terça-feira, 5 de setembro de 2017

Capitão Tarumã - Última Hora - 1964


Capitão Tarumã é um heroico caçador criado por Manoel Victor Filho. Suas tiras foram distribuídas pela Barbosa Lessa Produções e publicadas no jornal Última Hora em 1964 (e não 1963 como é comumente indicado). 

Em sua primeira aventura, Tarumã deve viajar à floresta amazônica para salvar seu amigo, o naturalista Bergman, com a ajuda de Vivian, a filha do mesmo e de seu fiel mordomo Jacá.


Sobre Tarumã, Ionaldo Cavalcanti escreveu: "Em 1963 (1964), Manovic (Manuel Victor Filho), hoje diretor da Escola Panamericana de Arte, criava esta série de aventuras para a Barbosa Lessa Produções. Capitão Tarumã era publicado em tiras diárias do jornal Última Hora em 1963".

O Mundo dos Quadrinhos - Edições Símbolo - 1977


As tiras de tarumã foram agrupadas e publicadas em forma de páginas semanais no Suplemento Juvenil do Correio da manhã (RJ) em 1964.

Sobre Manoel Victor Filho, Goida e André Kleinert escreveram: "MANOEL VICTOR FILHOBrasil (1927-1995) - Pintor, ilustrador, capista e publicitário, Manoel Victor Filho (que às vezes assina Manovic) deu também a sua contribuição aos quadrinhos brasileiros. Trabalhando para a EBAL na década de 50, adaptou para a Edição Maravilhosa um romance de aventuras do pai, Os dramas da floresta virgem. 

Admo, revista Aventura e Ficção.

Mais tarde realizou, em tiras, para Barbosa Lessa Produções, Capitão Tarumã (1963). Em 1989, depois de muitos anos de ausência, ele reapareceu na revista Aventura e Ficção (Abril) com a bela história de ficção futurística, Admo, de argumento próprio.

Enciclopédia dos Quadrinhos – L&PM Editores - 2001

A técnica do desenho - Jayme Cortez - Editora Bentivegna - meados dos anos 1960.

Sobre Barbosa Lessa: "Sempre foi um sonho de quadrinistas brasileiros ver seu trabalho distribuído nos moldes das grandes agências distribuidoras americanas, os syndicates, como a King Features, a United Features ou o Chicago Tribune. No início dos anos 1960, coincidentemente, surgiram no Brasil duas tentativas de se fazer isso, a Maurício de Sousa Produções, que além do trabalho do próprio Maurício distribuía também O Gaúcho, de Júlio Shimamoto e Vizunga, de Flávio Colin. A Barbosa Lessa Produções Artísticas, distribuindo Gatinha Paulista, de José Delbó, Capitão Tarumã, de Manoel Victor Filho, Jacaré Mendonça e Amores Históricos de Rodolfo Zalla e ainda O Bandeirante de Luiz Saidenberg, sua última tentativa de permanecer nos quadrinhos.

Luiz Carlos Barbosa Lessa foi um importante produtor cultural muito ligado às tradições gaúchas. Folclorista, letrista, poeta, escritor, produtor e apresentador de TV, publicitário e relações públicas, foi também Secretário de Cultura de Porto Alegre e tem diversos livros publicados que versam sobre assuntos variados, desde a história do chimarrão a casos de marketing.

Ele escreveu todas as histórias de sua distribuidora, que durou de 1963 a 1964, sendo publicadas em jornais como Última Hora e O Diário Popular".

Revista Memo nº 3, setembro de 2013.

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A matéria e a ilustração a seguir foram publicadas no livro “Comunicação pela Arte -8ª Série” de Ornaldo Fleitas - FTD - 1978

Manoel Victor Filho


Atualmente, diretor e professor da Escola Panamericana de Arte, o centro mais dinâmico para quem quer estudar ilustração e outras áreas das artes. É conhecido como ilustrador de HQ. 

- Manuel Victor, como se forma um desenhista?

Através de um método pedagógico adequado, onde a condição primordial é ensinar a ver, pensar e desenhar.

- Precisa ter vocação ou a gente pode se tornar um bom desenhista apenas com o esforço pessoal e uma boa orientação?

Toda a pessoa que segue a orientação pedagógica de nossa escola, tem condições naturais para aprender a desenhar.

- Com a sua experiência no campo do ensino do desenho, acha que há pessoas sem nenhuma inclinação para o desenho?

Há pessoas que desconhecem o seu próprio potencial; cabe à Escola fazer ver
este caminho, orientando-as, preparandoas, incentivando-as para que surja sua verdadeira inclinação artística.

- Na Panamericana de Arte, já se formaram desenhistas que no começo pareciam não ter nenhuma inclinação?

Não só se formaram, como muitos estão colocados profissionalmente.

- Num curso, durante as férias, acha que dá para ver se a gente tem ou não tem inclinação para a ilustração?

O período para definir na orientação vocacional depende de indivíduo para
indivíduo.

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Manuel Vítor Filho

Manoel Victor de Azevedo Filho, (São Paulo, 9 de agosto de 1927 — São Paulo, 26 de março de 1995) foi um pintor, desenhista, ilustrador, cartunista e professor brasileiro filho de Manoel Victor de Azevedo e Emma Crivelente.

Biografia

Manoel Víctor, aos quinze anos, já havia decidido que sua vida profissional estaria ligada às artes. Por isso, ao invés de procurar um curso universitário como qualquer jovem de classe média, foi estudar nos Estados Unidos,já que no Brasil não existiam cursos para tal.

Lá chegando, matriculou-se na antiga e tradicional escola Art Students League of New York, a mesma onde anos antes fora frequentada por Anita Malfatti.

Entre vários professores de renome que ali lecionavam, escolheu a classe de Frank Riley, um dos mais afamados mestres da ilustração americana. Foi o primeiro ilustrador brasileiro a usar o óleo nos trabalhos de ilustração.
Também foi pioneiro em levar desenhos para a televisão esboçando-os ao vivo. Isto ocorreu em 1953 na TV Record de São Paulo, então uma emissora recém fundada por Paulo Machado de Carvalho, no programa infantil produzido por Eduardo Moreira. Foi grande o seu sucesso.

Foi ilustrador e Diretor de Arte na agência de publicidade CIN e sócio fundador da Escola Panamericana de Arte - EPA
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_V%C3%ADtor_Filho


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A matéria abaixo foi publicada no jornal Correio Paulistano em 27 de dezembro de 1953.

MARAVILHAS DE UM LÁPIS NO MILAGRE DO VÍDEO

Macacos, bruxas e fadas no mais curioso programa infantil da televisão brasileira - A ilustração comercial entre nós - Manuel Vitor de Azevedo Filho, mestre de 25 anos.

Texto de FERNANDO CARDOSO DE MENEZES

Muito embora não se possa afirmar ainda que a televisão no Brasil tenha vencido plenamente, podemos reconhecer no entanto que em três anos de vida, registra ela um notável avanço técnico e artístico, oferecendo por vezes programas de alto nível estético, surpreendendo pelo arrojo da idéia, pela originalidade de sua apresentação e pelo expressivo conteúdo que encerram. São realizações honestas, que vencendo a fase primeira das tentativas e experiências, ficam no panorama artístico de nossa terra, ensinando lições de bom gosto, exemplos de capacidade criadora, e permanecem como ponto de referência para os críticos e roteiro de bons programas para o público que vê e aprecia televisão.

Muita coisa que a TV apresenta hoje como novidade, é o resultado de velhas idéias que o rádio já explorou e parou no ponto máximo de seu aproveitamento. Desse modo a TV se apresenta como a evolução lógica do rádio, que fez tudo o que se podia imaginar em materia de criação artística sonora. A TV como o rádio animado completa de forma admirável aquele soberbo espírito de profundidade que elevou aos Himalaias da arte a força fascinante e sugestiva da radiofonia.

Estas considerações foram inspiradas pelo programa que a TV - Record, canal 7, apresenta às segundas e quintas-feiras, no horário de 19 às 19:20h, considerado um dos mais perfeitos programas infantis da televisão brasileira, pelo ineditismo de sua concepção e pelo alto valor artístico que o consagra, como uma das belas e úteis realizações em favor do desenvolvimento mental da criança brasileira. Porque na verdade esse novo programa da TV - Record reúne todas as qualidades para se constituir num bom educativo infantil, considerados seus aspectos pedagógico, moral e artístico.

HISTÓRIA A 4 MÃOS

É uma produção de Eduardo Moreira que apresenta o jovem artista Manuel Vitor de Azevedo Filho, uma das mais vigorosas vocações da moderna geração de desenhistas brasileiros, movimentando com a firmeza do seu traço, as mais interessantes lendas da nossa literatura infantil. Reunidas diante da câmaras as crianças vão ouvindo as histórias do narrador, enquanto Manuel Vitor vai compondo “na hora” as flgurinhas mágicas que fazem o encanto da petizada.

Temos visto desenhistas de valor (e hoje existem muitos no Brasil) projetados pela imprensa e por concursos escolares e comerciais, mas o caso de Manuel Vitor merece uma referência especial pelo fato de ser o primeiro artista do gênero a criar na televisão um programa dessa natureza, cuja dificuldade não está logicamente na criação das figuras, mas na raplidez e perfeição com que são executadas, naquele turbllhão de luzes e vozes, naquela maravilhosa alacridade que só o mundo infantil possue, buliçoso e puro como a própria alma das crianças.

Enquanto acompanhávamos as sequencias do programa num canto do estúdio, o telefone trazia de todos os cantos da cidade os mais engraçados pedidos, que M. Vítor Filho vai atendendo com aquela admirável compreensão da alma infantil caraterística báslca de todos aqueles que se dedicam a educação da infância, sejam quais forem os veículos colocados ao seu alcance. Depois de feito o macaco, corre um garotinho do fundo do estúdio e pede para colocar um chapéuzinho; logo mais vem a menina de tranças e exige óculos de tartaruga, depois o macaquiuho deve andar de bicicleta e assim por diante... Imaginem os leitores o malabarismo que deve fazer o artista para não desapontar esses fãs de verdade, os mais adoráveis tele-espectadores do mundo...

HISTÓRIA DE UMA VOCAÇÃO

Logo depois que o locutor anunciou o término do programa, com oooooooh! geral da petizada, conversamos com Manuel Vitor de Azevedo Filho, que lembrando pedaços de sua carreira, e abordando de um modo geral as várias modalidades do desenho entre nós, assim se manifestou:

- “No Brasil ainda não temos escolas especializadas de ilustração comercial, como existem nos Estados Unidos, por exemplo. Penso que se deveria fazer alguma coisa por essa arte, já que em nosso meio os ilustradores caminham quase que a parte dos demais artistas. Por essa razão justamente não desfruta a classe a consideração devida ao seu valor, desaparecendo muitas vezes no turbilhão dessa injustiça, trabalhos que muito serviriam para elevar o nome da arte brasileira, o valor dos nossos profissionais e o padrão das nossas criações. Já conseguimos a custa de ingentes esforços uma posição de respeito no cenário artístico internacional, com as mais expressivas mostras de uma capacidade que se não atingiu ainda o nível de perfeição desejada, em ponto algum desmerece as nossas realizações. Assim sou entusiasta de um movimento no sentido de se criar um melhor entendimento, um clima de maior boa vontade para melhor se apreciar e valorizar os profissionais dessa especialidade.

“Gostaria de lembrar - prossegue Manuel Vitor Filho - a experiência que tive nos Estados Unidos, como aluno da “Art Studients League”, onde pelo espaço de dois anos mantive contato com os maiores nomes da ilustração comercial de nosso tempo, como Norman Rockwell, da Revista “Post”. Considerado um dos maiores do país, tendo seus trabalhos no Museu Americano, autor de obras de extraordinário mérito, como a campanha do “Freedom of Speak”, desenvolvida durante a última guerra. Além disso é tal o número de profissionais e tão profundo o conceito em que são tidos, que existem vários sindicatos para defesa dos seus interesses e propugnação dos seus ideais. Entre nós grupos esparsos realizam tentativas para a criação desse espírito, como a Associação Paulista de Desenho, cujo trabalho em favor desse objetivo deve merecer apoio decidido de todos nós.

Alex Raymond, autor do Flash Gordon, Milton Caniff, Al Capp e muitos outros, além do renome internacional que grangearam com suas geniais produções, tornaram-se também milionários, o que reflete ainda uma vez a situação desses artistas do lápis no fabuloso país dos dólares”.

- Voltando ao programa, desejamos consignar a nossa satisfação pela linha de programação da TV - Record, canal 7, pelo prestígio que empresta ao programa em apreço, considerando a importância da televisão para o ensino e formação moral das crianças, atraídas hoje pelas mais deleterias influências, pelos mais corrosivos dissolventes que a ignorância de uns e a má fé de outros, apresentam todos os dias, como “agradáveis passatempos infantis”.
Manuel Vitor de Azevedo Filho, pioneiro do desenho infantil na televisão brasileira, já desenhou para a N.B.C.. de Nova York, trabalhos apresentados em forma de “slides’” ou seja, figuras fixas, mas de grande efeito visual e repercussão artística. Na Rádio Tupi de São Paulo reeditou os êxitos obtidos nos Estados Unidos, com a sua admirável e curiosa técnica, ilustrando na mesma emissora as aulas de inglês de Mr. Pip, outra realização cultural que muito bem define a honestidade de uma vocação e o roteiro de trabalho de um talentoso artista do desenho.

Agradecimentos ao amigo Francisco Dourado pela dica da matéria acima.

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