sexta-feira, 14 de junho de 2024

Vivaldo, o maratonista - 1984

Luscar (Luiz Carlos dos Santos, 1949-2022) sempre foi um grande criador de charges, cartuns e personagens de tiras. Feito para o jornal Quadra da Praia, que era distribuído gratuitamente na orla carioca, Vivaldo, o maratonista, procurava trazer esse clima de lazer e descontração das praias do Rio de Janeiro para as tiras de jornal, mas sempre de olho na crítica social e nos problemas da cidade. Quadra da Praia, sob responsabilidade de Valéria Lamego, Otávio L. Name e Vinícius M. da Luz,  circulou por alguns meses no ano de 1984.

Para saber mais sobre Luscar clique aqui e aqui.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Mutatis Mutandis - 1984

Na mesma linha de seu trabalho para a edição brasileira da revista Rolling Stone, Urbanoides, o cartunista Lapi (Luís Antônio Pires, 1941-2001) publicou no jornal gratuito Quadra da Praia, distribuído na orla carioca, a série Mutatis Mutandis, num jogo de experimentação envolvendo artes visuais, poesia e algum comentário político.

Para saber mais sobre Lapi clique aqui aqui.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Urbanoides - 1972

A partir de 1972, na edição brasileira da revista Rolling Stone, o cartunista e artista plástico Lapi (Luís Antônio Pires, 1941-2001), passou a publicar sua série em quadrinhos Urbanoides.

Num misto de desenho, poesia e algumas tiradas filosófica Lapi nos encantava com seus maravilhosos desenhos e sempre fazia pensar. 

Além de cartunista, Lapi foi também ilustrador e editor de arte nessa primeira fase da Rolling Stone no Brasil. Urbanoides saiu também na revista Mega Quadrinhos, editora Ortiz, em 1989.

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Sobre o artista, o jornalista Ediel Ribeiro escreveu para a Folha de Minas: " Luís Antônio Pires , foi um jornalista, artista gráfico, artista plástico, poeta e ativista político brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, em 1941. Considerado um dos mais importantes cartunistas brasileiros, Lapi - nome que tornou-se sua marca registrada - teve suas primeiras charges publicadas no extinto “O Jornal”, dos Diários Associados. Trabalhou ainda no “Jornal do Brasil”, foi colaborador dos jornais “O Pasquim” - onde ilustrava a página “Underground”, do Luiz Carlos Maciel - “Rolling Stone” e “Adiante”, além de criar, em 1973, o “Cordel Urbano”, inspirado nos livretos do cordel nordestino. 

Na versão brasileira do jornal musical “Rolling Stone”, nos anos 70, Lapi fez o projeto gráfico e produziu ilustrações e cartuns sobre temas psicodélicos, voltado para o público jovem interessado em contracultura e rock and roll.

O cartunista foi fundamental na criação da Fundação Nacional de Humor do Piauí, e no Salão Internacional de Humor do Piauí, tendo, inclusive, participado de todas as edições.

Lapi morreu aos 60 anos, de infarto, no Rio de Janeiro, em 8 de fevereiro de 2001".

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Fala, menino! - 1996

Fala, menino! Série que mostra uma turma de garotos e trata principalmente de crianças com necessidades especiais. Criada em 1996 pelo cartunista baiano Luís Augusto Gouveia (1971-2018) foi publicada em jornais e reunida em livro (Amarilys Editora, 2010). Entre seus personagens, há crianças mudas, cadeirantes etc.

Nosso heróis são: Lucas, um garoto mudo; Rafael, que é cego, Mirela é surda, Mateus é autista, Esmolinha e Diogo são crianças de rua; Carolina é hiperativa e faladeira; Caio é cadeirante e enfrenta as dificuldades da falta de acessibilidade  etc, mas com um traçado característico, Luís Augusto abordava tudo em seus trabalhos: separação de pais, homossexualidade, racismo, pobreza, religiões, deficiências físicas, tudo com rara sensibilidade e alegria.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Preta do Leite - 1972

Apesar do nome pra lá de racista, a Preta do Leite pouco tinha a ver com questões raciais. A personagem fazia parte de um grupo de mascotes de time usados para ilustrar a página de esportes do jornalista Carlos Soh e foram desenvolvidos pela cartunista Antônio Carlos Nicoliélo em 1972 no jornal Diário da Noite (SP) a partir de dezembro de 1972. Preta do Leite representava o Corinthians.

O termo era um jargão popular para pessoas tagarelas e provavelmente se originou das antigas amas de leite, mulheres negras que amamentavam os filhos das ricas senhoras brancas.

Junto da Preta do Leite apareciam outras mascotes para os times paulistas como o Lord Pipoca do São Paulo, o Comendador Macarroni do Palmeiras e o Caranguejo do Santos e embora não falasse tanto assim os comentários da personagem eram sempre críticos e certeiros.

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Sobre o autor, o jornal Espalha Fato, dos funcionários do banco Bamerindus, publicou em outubro de 1989: "Antônio Carlos Nicoliélo nasceu em Nova Europa, São Paulo, em 11 de fevereiro de 1948 (faleceu em 27 de junho de 2022). Começou suas atividades profissionais em Bauru, onde estudou Direito.

Em 1970 foi para São Paulo e atuou como chargista nos jornais Diário de São Paulo e Diário da Noite, até 1975. Foi chargista, ilustrador e capista da revista Visão, o mesmo tempo em que publicava na revista Status, Viaje Bem (VASP), Aerojet, Fairplay, Senhor (3ª fase), Círculo do Livro e revistas empresariais. No exterior, publicou na revista alemã Pardon e  em antologias de caricatura no Canadá, Grécia, Alemanha e Bulgária, sendo que neste país foi premiado. Em 1985, foi escolhido como um dos mais importantes chargistas do mundo.

Atualmente dá assessoria a agências de publicidade na área de criação e direção de arte, e eventualmente ministra palestras sobre a História Universal da Caricatura em várias universidades. Publicou O livro “Ali D'El Rey” e vem lançando, anualmente, um livro-agenda de humor. Além de chargista político da  Folha da Tarde, hoje Nicoliélo também é contratado do Cartoonists & Writers Syndicate de Nova lorque, que distribui seus cartuns e charges políticas internacionais para 150 jornais do mundo inteiro".

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Xuxinha e Guto - 2007

Em 1995 o desenhista e produtor argentino Isaac Huna (1960), ou Isaac Hunt, morando no Brasil desde 1987, soube que a apresentadora Xuxa Meneghel e a Marlene Mattos (produtora e empresária de Xuxa) tinham o objetivo de criar um canal infantil. Achou a ideia interessante e pensou em criar a Turma da Xuxinha, enviou a proposta para elas, que foi aprovada. 

Depois do primeiro contato com Marlene, não demorou muito para Isaac ser contratado para desenvolver a Xuxinha. O desenho contava a história da anjinha Xuxinha, inspirada em Xuxa, que se transformava em uma menina para viver ao lado da apresentadora e seus amigos. A ideia era que o personagem ganhasse vida própria e fosse independente da Xuxa. A a animação durou do fim dos anos 1990 até o início dos anos 2000 e teve mascotes e vários produtos lançados, além livros e uma revista em quadrinhos em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do Brasil: As Aventuras da Turma da Xuxinha pela Gráfica e Editora Burti, ano 2000, com pelo menos seis números lançados, com roteiros de Dejair da Mata, desenhos de J. Isaac Huna e arte-final de Edde Wagner, José Wilson Magalhães, Omar Viñole, Cleber Salles, Daniel de Souza Maitto, Marcos Rouman e ligados à linha de papéis higiênicos Baruel. 

Ao todo, Isaac trabalhou por cinco anos com a Xuxa Produções.

Isaac Huna (Hunt) na revista V.V. nº 03, editora Clefor, 1990.

Em 2007 a personagem voltou com o visual levemente modificado em livros de passatempos, merchandising em produtos de higiene da linha Baruel e sua própria série de tiras batizada com Xuxinha e Guto e publicada no Diário de S. Paulo.

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Maria da Graça Xuxa Meneghel (1963) já vinha de uma carreira vitoriosa como modelo quando recebeu o convite para apresenta o Clube da Criança em 1983, aos vinte anos, convidada pelo diretor Maurício Sherman, na extinta Rede Manchete. Em junho de 1986 estreava o Xou da Xuxa, na TV Globo, um programa diário com o seu nome e que foi exibido por 6,5 anos de segunda a sábado nas manhãs da emissora, transformando a então modelo num fenômeno de mídia, com dezenas de discos lançados e produtos dos mais variados ramos, todos com sua imagem.


Acima, Revista da Xuxa nº 34, editora Globo, 1991.

Em dezembro de 1988 Xuxa ganha revista em quadrinhos própria pela editora Globo, que sobrevive até 1993 com 69 números e 8 almanaques. Os desenhos inicialmente eram de Gustavo Machado e a arte-final de Henrique Farias mas boa parte das edições ficaram a cargo do AW Arte e Studio, no qual colaboravam Sergio Raul Morettini, Cosme José da Silva e Eduardo Vetillo.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Velta - 1973

Criada por Emir Ribeiro para os quadros de um jornal de parede do Colégio Estadual de Jaguaribe, João Pessoa (PB) em 1973 e alavancada para as páginas dos jornais paraibanos A União e O Norte em 1975, Velta é uma das maiores representantes do gênero super-heróis no Brasil.

Katia Maria Farias Lins, em uma viagem com colegas de escola, salva a vida de um ser extraterreno que em agradecimento confere a ela o poder de se transformar em uma gigantesca loura apta a emitir raios elétricos por qualquer parte de seu corpo. Surge Velta!

Emir é um batalhador incansável em prol de seus trabalhos e do quadrinho nacional, continua sua luta até os dias de hoje e procura ocupar todos os espaços que encontra, promovendo seus personagens e revista independentes, comerciais, fanzines, livros e qualquer que o permita. Velta teve título próprio na coleção Graphic Talents nº 12 da editora Escala em 2003. A heroína protagonizou inclusive em 2015 uma aventura onde encontra o veterano super-herói brasileiro Raio Negro, criado por Gedeone Malagola.

Em 1988, Velta fez parte também da iniciativa Contra Ataque, com a história Tentativa de Fuga. Foi uma ação de curta duração capitaneada pelo cartunista e fotógrafo potiguar Adrovando Claro de Oliveira, que visava distribuir tiras de artistas nordestinos para jornais de todo país. Dessa empreitada participaram, além de Emir e do próprio Adrovando, os quadrinhistas Laércio Cavalcante, Carlos Alberto e Marcos Garcia.

Toda essa epopeia e contada na reportagem/entrevista produzida pela editora Press em meados da década de 1980 e reproduzida a seguir:

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Meu nome completo é Emir Lima Ribeiro. Sou filho de um advogado e professor de história (se bem que o velho não gosta da profissão) e minha mãe só trabalha mesmo em casa. Sou casado com uma farmacêutica que nunca conseguiu um emprego mesmo após cinco anos de formada. Temos dois filhos: Emir II e Deivid, que nasceu em fevereiro de 1987. Acho que não sou um mau sujeito apesar da cara de pedra e sinceridade extremas. Gosto de honestidade (até certo ponto) e pontualidade. Não gosto de gente que não cumpre o que diz, de formalidades e de fumaça de cigarros.

Minhas atividades quadrinhísticas começaram muito cedo! Tudo por influência dos recém-lançados heróis Marvel na TV. Algum tempo depois saiam suas revistas pela Ebal. E foi depois delas, aos oito anos, que fiz minha primeira HQ: “THOR contra SOLAR, O HOMEM ÁTOMO (personagem da Gold Key lançado pela Ebal em 1966).

Meu personagem próprio só viria em 1969: era o Sabido, na linha de humor. Sabido sairia mais tarde em tiras de jornais e nas revistas que editei.

1972: estava numa fase de apreciar pinturas a óleo. Pintava sobre cartões. Um dia, deu-me na telha “inventar” umas super-heroínas. No fim do ano fiz uma morena de uniforme verde que alongava braços e pernas - era a fêmea do Homem-Borracha - a Garota de Borracha. 

No começo de 1973 pintei uma lourona sobre uma motocicleta vermelha. Seus cabelos eram enormes e suas roupas um tanto avançadas pura a época: uma tanga azul presa a um cinto vermelho, um espécie de bustiê negro semiaberto (folgado para suas formas) e botas marrons. Dei a ela o nome de Welta.

No início do ano letivo de 1973, surgiu entre professores do meu colégio, a ideia de criar um jornal mural, como atividade extraclasse para os alunos. Depois de muitas discussões sobre o assunto, acabei sendo escolhido editor. "O Comunicador' foi o nome escolhido por votação em todo o Colégio Estadual de Jaguaribe. Foi nesse jornal que lancei Welta em páginas coloridas a lápis, uma vez por semana. O pessoal gostou e foram saindo mais histórias. E com elas as modificações decorrentes da evolução natural : as botas da loura passaram de marrons para vermelhas, a fim de combinar com o cinto; sua tanga passa de azul para verde (pois vi que as cores estavam quase iguais às da bandeira dos Estados Unidos). Seus poderes, antes indefinidos foram se fixando na capacidade de emitir disparos de energia. Welta tinha uma identidade secreta: nome que por sinal eu evitava usar , pois "identidade secreta" lembrava sempre os heróis norte-americanos. Quando não era uma loura de 2,20 m de altura, a heroína era uma morena chamada Kate Feels (um nome brasileiro me era bem estranho para uma heroína na época). O pai de Kate era un sujeito retrógrado e de ideias antiquadas, quase sempre atrapalhando suas ações como Welta. Ele não sabia do segredo da filha. Não sabia que num acampamento com a turma do colégio, numa zona verde perto da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte - MG, Kate salvara a vida de um extraterreno, que em gratidão, a expôs aos raios de uma máquina que amplificava a força mental de uma pessoa a níveis inimagináveis por segundos. Durante estes segundos, tudo que a pessoa pensasse se realizaria. Kate quis ser uma heroína.


Acima, Velta em O Pirralho nº 138, ano III, A União, 1979.

1975: dois anos depois de criada, Welta tinha duas simultâneas chances de publicação em dois jornais locais de circulação estadual. Em "A União", Tônho, responsável pela produção diária de tiras com seu vampiro humorístico "O Conde", se afastava temporariamente. Barreto Neto, o Diretor Técnico do jornal e apaixonado por quadrinhos, o substituiu por Welta numa série de 30 tiras, na histórias "A Ameaça Noturna". A série iniciou-se numa sexta-feira, em 1º de agosto de 1975. Enquanto isso, "O Norte" publicava, em seu suplemento dominical, coordenado pelo veterano Deodato Borges, através da sessão "Mande seu desenho", Welta na HQ "Sem Energia" - era o dia 03 de agosto de 1975. Mas havia uma diferença: em "A União", eu era pago pelo trabalho, conseguindo até, posteriormente fixar o ganho em um salário mínimo mensal.

Em 1976 saia minha segunda história em "O Norte": "Surge a Nova", lançando uma nova heroína. Nova, uma androide com cérebro e coração humanos quis tirar o “lugar” de Welta como maior das heroínas brasileiras. Nova era produto do gênio de um cientista polonês, que usara os órgãos de uma moça condenada pelo câncer para ativar um corpo androide que ele construíra.

"Surge a Nova" foi o encerramento de minhas colaborações em "O Norte”, uma vez que, ao exigir pagamento pelas próximas produções à diretoria do jornal, tive o pedido negado.

E no mesmo ano, "A União" lançava seu suplemento de quadrinhos "O Pirralho", e Welta passava a ter páginas dominicais coloridas, além das tiras diárias, onde se alternava com NOVA (que iniciou a série de tiras em 7 de setembro de 1976), o indígena ITABIRA (que estreara em 1975, após a primeira série de tiras de Welta) e O DESCONHECIDO (que era lançado no suplemento numa HQ conjunta com a loura). Itabira era um indígena, chefe da nação Tabajara, criado em 1975, em parceria com meu pai, Emilson Ribeiro. Foi a partir dele que idealizamos A HISTÓRIA DA PARAÍBA EM QUADRINHOS, visto que se tratava de um personagem que vivia na época do Brasil Colônia. O mais incomum, no entanto, foi o lançamento de uma personagem de terror nas tiras do jornal: era MICHELLE, A VAMPIRA, que estreou em 1º de novembro de 1977. E o mais incrível é que Michelle aparecia quase sempre nua e praticando inclusive sexo insinuado com algumas de suas vítimas - tudo isso em um jornal do estado e numa época de repressão a tudo.

Em 1978, mesmo continuando no jornal, lancei minha primeira revista, em parceria com meu irmão Mirson - era a 10-ABAFO, com predominância de humor. 

Welta aparecia como convidada especial na história "Tentativa de fuga". Outro fato incrível foi a revista ter sido impressa grátis, na gráfica da Universidade Federal da Paraíba, por determinação do então diretor, Francisco Pontes, outro  fanático por quadrinhos. Os números seguintes, até o 5 contaram com a ajuda de Pontes, em diminuição gradativa, enquanto a revista se firmava. No nº 2, o nome 10-ABAFO (pequeno) apresentava Welta (grande), contando sua origem e a do indígena Itabira. Só no nº 6, a edição de 1º aniversário, a revista passou a se chamar 'WELTA" e passa a ser inteiramente dela.

Publicada em jornais e revistas, Welta foi amadurecendo cada vez mais, e já no nº 2, com capa colorida, apresentava uma novidade: Kate passava a ser um apelido carinhoso de Katia Maria Farias Lins. Era o início do abrasileiramento progressivo da da personagem. O nº 4 da revista (dezembro de 1979) já diminuiu muito o uso do apelido, Kátia era bem mais usado, até que por fim, tornou-se único.

O fato mais desestimulante foi ocorrido por ocasião do lançamento da WELTA nº 6 (edição de 1º aniversário). Até então eu conseguira distribuir as anteriores tanto no estado de Pernambuco como no do Rio Grande do Norte através de destes estados com os pacotes com os exemplares. Quando fui distribuir a nº 6, a Distribuidora de Pernambuco se recusou a receber as revistas. Em Natal, a distribuidora foi comprada por outra do Rio e teve ordens de só trabalhar com publicações de grandes editoras. Foi uma dupla “quebrada de cara". Fiquei só com a Paraíba, que mesmo assim, tinha no chefe da distribuidora local uma figura não muito simpática. Eu acabaria vendendo minhas edições exclusivamente pelo correio para interessados no gênero.

Em janeiro de 1980 sai o último nº do suplemento "O Pirralho", deixando inacabada a história "Feliz Natal, se conseguir viver...". Era uma nova diretoria que chegava ao "União" que extinguiu também as tiras diárias e dispensou todos os desenhistas da área sob alegação de contenção de despesas, sem falar que "quadrinhos não vendem jornais".

No mês seguinte, o jornal "O Correio da Paraíba", também de circulação estadual, lançava seu suplemento "O Guri", tendo a frente da iniciativa a figura de Deodato Borges. Recomeçava a história de Welta interrompida em "O Pirralho". Infelizmente, o suplemento só durou seis números, deixando a HQ inacabada novamente. Esta só saiu completa na revista gaúcha HISTORIETA, de Oscar Kern. Na ocasião em que saiu em HISTORIETA, Welta já iniciara sua escalada a nível nacional, tendo saído em inúmeros fanzines, revistas alternativas e informativos, sob a forma de histórias, contos, capas, portfólios e artigos.  Até hoje, quase todo fanzine que surge publica algo sobre ela.

Nesse meio tempo eu tentava a sorte nas grandes editoras. Enviei trabalhos para praticamente todas elas. Da maioria nunca tive nem resposta, e quando tinha, era a costumeira "não publicamos material nacional". 

Em 1983, a loura completou dez anos de criação. E, com muito sacrifício, consigo editar um álbum em formatão com 52 páginas. Nele é apresentada a verdadeira origem de Welta: o extraterreno que a transformou volta para pedir sua ajuda contra a invasão de seu planeta por vizinhos humanoides de mais de dois metros de altura. Viajando ate lá na espaçonave do ser, Welta descobre ter sido usada por este como cobaia para testar a perigosa máquina que ampliava a força mental, e se transformara na enorme loura, forçada hipnoticamente pelo ser. Pois seu tipo físico ficara igual ao das mulheres do planeta invasor. Ou seja, além de cobaia de experiência, o ser a queria usar como espiã e arma de guerra. Ela se irrita e castiga o extraterreno, e, no final da aventura, passa a refletir sobre tudo o que aconteceu. Outra história do álbum mostra o que teria acontecido se Katia tivesse se transformado numa preta e não numa loura. Aí tem início uma nova série com MYRA, uma Welta de uma realidade alternativa, apresentada como uma mulher brasileiríssima. Era mais uma fase de abrasileiramento.

Tudo continua no suplemento "Leve Metal" da revista "Presença Literária", publicada pela Secretaria de Educaçao da Paraíba. O nº 3, de outubro/novembro/dezembro de 1984, continua do ponto onde parou a edição "Dez anos de Welta", onde Katia resolve abolir seu símbolo parecido com a letra "W", do qual tirara seu nome (uma vez que tal símbolo pertencia ao governo do planeta do ser que a usou). Na história, ela apresenta um novo logotipo e anuncia que seu nome a partir de então será escrito como foi pronunciado - ou seja - VELTA . O assunto principal do roteiro gira em torno de uma crítica ao Sistema Financeiro de Habitação da época, continuando uma linha iniciada na revista "Gran Circus", também patrocinada pela SEC, através da Oficina Literária. A HQ em questão, "Fome", mostra a loura ajudando um ladrão numa história humana e reflexiva, bastante elogiada pela critica. "Leve Metal" nº 4 continua a saga de MYRA (a Velta preta da realidade alternativa), em outra história de cunho critico e humano intitulada "Pau de Arara". Era minha intenção continuar intercalando Velta e Myra na "Leve Metal", no entanto a revista principal foi cancelada por problemas políticos (uma constante no estado da Paraíba).

1985: era o ano do 400º aniversário da Paraíba, e eu fui apresentar o projeto da HISTÓRIA DA PARAÍBA EM QUADRINHOS à Comissão Organizadora das Comemorações do evento. Surpreendentemente, fico sabendo que outra pessoa havia sido contratada para projeto idêntico. Constrangedoramente, descubro tratar-se de uma, dupla de velhos "amigos" meus, que, como tais, já sabiam da existência do trabalho desenvolvido por mim e meu pai, mas mesmo assim trocaram a amizade por alguns milhões de cruzeiros. Nosso trabalho foi publicado no jornal "O NORTE" no dia 05 de agosto, parcialmente.

Em 1985, começo a trabalhar para a PRESS EDITORIAL e estreio na revista COISAS ERÓTICAS nº 4, com minha personagem "Fátima, a Mutante", uma transmorfa, filha de uma extraterrena com um assaltante. A recepção do público leitor é excelente e Franco Rosa, o editor, me pede mais personagens, usando neles, além do roteiro, doses de sexo explícito e temas fortes. Fátima foi criada originalmente em 1981 e iria ser submetida à Grafipar, a editora paranaense que explodira no mundo dos quadrinhos só publicando material nacional. Antes de Fátima chegar lá, a editora faliu. Ela ficou, então engavetada. 

Também pela PRESS, "ressuscito" Michelle, a Vampira, que estreou na revista VAMPIRO nº 5. As histórias publicadas em tiras no jornal "A União" são reformuladas e redesenhadas. Em agosto de 1986 volto a publicar independentemente: lanço o MINIZINE, um fanzine em tamanho 1/4 de folha ofício, cuja série foi começada em 1983 (quando a loura ainda usava O nome com "W"). Na ocasião eu havia conseguido fotolitar seis números da série e aguardava condições para a impressão, que só muito tempo depois surgiram. O seriado continua do ponto onde termina a história da revista HQ, de Deodato Filho - onde seu personagem O NINJA foi lançado numa história conjunta com a heroína loura. O Minizine apresenta uma saga da luta entre a heroína e VERA, A CAMALEOA, que é meia-irmã de Fátima, a mutante, também transmorfa.

E finalmente Velta sai nas bancas de todo Brasil pela Press Editorial. Infelizmente na linha erótica. Há alguns anos eu havia produzido, a título de experiência, duas HQs eróticas com a lourona, e as distribui entre amigos. Franco de Rosa, o editor da Press, as viu e me pediu para refazer uma delas, que saiu no especial "SACANAGENS COM VELTA - AS HISTÓRIAS SECRETAS". Não era, na verdade, o que eu pretendia para ela. Pois Velta foi concebida para a linha de ação e aventura, e era assim que eu gostaria de mantê-la.

Para um futuro breve, vou produzir uma série com a androide Nova, que deverá estrear na revista "ANDROIDE", pela Press, sob editoria de Ofeliano de Almeida. A continuar assim, é provável que outros e outras personagens de minha autoria sejam relançados(as), desta feita em revistas de circulação nacional. Para atualizar as séries, é possível que muitos conceitos e fatos constantes nos roteiros originalmente publicados em jornais, fanzines e revistas alternativas, venham a ser alterados, também para não confundir os novos leitores. Os antigos, entretanto, sabem de toda esta odisseia...

A notícia mais recente a respeito da Velta foi o comentário elogioso feito na revista INCRÍVEL HULK nº 39, da Editora Abril, ao responder uma carta minha. Velta já consegue então, despertar a atenção das grandes editoras. O que não era sem tempo, pois há centenas de fãs dela espalhados por todo o país. Muitos destes me escrevem se dizendo até perdidamente apaixonados por ela. Alegro-me muito ao saber como minha personagem consegue despertar tais emoções nos leitores. É gratificante vê-la tratada como uma pessoa que EXISTE. Faz sentir que minha criação é uma pessoa viva.

Até o fechamento desta matéria, na Bahia, começa a funcionar o "CLUBE DA VELTA", idealizado pelo fanzineiro Gonçalo Silva Jr., que terá um fanzine oficial, com a lourona como tema principal. Gonçalo irá arregimentar associados que receberão até carteirinhas de sócio, com direito a revistas e tudo o mais. A ideia visa divulgar a HQ nacional e captar leitores novos, ainda com a visão restrita para os quadrinhos importados dos Estados Unidos.


Acima, Velta em 10-Abafo nº 01.