sábado, 26 de dezembro de 2020

O Gordo e o Magro - Diário de Pernambuco - 1936


Em 1936 o cartunista Figueiredo apresentou no suplemento infantil O Gury, do Diário de Pernambuco, as aventuras da dupla O Gordo e o Magro, baseadas nos cômicos do cinema norte-americano Stan Laurel e Oliver Hardy.


Embora as histórias não fossem identificadas como sendo dos dois comediantes, nas legendas os personagens eram identificados como o Gordo e o Magro.

A dupla já havia tido histórias em quadrinhos desenhadas por outro brasileiro, o desenhista Francisco Acquarone na revista O Tico-Tico em 1934, mas eram anúncios em forma de quadrinhos de produtos de higiene e cosméticos como o sabonete Beija-Flor e a pasta de dentes Oriental (abaixo).

Para saber mais sobre O Gordo e o Magro d'O Tico-Tico visite o site HQ Retrô clicando aqui.

 

 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

As Aventuras do Gury - Diário de Pernambuco - 1936

Em janeiro de 1936 estreava, no Diário de Pernambuco, o suplemento infantil O Gury, com direção de Tio Juca, o jornalista Fernando Spencer.


Com isso estrearam também As Aventuras do Gury, criação do cartunista Corrêa (segundo Enrique Lipszyc no catálogo da Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, MASP, 1970, é Abílio Corrêa, criador do Zé Farol). A série focava nas travessuras e ingenuidades de um garoto e seu cachorro Cotó, bem na linha dos quadrinhos infantis da revista O Tico-Tico.

Os desenhos de Corrêa mostravam forte influência dos personagens do animador norte-americano Charles Mintz, como podemos notar na figura abaixo.

A revista O Guri (Gury), lançada em 1940, pertencia ao Diário da Noite, do Grupo Diários Associados, que também comandava vários Diários regionais, como o Diário de Pernambuco e de Natal. Então o nome O Gury, não é mera coincidência. O suplemento O Gury, do Diário de Pernambuco republicou muito material do suplemento infantil de O Jornal (RJ) também dos Diários Associados.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Samanta - Jornal do Brasil - 2004

Apesar de ser uma garota moderna, Samanta vive focada em seus problemas amorosos e de relacionamento, junto com sua amiga Milu.

Com um traço excelente, Samanta foi criada pelo cartunista Alpino para A Gazeta de Vitória e publicada no Jornal do Brasil em 2004.


Sobre o autor na Wikipedia:

"Alberto Correia de Alpino Filho, o Alpino (Baixo Guandu, Espírito Santo, 4 de junho de 1970) é um cartunista e quadrinista capixaba. Criador das tiras Luzia (2001) e Samanta (2004), ilustrador do jornal Folha de S.Paulo, chargista do portal de comunicação Yahoo! Brasil e cartunista da revista Playboy. Após duas indicações por suas produções em 2011 e 2012, recebeu o Troféu HQ Mix de Desenhista de Humor Gráfico de 2013.

Sexto, dos oito filhos de Maria Neves de Alpino e Alberto Correia de Alpino. Seu pai trabalhava como guarda-chaves na Companhia Vale do Rio Doce, em Aimorés (MG). Em 1977 ele foi transferido e mudou-se com a família para atuar na mesma função na estação de Piraqueaçu, situada no lugarejo de mesmo nome, no município de João Neiva (ES). Cercada de vegetação, a casa ficava defronte à linha férrea e próxima à estação. A terra alaranjada e macia da propriedade propiciou ao jovem Alpino, de posse de gravetos, a base para seus primeiros rabiscos. Em 1983, após a aposentadoria de seu pai, a família muda mais uma vez, agora para a cidade de João Neiva. Aos 17 anos, Alpino consegue seu primeiro emprego na única gráfica local, a Hércules. Seis anos mais tarde, vendo limitadas as suas possibilidades de evoluir no campo da tipografia e as poucas ofertas de emprego na região, passa a trabalhar como guarda bancário no Banestes, na cidade vizinha, Ibiraçu.

Luzia - Em 1997 passa a ilustrar cartilhas institucionais para a agência publicitária M&M, em Vitória (ES). Ali toma contato com o mundo dos quadrinhos capixabas, se tornando amigo de outros cartunistas como Zota, Gió, J. Carlos e Zael. Nesse período cria a personagem Luzia, tendo como base a foto de sua esposa, Luzia Caliman no jardim de infância. Faz vinte tiras e passa a oferecê-las ao maior jornal do Espírito Santo, o diário A Gazeta. Três anos mais tarde, a editora Silvana Holzmeister cancela a tira Garfield, que encarecia novamente e cede o espaço à Luzia. No dia 21 de novembro de 2001, a tira estreava no Caderno Dois.

Samanta - Mesmo com o sucesso alcançado por Luzia, Alpino passa a testar novos personagens no espaço que conquistou em A Gazeta. São desse período os cartuns de A Doce Vida e Super Dog. A melhor resposta veio com Samanta, personagem batizada com o mesmo nome de sua única filha. A tira é levada à apreciação da Intercontinental Press, representante dos syndicates norte-americanos e detentora dos direitos de tiras clássicas como Recruta Zero e Hagar, o Horrível. A tira tem boa aceitação e passa a ser publicada no jornal O Sul (RS), A Crítica (AM), Jornal do Brasil (RJ) e Agora (SP).

Folha Vitória - Em maio de 2007, sem deixar as tiras, inicia a produção de charges diárias para o site de notícias da Rede Vitória, o Folha Vitória. Desse período inicial com as charges, relembra um fato. "Era o primeiro mês em que eu fazia a charge do Folha e me utilizei de uma notícia que vi na TV. A Polícia Federal havia apreendido uma grande quantidade de maconha e faria uma solenidade onde queimaria um quilo em uma pira. O restante seria incinerado mais tarde no alto-forno de uma empresa local. A destruição televisionada daquele quilo de maconha contou com a presença do alto escalão do governo e da Polícia Federal. Quando acenderam a pira, o vento começou a soprar a fumaça da maconha em direção às autoridades. A imagem era engraçada. Todas aquelas pessoas que haviam discursado minutos antes sobre o combate às drogas, agora estavam ali, envoltas naquele nevoeiro de maconha. Fiz a charge da seguinte forma: tendo ao fundo as autoridades, a pira e a fumaça, dois policias conversam entre si. O primeiro diz: "Está faltando uma coisa ...". O segundo policial deduz: "Aumentar o fogo?". O primeiro reponde: "Não... um CD de reggae...". Gostei imensamente da charge, mas não agradou ao comandante da Polícia Federal, que ligou para a redação do Folha Vitória, reclamando. A charge saiu do ar minutos depois.

Yahoo! Brasil - Dois anos mais tarde, mesmo com o sucesso de Samanta, Alpino decide retomar os cartuns de A Doce Vida, seguindo a escola dos cartunistas norte-americanos da revista The New Yorker. Dessa safra, ele produz quarenta cartuns, que passou a oferecer a revistas e jornais online. A única resposta positiva que recebeu foi do portal de comunicação Yahoo! Brasil. Pelas mãos do editor Rafael Alves e Edson Costa, seus cartuns ganharam uma página dentro do portal. Com a boa aceitação dos cartuns, Alpino é convidado a ser o primeiro chargista do Yahoo! Brasil, estreando no dia 1º de Abril de 2010, se unindo ao elenco de colunistas célebres como Regis Tadeu, Bernardo Ricupero e Sérgio Rizzo.

Antes do fim do seu primeiro mês como chargista do Yahoo! Brasil, sua esposa Luzia toma conhecimento do 4º Concurso de Ilustração da Folha de S.Paulo e o incentiva a participar. Mesmo reticente ele se inscreve na categoria cartum com três trabalhos. Alpino hesitou até o último momento para se inscrever pois acreditava que o seu traço não tinha relação com o dos cartunistas consagrados da Folha, como Angeli, Laerte e Glauco. No dia 21 de maio, a Folha de S.Paulo estampava a matéria sobre o concurso e o primeiro lugar alcançado pelo cartunista capixaba.

No final de dezembro de 2011, em acerto com Edson Aran, editor da edição nacional da revista Playboy, Alpino cria uma página mensal com cinco cartuns. A estreia se deu na edição de janeiro de 2012, tendo em sua capa, Vanessa Zotth. Alpino produziu 240 cartuns para a revista até dezembro de 2015, quando a Editora Abril decidiu parar de publicar a revista".

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Zé Latinha - Jornal da Tarde - 1966

Com o lançamento do Jornal da Tarde, do Grupo Estado de S. Paulo, em 1966, estreou também o Zé Latinha de Rivaldo Macedo, uma das mais comentadas e menos conhecida das tiras nacionais. 

Zé Latinha é um robô às voltas com Napinha, um gato narigudo; João das Dúvidas, um caracol questionador; sua irmã robô, Luzinha e outros coadjuvantes humanos.

As histórias abordavam temas bastante variados com questionamentos filosóficos e psicológicos, como quando Zé Latinha sofre uma regressão à infância pela chegada de sua irmã Luzinha ou quando ignora a paixão platônica por parte de uma bomba de gasolina.

Havia também muitos comentários com assuntos da atualidade, como a rodada de futebol da semana. Rivaldo devia ser um fanático torcedor do Santos, pois transpôs essa paixão ao gato Napinha. Na série também foi abordada a chegada do homem à lua e até a exposição 'História em Quadrinhos & Comunicação de Massa’, ocorrida no MASP, Museu de Arte de São Paulo, em 1970.

Zé Latinha, aparentemente, teve bastante repercussão na época pois foi tema de baile a fantasia na boate Paparazzi em fevereiro 1967, na Noite do Zé Latinha, e fez parte da dita exposição no MASP. Apesar disso, do bom texto e dos desenhos excepcionais de Rivaldo, nunca teve uma republicação em álbum ou livro. A tira perdurou até o início dos anos 1970, quando, devido a alguns atrasos por parte do autor, foi substituída por uma tira estrangeira.


Ilustração de Rivaldo para o Jornal da Tarde.

Para saber mais sobre Rivaldo clique aqui.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Leão Negro - O Globo - 1987

Tira de aventuras criada por Cynthia Carvalho e Ofeliano Almeida, O Leão Negro começou a ser publicado em 1987 no jornal O Globo. No ábum O Filhote, editora Meribérica, 1990, o personagem é assim apresentado:

"Quem é Othan, o Leão Negro? Um guerreiro mercenário, a vagar aqui e acolá oferecendo sua força ao senhor da guerra que melhor remunere.

Voa livre no seu dragão Tofú, animal inquieto e mais ou menos fiel. Quando suas armas perdem o fio e o corpo clama por descanso, ele retorna ao lar doce lar: um castelo arruinado e isolado, onde ainda vive seu último parente, O irmão Isaúh. Isaúh poderia ser como Othan, mas optou por uma vida de paz e contemplação. Solitário, só tem a companhia de uma jovem escrava, a leoazinha Hera, que pacientemente espera desabrochar para desposar.

Os dois irmãos não se dão e sob qualquer pretexto chegam as vias de fato. Por estas e outras Othan nunca se demora em casa".

Na Wikipedia podemos ler um ótimo resumo da série:

"A série é protagonizada por felídeos antropomorfizados em um planeta sem nome, mas bastante parecido com a Idade Média da Terra. Suas histórias foram publicadas em inicialmente em tiras pelo jornal O Globo de 1987 a 1989.


A primeira página dominical do personagem, O Globo, 23/08/1987.

 
A segunda tira do Leão Negro, O Globo, 24/08/1987.

Leão Negro foi criado pela roteirista Cynthia Carvalho em 1979, aos 16 anos, inicialmente, Othan, o Leão Negro, inspirado no próprio pai de Cynthia, era um coadjuvante de "Espadas e Garras", cuja personagem principal era a leoa Shebba, que depois passou a ser chamada de Tchí, com quem Othan teria um filho, Kasdhan. Em 1987, O desenhista Ofeliano de Almeida, participa de um concurso de tiras realizado pelo jornal carioca O Globo, Ofeliano planejava criar um tira de humor, porém resolveu investir num projeto de tira de aventura, logo convence Cynthia a escrever a tira baseada em seu projeto da adolescência. Cynthia e o Ofeliano começam a publicar Leão Negro no jornal O Globo no formatos tira diária e Pranchas dominicais, a tira foi publicada durante dois anos jornal, em meio a censura e críticas por parte dos leitores do jornal. Em 1990, a dupla assina com a editora portuguesa Meribérica, está publica os arcos de história O Reencontro e O Filhote na revista Selecções BD e num álbum colorido chamado O Filhote. 

 
Álbum O Filhote, editora meribérica, 1990.

Em 1996, a dupla publica a história inédita Magala nas páginas da antologia Brasilian Heavy Metal, álbum com autores brasileiros baseado na revista Heavy Metal. Em 1997, publicam nos três números da revista de RPG de mesa Saga da Editora Escala. 

Em 2003 é lançado o site oficial do Leão Negro, no ano seguinte são lançados quatro álbuns independentes trazendo histórias publicados no jornal O Globo e a história Magala, que também esteve disponibilizada no site da Editora Nona Arte, os álbuns são vendidos através do site oficial da série, os leitores também puderam comprar o álbum O Filhote da Meribérica, diferente de O Filhote, todos os demais álbuns foram publicados em preto e branco, a dupla optou por não publicar o primeiro arco publicado em O Globo, por não gostarem do resultado de tantas intervenções. Em 2008, Cynthia assina contrato com a estreante HQM Editora, essa incia a publicação de duas séries de álbuns novamente em preto e branco: A série origens trazendo as republicações anteriores e uma história inédita Questão pessoal, história disponibilizada para download no site oficial juntamente com Magala, Questão Pessoal foi desenhada por Danusko Campos, um artista com influência dos quadrinhos japoneses, Danusko substituiu Ofeliano, que atualmente trabalha na elaboração de storyboards para cinema e televisão. A nova série teve histórias inéditas desenhadas por André Mendes e Danusko Campos, Em 2009, Cynthia lança a graphic novel independente A Vestal desenhada por André Leal, a história se passa na mesma época da Nova série publicada pela HQM. No ano seguinte, são disponibilizados no site oficial, contos do Leão Negro, primeira inciativa em prosa da série. No mesmo, são publicados novos álbuns pela HQM: O Filhote e Leão Negro – Volume 3: Histórias de Família, logo depois, Cynthia usa novamente seu site oficial para vender os álbuns Nalabar (da nova série) e o terceiro álbum da série Origens: Terra Polares. Em 2012, publica o livro Contos Sangrentos - Histórias do Universo do Leão Negro pela editora Agbooks, uma editora sob demanda, no ano seguinte, publica novamente o álbum A Vestal pela editora Clube dos Autores, uma editora parceira da Agbooks, no mesmo ano, a HQM volta a publica a série com o lançamento de quatro álbuns simultâneos:-Leão Negro – Série Origens – Vol.3: Terras Polares, Leão Negro – Série Origens – Vol.4: A Pantera, Leão Negro – Série Origens – Vol.5: Fêmeas e Leão Negro – Vol.4: Nabalar". 

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Revista Saga nº 03, editora Escala, 1997.

 

Sobre os autores no site Leão Negro:

Cynthia Carvalho - A roteirista

Desde que me entendo por gente, fazia quadrinhos. Primeiro uns sapos futuristas horrorosos, que desenhava em cadernos pautados e mostrava não a uma mãe, mas às namoradas do meu pai, que “achavam lindo” e assim conquistavam mais um pouco o coração do viúvo tirano.

Um pouco mais velha, ganhava uns trocados fazendo HQs com personagens da família. Uma tia comprava 1 gibi por semana, contanto que ela estivesse na história. Eu aproveitava para esculachar com todo mundo, era o único jeito de fazê-lo impunemente. Paralelo a isso eu fazia, para mim mesma, aventuras futuristas com os equinóides. Corpo humanóide e cabeça de cavalos. Haviam outros personagens, mas menos importantes.

Sempre fui muito introspectiva e escrever e desenhar era fundamental para mim. Até hoje eu não suporto ser interrompida quando estou escrevendo.

É como ser brutalmente arrancada de um universo e ser atirada a outro. Não dá pra não entrar em choque.Entre um choque e outro (ninguém respeitava minha introspecção), aos 16 anos fiz a primeira HQ com o Leão Negro. Na verdade ele era um personagem secundário na saga da Tchí, a leoa. Mas se mostrou tão forte que chamou atenção.

Aos 21 mostrei o rascunho para o Ofeliano, mentor de jovens quadrinhistas da época e mais tarde, companheiro. No traço do Ofeliano o personagem ganhou ainda mais personalidade. Quando o jornal O Globo nos contratou para produzir tirinhas de aventura é que a coisa deslanchou. Produzi freneticamente roteiros e mais roteiros.

Paralelo a isso, escrevi alguns roteiros e arte finalizei outras HQs de romance, sci-fi, humor e eróticas para editoras de São Paulo. Mas meu forte mesmo é roteiro. Não tenho o talento e a disciplina necessários para um bom ilustrador. Acabei me formando em design e fui trabalhar em agências de propaganda e editoras. Hoje sou uma designer que também faz roteiros.

Há poucos anos, graças ao entusiasmo do Vitor, me animei a retomar o Leão Negro. Voltei a escrever roteiros e procurei muito por um desenhista com talento e disposição para desenhá-los. Danusko foi um achado. Estou animada, finalmente o leão está de volta.


Nada vem do nada

Levei muito tempo para perceber isso. Nos roteiros mais recentes, o Leão Negro foi ficando cada vez mais parecido com uma pessoa muito importante para mim: meu pai. Colérico, infiel... um adorável canalha, como Othan. “Doutor Carvalho” pode ter sido tudo isso, mas, para mim, será sempre o homem orgulhoso e elegante que eu admirava. Criou sózinho os sete filhos que teve com duas mulheres numa enorme casa, isolada e encravada no alto de um morro (eis a Ilha de Gardo!). Dos sete capetas, um deles ficou tão parecido com ele próprio, que não podiam suportar-se (e eis Kasdhan!). Nos roteiros mais recentes vão despontando características de vários membros de minha louca família.

Sim, tenho material pra muitas histórias... tudo colhido na infância.

 
Brazilian Heavy Metal, editora Comix Book Shop, 1986

 
Ofeliano de Almeida - O desenhista

Minha primeira e permanente influência no desenho de aventura em quadrinhos é Principe Valente, de Harold Foster. Lembro-me, com nove anos de idade, indo visitar meus avós num ônibus para São Paulo, lendo uma revista do príncipe Val onde ele retorna a seu castelo. Vindo de mais uma batalha sangrenta ele invade a sala de banhos de sua mulher, a cinematográfica princesa Aleta. Foster desenhou Aleta em muitas cenas sensuais e embora ela lembrasse bastante as donas de casa da classe média dos seriados tipo I Love Lucy se tornou minha namorada por um tempo.

Afinal, Foster traçava tudo com a elegância e o esmero dos gravuristas românticos e transformava a Idade Média insalubre num verdadeiro resort charmoso e prazeroso. As cenas de batalha, tarefa complexa pra qualquer desenhista, ficaram impressas na minha mente como modelo pra desafios profissionais no futuro. Nenhuma criança escaparia a tal encantamento. Eu estava fisgado.

Creio que toda minha carreira de desenhista de quadrinhos vem sendo uma tentativa de perpetuar o impacto e a magia daquelas horas de viagem, folheando aquele gibi. A vida e o mundo seriam bons se eu os mantivesse daquele jeito. Como se minha carreira estivesse traçada nas estrelas desde o Big Bang, me tornei artista gráfico, com ênfase para os quadrinhos. Só não podia calcular que dedicar-me à HQ no “Terceiro Mundo” era muito mais arriscado do que enfrentar os monstros e guerreiros mongóis que o príncipe VAL destroçava com vigorosas espadadas. É que, em geral, ganhou-se pouco dinheiro na HQ brasileira, embora tenhamos muitos talentos verdadeiros. Mas se a luta seria inglória, pelo menos que fosse divertida. As causas perdidas sempre foram as mais atraentes e, afinal, meus heróis de juventude nunca foram Disney ou Kennedy, mas Carlos Lamarca e Sandino.

Porém, pesando tudo nestes 25 anos de batalhas gráficas, vejo que emplaquei algumas vitórias memoráveis e coloquei meus quadrinhos em gibis, livros, revistas e jornais, alguns deles com milhões de leitores mensais.

Conhecer Cynthia Carvalho e seu imaginário em HQ foi como um encontro zodiacal: harmonia cósmica. Fizemos dois anos de tiras diárias do Leão Negro em O Globo (de 1987 a 1989), depois o álbum a cores pela Meribérica (Lisboa), distribuído nos países de língua latina, mais tarde publicamos três aventuras na revista Saga e queremos vê-lo abrindo caminhos sempre, nem que seja com vigorosas espadadas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sarnento, o fiscal - O Globo - 1986

Em 1986, com os vários fracassos dos planos econômicos do período, Ofeliano de Almeida criou Sarnento, o fiscal. A tira criticava o momento econômico e principalmente a pouca eficácia do Plano Cruzado, do governo do presidente José Sarney e foi uma das obras premiadas no I Concurso Nacional de Quadrinhos do Globo.

Em março de 1992, ao próprio jornal, Ofeliano deu o seguinte depoimento:

"Na época, o povo parecia se aliar aos seus inimigos eternos, os políticos oportunistas. E aqueles que realmente lutavam por uma causa popular ficaram sem função, falando ao vento. As tiras comportavam muitos personagens: o Sarnento, o fiscal combativo, fiel escudeiro do Rei, e os anti-heróis, todos desempregados, caducos, como Robin Hood, que no desenho era um rato, e o Zorro, que era uma raposa".

Infelizmente a tira não teve publicação regular, pois o autor preferiu substituí-la pela série Leão Negro.

Ofeliano na revista Androide, editora Press, 1986.
 
Para saber mais sobre o autor clique aqui.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Cia. Ltda. - Diário do Povo - 1976

Centrada em um grupo de amigos, entre eles João, Getúlio e Bororó, Cia. Ltda. foi criada pelo cartunista e roteirista Paulo Paiva e reunia uma série de gags hilariantes baseadas em trocadilhos e humor nonsense. João já havia aparecido com o título de Juão da Silva em uma página colorida no Suplemento Quadrinhos da Folha de S. Paulo em 1975.

Cia. Ltda. foi publicada no jornal campineiro Diário do Povo em 1976 e distribuída pelo assim chamado Clube do Gibi, um grupo de artistas que se reuniam na Livraria Gibi em São Paulo.

 

Agradecimentos ao desenhista Franco da Rosa. 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Os Presidiários - Diário do Povo - 1976

Criados por Paulo Paiva e Paulo César Munhoz, a mesma dupla que trabalhou em Chico Peste, Os Presidiários contava o dia a dia de uma dupla de encarcerados, um comprido e um baixinho, na mesma linha dos Fradinhos de Henfil. As aventuras eram centradas nas inúmeras tentativas de fuga dos personagens e seus relacionamentos conflituosos com a carceragem e com os outros detentos.

Os Presidiários já haviam sido publicados anteriormente em formato de página colorida no Suplemento Quadrinhos da Folha de S. Paulo com o nome de MeSolta! em 1975.

Os Presidiários foi publicada em 1976 no Diário do Povo de Campinas - SP - dentro da ação de distribuição de tiras promovida pelo Clube do Gibi, grupo de artistas que se reuniam em torno da antiga Livraria Gibi em São Paulo, Capital.

Para saber mais sobre Paulo Paiva clique aqui.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Diarake e Maçaneta - revista Afanásio Jazadji - 1985

Em 1985, ainda em seus primórdios, a editora Maciota lançou uma revista de assuntos policiais com o nome do repórter e radialista Afanásio Jazadji. Assim como em seu programa de rádio, a revista abordava assuntos da crônica policial com tons sensacionalistas, focando em crimes de assassinato, de preferência os mais violentos.

Para essa revista o cartunista e em dos fundadores da editora, Paulo Paiva, criou os personagens Diaraki e Maçaneta, dois investigadores de polícia pouco ortodoxos. As piadas primavam pelo humor negro, bastante adequado ao clima da revista.

Para saber mais sobre Paulo Paiva clique aqui.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Zé Curau - revista Coopercotia - 1964


Em 1964, quando Mauricio de Sousa deixou de fornecer as histórias de Hiroshi e Zezinho para a revista mensal Coopercotia o espaço foi assumido por Rivaldo Macedo, que criou o personagem Zé Curau

Zé Curau era um coelho caipira às voltas com sua esposa e dezenas de filhos. Pode-se dizer que era uma mistura de Coelho Caolho com Chico Bento, criações de Mauricio. As aventuras nem sempre eram humorísticas, em algumas edições específicas, como a de dezembro de 1964 por exemplo, Zé Curau contou a história da celebração das Festas de Natal.

Segundo a Wikipedia, a Coopercotia - Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC) - foi uma das maiores Cooperativas da Agricultura no Estado de São Paulo, fundada em 1927 por imigrantes japoneses no Brasil. A cooperativa manteve durante muitos anos a publicação da revista mensal com seu nome dirigida aos associados e ao público em geral, voltada a assuntos agrícolas e do meio rural. A CAC encerrou suas atividades em 1994.

Acima, Rivaldo na revista Pancada da editora Abril, 1979.

Para saber mais sobre Rivaldo Macedo clique aqui.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Espião Ninja - revista Combat Sport Ninjas - 1988

Nick, um instrutor de artes marciais é na verdade o Espião Ninja, famoso agente da Interpol.

Ao se apoderar de um misterioso microfilme com fotos de garotas, Nick descobre um esquema clandestino de tráfico de escravas brancas. Usando sua noiva Bárbara como isca, o Espião Ninja se infiltra clandestinamente num navio do tráfico e, depois de tremenda  e encarniçada luta, acaba destruindo o esquema criminoso.

Criado em 1988 por Franco de Rosa com desenhos de Mozart Couto e arte final de Gilvan Lira, o Espião Ninja foi publicado na revista Combat Sport Ninjas da editora N.A. em 1988.

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Sobre Gilvan Lira o site Arte Potiguar nos apresenta:

"Conceituado desenhista e artista plástico potiguar, com experiência na europa e diversos trabalhos publicados no sul do país, na área de quadrinho adultos. Ficou conhedido após pintar o painel da beatificação dos mártires de Uruaçu, uma gigantesca tela encomendada pelo Vaticano, que hoje encontra-se exposta em Roma (Itália). Natural de São Rafael (RN), Gilvan também esteve presente nos jornais diários publicando tirinhas em quadrinho de seu personagem Zé do Mouse. Com um traço firme e sua aperfeiçoada noção de anatomia humana, Lira faz parte da Editora Um e pode-se dizer que é um dos pais do livro Os Guerreiros das Dunas".

Para saber mais sobre Franco de Rosa clique aqui.

Para saber mais sobre Mozart Couto clique aqui.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Kauí - revista Crics - 1987


Kauí, um txucaapor na Guerra Fria, foi mais um trabalho da dupla Spacca, Marcelo Arbex, desta vez publicado em capítulos na revista juvenil Crics (Editora Lastri) a partir de abril de 1987.

Kauí, um índio amazonense, após uma explosão na Central de Pesquisas Nucleares do Brasil é atingido por um objeto desconhecido, na verdade um detonador de mísseis.

Atacado por agentes soviéticos, sequestrado por espiões norte-americanos e procurado pelo governo brasileiro, todos atrás do detonador, Kauí vai parar em Nova York e depois em Paris.

De volta à floresta amazônica Kauí acaba inadvertidamente acionando o dispositivo!

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Marcelo Arbex, nascido em 1961, é publicitário atuando em criação há cerca de 30 anos. Trabalhou nas agências Young & Rubicam, Salles DMB&B, Fischer & Justus,  Leo Burnett, TBWA e Z+ Havas, entre outras. Como redator e diretor de criação, trabalhou no Chile e nos EUA, criando para clientes como Fiat, Philip Morris, United Airlines, Alpargatas, Procter & Gamble, Banco do Brasil e Bradesco.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Tony Curte - revista Isto É - 1987


Lançado no suplemento humorístico Virado à Paulista da revista semanal Isto É em 1987, Tony Curte foi criado pelo publicitário Marcelo Arbex (1961) e pelo cartunista Spacca e contava as desventuras de um típico mauricinho paulistano às voltas com marcas de grife e com o consumo desenfreado típicos da geração yuppie. Pelas histórias podíamos perceber que Tony era simplesmente um pobre iludido vivendo de aparências.

O suplemento Virado à Paulista era coordenado pelo cartunista Miguel Paiva e dirigido ao reparte da revista que circulava no estado de São Paulo.


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

GouGon e Spacca - Folha de São Paulo - 1986

Com o advento do Plano Cruzado II, no governo do presidente José Sarney, os cartunista GouGon e Spacca passaram a produzir diariamente, para o jornal Folha de S. Paulo em 22/11/1986, uma charge em forma de tiras comentando os assuntos políticos e econômicos do período.

Os personagens da série eram, invariavelmente, governantes influentes na cena histórica da época. Apareciam regularmente o então prefeito Jânio Quadros, o Ministro da Fazenda  Dílson Funaro, o candidato a presidência Orestes Quércia e muitos outros.

Sobre esse trabalho Spacca comentou: 

"A diferença entre o que eu sabia da política de Brasília e a experiência do GouGon era absurda... Aprendi muito ilustrando essas tiras (a Folha poderia ter publicado tranquilamente os desenhos do autor, de traço elegante)".


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Henrique Gougon (1947) é chargista com forte atuação na imprensa brasiliense e autor dos livros Bateu, Levou; Onde está nossa bandeira?; Traçando a carta; A dosimetria das penas entre outros. Em seu livro Que país é este? (editora Mutirão, 1977) encontramos a seguinte biografia:

"GouGon é goiano nascido em Minas, criado no Rio, e que vive em Brasília. Trinta anos, jornalista profissional, já trabalhou no Estado de S. Paulo e no Jornal do Brasil, estando presentemente na Folha de S. Paulo onde é encarregado da cobertura da área diplomática. É também chargista do Jornal de Brasília, onde apresenta diariamente, na página de editoriais, um trabalho crítico muitas vezes discordante da própria linha expressa pelos editoriais.

GouGon é sobretudo um chargista atualizado que, embora habitando um contexto sofisticado, não perde de vista a natureza contraditória entre a vida governamental do Planalto Central e a realidade mais crua da sociedade brasileira".

Charge de Gougon para o livro Bateu, levou da editora Comunicação Popular, meados da década de 1990.

Sobre o cartunista Spacca, na graphic novel D. João Carioca (Companhia das Letras, 2008) encontramos biografia a seguir:

"Spacca (João Spacca de Oliveira) nasceu em 1964, em São Paulo, é cartunista e ilustrador. Fez storyboards para filmes publicitários no começo da carreira: depois, entre 1985 e 1995, criou charges políticas para o jornal Folha de S. Paulo e ilustrou o suplemento infantil Folhinha por dois anos. Escreveu histórias em quadrinhos para as revistas Níquel Náusea e Front, e também trabalhou com animação.

Atualmente faz charges para a versão on-line do Observatório da Imprensa e para publicações empresariais. Para a Companhia das Letrinhas, ilustrou O Mário que não era de Andrade, de Luciana Sandroni; O jogo da parlenda, de Heloísa Prieto; A reunião dos planetas, de Marcelo Oliveira e Vice- versa ao contrário, de vários autores. Escreveu e ilustrou Santô e os pais da aviação - A jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar (vencedor do prêmio HQ-Mix 2006 nas categorias Desenhista Nacional, Edição Especial Nacional e Roteirista Nacional) e Debret em viagem histórica e quadrinhesca ao Brasil, ambos publicados pela Cia. das Letras. Em 2005, Spacca recebeu o primeiro prêmio de charge no Salão Internacional de Humor de Piracicaba".

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Os Zensetos - Caros Amigos - 2007

Série humorística criada por Alain Voss para a revista Caros Amigos em 2007, Os Zensetos, uma brincadeira com a mistura das palavras zen e insetos, contava as aventuras de Kiko e seu tio Hugo, dois artrópodes questionadores sempre criticando a guerra, a poluição, os agrotóxicos e outras atrocidades cometidas pelos seres humanos.

Para saber mais sobre o artista clique aqui.

 

Abaixo, Anarcity, uma das últimas histórias em quadrinhos produzidas por Alain Voss.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Grupo de Intervenção Zebra - revista Crics - 1986

A partir de dezembro de 1986 o desenhista Alain Voss publicou em capítulos na revista juvenil Crics - editora Lastri - o série Grupo de Intervenção Zebra.

Na história, passada no Século XXI, a investigadora Nina e o agente androide Caco, ambos do Grupo Z, tentam desvendar o mistério de uma sequencia de crimes de ódio produzidos por misteriosas ondas de rádio. Tudo não passa de um plano de um antigo astronauta civil, um repórter enviado ao espaço para investigar vida extraterrestre. Ao ficar deformado por uma desastrada entrada na atmosfera terrestre, o astronauta tenta por em prática o seu plano de vingança e é, obviamente, impedido por Nina e Caco.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Branco e Moreno - O Estado de S. Paulo - 1986

De volta ao Brasil, depois de uma bem sucedida carreira na França, onde foi um dos pilares da revista Metal Hurlant/Heavy Metal, o desenhista Alain Voss criou para o jornal O Estado de São Paulo, em setembro de 1986, Uma aventura de Branco e Moreno - Goula, em capítulos diários publicados pelo Caderno 2.

Na história, os jornalista Branco e Moreno, à procura de uma boa matéria, entram em contato com o Prof. Von Stroheim que havia acabado de realizar um experimento no qual criara Goula, uma gigantesca mulher artificial.

Descontrolada, Goula sai pela cidade causando enorme destruição. O ex-presidente Jânio Quadros, na época prefeito de São Paulo, tem uma grande participação na aventura.

O forte da narrativa é a apresentação de importantes pontos da cidade, como a avenida Paulista, o parque do Ibirapuera e o estádio do Pacaembu.

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Sobre o autor, a enciclopédia digital Lambiek oferece a seguinte biografia:

Alain Voss, ou Al Voss, artista francês nascido em 1946 e criado no Brasil. Publicou seus primeiro trabalhos na década de 1960 em revistas brasileiras como O Loco (Editora Taika) e O Careca. Mudou-se para a França em 1972, onde esteve presente na Métal Hurlant com quadrinhos como 'Heilman', 'Lokyia' e uma série de paródias chamada 'Parodies de Al Voss'. Essas paródias de famosos heróis cômicos como 'Popeye' de E.C. Segar, 'Astérix' de Albert Uderzo, 'The Smurfs' de Peyo, 'Blueberry' de Jean Giraud e 'Superman' de Siegel & Shuster foram coletados em álbuns da Les Humanoïdes Associés. Voss também esteve esporadicamente presente em Charlie Mensuel e Mormoil.

De volta ao Brasil em 1981, contribui para a Inter-Quadrinhos (Editora Ondas) e Monga, a Mulher Gorila (Press-Maciota). Ele também fez trabalhos promocionais e publicitários, bem como capas de álbuns para a banda brasileira Os Mutantes. Voss passou os seus últimos anos em Portugal, onde criou pinturas, livros ilustrados e capas de discos. Apesar de ter sofrido um acidente vascular cerebral em 2009, ele colaborou com a edição brasileira do Le Monde Diplomatique, produziu a história em quadrinhos 'Anarcity' no computador e fez a tira 'Os Zensetos' para Caros Amigos. Alain Voss faleceu após um segundo derrame em maio de 2011.