O vetereno ilustrador Luiz Carlos Salgueiro, dono de um desenho de excepcional qualidade, em seu início de carreira desenhou várias tiras para jornais de São Paulo. Leia na entrevista a seguir, realizada por meio digital entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, um pouco dessa história.
Luigi Rocco: Seu nome completo, local e data de nascimento?
Salgueiro: O meu nome é completo. Tudo bem? Nasci em 7 de julho e hoje vivo em Santa Rita do Passa Quatro, SP.
LR: Quando criança, você lia quadrinhos? Quais os seus preferidos?
Salgueiro: Não. Não tinha acesso à nenhuma publicação. Nasci em 1935, pobre.
LR: Qual sua formação artística? Como pensou em fazer quadrinhos?
Salgueiro: Desenhei na parede de meu quarto. Meu pai pintava quadros e igrejas. Por osmose, desenhei...
Salgueiro caricaturava seus colegas de estúdio.
LR: Qual sua primeira publicação? Em que ano?
Salgueiro: Minha mãe cortava cabelo e fazia permanentes. Conheceu assim o sr. Adolfo, chefe de um departamento da Cia Melhoramentos. Ela consegui um emprego para mim na Cia Melhoramentos como boy de estúdio, em julho de 1953. Conheci o (Oswaldo) Storni, grande ilustrador em bico de pena. Foi tudo por meio da esposa do sr. Adolfo. Eu limpava godês, mexia nos guaches, lavava pincéis. Na folga fazia caricaturas dos colegas do estúdio.
Capa de livro ilustrada por Salgueiro. As ilustrações do miolo são de Oswaldo Storni. Editora Melhoramentos, 1968.
LR: A figura abaixo é uma página desenhada por você. Fale um pouco sobre ela. Lembra onde foi publicada? Quem era o Jatobá que assina a página com você?
Salgueiro: Ilustrei algumas histórias do Luiz Jatobá, famoso na época. É Aloísio Jatobá se não me engano!
LR: Você desenhou a série Bolão e Bolacha (figura abaixo) em meados de 1960 para a editora La Selva. Fale um pouco sobre ela.
Salgueiro: Por falta de trabalho criei minha primeira HQ: Bolão e Bolacha. Um fracasso. A ideia era contar a vida de uma jovem empregada de cor. Ela seria a personagem principal, mas mudaram o foco.
LR: Bolão e Bolacha foram desenhados também pelo Izomar. Você pode falar sobre isso?
Salgueiro: Não sei. Virei funcionário público e larguei a coisa.
Bolão e Bolacha por Izomar, na década de 1960 na editora La Selva (revista Varinha Mágica) e na década de 1970 na editora Trieste (revista Sobrinhos do Capitão).
LR: Em 1964 você publicou a série levanta Poeira F.C. (abaixo) no Diário Popular. Fale um pouco sobre ela.
Salgueiro: Não no Diário. Foi num jornal que pertenceu ao Jânio Quadros*. Criei Levanta Poeira Futebol Clube. Molecada de rua não tinha bola, a de meia acabava logo. A dona da bola, na época, era minha sobrinha Thelma. Ela teria mandado no clube. Tentei reviver essa HQ então troquei minha sobrinha por minha neta Lara.
*Provavelmente o tabloide A Nação, que circulou entre 1963 e 1964.
O Levanta Poeira FC reformulado.
LR: Como era seu relacionamento com o jornal? Como você chegou até lá? Quem te atendia?
Salgueiro: Quem publicou no Diário Popular foi o ladrão que também se chamava Luiz (Sanches). O fez sem meu conhecimento. Acabou aí essa aventura pois não tinha como continuar. Soube que ele publicou também em Jundiaí, se não me engano. Matou a vontade! Falei até com advogados. No jornal disseram que eu poderia ganhar, mas se perdesse, teria que pagar as custas do processo. Este é um país de MERDA. Morreu aí!!!
LR: Fale um pouco sobre a série Giló e Pitanga (abaixo), publicada no mesmo jornal.
Salgueiro: Era a história da Galinha Doroteia, as voltas com a panela da empregada. Eram tiras.
LR: Fale sobre a série Vovô e Vivinho, publicada também no Diário Popular. Há algo de autobiográfico na série?
Salgueiro: Vovô e Vivinho! O guri era mais sabido que o avô ao ler jornal. Vovô e Vivinho também foi roubada e publicada no Diário Popular. Nunca trabalhei para esse jornal. A história era para um jornal do Jânio! Esse jornal faliu e fechou. Quem cuidava da área publicou, sem eu saber, no Diário Popular. Daria processo, mas... matou a idéia! Parei com essa cagada depois do primeiro roubo. Cheguei a modificar a série e chamei de Vovó, Vivi e Vivinho. Era publicidade para uma revista que faliu em seguida (abaixo).
LR: Levanta Poeira foi publicada em 1966 no Álbum Encantado* (figura abaixo), da editora Pan Juvenil / Edrel. Como isso aconteceu? Como era seu relacionamento com Minami Keizi, o editor do Álbum?
Salgueiro: Nunca soube disso.Que cambada de FILHOS DA PUTA.
*Segundo Gonçalo Silva Jr. em seu livro Maria Erótica e o Clamor do Sexo, Minami criou suas primeiras revistas a partir dos clichês de Sanches.
LR: Você desenhou outras séries em quadrinhos que não foram relacionadas anteriormente?
Salgueiro: Não...
LR: Você poderia falar um pouco sobre a sua carreira depois desse período nos quadrinhos?
Salgueiro: Tem muita coisa na minha trajetória. A pior parte como empregado em lojas de varejo. Desenhar geladeira a traço. Uma merda! Mesbla, Pirani, Eletroradiobraz e por aí vai.
Autocaricatura de Salgueiro.
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Agradecimentos ao ilustrador Angelo Bonito.
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