As aventuras do Pererê no Jornal do Brasil, 1976.
O Pererê de Ziraldo (24 de outubro de 1932 - 06 de abril de 2024) começou a ser publicado em formato de cartuns em 1959 na revista O Cruzeiro.
A partir de outubro de 1960 foi lançado em formato de revista em quadrinhos pela mesma editora O Cruzeiro, sendo considerada a primeira revista inteiramente colorida de personagem nacional.
Pererê no formato cartum em O Cruzeiro, dezembro de 1959.
Houve uma tentativa de se confeccionar uma série de tiras diárias para os jornais, mas que acabou não sendo levada adiante. A criação ficaria a cargo de um jovem iniciante: Mauricio de Sousa. Em depoimento a este blog (que pode ser lido integralmente aqui) Mauricio fala sobre o assunto:
- "Mauricio: E não tem só essa história. Tem tiras do Pererê que eu desenhei que também se perderam.
- JAL: O Ziraldo... Você entregou pra ele, né?
- Mauricio: Entreguei pra ele. Ele perdeu.
- LR: Mas o Pererê do Ziraldo ou um Pererê qualquer?
- JAL: Do Ziraldo! O Ziraldo pediu pra ele desenhar.
- WAZ: Mas quando foi isso?
- Mauricio: Nos anos 60. Eu morava em Bauru, tava trabalhando na Folha, fazendo as tirinhas da Folha. Daí, eu queria fazer gibi. As principais editoras do país estavam no Rio de Janeiro, inclusive a Cruzeiro, com o Pererê. Então eu cismei e falei, bem, eu vou levar o meu material, as tiras e tudo o mais como amostra e vou passar lá pela Rio Gráfica, Ebal, O Cruzeiro, pra oferecer meu material. E fiz isso. Peguei o trem, o trenzinho, lá em Bauru tem um trem, que eu pegava naquele tempo, parei em São Paulo e fui para o Rio de Janeiro, duro pra caramba, peguei uma pensãozinha no zona do cais do porto pra parar um pouquinho e em seguida fui para O Cruzeiro pra procurar o Ziraldo. Fui bem recebido, um lugar bonito, com ar condicionado, que eu detestava por causa daquele frio, mas paciência. E o Ziraldo me recebeu bem, e eu falei pra ele: gostaria de estudar uma possibilidade de publicar alguma coisa aqui também, de repente, uma revista. Ele disse: tá bem difícil, a situação aqui já não tá muito boa, a minha revista tá ameaçada de não ter continuidade, mas nós trabalhamos com os Diários Associados e os Diários têm tiras também, de repente, pra tiras você pode conseguir melhores condições aqui nos Diários Associados e, já que eu estou aqui fazendo revista, você não pode me fazer umas tiras do Pererê, que me faz falta, tiras de jornal. Saberia fazer? Eu disse: Posso tentar. Voltei lá pra minha pensãozinha no cais do porto, que era ruim, e fiz quatro ou cinco tiras grandonas assim, bem no estilo americano, e levei pra ele lá no Cruzeiro.
- WAZ: E eram piadas curtas?
- Maurício: Piadas curtas. Eu fiz. Já tinha facilidade. Levei pra ele lá no Cruzeiro. Ele falou: deixa aí que eu vou mostrar pro pessoal e ver o que acontece. E não aconteceu nada nunca, nunca mais! Fora tudo isso me perdeu as tiras. Falou que vai procurar, que deve estar lá no meio das coisas dele, não sei onde, que ele faz questão de levantar e vender porque acha que vai conseguir um bom preço (risos). "
Anúncio da revista Pererê em O Cruzeiro, outubro de 1960. Ao lado, prova da capa da revista Pererê de maio de 1964, que nunca foi lançada.
A revista foi interrompida em março de 1964, quando teve editado seu último número. O interrupção se deu, segundo o próprio autor, por motivações políticas, já que Ziraldo tinha um espectro de pensamento mais à esquerda, o que vinha de encontro às intenções do governo militar.
Ziraldo partiu para outros projetos, mas sem nunca esquecer seu personagem, que tanto sucesso havia feito no iníco dos anos 1960.
Com o lançamento do semanário O Pasquim em 1969, O Pererê teve oito aventuras publicadas no tabloide no início de 1971. Eram quatro páginas de quadrinhos por página de jornal. Como a publicação tinha uma linha editorial mais voltada ao noticiário político, O Pererê acabou não obtendo a resposta esperada e foi descontinuado no veículo.
Pererê n'O Pasquim em 1971. Quatro páginas da revista por página de jornal!
Em 1975 O Pererê foi lançado novamente em uma revista em quadrinhos, dessa vez pela editora Abril.
Fazendo parte também dese pacote de lançamentos o Jornal do Brasil publicou, em seu suplemento Quadrinhos, uma página dominical colorida do personagem.
A nova edição da revista durou apenas dez números, até abril de 1976. Então, essa foi por enquanto, a última tentativa e levar o personagem às páginas dos jornais, embora o personagem tenha tido outras publicações em bancas e livrarias ao longo dos próximos anos.
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