Publicado na Tribuna da Imprensa, jornal carioca de Carlos Lacerda, entre 1950 a 1953, Seu Tribulino era uma tira sem balões criada por Hilde Weber.
Foi um dos pouquíssimos trabalhos em forma de tiras da desenhista.
Em 19/07/1950 surge a primeira tira, um pouco depois da autora ser contratada como ilustradora e chargista fixa do jornal e após uma série de anúncios de um concurso conclamando os leitores a votar em um nome para o personagem.
A tira aparece sempre em destaque, geralmente na página 2 ou 3 e frequentemente no alto. Percebe-se no personagem influências da charge diária assinada por Hilde no mesmo jornal. A série não tem diálogos mas se vale de frases escritas em cartazes ou na parede, uma ou outra vez surge um tímido balão de fala e tem sempre um título que dialoga com os desenhos, livres e soltos, como era o Getúlio Vargas desenhado pela artista e tão espinafrado pelo diário de Lacerda, a essa altura um ex-comunista com bom trânsito entre os católicos.
Se conceitualmente Seu Tribulino lembra o Juca Pato de Belmonte, desnudando as mazelas da vida da classe-média, esteticamente a tira remete aos cartuns mudos europeus, principalmente à série Pai e Filho do cartunista alemão E. O. Plauen, que inclusive foi publicada no suplemento infantil do jornal chamado A Tribuninha, provavelmente por indicação da própria Hilde.
Pai e Filho de E. O. Plauen
Eram comuns nessa época os concursos com prêmio em dinheiro nos jornais brasileiros, com o intuito de aumentar as tiragens, por isso, não é de se estranhar que o nome da personagem tenha sido escolhido pelos leitores dessa maneira.
Agradecimentos ao amigo Marcos Eduardo Massolini pela dica do personagem!
Charge de Hilde - 1951
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Hilde Weber Abramo - Waldau, Alemanha, 1913 - São Paulo, SP, 1994.
Chargista, ilustradora, desenhista, pintora, ceramista. Em 1932, conclui os estudos na Escola de Artes Gráficas de Hamburgo. Nesse mesmo período, inicia cursos de desenho e de pintura e trabalha como ilustradora em jornais e revistas em Altona, na Alemanha.
Em 1933, chega ao Brasil para reencontrar-se com o pai, que viera para cá em 1918, após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Hilde Weber permanece no país e, no Rio de Janeiro, atua ao lado de Rubem Braga (1913 - 1990), realizando ilustrações para os Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892 - 1968).
Entre 1943 e 1950, vive em São Paulo e passa a criar ilustrações para os periódicos Folha de S. Paulo, Noite Ilustrada, O Cruzeiro e Manchete.
Estuda pintura com Bruno Giorgi (1905 - 1993) e, com Alfredo Volpi (1896 - 1988) e Mario Zanini (1907 - 1971), dedica-se à cerâmica e à pintura de azulejos na Osirarte, de Rossi Osir (1890 - 1959).
Em 1949, desenha o cenário para a peça teatral Baile dos Ladrões, de Jean Anouilh (1910 - 1987). Em 1950, transfere-se para o Rio de Janeiro e trabalha na Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda (1914 - 1977).
Ilustração para A Tribuninha -1951
Torna-se conhecida pelas charges políticas e caricaturas do presidente Getúlio Vargas (1882 - 1954). Em 1962, muda-se em definitivo para São Paulo e atua como colaboradora no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1960, recebe o prêmio Seção América Latina do Concurso de Caricaturas do World Newspaper Forum, pelas melhores charges internacionais. Participa da 1ª a 4ª e 6ª edições da Bienal Internacional de São Paulo. Publica Brasil em Charges 1950-1985, pela Circo Editorial, em 1986. Hilde Weber figura entre os principais chargistas políticos da imprensa brasileira. Entre seus trabalhos, destacam-se, sobretudo, os realizados na década de 1950 e publicados diariamente na primeira página da Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda (1914 - 1977). Ferrenho opositor do governo de Getúlio Vargas (1882 - 1954), Lacerda utiliza-se do jornal para exigir a renúncia do presidente. As caricaturas criadas por Weber tornam-se, então, emblemáticas dessa campanha
política.
Talvez tenha sido Hilde Weber quem melhor retrata o momento de crise da Era Vargas.
Charge de 1950
Por meio da ilustração diária dos acontecimentos políticos e cotidianos do Brasil, Weber torna-se uma cronista a narrar, de maneira bem-humorada, situações tensas e dramáticas.
Sem deter-se nos detalhes, trabalha com traços rápidos, inacabados, que parecem dialogar com a própria velocidade dos fatos. A economia nos traços e a constante preocupação em comunicar dão a precisão dos comentários críticos, ela define o desenho como a técnica ideal para “dizer tudo com pouco”.
Com a publicação do livro Brasil em Charges 1950-1985, em 1986, Hilde Weber organiza a parte da história política brasileira, comentada por seus desenhos nas páginas dos jornais.
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