sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Crimes que Abalaram o Rio - Última Hora - 1952


Série de tiras publicada pelo jornal Última Hora a partir de 1951, Crimes que Abalaram o Rio contava em textos e imagens crimes históricos e contemporâneos praticados na cidade do Rio de Janeiro. Tinha redação de Josimar Moreira de Melo e desenhos de José Geraldo.

Josimar, falecido em 1965, foi um importante jornalista em meados dos anos 1950, chegando a diretor de redação do Última Hora de Samuel Wainer, tendo trabalhado também no Diário carioca.

José Geraldo, ou simplesmente Zé Geraldo, natural  de Petrópolis, Rio de Janeiro, nasceu em 1924, é muito pouco lembrado atualmente, apesar da imensa produção nas décadas de 1940 a 1960, talvez por ter abandonado os quadrinhos em meados de 1960, talvez por suas ligações com políticos como João Goulart e Leonel Brizola, o que lhe angariou várias inimizades. José Geraldo adaptou romances brasileiros para a Ebal e produziu também aventuras de Charlie Chan para a editora O Cruzeiro. Seus desenhos eram esplendorosos, de uma anatomia clássica de primeira qualidade, além do rigor na execução dos trajes e dos cenários.
José Geraldo na Ebal.

Em seu livro autobiográfico, Apressado para nada (editora Garamond, 2001), José Geraldo fala sobre esse período: 

"O fracasso nos negócios não me abatera. No jornal (Última Hora), fui fazer aquilo de que realmente gostava: a série "Grandes romances bra­sileiros", com epopeias da Marquesa dos Santos, de Marília e Dirceu, de Anita Garibaldi e Chica da Silva. Pesquisei e ilustrei os "Crimes que abalaram o Rio", sequência que iniciei pelo remoto "Crime da Alfândega" - ocorrido no local onde hoje está a Casa França-Brasil - e terminei com o "Crime do Sacopã", o mais ba­dalado da década de 50". 

A edição paulista do Última Hora, em 1960, teve iniciativa semelhante, publicando os Crimes que Abalaram São Paulo.

Sobre José geraldo, o Guia dos Quadrinhos resume: 

"Desenhista brasileiro, José Geraldo Barreto Dias começou sua carreira ainda muito jovem nas páginas d'O Tico-Tico. Sua estréia profissional aconteceu no nº 25 de “O Guri”, em 1941. Em 1945 viria com “Rafles” e, mais tarde, “Charlie Chan”. No início dos anos 60, já era o maior expoente dos desenhistas do Rio de Janeiro".
José Geraldo em 1937 n'O Tico-Tico.

José Geraldo em O Guri, 1941.

José Geraldo criou, junto com Renato Canini, o personagem Zé Candango.


Charlie Chan por José Geraldo. Editora O Cruzeiro, 1961.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Simão Brasil - Última Hora - 1952

Em 1952, Diamantino da Silva criou Simão Brasil, um detetive brasileiro, cujos desenhos na época sofreram forte influência do mestre Alex Raymond

Essas aventuras saíam nos encartes de quadrinhos que a Editora Brasil América Ltda. preparava para as edições diárias do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Diamantino da Silva é natural da cidade de Santos, onde nasceu no dia 10 de janeiro de 1926 e desde cedo revelou fortes tendências para as artes. Principalmente para o desenho e cinema. 

Aos 16 anos de idade já fazia as ilustrações do folhetim “Memórias de um Médico”, que eram publicadas no jornal “O Diário”, órgão santista dos Diários Associados. Trabalhou a seguir, por 25 anos, como desenhista da Cia. Docas de Santos e no jornal “A Tribuna”, fazendo anúncios de firmas da cidade. 
A partir de 1971, fixou residência em São Paulo, onde militou como professor na área de comunicações, na Faculdade de Comunicação Social Anhembi, nas Escolas Pro-Tec e na FAAP, além de colaborar com várias editoras desta capital e do Rio de Janeiro, fazendo histórias em quadrinhos. 

Como diagramador e paginador prestou seus serviços para as revistas “Agricultura e Pecuária Brasileira” e “Revista dos Criadores”, por algum tempo. Tem cinco livros publicados sobre temas de sua especialidade, além de ser o fundador e presidente do clube Amigos do Western, entidade que já existe há 28 anos, em São Paulo. Editor da revista trimestral especializada em cinema e faroeste “Mocinhos e Bandidos”, desde 1985.

Acima, Diamantino no jornal O Governador (SP), 1950.

Trabalho de Diamantino da Silva que participou da 1ª Exposição de Quadrinhos do Centro Campestre do SESC em Santo Amaro, São Paulo, SP, em 1978.


Livros de autoria de Diamantino da Silva:

● “Quadrinhos para Quadrados”, Editora Bells, Porto Alegre, 1976 (1ª edição);
● “Desenho da Figura Humana”, Editora Discubra, São Paulo, 1977;
● “Como Fazer Desenhos Animados”, Editora Kultus, São Paulo, 1985;
● “Quadrinhos Dourados”, Opera Graphica Editora, São Paulo, 2004;
● “O Tico Tico”, 100 Anos” (capítulo três), Opera Graphica Editora, São Paulo, 2006;
●“No Tempo das Matinês, Emoções no Cinema de Bairro”, com Kendi Sakamoto e Umberto Losso, Editora Laços, São Paulo, 2007.

Ilustração de Diamantino para o livro Desenho da Figura Humana, editora Discubra.

Anúncio do livro Quadrinhos para Quadrados na revista Batman (Ebal, 1978).
Ney Foguete por Diamantino na revista capitão Astral, editora Júpiter, 1953.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Jacques Douglas - editora Vecchi - 1977

Jacques Douglas por Francisco Sampaio.

"Jacques Douglas era uma fotonovela italiana de grande sucesso. O autor desta série foi Stelio Rizzo, enquanto os diretores foram Sergio Cecconi, Luciano Francioli e Paolo Brunetti.

Jaques Douglas foi cancelado em 1976. No ano seguinte, foi transformado em história em quadrinhos pela editora Vecchi do Brasil: Mistério Jaques Douglas, criada pelo editor Otacílio D'Assunção, era uma revista com 132 páginas que trazia, além de uma aventura em quadrinhos completa do herói (com cerca de 32 páginas), contos policiais, reportagens e diversos outros atrativos para os leitores da época. As aventuras brazucas de Jacques Douglas eram produzidas por Hélio do Soveral e com desenhos Sampa (Francisco Sampaio) e Juarez odilon, no melhor estilo James Bond".

A revista teve 9 edições, mas a última não trouxe a aventura em quadrinhos.

Jacques Douglas por Juarez Odilon.

Sobre Hélio do Soveral: "Hélio do Soveral Rodrigues de Oliveira Trigo, mais conhecido como Hélio do Soveral (Setúbal, Portugal, 30 de setembro de 1918—Brasília, Brasil, 21 de março de 2001) foi um prolífico radialista e escritor infanto-juvenil e pulp brasileiro, publicou dezenas de livros que se tornaram muito populares nas décadas de 1970 e 1980. Usou os pseudônimos Alexeya Slovenskaia Rubenitch, Allan Doyle, Clarence Mason, Ell Sov, Frank Rougler, Gedeão Madureira, Hélio do Soveral, Irani de Castro, John Key, K.O. Durban, Louis Brent, Luiz de Santiago, Maruí Martins, Sigmund Gunther, Stanley Goldwin, Tony Manhattan, Yago Avenir dos Santos, W. Tell".
O Judoka por Francisco Sampaio.

Sobre Francisco Sampaio: "Francisco Ferreira Sampaio iniciou carreira de desenhista ao se mudar para o Rio para trabalhar na EBAL, fazendo "O Judoka" e outros.

Após esse período na EBAL, Sampa desenhou os quadrinhos do "Jacques Douglas", para a editora Vecchi. 

Sofrendo de problemas psicológicos e financeiros, suicidou ao pular da janela de seu apartamento, no bairro de Fátima". 

Antônio Luiz Ribeiro
Sampaio também criou Isolino, uma sátira aos super-heróis, para a editora Gorrion em 1973.

A respeito de Sampaio, o cartunista Flavio Almeida deu o seguinte depoimento: "Sampaio também era ilustrador do jornal O Dia. O Chagas Freitas, influente político do velho estado do Rio de Janeiro, onde tinha sido governador algumas vezes, era dono do jornal e gostava do Sampaio. bancou uma edição de um jornal tablóide chamado O Picho, que era todo feito pelo Sampaio na linha MAD. Só durou um número. Tempos depois, O Dia foi praticamente doado pelo Chagas Freitas ao Ary Carvalho, que era dono do Ultima Hora do Rio. Chagas Freitas estava no fim dos seus dias e sabia que a família ia detonar o jornal. Seu filho mais querido, o Ivan, morrera num acidente trágico e ele contava com o seu filho pra continuar o jornal. Com o novo dono, o Sampaio foi mandado embora do jornal e aí começaram os seus problemas psicológicos e financeiros".

Sobre Juarez Odilon a Enciclopédia dos Quadrinhos (Goida/André Kleinert - L&PM - 2011) destaca: 

"Odilon, Juarez - Brasil

Capista, ilustrador e quadrinista, Juarez Odilon tem mais histórias anônimas que com a sua assinatura. Trabalhando para a Rio Gráfica Editora, em fins de 1950 e início de 1960, ele muitas vezes supriu a falta de material original de séries como "O Cavaleiro Negro" e até do "Fantasma". Em 1961, chegou a desenhar o Capitão Estrela, de curta duração, e o Capitão 7 nas revistas da editora Continental/Outubro. Para a EBAL, ele trabalhou principalmente como ilustrador e capista, mas chegou a desenhar também algumas histórias da série nacional "Judoka" (1969). Fez também algumas aventuras de O Anjo (RGE), personagem ilustrado na sua primeira fase por Flávio Colin".
O Judoka por Juarez Odilon em 1973.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Capitão Aza - Diário de Notícias - 1976


O célebre apresentador de TV Wilson Vasconcelos Vianna (1928-2003) ganhou, em 1976, uma série de aventuras em tiras, publicadas no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, com arte de Carlos Chagas e roteiros de Cláudio Almeida, parceiros de longa data.

Em tom de ficção científica e recheada de equipamentos bélicos, uma das especialidades do desenhista, contava as façanhas de Adalberto Azam, ou o Capitão Aza, um sobrevivente da 2ª Guerra Mundial com várias próteses biônicas e que agora serve ao país em casos internacionais.

Em sete de abril daquele ano o Diário de Notícias publicou: 

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"Capitão Aza - Herói brasileiro do planeta Terra

A voz e a de um ator que dispensa o microfone; a oratória é a de um advogado brilhante em plenário; o físico e a decisão são a de um atleta e de um capitão. Capitão Aza, que é Wilson Viana, e que a partir da segunda quinzena deste mês, estará diariamente nas páginas do DIÁRIO DE NOTICIAS. 

História em quadrinhos. Sem armas mortíferas. Sem tanques. História em que ele enfrenta "O Tirano de Cyclops". E ao menor perigo, corre a defender o seu "herói civil", Beto Azam.

Agora, leitor infantil, onde quer que você se encontre e em que frequência estiver você atuando, atenda ao meu comando, que é uma ordem para a alegria das crianças. Três, dois, um... câmbio!

Wilson Viana - É a história do novo herói nacional, Beto Azam, nome este em homenagem ao capitão da FAB, Adalberto Azambuja, figura exponencial dos quadros da Força Expedicionária Brasileira, morto em 1943.

Beto Azam (personagem se antecipando aos quadrinhos - Eu vou lutar contra seres de outros planetas. Nossa primeira aventura começa nos rochedas dos Abrolhos onde sabemos, através de in- vestigacões, existirem habitantes de Cyclops. Eles querem conquistar a Terra e, para isso, usam mil disfarces. Chegam mesmo a ter aparência humana, mas haveremos de descobri-los. E vencê-los. Um por um".

Como podemos perceber, a redação não tinha uma ideia exata do que ocorreria nas aventuras do Capitão Aza!

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Carlos Chagas apresentava um desenho de excepcional qualidade em sintonia com o que de mais moderno se fazia em termos de tiras naquele momento, com um traço que lembrava bastante o desenhista Al Williamson.

Em sua página nas redes sociaisChagas esclarece: 
 
"Desenhei do Capitão AZA, para o Diário de Notícias, em 1976, quando tinha 22 anos. Ao todo, desenhei 53 ou 54 tiras, antes que o jornal fechasse de repente. Nunca recebi pelo trabalho".

Sobre o personagem, a Wikipédia nos esclarece: "O Capitão AZA foi criado em setembro de 1966, durante a ditadura militar, servindo como homenagem a um falecido herói da FAB que lutou na Segunda Guerra Mundial, o capitão aviador Adalberto Azambuja, que era conhecido como AZA entre os aviadores.

O Capitão AZA, com seu uniforme aeronáutico e o capacete de piloto com o "A" com duas asas, era interpretado pelo ator e policial civil Wilson Vianna e foi criado para tentar superar o programa concorrente da Rede Globo, Capitão Furacão, tendo conseguido tal objetivo após alguns meses, liderando a audiência junto aos mais jovens". 


O Capitão Aza em 1973 no Cruzeiro Infantil no traço de Ari Moreira. Ari já havia apresentado aventuras do Capitão Aza no suplemento infantil de O Jornal em 1970.

Em 1973, o personagem Capitão Aza teve histórias em quadrinhos publicadas na revista "O Cruzeiro Infantil" da Editora O Cruzeiro.
 
O Capitão Aza em 1974 no Cruzeiro Infantil no traço de Villy.

Sobre Carlos Chagas e Cláudio Almeida, podemos ler na Enciclopédia dos Quadrinhos (Goida e André Kleinert, L&PM, 2011): 

"CHAGAS, Carlos - Brasil (1952) - Ilustrador e capista brasileiro, de trabalhos de alta qualidade, Chagas eventualmente aventura-se pelos quadrinhos. Gosta principalmente de histórias cômico-satíricas, que foram publicadas nas revistas Crazy, Pancada e Klik. As colaborações maiores de Carlos Chagas foram para a revista Mad na versão brasileira, primeiro pela Vecchi e depois pela Record, com magnífico trabalho de editoria de Ota, Otacílio D'Assunção)".

"ALMEIDA, Cláudio - Brasil (?) - Mais conhecido como roteirista e, esporadica­mente, desenhista, Cláudio Almeida dirigiu quase todo seu trabalho para a sátira e paródias. Gozou com programas de TV e novelas em revistas como Crazy (Bloch), Pancada (Abril) e Klik (Ebal), imi­tações da Mad e Sick norte-americanas. Também colaborou nas duas primeiras fases das edições brasileiras da Mad, publicadas respectivamente pela Vecchi e Record".

Cláudio criou as tiras de O Espectro para O Jornal, em 1969.



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Fêmur - Jornal do Brasil - 1979


Página dominical publicada no suplemento Quadrinhos do Jornal do Brasil a partir de 1979, Fêmur era um estereótipo de um garotinho canibal, semelhante àqueles mostrados nos antigos desenhos animados. 

Com um chapelão e um osso atravessado no nariz, tinha um humor divertido e nonsense compárável à Krazy Kat de George Herriman.


Produzido por Hector Juan Sapia (1931-2022), desenhista argentino radicado no Brasil, apresentava um desenho estilizado e sofisticado da mais alta qualidade. Fêmur teve mais de quatrocentos capítulos publicados até pelo menos 1986.


Sobre Hector Sapia, lendo o site janelapédia, ficamos sabendo: "Diretor de arte e diretor de comerciais, que não se sabe bem se é argentino, italiano ou espanhol, já que, o que fala, ninguém entende. Mas é um grande diretor. Foi diretor de criação da Esquire. Sapia também foi desenhista de quadrinhos. Em 1970, as edições 62, 63, 64 e 68 da revista italiana Linus publicaram as histórias de seu personagem "Il Conte de Piombo" (O Conde de Chumbo, em referência aos antigos clichês de chumbo usados na impressão tipográfica).

No Brasil, o Jornal do Brasil chegou a publicar em diversas edições sua série "Fêmur", um canibal que andava com um osso preso no alto da cabeça".
Cena de O Conde de Chumbo.

Sobre o personagem Il Conte de Piomboo o blog italiano "Che cosa sono le nuvole" nos diz: 
"Metaquadrinhos e autoreferência"
O Conde de Chumbo (Itália 1970, em Linus, © Sapia, surreal)
Hector Juan Sapia
Quadrinhos surreais em que o Conde de Chumbo do título (quase nunca desenhado mas principalmente fotocopiado de uma imagem pré-existente) observa ou participa com relutância de eventos que incorporam os estereótipos da ficção popular.

Capa da revista Alter Linus em que o Conde aparece em destaque.

O episódio publicado em Alter Alter 9 de 1978 é provavelmente o mais metanarrativo, com um uso original do contorno dos quadros como elemento de cena e frequentes ultrapassagens da quarta parede".