segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Pismuga - O Estado do Paraná - 1986

Criado pelo hoje publicitário e artista plástico, Carlos Chá, aos 16 anos em 1986, Pismuga era um garotinho que vivia suas aventuras ao lado de seu irmão Osório e da sua paixão não correspondida, a garota Sile.

Foi publicado nos jornais O Estado do Paraná, Gazeta do Povo e Correio de Notícias, entre outros.

Apesar do desenho já bastante elaborado, a temática das histórias revelava a tenra idade de seu autor: problemas escolares, brigas entre irmãos e revezes cotidianos.

Pismuga teve revista própria pela editora Fama em 1987 e foi publicado em livro pelas editoras Gralha Azul em 1990 e pela editora Alphagraphics em 1993.

Para ver outras tiras do personagem visite o site do autor, clicando aqui.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Joselito - Entrevista - 1972

Em fevereiro de 1972 o jornal O Poti, Natal - RN, em sua página Quadrinhos, a cargo do GRUPEQ (Grupo de Pesquisa em História em Quadrinhos) publicou uma entrevista com o quadrinhista Joselito. Leiam a seguir:

Joselito: "Quadrinho no Brasil nunca teve valor"

Debruçado sobre a mesa de trabalhos estava ele. Cabelos grisalhos, costeletas compridas e uma serenidade de gênio, rabiscava o papel preparando o layout de uma capa de disco. Pergunta: ''Joselito, porque você abandonou os quadrinhos?” Resposta: Por que não dava mais pra viver deles". A resposta curta e seca, dita sem nem sequer levantar os olhos, exprimia toda a decepção e angústia de um artista que há tempos atrás foi considerado como um dos maiores desenhistas de histórias em quadrinhos do Brasil: Joselito de Oliveira Matos, baiano, 47 anos, solteiro, criador de personagens conhecidíssimos e amados por toda a infância e juventude de uma década, como PITUCA, LOUROLINO, REMENDADO, ZULU e tantos outros, publicados pela revista Vida Infantil (da Sociedade Gráfica “Vida Doméstica”) e Sesinho (do Serviço Social da Indústria).
JOSELITO: QUADRINHOS NÃO DÁ.

QUEM É JOSELITO

De estatura mediana, muito calmo, voz macia, atitudes sofisticadas, Joselito é também possuidor de uma particularidade: pouco fala e raramente sorri. Isolado em seu luxuoso apartamento que também lhe serve de estúdio de Desenho e Fotografia, na Avenida Mem de Sá, no Rio de Janeiro, ele produz capas de discos para quase todas as companhias gravadoras do Brasil, tendo inclusive já ganho prêmios nos Estados Unidos e Inglaterra. Foi em seu apartamento que dois jovens do GRUPEHQ, Emanoel Amaral e Lindberg Revoredo, foram encontrá-lo e trazer para os leitores de O POTI e amantes das Histórias em Quadrinhos, suas declarações sobre esta arte, para que todos saibam o que ocorre com ela no Brasil.

COMEÇO DE CARREIRA
Joselito na Vida Infantil, 1947, à direita a estreia de Pituca.

GRUPEHQ: Como foi que você começou sua carreira de desenhista?

JOSELITO: Bem, não me lembro a idade em que comecei. Sei apenas que sempre gostei muito de desenhar. Minha carreira profissional começou, contudo, quando vim ao Rio à procura de emprego. Cheguei em 1946 e comecei a trabalhar na Sociedade Gráfica “Vida Doméstica” como desenhista. Em 1949 comecei a desenhar histórias em quadrinhos para a revista “Vida infantil” da mesma Editora.

GRUPEHQ: Quais os personagens que você criou nessa época?

JOSELITO: Pituca, Remendado, Lourolino e Zulu.
Pituca no Almanaque Vida Infantil, 1957.

GRUPEHQ: Quando você entrou para o Sesinho?

JOSELITO: Desde a sua fundação em 1948, e lá permaneci até o seu extermínio em 1961. No Sesinho eu desenhava Champanhota, Puga, Gigi e o Coelho... (Joselito coça a cabeça, ajeita os óculos, parece não se lembrar o nome de seu personagem. Depois de um instante de hesitação, continua). Ora! Ora! Sei lá o nome do raio do coelho!
Joselito no Sesinho, 1951.

GRUPEHQ: Você já fez algum curso de desenho?

JOSELITO: Sim. Fiz um curso rápido na Escola de Belas Artes, logo que cheguei ao Rio em 1946. Fiz seis meses de desenho e pintura.

GRUPEHQ: Quer dizer que você não chegou a terminar o curso? Por quê?

JOSELITO: O próprio professor me aconselhou a abandonar o curso, insinuando que o meu gênero era outro. O meu negócio era quadrinhos.

VENDO A REALIDADE

GRUPEHQ: Por que foi que você abandonou os quadrinhos?

JOSELITO: Porque não dava mais pra viver deles.

GRUPEHQ: Como assim?

JOSELITO: Quando eu fazia quadrinhos, trabalhava dez vezes mais do que agora e recebia dez vezes menos. Como veem, abandonei os quadrinhos por questões puramente financeiras.
Joselito nas capas da coleção Disquinho da gravadora Continental.

GRUPEHQ: Essa sua nova atividade criativa lhe traz grandes lucros?

JOSELITO: Ah, sim! Faço capas de discos para quase todas as companhias de discos do Brasil, como a ODEON, MUSIDISC, EQUIPE, TEPICAR, SIDNEY, CIA INDUSTRIAL DE DISCOS CONTINENTAL e outras. Isto me dá um tutu bem satisfatório.

GRUPEHQ: Você gostaria de voltar a desenhar histórias em quadrinhos?

JOSELITO: Não.

GRUPEHQ: Por quê?

JOSELITO: Porque, infelizmente, no Brasil quadrinho nunca teve o merecido valor. O desenhista que se dedicar a esse ramo quase sempre entra pelo cano, com raríssimas excessões, como é o caso de Mauricio de Sousa que, segundo me consta, foi o único a vencer até agora.
Joselito desenha os slides do projetor Cine Barlan.

GRUPEHQ: Mas você gosta de desenhar quadrinhos, não é mesmo?

JOSELITO: Sim. Eu gosto. Eu morro de rir com meus próprios desenhos. Quando começo a desenhar uma historieta, eu entro no mundo desta historieta e me transformo completamente. Se os personagens estiverem tristes eu também fico triste. Se eles estiverem alegres ou numa cena engraçada eu acho graça e vibro como se fosse um leitor de minha própria historieta. Esse também foi um dos motivos para eu ter parado de desenhar HQ. Se eu continuasse, teria que produzir bastante para ganhar mais e aí as historietas iriam sair malfeitas. Sempre fiz meus desenhos com muito cuidado e muitos detalhes. Nunca fui de matar um desenho, por isso abandonei os quadrinhos.

GRUPEHQ: Você participou do Movimento de 1964, que visava a criação de uma lei que protegesse os quadrinhos nacionais?

JOSELITO: Não. Veio uma turma aqui em casa me convidar para participar, mas eu não aceitei.

GRUPEHQ: Por quê?

JOSELITO: Olhe, eu gostei muito e admirei demais movimento deles. Mas, infelizmente o negócio é o seguinte: eu trabalho com capas de discos que me rendem muito bem. Toda hora tem serviço. Se eu paro um minuto pra fazer quadrinhos, deixo de ganhar muito e passo a ganhar pouco, entendeu?

GRUPEHQ: Suponhamos que você recebesse uma oferta para desenhar quadrinhos ganhando muito mais do que você ganha atualmente. Você aceitaria?

JOSELITO: Sim. Nesse caso aceitaria. Só que acho muito difícil isto acontecer.

SUAS PREFERÊNCIAS

GRUPEHQ: Fora o desenho, qual a outra atividade artística que mais admira?

JOSELITO: A Música.

GRUPEHQ: Que tipo de Música?

JOSELITO: Gosto muito de música romântica. Admiro Chico Buarque e Martinho da Vila.

GRUPEHQ: Gosta de ler?

JOSELITO: Não. Não tenho paciência pra enfiar a cara num livro e passar várias horas assim.

GRUPEHQ: Evidentemente, você deve gostar de ler histórias em quadrinhos, não é mesmo?

JOSELITO: Sim. Gosto muito de ler revistinhas. Gosto demais dos personagens de Walt Disney, do "Ferdinando" de Al Capp, do “Flash Gordon'' de Alex Raymond e do “Principe Valente”, de Harold Foster.

GRUPEHQ: Gosta de Cinema?

JOSELITO: Gosto demais. Tenho predileção. Aprecio qualquer filme bem feito, de qualquer gênero. Só não sou muito fã de cinema nacional.

"AO GRUPEHQ, SUCESSOS!”

GRUPEHO: Joselito, como nós já lhe explicamos, somos um grupo de jovens que luta pelos quadrinhos nacionais. Lá em Natal, publicamos no jornal O POTI, semanalmente, duas páginas de histórias em quadrinhos, críticas, comentários, reportagens e historietas. Publicamos também uma revistinha mensal (GIBI NOTÍCIAS), só sobre histórias em quadrinhos. Anualmente fazemos uma exposição de originais de historietas. A deste ano será em setembro. Para ela já conseguimos vários originais de desenhistas famosos como Flávio Colin, Gutemberg Monteiro, Henfil, Jaguar e outros. Gostaríamos também de receber um desenho seu. Será possivel?


JOSELITO: Claro! Só que eu não possuo nenhum original meu no momento, pois todos eles ficaram nas editoras em que trabalhei. Mas dá-se um jeito. (Joselito pega uma folha branca, um lápis e após alguns rabiscos rápidos surge da folha branca uma cena engraçada. Em questões de segundo passa o nanquim e oferece: “Ao GRUPEHQ desejando muito sucesso, Joselito”).

NOTA: Ao publicar este depoimento do grande criador em quadrinhos da década de 50, o GRUPEHQ acredita haver prestado um serviço aos quadrinhos nacionais: revelar concretamente a asfixia cultural em que se debatem os nossos desenhistas. Enquanto que nos Estados Unidos os autores de historietas quadrinizadas ganham salários altíssimos, pagos pelos sindicatos de produção; enquanto que na Europa existem editores especializados em quadrinhos, pagando muito bem aos desenhistas e roteiristas — no Brasil o gênero foi relegado à categoria de sub-arte, menosprezado, absorvido por uma estrutura cultural bacharelesca. Por isso mesmo que o GRUPEHQ existe: para criar consumo, para romper o falso tampão cultural que evitou se recompensasse como mereciam os autores de nosso quadrinho.

*Agradecimentos ao amigo João Antonio Buhrer pela imagem do slide Barlan e ao Marcos Massolini pela dica da entrevista.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Pererê - Jornal do Brasil - 1976

As aventuras do Pererê no Jornal do Brasil, 1976.

O Pererê de Ziraldo começou a ser publicado em formato de cartuns em 1959 na revista O Cruzeiro

A partir de outubro de 1960 foi lançado em formato de revista em quadrinhos pela mesma editora O Cruzeiro, sendo considerada a primeira revista inteiramente colorida de personagem nacional. 

Pererê no formato cartum em O Cruzeiro, dezembro de 1959.

Houve uma tentativa de se confeccionar uma série de tiras diárias para os jornais, mas que acabou não sendo levada adiante. A criação ficaria a cargo de um jovem iniciante: Mauricio de Sousa. Em depoimento a este blog (que pode ser lido integralmente aqui) Mauricio fala sobre o assunto: 

  • "Mauricio: E não tem só essa história. Tem tiras do Pererê que eu desenhei que também se perderam. 
  • JAL: O Ziraldo... Você entregou pra ele, né? 
  • Mauricio: Entreguei pra ele. Ele perdeu. 
  • LR: Mas o Pererê do Ziraldo ou um Pererê qualquer? 
  • JAL: Do Ziraldo! O Ziraldo pediu pra ele desenhar. 
  • WAZ: Mas quando foi isso? 
  • Mauricio: Nos anos 60. Eu morava em Bauru, tava trabalhando na Folha, fazendo as tirinhas da Folha. Daí, eu queria fazer gibi. As principais editoras do país estavam no Rio de Janeiro, inclusive a Cruzeiro, com o Pererê. Então eu cismei e falei, bem, eu vou levar o meu material, as tiras e tudo o mais como amostra e vou passar lá pela Rio Gráfica, Ebal, O Cruzeiro, pra oferecer meu material. E fiz isso. Peguei o trem, o trenzinho, lá em Bauru tem um trem, que eu pegava naquele tempo, parei em São Paulo e fui para o Rio de Janeiro, duro pra caramba, peguei uma pensãozinha no zona do cais do porto pra parar um pouquinho e em seguida fui para O Cruzeiro pra procurar o Ziraldo. Fui bem recebido, um lugar bonito, com ar condicionado, que eu detestava por causa daquele frio, mas paciência. E o Ziraldo me recebeu bem, e eu falei pra ele: gostaria de estudar uma possibilidade de publicar alguma coisa aqui também, de repente, uma revista. Ele disse: tá bem difícil, a situação aqui já não tá muito boa, a minha revista tá ameaçada de não ter continuidade, mas nós trabalhamos com os Diários Associados e os Diários têm tiras também, de repente, pra tiras você pode conseguir melhores condições aqui nos Diários Associados e, já que eu estou aqui fazendo revista, você não pode me fazer umas tiras do Pererê, que me faz falta, tiras de jornal. Saberia fazer? Eu disse: Posso tentar. Voltei lá pra minha pensãozinha no cais do porto, que era ruim, e fiz quatro ou cinco tiras grandonas assim, bem no estilo americano, e levei pra ele lá no Cruzeiro.
  • WAZ: E eram piadas curtas? 
  • Maurício: Piadas curtas. Eu fiz. Já tinha facilidade. Levei pra ele lá no Cruzeiro. Ele falou: deixa aí que eu vou mostrar pro pessoal e ver o que acontece. E não aconteceu nada nunca, nunca mais! Fora tudo isso me perdeu as tiras. Falou que vai procurar, que deve estar lá no meio das coisas dele, não sei onde, que ele faz questão de levantar e vender porque acha que vai conseguir um bom preço (risos). "
Anúncio da revista Pererê em O Cruzeiro, outubro de 1960. Ao lado, prova da capa da revista Pererê de maio de 1964, que nunca foi lançada.

A revista foi interrompida em março de 1964, quando teve editado seu último número. O interrupção se deu, segundo o próprio autor, por motivações políticas, já que Ziraldo tinha um espectro de pensamento mais à esquerda, o que vinha de encontro às intenções do governo militar.

Ziraldo partiu para outros projetos, mas sem nunca esquecer seu personagem, que tanto sucesso havia feito no iníco dos anos 1960.

Com o lançamento do semanário O Pasquim em 1969, O Pererê teve oito aventuras publicadas no tabloide no início de 1971. Eram quatro páginas de quadrinhos por página de jornal. Como a publicação tinha uma linha editorial mais voltada ao noticiário político, O Pererê acabou não obtendo a resposta esperada e foi descontinuado no veículo.

Pererê n'O Pasquim em 1971. Quatro páginas da revista por página de jornal!

Em 1975 O Pererê foi lançado novamente em uma revista em quadrinhos, dessa vez pela editora Abril.

Fazendo parte também dese pacote de lançamentos o Jornal do Brasil publicou, em seu suplemento Quadrinhos, uma página dominical colorida do personagem.

A nova edição da revista durou apenas dez números, até abril de 1976. Então, essa foi por enquanto, a última tentativa e levar o personagem às páginas dos jornais, embora o personagem tenha tido outras publicações em bancas e livrarias ao longo dos próximos anos.


O Pererê na revista A Cigarra em abril de 1957.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Cinthia - Notícias Populares - 1983

Criada por Paulo Yokota, Cinthia era publicada em 1983 no jornal Notícias Populares, SP.

Fotógrafa e especialista em artes marciais, Cinthia viajava o Brasil fotografando e combatendo pistoleiros, latifundiários desonestos e contrabandistas, sempre com a intenção de auxiliar seus amigos, geólogo, arqueólogos ou pesquisadores de várias áreas. Garota livre, Cinthia não se furtava em viver aventuras amorosas com os mais diversos parceiros, desde que fossem gente honesta.
 
Segundo o próprio autor, em depoimento ao blog: 
 
"Cinthia é uma órfã adotada por um casal que muda para Europa. Da Europa esse casal muda-se para África do Sul. Só que lá, esse casal morre e ela é adotada por um militar, que cuida dela treinando com táticas militares e luta de ataque e defesa. Só que a Cinthia, consciente de sua origem brasileira, decide voltar para o Brasil, apesar da oposição do militar que a treinou. A primeira história fica nesse drama dela fugir para o Brasil com a ajuda de uma nativa e uma amiga. Consegue o feito, e as histórias seguintes são as suas aventuras no Brasil, fazendo uso de todas as suas habilidades adquiridas para enfrentar os vilões que surgirem em seu caminho".

A heroína teve também suas aventuras publicadas no jornal Hora do Povo e na revista independente Historieta, a partir de sua décima edição, em 1992.

Yokota criou também para os jornais a heroína Quiodies.
Paulo Yokota em 1980 na revista Quadrinhos (edições Agraf).