sexta-feira, 26 de abril de 2024

Garibaldo - 1980

Enquanto cumpre seus afazeres na limpeza pública, Garibaldo, um gari, comenta de forma irônica os problemas sociais do brasil e do mundo. 

Publicado na revista Maria nº 07, de Henrique Magalhães, editora Marca de Fantasia, setembro de 1980, é uma criação de Marcos Nicolau.

Acima, quadrinhos de Marcos Nicolau, na sequência: As Cobras, em O Norte (1975) e Borges, o rato de biblioteca, na revista de cultura LER, editada de 1991 a 1995.

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Sobre o autor, o editor e cartunista Henrique Magalhães escreveu: Marcos Nicolau é professor do Curso de Comunicação Social da UFPB, autor de livros de ficção, dissertação e ensaios sobre criatividade. Foi coordenador da Gibiteca Henfil - fundada por Henrique Magalhães e seu atual coordenador -, oportunidade em que ministrou cursos de quadrinhos. Seus trabalhos recentes na área  foram as publicações das tirinhas do personagem Borges, o rato de biblioteca, na Revista de Cultura LER (1991/95), da qual foi um dos editores. Atuou na imprensa e no rádio paraibano de 1975 a 1990. Sobre sua atividade no gênero quadrinhos, é o seu primeiro mestre, Deodato Borges, quem relata suas origens, em artigo publicado no jornal Correio da Paraíba, nos anos 1980:

“Em 1975, chefiando o Departamento de Arte de O Norte, embora já contasse com os serviços profissionais de Richard Muniz, eu sentia necessidade de ampliar o setor de produção artística a fim de atender ao inesperado crescimento do jornal na área de publicidade. Muito verde ainda, nos seus 17 anos, Marcos Nicolau apareceu, candidatando-se ao emprego, trazendo apenas como referências, a força do seu desenho e o seu comportamento exemplar. Em bem pouco tempo ele já dominava com perfeição o desenho publicitário e divulgava, no suplemento infanto-juvenil (O Norte Em Quadrinhos), alguns dos seus personagens, como As Cobras, tira que alcançou um grande sucesso.

Em 1976, classificou-se em 5º lugar no Concurso Nacional de Humor, realizado na Paraíba, passando, a partir de 1978, a estudar o cangaço no Nordeste, especializando-se no assunto e publicando várias Histórias em Quadrinhos no gênero, algumas delas, inclusive, em parceria com Emir Ribeiro e Deodato Filho. No período 1979/1980, Marcos lá estava, no Correio da Paraíba, divulgando as suas charges. Trabalhou ainda nos jornais O Momento e O Furo - este, uma espécie de Pasquim paraibano que teve curta existência”.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Maria - 1975

Maria surge em 9 de julho de 1975 por criação do cartunista e professor universitário paraibano, na época ainda estudante de arquitetura, Henrique Magalhães, sendo publicada diariamente ou em suplementos nos jornais de João Pessoa (PB) e região. Nesse período a obra é basicamente uma sátira de costumes, com piadas a respeito da busca por um marido de nossa personagem solteirona. Com o tempo o humor torna-se mais crítico, questionando passagens políticas e a própria situação do quadrinho nacional perante a invasão do material estrangeiro nas bancas.

Em 1984, Maria, que "vinha progressivamente transgredindo os limites da habitual crítica político-social que fazia nos quadrinhos diários", dá a sua grande virada. No álbum "A maior das subversões", a personagem assume sua paixão pela amiga Pombinha e passa a tratar das causas de gênero. Desde então, sempre com humor e delicadeza, Maria torna-se uma espécie de porta-voz das causas LGBTQIA+.

Maria teve várias revistas e álbuns editados, na maioria das vezes pela editora de Magalhães, a Marca de Fantasia.

Para saber mais sobre Maria clique aqui.

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Sobre o autorHenrique Paiva de Magalhães (João Pessoa, 17 de agosto de 1957) é professor da Universidade Federal da Paraíba, doutor em Sociologia pela Universidade Paris VII, desenhista, editor e pesquisador de história em quadrinhos brasileiro. Nascido em João Pessoa, Paraíba, em 17 de agosto de 1957, Henrique é o primeiro de seis filhos de Ulrico José de Magalhães e de Maria Darcy Paiva de Magalhães.

Em 1975, criou a personagem de quadrinhos Maria, que tinha caráter político e contestador. Também começou a desenvolver diversos fanzines. Em 1983, formou-se em 

Comunicação Social na Universidade Federal da Paraíba, entre 1985 e 1988, publicou o fanzine Marca de Fantasia, ainda na década de 1980, coordenou o suplemento "Leve Metal" da revista "Presença Literária", com trabalhos de quadrinista paraibanos, em 1990, criou a Gibiteca Henfil, como parte do projeto de extensão do Departamento de Comunicação da UFPB, no mesmo ano apresentou a tese de mestrado Os fanzines de histórias em quadrinhos: o espaço crítico dos quadrinhos brasileiros na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em 1993, parte da tese foi publicada no livro O que é fanzine, parte da coleção Primeiros Passos. Em 1995, fundou a editora Marca de Fantasia com a intenção de publicar quadrinhos e livros teóricos sobre o tema. 

Em 1996, apresentou a tese de doutorado Bande Dessinée: rénovation culturelle et presse alternative na Universidade Paris VII, na França.

Em 2010, ganhou o Prêmio Ângelo Agostini na categoria "Mestre do quadrinho nacional".

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Joseph Abourbih (editora Noblet) - Entrevista - 1992

Entrevista realizada em 03/09/1992 pelo jornalista Worney Almeida de Souza (WAZ) com Joseph Abourbih, então dono da editora Noblet. 

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WAZ - Seu Joseph, eu queria que o senhor me falasse como é que começou a editora? 

Joseph Abourbih - A editora eu comecei para lançar livros para livraria. Então fiz dois ou três, mas a venda era muito difícil, muito complicada, por isso passei direitinho para a história em quadrinhos. 

WAZ - Você começou com aquele livro, era o Conde de Monte Cristo, né? Pequenininho assim? Era um pocket, né? 

Joseph Abourbih - Não, não. Era grande. Era um livro para livraria. Só que eu fiz isso e sofri tanto que eu percebi que nesse negócio precisa cerca de 50 mil títulos para que a livraria te pegue. Me dá um desse, dois desse, três desse... Era preciso fazer um múltiplo de despesa para vender dois ou três livros de vez em quando para cada livraria. É um ramo muito difícil, em princípio. 

WAZ - Em que ano foi isso, Joseph? 

Joseph Abourbih - 1972... 72? Não, 68, 1968, sim! Bom, depois, como eu estava na França e conhecia gente da produtora do Akim, eles me deram o direito de publicar isso. Eu publiquei, só que eu parei agora (em 1991) porque não vendia mais, não sei porquê. Não vendia mais. Eu vendia muito pouco, não justifica. E depois bolamos um atrás do outro. Hoje estou com 12 publicações. 6 ou 7 livros infantis. E... 6 semanais agora, 2 edições, a primeira, depois a segunda, quer dizer o lançamento e depois o relançamento a partir do número 1. O caso da publicação não é difícil, mas é um problema que depende de muito trabalho, muito trabalhoso, muito demais trabalhoso. 

WAZ - Eu lembro que em 1974, me lembro que o senhor trabalhava com o Paulo Hamasaki!

Joseph Abourbih - Ah, todos eles. Paulo Hamasaki, Gilberto Firmino (falecido em abril de 2024), Tony Fernandes, Wanderley Felipe. Todos eles aprenderam aqui, mas... Eles saíram lá, trabalhando, eu estou muito satisfeito por eles. Muito satisfeito por eles.

WAZ - É que ele me mostrou no começo de 1975, o senhor publicava aquele Espoleta, né? 

Joseph Abourbih - O Espoleta, é!

WAZ - Mas era colorido, né? Como era isso?

Joseph Abourbih - Sabe, é triste, o problema é que você vai na cegueira, você vai lá, entra, faz uma publicação. Tira 30 mil, 40 mil, uns 5 mil ou mais. Você, quando você sabe que ela vai, precisa chegar no número 4. Para que a gente feche o número 1, precisa de 4 meses. Até, então, 3, 4 publicações que custam uma nota cada uma para viver ou morrer. Então, o problema é que a gente faça de um jeito diferente. 

WAZ - E qual que é a média de tiragem que o senhor tem atualmente? 

Joseph Abourbih - Bom, agora entre 20 e 35 mil. 

WAZ - O senhor já teve tiragens maiores? 

Joseph Abourbih - Sabe, o negócio de tiragem é muito relativo. A tiragem de uma revista depende de quanto você quer gastar. Vou te contar como eu entrei na editora Abril, que eles quando começaram pra vender as próprias revistas, não acertavam nem bem distribuir as revistas deles. Fizeram o primeiro e até agora são eles. Eles souberam que eu tinha esse famoso Akim, e fui lá nessa temporada, trabalhava com a Chinaglia, e me pedia de cada vez que lançava, me pediam 22 mil, o senhor me manda 20, o senhor me manda 18, o senhor me manda 12, o senhor me manda 16, o senhor me manda 14 mil, aqui vemos o modelo. Então fui na editora Abril, na distribuidora Abril, e conversei com eles. Ah, senhor Joseph, nós estamos interessados em lançar sua revista. É verdade, é verdade. Só que nós precisamos de 60 mil exemplares. Eu falei para eles, vocês querem mandar à falência direitinho. Porque de 15 mil, você quer 60? Ah! Não se preocupa, senhor Joseph. Faça 60 mil. Minha gráfica que é onde eu imprimo não tem condição de fazer 60 mil exemplares. E eu em parte não tive medo, e de fato fiz 60 mil, o mesmo número venderam 38 mil, só dos 60 mil, só que estava em... no meu escritório, a editora, ela me encontrou lá, um escritório igual a esse. Então, me entusiasmei, 38 mil exemplares, nesse tempo lá, anos 1970, muito, muito, muito dinheiro e muito interessante também. E daí começamos!

WAZ - Mas que época foi isso? 

Joseph Abourbih - Em que saiu? Quanto tempo? Mais ou menos, assim... 1975... Entende? E de fato, eles me imprimiram 60 mil, eles mesmos fizeram a revisão, imprimiram 60 mil exemplares e conseguiram me vender 38 mil, o que era, nesta temporada, um sucesso enorme. E de lá, larguei a Chinaglia. Deve ser em 1972... Até agora só com a editora, a distribuidora Dinap.

WAZ - O senhor tem os títulos infantis, assim, de atividade infantil. 

Joseph Abourbih - Tem cinco!

WAZ - Tem eles há muitos anos, né? 

Joseph Abourbih - Certo.

WAZ - Então eles têm uma... a numeração deles é bem antiga, assim. 

Joseph Abourbih - É antiga, sim. 

WAZ - Então, o senhor acha que tem... o pessoal gosta muito do material assim? 

Joseph Abourbih - Sabe como é? No total, a gente tem lá o mais importante. Bom, eu faço cinco tipos diferentes de publicações. E o infantil tem mais saída em geral, mas só que eu faço várias coisas. Tem Prezinho, tem Para Colorir, tem Luz e Cores, tem Magia das Cores, tem Festinha. Jardim da Infância, seis ou sete desse tipo de revista a gente lança mensalmente e então a gente se mantém, não sei se dá lucro ou prejuízo, mas não fica milionário com isso. 

WAZ - E o senhor começou... primeiro o senhor falou que trabalhava só com livros, né? 

Joseph Abourbih - Comecei com livros, livros para livraria. 

WAZ - E depois com quadrinhos, qual foi a primeira revista em quadrinhos? 

Joseph Abourbih - Foi Akim (1971). 

WAZ - O Akim mesmo? 

Joseph Abourbih - Akim, aliás, ele parou também na França. Os franceses pararam. Eu tinha a condição de continuar ainda por algum tempo, mais 12 ou 14 meses, mas eu julguei mais fácil. Pararam, pararam. Não adianta começar e depois ver se vende ou não.

WAZ - O senhor lançou algumas revistas assim bem interessantes, tipo a Vampirella, o senhor lançou. Como é que era aquele tempo? 

Joseph Abourbih - Nessa temporada, comprei os direitos da América do Norte, era a temporada desse tipo de material, se vendia mais ou menos bem. Tentei, acho o número 2, o 3, o 4, e depois parei porque não dá. Tem outra também, não me lembro o nome, tipo crime, tudo isso que chamavam lá. Tipo jornal, a metade do tamanho. 

WAZ - Ah, eu me lembro. Mas aquele era... é, isso eu me lembro. Era vermelho e preto, né?

Joseph Abourbih - Vermelho e preto.

WAZ - É, me lembro. 

Joseph Abourbih - Essa lá. Não me lembro nem bem o nome (Policia Magazine). 

WAZ - Esse material todo era produção externa, assim? Quer dizer, o pessoal... Os estúdios produziam e vendiam pro senhor? Porque o Paulo Hamasaki, por exemplo, ele trabalhou muitos anos aqui, né? 

Joseph Abourbih - Ele aprendeu aqui. Paulo Hamasaki, que eu gosto muito dele, é um rapaz sério, trabalhador. E... aprendeu aqui mesmo. Agora ele está lá, pertinho. Não sei se você sabe onde é. 

WAZ - É, tem uma editora, ele montou a editora dele, né? 

Joseph Abourbih - Montou a editora dele, certamente. 

WAZ - E o Sexyman, como é que começou?

Joseph Abourbih - Sexyman é uma revista que eu tirei da França. Comecei brincando e continuou. 

WAZ - Na França o tamanho original é esse mesmo?

Joseph Abourbih - É!

WAZ - E lá pelo número 24 começou o material nacional, né? 

Joseph Abourbih - Fiz alguma coisa de material nacional porque eles pararam. E agora tem material nacional. Tem material nacional e compro alguns direitos italianos.

WAZ - Mas 90% é nacional, né?

Joseph Abourbih - 90 não diria, mas 70%, de vez em quando é italiano!

WAZ - E essa ideia de fazer segunda edição, os leitores pedem assim? 

Joseph Abourbih - Pedem um pouquinho e depois quando a revista está lá, ao invés de aumentar a tiragem, prefiro fazer duas, para começar a partir do número um. 

WAZ - O pessoal é receptivo assim? Porque também tem colecionador, né? O pessoal coleciona. 

Joseph Abourbih - Sim, perde uma e encontra.

WAZ - E o material de contos? 

Joseph Abourbih - Esse material é produzido nacional. Recebemos algumas coisas do francês também, da França. 

WAZ - E quem que faz? Tem algum? 

Joseph Abourbih - Tem, cinco ou seis contistas fazem na sua casa.

WAZ - Dá para o senhor falar assim alguns? Os mais frequentes assim?

Joseph Abourbih - Tem Caio Concílio, Júlio Gomes, Paulo Monsalva, Luiz Antonio Aguiar, Júlio Emílio Braz. Esses lá. 

WAZ - O senhor encomenda... O senhor encomenda os contos, o pessoal produz... 

Joseph Abourbih - Sim.

WAZ - E aí o senhor faz a diagramação e a montagem das revistas aqui mesmo? 

Joseph Abourbih - Tudo isso é...

WAZ - E esse... o senhor lançou faz, eu acho, há uns 4 anos, né? O sistema de assinaturas, né? Como é que é? Do Sexyman, do Akim, o senhor tinha assinatura. 

Joseph Abourbih - Certo, certo. 

WAZ - E como é que é? Foi boa ideia? É bom pra divulgação? 

Joseph Abourbih - Sabe, eu vou te confessar uma coisa certa. Porque a gente, eu pessoalmente... Eu pessoalmente tenho 12 publicações e as 12 publicações tem uma que dá num mês, outra que não dá outro mês. E a luta é assim que é, para chegar nisso. 

WAZ - Mas o senhor acha que o sistema de assinatura assim é interessante?

Joseph Abourbih - Eu não sei, eu não sei. Eles pagam, digamos, pela assinatura toda 25 mil cruzeiros. Eu calculo que o selo custa 200 cruzeiros. E você paga no décimo mês 2500 cruzeiros, o preço da revista com os selos. Você envia todas essas revistas com um número só que a gente manda. 

WAZ - Interessante. E a gráfica? Você tem a gráfica desde quando começou a editora ou a gráfica é anterior? 

Joseph Abourbih - Eu sofria muito com as gráficas. Então a gente fazia OK. Mandava, dava, fazia tudo pela gráfica. Depois percebi que onde eles têm muito problema é no acabamento. A dobra, o refile, o grampear e tudo isso. Resolvi fazer só o acabamento. Peguei uma dúzia de moças lá embaixo, mandava imprimir fora, cortava, preparava a revista aqui. Depois, comprei uma máquina, duas máquinas. Até quatro ou cinco máquinas. Até que fiz isso aí. 

WAZ - Em quanto tempo o senhor montou a gráfica?

Joseph Abourbih -  15, 18 anos. 

WAZ - E então a editora sempre foi aqui na (rua) Almeida Torres? 

Joseph Abourbih - Estava no centro. Na Praça da República. Depois transferi aqui. Tinha um pequeno lugar, não sei quando. Depois passei... Tinha um pequeno lugar lá embaixo. Depois fiquei com tudo isso. Porque eu dono lá foi embora. Aquele que estava aí também não quis ficar, foi embora.

WAZ - E o seu produz também pra terceiros, né?

Joseph Abourbih - Dificilmente, porque eu... Eu prefiro trabalhar para mim. Claro, de vez em quando eu encontro um amigo sério, correto, que paga direito, eu faço, claro. Mas não sou obrigado, não estou esperando um serviço do terceiros.

WAZ - O senhor lançou agora uma revista, a Luz e Cores, é o mais recente lançamento, né? Como está indo a revista? É infantil?

Joseph Abourbih - É infantil, tipo Para Colorir. E tem uma outra, a Magia das Cores, é outra lá. Mas tem três para colorir. A criança pega o lápis e colore!

WAZ - E quem está produzindo?

Joseph Abourbih - Cada desenhista me faz uma. É um ponto de vista diferente.

WAZ - Quem são eles?

Joseph Abourbih - (Sergio) Militélo, não sei se você conhece, Adriana e a terceira é uma moça também, Tina...

WAZ - E as capas, agora o senhor está produzindo capas com fotos, a Sexyman por exemplo, o senhor acha que atrai mais o leitor as fotos do que a ilustração?

Joseph Abourbih - Não, eu fui obrigado porque o grande problema são os desenhistas, que são difíceis de encontrar, então a gente tem a obrigação de usar esse tipo de desenho para as capas. Eu percebi que eu não tinha mais condições, aquele que desenhava isso me fazia uma capa que eu não gostava. E eu pensava em colocar um cromo (foto geralmente fornecida em formato de slides 35mm), que dava melhor aspecto. Atrai mais, acho que atrai não, atrai. O ramo inteiro é um ramo onde você chuta. Dá, dá, não dá, não dá! Claro que você se previne para não perder muito dinheiro também! Eu tenho mais de um milhão de exemplares aqui de devolução, um milhão!

WAZ - Mas aí o senhor trabalha com esse encalhe!

Joseph Abourbih - É muito difícil trabalhar com isso!

WAZ - Mas o senhor faz pacote de promoção?

Joseph Abourbih - Claro, se eu não faço isso vou à falência! Essa é uma ajuda para pagar parte do preço do papel, que hoje em dia vale uma nota. O papel normal hoje, o offset, você conhece, vale 5.500, 6.000 mil cruzeiros o quilo, e o cuchê vale 11.000, 12.000 cruzeiros o quilo.

WAZ - Quer dizer, aqui o senhor produz desde a diagramação da revista, o fotolito, sai tudo daqui.

Joseph Abourbih - Sai tudo.

WAZ - E o senhor distribui pela Dinap... Antes de montar a Noblet o senhor já mexia com material gráfico?

Joseph Abourbih - Eu trabalhei 20 anos em uma editora onde eu aprendi esse negócio.

WAZ - Que editora?

Joseph Abourbih - Na minha terra, o Egito. Eu fazia sete publicações semanais, fazia sete publicações toda semana. Entrava de manhã, 8 horas e saia 11 horas, meia-noite e a edição era sempre assim. E depois fiquei tão cansado que disse, eu vou sair, vender publicidade, eu não quero mais fazer isso, e de fato quando eu fui vender publicidade eu ganhava muito bem. E quando eu estava em Paris tinha lá um amigo que ele mexe com isso, e eu fui falar com ele. Me demiti lá, devagarinho, e cheguei aqui em São Paulo. 

WAZ - E no Egito o senhor fazia material em quadrinhos?

Joseph Abourbih - Não, não, nessa temporada no Egito não tinha história em quadrinhos, são revistas de atualidades, femininas. Montava sete revistas toda semana, entrava de manhã, sete e meia, oito, saia onze horas, mas aprendi todos os truques.

WAZ - E como chamavam as revistas?

Joseph Abourbih - Amimen (?), Omosaulo (?)... faz trinta anos!!!

WAZ - E depois do Egito o senhor foi pra Paris?

Joseph Abourbih - Fui terminar em Paris!

WAZ - Ficou muito tempo lá?

Joseph Abourbih - Não, vinha para cá, fiz um negócio que não era do ramo editorial, então perdi 40 mil dólares, fiquei tão chateado que deixei o dinheiro lá... meu último pagamento meu sócio me deu 2.800, suei para pegar. Não me deram nem 5.000 dólares, perdi tudo. Fiquei tão chateado que fui viver na França. E lá na França recomecei de novo! Mas também na França era isso!

WAZ - Em que época mais ou menos o senhor chegou na França?

Joseph Abourbih - De 1960 a 1967. 1968 já não estava mais lá...

WAZ - 1968 o senhor já estava no Brasil?

Joseph Abourbih - Eu cheguei no Brasil em 1958, me instalei, entrei em sociedade com um amigo meu, velho amigo meu. Mas não deu, as coisas ficaram mal que perdemos muito dinheiro. Fiquei tão chateado que não conseguia mais viver aqui mesmo, eu perdi tudo, fui na França e também perdi dinheiro. Falei: Puxa! O Brasil é mais fácil, eu vou voltar para o Brasil!

WAZ - O que o senhor acha do mercado agora? O senhor acha que ele tende a crescer?

Joseph Abourbih - Está em dificuldades. Tende a crescer normal, o que é mais grave é que você tem um mês bom, dois meses maus, um mês mau, dois meses bons... e a grande dificuldade é o dinheiro, que não entra fácil!

WAZ - Tá bom!

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Acima, registro da primeira entrada de Joseph no Brasil.

Joseph Abourbih (ou Youseph Bekhor Abourbih), nasceu em 14 de fevereiro de 1915, no Cairo, Egito. Chegou ao Brasil em 01 de julho de 1958 na condição de apátrida, vindo de Paris. Voltou para a França duas vezes entre 1960 e 1965. Retornou ao nosso país em 31 de julho desse mesmo ano, onde se estabeleceu definitivamente, fundou a editora Noblet em 1968 e onde veio a falecer em 07 de julho de 2010.