Pelezinho em 1979 na Gazeta de Vila Prudente com o título de "Pelé".
Em 1976 era apresentada ao pública a tira oficial de Pelezinho. Diferentemente das experiências anteriores, esta era baseada nas características do Rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé (1940-2022).
Criada por Maurício de Sousa com a anuência do jogador, a série foi publicada nos mais diversos jornais, como a Folha de S. Paulo e a Gazeta de Vila Prudente.
Em seu livro O Mundo dos Quadrinhos de 1977, Ionaldo Cavalcanti escreve: "Pelé - Série humorística lançada em 1976 em tiras diárias na Folha de São Paulo. Criada nos estúdios de Maurício de Sousa, esta série, cujo tema central é o futebol, pretende aproveitar a grande popularidade do "Rei", contando suas travessuras futebolísticas durante sua infância".
Em seu livro O Mundo dos Quadrinhos de 1977, Ionaldo Cavalcanti escreve: "Pelé - Série humorística lançada em 1976 em tiras diárias na Folha de São Paulo. Criada nos estúdios de Maurício de Sousa, esta série, cujo tema central é o futebol, pretende aproveitar a grande popularidade do "Rei", contando suas travessuras futebolísticas durante sua infância".
Abaixo segue a matéria publicada pela Folha quando do lançamento da tira:
Folha de São Paulo
Terça-feira, 5 de outubro de 1976
"Pelezinho", o novo personagem de Maurício de Sousa, mostra as aventuras do "menino-Pelé" na sua infância, construindo jogos, os amigos e a vida do futebolista.
Pelezinho e sua turma, uma história bem brasileira.
Maria José Arrojo
As histórias em quadrinhos sempre procuram retratar (principalmente as dirigidas ao público infantil) personagens que não existem na realidade. É o caso das aventuras vividas por Pato Donald e sua família (Walt Disney). As primeiras tentativas em atribuir a "personagens-gente" histórias que pudessem mostrar brincadeiras vividas pelas crianças surgiram com os "Peanuts" - Charlie Brown e sua turma.
O Brasil há até pouco tempo importava as peripécias desses personagens infantis, tentando atribuir-lhes algumas características brasileiras. Contudo, foi a partir de "Cebolinha", "Mônica" e "Cascão" que o público infantil brasileiro pode ver historinhas tipicamente brasileiras, enquadradas no contexto dos jogos e folguedos brasileiros.
Surgem agora, as tiras que vão fazer tanto o público infantil como o adulto vibrarem. Trata-se de "Pelezinho", como será chamado o personagem, transportada para história em quadrinhos que Maurício de Sousa lança hoje em caráter internacional, e que devem mostrar não o "Pelé-Rei", mas o menino Pelé, criança característica brasileira pelas suas brincadeiras de rua.
A IDEIA
Até se chegar ao lançamento, muitas transações e reuniões aconteceram. A primeira vez que Maurício de Sousa pensou em lançar Pelé em histórias em quadrinhos, mostrava o jogador ilustrando fatos esportivos. Nessa época não havia só o problema de se encontrar a fórmula ideal para aproveitar a figura Pelé e seus famosos momentos no futebol em histórias em quadrinhos, como também os problemas relacionados a contratos. Por isso, "Pelezinho" esperou um pouco mais para nascer.
As ideias continuaram no plano abstrato até o encontro de Pelé com Maurício de Sousa, num avião quando voltavam de Roma para São Paulo: Maurício voltava de um congresso internacional sobre quadrinhos, onde há havia exposto suas ideias e Pelé, então jogador do Santos, voltava de mais uma de suas excursões.
"De inicio, Pelé relutou em aceitar a ideia, ver sua imagem ligada a um personagem com feições estritamente infantis", explica o criador de "Cebolinha", acostumado a ver-se ligado a há caricaturas ou, ainda, como veículo de difusão do futebol brasileiro.
A defesa de Mauricio: o personagem seria dirigido às crianças e não aos adultos. "Leve para sua criançada, se disserem "Ah! Que bonitinho" pode acreditar que o pelezinho foi aprovado", foi a argumentação de Maurício.
Com isso, o primeiro obstáculo já havia sido vencido. Precisava-se elaborar agora a forma final do desenho. Nisso, até Rose (esposa de Pelé) opinou: preferia um que se assemelhasse ao filho do casal.
WARNER X UPI
Pelé vinculado a LCA, agência da Warner que cuida da elaboração de quadrinhos; Maurício à UPI, encarregada da distribuição de "Cebolinha" e "Mônica" para os países da Europa constituia então o problema de mais difícil solução.
Por incrível que possa parecer, a LCA resolveu liberar Pelé, fundamentalmente por dois motivos: primeiro, porque nos Estados Unidos, atualmente, não há muito prestigio em torno de histórias em quadrinhos e em segundo: a Warner tem interesses em difundir a imagem do Pelé. E, nessa transação de contratos a United conseguiu a exclusividade das tiras de "Pelezinho".
"PELE"
As tiras que serão distribuídas diariamente em jornais levarão o nome de "Pelé", na forma da assinatura que é caracteristica do jogador. Cerca de 50 jornais brasileiros terão o "Pelezinho" em suas páginas, de preferência dentro dos cadernos de Esporte de cada jornal; uma vez que o interesse será maior.
A distribuição não se limita porém no campo nacional: de 30 a 40 paises terão as versões das histórias, como já é feito com "Horácio" no Japão e "Cebolinha" na Alemanha.
Com ajuda do próprio Pelé que envia regularmente passagens de sua infància, Mauricio de Souza pôde construir toda uma "família" para os quadrinhos. "Sem a assessoria de Pelé, não conseguiria elaborar nem o conteúdo das tiras como hoje é, nem a descrição perfeita de detalhes de seus amigos", assegura Maurício.
Pelé chegou a elaborar uma lista de brincadeiras de infância para melhor construir as situações: jogos de futebol; "canudo envenenado", jogo de pião, "estilingue", cabra-cega e outras típicas, que já fazem parte do folclore brasileiro.
Pelé passou sua infância em Bauru, no interior paulista, e é desse cenário que Pelé escreve para Maurício: "As ruas de Bauru não tinham calçamento. Então um dia, um garoto falou que o pai dele tinha escutado na Prefeitura que iam calçar as ruas de Bauru. A primeira coisa a ser calçada, seriam as calçadas. Imediatamente a turma Pelé começou a pensar o que iria fazer com a nova rua. Então veio a ideia de fazermos os carrinhos de rolimã". E por aí vai a brincadeira que veio relacionada como "Carrinho de Rolimã", onde Pelé descreve até como conseguiram as peças e como se faz esse brinquedo, enviando um esboço com desenhos, de como construir o carrinho.
Fazendo parte dessa relação estão as festas de "São João": "Em quase todos os bairros soltavam balão. Nossa turminha com o "estilingue" furava o balão e aí ele não subia. Um dia levamos um castigo, porque estávamos escondidos atrás da árvore e lá tinha uma casa enorme com maribondos. Eles nos morderam e no dia seguinte todos estávamos com o olho inchado, boca inchada. Com respeito a São João não é preciso falar, você sabe como são essas festas". (Esses trechos são extraídos de uma relação em que o próprio Pelé endereçou a Mauricio").
Por ser de caráter internacional o lançamento, Maurício considera que será de grande valia para a propagação da cultura e do folclore brasileiros para o mundo: "Uma das maiores preocupações de Pelé é a imagem que a cultura pode ter lá fora", afirma Maurício" - e ele fica muito chateado quando dizem certas coisas a seu respeito, principalmente quando assinou contrato com o "Cosmos" de Nova Iorque.
OS PERSONAGENS
Frangão; Teófilo, Cana Brava; Bonga; Rex, o cavador e Samira serão os primeiros da "turminha de Pelé" a entrarem em ação. Para isso, foram feitas algumas subtrações dos personagens inicialmente indicados por Pelé: "Como você pediu, aqui vão alguns apelidos para serem selecionados para a estória Pelé", é o que escreve o jogador a Maurício de Sousa quando da elaboração dos personagens.
A característica de cada tipo foi feita não somente pelo desenhista, mas pela ação conjunta de sua equipe formada por nove pessoas e mais o jogador. Essas caracteristicas podem ser atribuídas a qualquer menino do interior pela sua universalidade, que é também um dos pontos que Maurício pretende atingir para as histórias internacionais.
Com todos esses personagens, Maurício de Sousa pretende lançar até o final deste ano uma série de desenhos animados, não funcionando somente com publicidade, mas estórias curtas intercalando alguns programas para a televisão.
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