Criada por Fábio Mestriner e distribuída pela ECAB (Editora Carneiro Bastos) em meados dos anos 1970, O Galinheiro transpunha para o microcosmo de um galinheiro todas as mazelas da sociedade da época.
Foi publicada também na revista Eureka da editora Vecchi e no Suplemento Quadrinhos da Folha de São Paulo.
O Galinheiro no Suplemento Quadrinhos.
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Em 8 de fevereiro de 1977, o jornal A Gazeta, de Vitória, por ocasião da publicação de O Galinheiro, publicou a seguinte reportagem sobre Mestriner:
"A história da criação e lançamento de O Galinheiro é contada por seu autor, Fabio Mestriner, paulista de Ribeirão Preto, casado, com uma filha e apenas 21 anos de idade: 'O Galinheiro não foi propriamente uma criação, nasceu por acaso. Um dia, no escritório de publicidade onde trabalhava, desenhei uma galinha, produzi uma tira e o pessoal do escritório gostou. Daí em diante, sempre que me restava um tempinho no trabalho, nascia outra tira e sempre contava com o apoio da turma.
Deixando a agência de publicidade, fui trabalhar em ilustração de livros e tornei-me amigo de um dos escritores, a quem mostrei as minhas tiras. Ele gostou e incentivou-me a ir em busca de um jornal que as publicasse. E aconteceu então O Galinheiro nas páginas do Diário de Ribeirão Preto, em 6 de agosto de 1975. A partir daí, tudo foi muito rápido e logo estaria o meu personagem também nas páginas de O Diário da Manhã, de Ribeirão Preto. Depois, a Folha de São Paulo também passaria a publicar os meus quadrinhos, seguido de Diário do Grande ABC, em Santo André; Última Hora - Rio; Rio Gráfica Editora (revistas Tininha, Brotoeja, Recruta Zero) agora jornal Dia e Noite, de São José do Rio Preto'.
'O Galinheiro não tem uma estrutura definida, nem personagens fixos. A não definição é uma forma de não limitar a história a uma determinada fórmula. As coisas vão acontecendo, as situações aparecem através do meu personagem, eu coloco as situações e a maneira de pensar de minhas galinhas, que estarão sempre envolvidas com os problemas da humanidade, acrescidas de seus problemas de galinhas industrializadas que são'.
Fabio Mestriner foi chamado de Mauricio de Sousa de Ribeirão Preto, mas ele afirma que a comparação é de responsabilidade do Diário da Manhã e só tomou conhecimento dela após a publicação. Fábio é muito grato a Carlos Mazza, o escritor que o incentivou no início da carreira. Sobre suas galinhas, ainda diz: 'Todos nós vivemos num 'galinheiro': numa sociedade que limita nossa liberdade com telas de arame. Por isso desenho 'galinhas' e escrevo sobre seus problemas sociais, financeiros, morais, amorosos, políticos etc. Dessa forma, posso debater os problemas da sociedade humana de uma maneira bastante humorística. 'É uma visão de tudo o que tem de engraçado. Assim, abordamos problemas humanos, transportando-os para as nossas galinhas e nossos galos, todos eles típicas galináceas da classe média'.
Quando Mestriner foi contratado pela Última Hora (“Eu cheguei para o redator-chefe com as historinhas, dizendo que era crítica social. Ele viu, leu, perguntou quanto eu queria e assinamos o contrato na hora), sentiu que estava iniciando seu período de profissionalização. Dispensou a função de técnico de equipamentos oftalmológicos e seu trabalho no departamento gráfico de Ex e Movimento para cuidar só do 'galinheiro'. E ao mesmo tempo adquirindo uma certeza: 'Não sei se vai dar para viver só disso. Mas é a única maneira que eu achei para tentar
descobrir se dá'.
Uma preocupação de Fabio: 'Em minhas histórias em quadrinhos procuro sempre dar um fundo, não faço humor gratuito. Procuro dizer alguma coisa importante, que acontece. As historinhas são trabalhadas porque crio uma situação em cima de um assunto que quero satirizar. O 'galinheiro' é um monte de 'galinhas' vivendo dentro de uma comunidade, com todos os problemas que o convívio forçado acarreta. E sujeita a uma série de limitações que a própria quantidade de 'galinhas' impõem. De galinha mesmo, as historinhas têm pouca coisa: falo de gente, no duro'.
Primo de artista plástica Odila Mestriner, Fábio vive em São Paulo, cidade que acha muito tensa: 'Me sinto oprimido em São Paulo porque sou bem interiorano. Sou de Ribeirão Preto mesmo. Em São Paulo, mesmo nos fins de semana em que a gente fica em casa, não consegue descansar. As coisas atingem a gente muito mais, se está sempre agitado. As manchetes dos jornais não são meras palavras. A gente vive o drama de todo dia.
Fora o clima terrível de competição, porque o pessoal que vai para lá vai a fim de subir na vida e ganhar dinheiro. É mundo cão, no duro. São Paulo não é uma cidade onde se pode criar um filho. Por causa da poluição de tudo, até da água. Há sempre uma névoa na cidade. É difícil enxergar até onde a vista alcança". O ar está sempre encoberto. As crianças lá não têm espaço físico para brincar: ficam muito em casa: consomem muita televisão e ficam muito junto de gente grande. A criança passa a ser uma caricatura do adulto”
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