ninguém!

Vizunga por Veloso e Herrero.

LR: Em 1965 a Folha de São Paulo publicou algumas aventuras do personagem Vizunga com desenhos do cartunista Herrero e roteiros seus. Como foi isso?

Veloso: Puxa! É verdade! O Herrero... Nem me lembrava disso! Mas era uma coisa do Maurício de Sousa. Por conta de meus roteiros com o Zé Carioca, acabei trabalhando com o Maurício. Ele já tinha saído do edifício da Folha, na Barão de Limeira, e ido para uma travessa, naquela mesma região. Fiz muitos roteiros para o Maurício nessa época, eram histórias curtas. Mas tudo como freelancer. Como já disse, era uma diversão. Acho que esse tipo de trabalho acaba deixando a mente mais criativa. Tenho oitenta anos e considero estar muito atuante e criativo ainda. Tudo por conta desse tipo de atividade!

Nos estúdios do Maurício, conheci e fiz muitos trabalhos com o desenhista Apa (Benedito Aparecido da Silva). Cheguei a fazer uma História do Brasil em Quadrinhos para a editora FTD. Mas não conta isso também!!! (risos)


FTD Revista - História do Brasil, 1967 - Por Veloso e Apa.

LR: Quantos roteiros você escreveu para o Vizunga?

Veloso: Não lembro ao certo, mas foram poucos*!

*Foram publicadas duas aventuras de Vizunga com roteiros de Veloso.

LR: Entre 1969 e 1970 o jornal paulistano A Gazeta publicou duas tiras, Egberto e Os Invasores, que têm a sua assinatura. Como foi isso?



Veloso: Egberto!? Caramba, é mesmo! O Egberto era uma caricatura do jornalista Giba Um. O Nome dele era Gilberto, Gilberto Luiz Di Pierro, ele trabalhou comigo na Intervalo, junto com o Walter Negrão. Então, fizemos essa sátira passada numa redação de jornalismo.

LR: E Os Invasores? Era sobre dois caipiras na cidade grande.

Veloso: Essa eu lembro pouco...


LR: O Paulo Hamasaki, em entrevista* ao blog de Tony Fernandes, declara ter produzido essas séries. É possível?

Veloso: Sim, é possível. Tinha também um outro japonês, o Shimamoto, que fazia umas histórias bem cruéis. Mas eu lembro que o Hamasaki era um cara nervoso, estourado...

*Nessa entrevista Paulo Hamasaki diz o seguinte: "...na Gazeta realizava duas tiras diárias, uma sobre dois caipiras do interior paulista, lá pelos anos 50 e outra sobre um repórter atrapalhado (Egberto), calcado no colunista Giba Um, muito famoso na época... As duas tiras que eu fazia pra Gazeta duraram uns três anos".

Egberto no traço de Paulo Hamasaki - revista Top Top, editora Taika.

LR: E sobre seus roteiros para a revista Contigo?

Veloso: Em 1971, a revista Contigo mudou seu perfil e passou a investir em um público mais jovem. Começou a publicar uma série de histórias em quadrinhos voltadas aos jovens e adolescentes. Para essa nova fase eu criei uma série de personagens, entre elas, Cris, a repórter, que era inspirada em uma jornalista da nossa redação que era muito bonita mesmo! Quem criou a Cris fomos eu e o jornalista Paulo Patarra.

Cris, a repórter. Revista Contigo, editora Abril, 1971. Veloso e Paulo Hamasaki.

LR: E o Anjo 45?

Veloso: Ah! Esse também era inspirado em um rapaz, baiano, que existia e trabalhava na editora. Ele ganhou o apelido por causa da música do Jorge Benjor, Charles, Anjo 45, lançada em 1969 e também virou personagem!

Eu criei também uma dupla, Mané Batata e Cheiro Verde, mas o Alberto Maduar, que era diretor da revista, não gostou muito do nome. Ele achava que personagem tinha que ter nome de gente, Mané Batata tudo bem, pois Mané é nome de gente, mas Cheiro Verde, não! 


LR: E o que fez após sair da editora Abril?

Veloso: Bom, eu ainda prestei alguns serviços como colaborador da editora, mas logo em seguida, por volta de 1970, eu me casei e fui morar em Jacareí. A partir daí prestei vários serviços, sempre na área jornalística, para vários órgãos de imprensa e secretarias das cidades do Vale do Paraíba. Fui fui chefe de cerimonial da Prefeitura de Jacareí por vários anos e também sou membro da Academia Jacareinse de Letras!

Para o jornal Semanário, em 1993, criei tiras inspiradas em uma cachorrinha que apareceu na redação. Ela se chamava Xuxa, mas para não termos problemas com a apresentadora, a personagem foi batizada de Xoxa!!! Parece que não era um nome muito feliz! (risos)

Entre 1989 e 1996 eu fiz charges políticas para uma sessão chamada Boca de Urna, do jornal Valeparaibano, assim, tudo junto mesmo!

LR: OK, Veloso. Muito obrigado pela atenção!

Veloso: Abraços!
Veloso na Intervalo em 1963 e 1965.



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