segunda-feira, 7 de maio de 2018

Florisvaldo, o vagabundo - Última Hora - 1965


Em seu livro O Mundo dos Quadrinhos de 1977, editora Símbolo, Ionaldo Cavalcanti escreveu: “Criação de Waldyr Igayara de Souza de 1965, esta série humorística era publicada em tiras diárias pelo jornal Última Hora, de São Paulo, entre os anos de 1965 e 1966.

Dentro daquele espírito engraçado que o caracterizava, o vagabundo Florisvaldo junto com outros elementos de sua condição social, preferia dormir na companhia de um cão rabujento num pé de escada, onde a amizade é sincera e sem maldade".
Anúncio promovendo a estreia da tira. À direita, Igayara apresenta seu novo personagem.

Florisvaldo estreou nas páginas do jornal Última Hora em agosto de 1965. Por ocasião do seu lançamento foi publicado em 30/07 o seguinte texto: "José Alberto Florisvaldo da Cunha Albuquerque e Nascimento Moreira Ferreira da Silva, talvez seja o seu nome. Mantém segredo e, por isso, todos o chamam (como o resto o chamará, daqui por diante), de Florisvaldo, simplesmente. Vai estar por aqui, pelas colunas do ÚLTIMA HORA, com a constância dos puros: todos os dias, a partir de amanhã. Foi criado pra isso. Tem um objetivo: viver e deixar viver. Não quer pisar no calo de ninguém - e faz uma força danada, pra que ninguém lhe pise no pé, também. Tem uma alma viva de flores e vivaldice, vive e sente os problemas da época, apesar de não ter muita consciência disso. Vai levando - eis a verdade.


O criador de Florisvaldo é Waldir Igayara, artista de alma leve, moça e brasileira, que desde os 17 anos de idade está apaixonado pela visão do papel branco, que lhe dá oportunidade de corporificar ideias. Em 1961, quando começou o movimento brasileiro de histórias em quadrinhos, lançou vários personagens: Peninha, o menino-índio, era um deles. Depois, passou a se dedicar à ilustração de histórias infantis e, nas horas vagas, para se deleitar foi melhorando uma inspiração velha. E de melhora em melhora, um dia espiou: - Inventei o Florisvaldo - pensou. 

E era verdade. A sua arte, o leitor vai ver como é. E, através dela, vai ver como é o Florisvaldo. O leitor não se impaciente: Florisvaldo vem aí, com amor e ironia. A partir de amanhã, na página 3, do 2º caderno". 

Em depoimento a Fernando Ventura, Igayara declarou: “O Florisvaldo nasceu com as exceções que eu não poderia usar em Disney, um vagabundo com toda liberdade, que tomava pinga, dormia no banco de jardim, era preso, malandro por natureza; e por dois anos fiz mais de quinhentas piadas desse vagabundo em tirinhas fechadas, com um, dois, três quadros pra contar a minha piada. 

Foi um sucesso, embora não tivesse dado um resultado financeiro muito grande”.

Florisvaldo foi reformulado em 1979 para participar do Projeto Tiras, da editora Abril. Para conhecer essa fase clique aqui.

Sobre o autor podemos ler na Wikipedia: ""Waldyr Igayara de Souza, ilustrador e cartunista brasileiro. Foi juntamente com Jorge Kato, um dos primeiros desenhistas brasileiros a criar e ilustrar histórias Disney para o estúdio de histórias em quadrinhos criado pela editora Abril no final dos anos 60.

Igayara foi editor chefe na editora Abril por 25 anos, desenhando personagens como Zé Carioca, Peninha e seu sobrinho Biquinho, que ele próprio criou, e trabalhando ao lado de artistas como Ivan Saidenberg, Renato Canini, Oscar Kern entre outros. 

Também criou, em 1980, o personagem Paulistinha e sua turma, para um álbum de figurinhas promocional da Secretaria da Fazenda Estadual de São Paulo. 

Mais tarde iniciou sua própria escola de arte e também ilustrou livros infantis".

Ainda segundo Ventura "a convite de um parente, Igayara se afasta da Abril temporariamente para trabalhar na Celmar, empresa do ramo de móveis, quando também publica no jornal Última Hora (São Paulo) as tiras de seu personagem Florisvaldo (1965-1966), o vagabundo". 

Ventura continua: "Ainda em 1961, o paulistano Waldyr Igayara de Souza (1934-2002) ingressa na editora (Abril) e se torna assistente de Kato na produção Disney. O desenhista acumulava experiência como cartazista e funcionário público, tendo trabalhado na Secretaria de Segurança Pública no setor de mapas e posteriormente como investigador. 

Igayara em O Governador - 1953

A partir de 1953, publicou cartuns no tabloide O Governador e na revista Seleções Humorísticas, editadas por Laio Martins Filho, que também publicava seu parceiro Lyrio Aragão Dias (1933-1968). Entre 1957 e 1960, estudou desenho e aquarela com o professor João Rossi (1923-2000), na Associação Paulista de Belas Artes. 

Sob orientação de Jaime (Jayme) Cortez Martins (1926-1997) e Messias de Mello (1904-1994), desenhou, entre 1958 e 1960, HQs para os títulos infantis da Editora Outubropara os quais criou personagens como o Índio Peninha, Teodoro & Orelhinhas e Zeca & Peteca
Igayara em Histórias do Além - editora Outubro - 1965

Na época, o autor dividia com os amigos Lyrio, Júlio Shimamoto (Boborema, 1939) e Luiz Simões Saindenberg (Piracicaba, 1940) uma sala no edifício Martinelli, onde produziam o material para a editora. Igayara discorre sobre o período: 

“Eu cheguei à Abril por absoluta necessidade. Eu trabalhava para Jayme Cortez em revistas brasileiras e, naqueles tempos, terror e infantis tinham grande sucesso nessas editoras ditas menores. Com Cortez eu tive a oportunidade de, com mais cinquenta outros grandes cobras do futuro, fazer HQs com personagens próprios – e a coisa ia bem até que me casei. Saí de lua de mel, em Poços de Calda, como todo desenhista pobre, e na volta todas as revistas estavam fechadas.

Igayara em Historinhas Semanais - editora Abril - 1964

Eu tinha outro emprego que me garantia o aluguel do apartamento, mas eu não tinha dinheiro para fazer coisa nenhuma. Eu tinha de fazer um monte de visitas aos amigos, aos parentes e ao meu próprio sogro para poder comer. 

Nessas alturas eu tinha contato com Cláudio de Sousa, que, embora fosse diretor da Abril era também um colaborador de Cortez. Eu fui falar com ele, que então me encaminhou para o setor de revistas em quadrinhos, que era comandado por uma mulher chamada Kira Siliverstoff. Lá trabalhava o Jorge Kato, de quem fui ser assistente. Para entrar eu fiz um teste, desenhando uma página de Vovó Donalda e Gansolino; escolheram personagens estranhos para mim, poderiam ter dado o Zé Carioca logo de cara, teria sido mais fácil. Com esta página eu entrei na Abril (...) e comecei a desenhar histórias do Zé Carioca junto com o Jorge Kato – a primeira das quais foi O Pandeiro Mágico, que foi o próprio Cláudio de Sousa quem escreveu”.


No blog sobre o autor, encontramos a seguinte biografia:

  • 1957-1960 - Aluno do Prof. João Rossi na Associação Paulista de Belas Artes (desenho e aquarela). 
  • 1958-1960 - Colaborador de Jayme Cortez na criação de quadrinhos nacionais. 
  • 1961-1965 - Desenhista Disney dos estúdios Disney na editora Abril. 
  • 1964-1965 - Criador do personagem Florisvaldo, o vagabundo, publicado no Jornal Última Hora. 500 tiras (mais exatamente 418) publicadas, posteriormente republicadas (na verdade reelaboradas) pela Abril em convênio com diversos jornais (Projeto Tiras - 1979). (As tiras originais de Florisvaldo foram republicadas por breve período no jornal A Tribuna, de Santos, em 1968). 
  • 1969-1989 - Diretor Editorial da Abril Jovem - Publicações Infanto-juvenis (revistas em quadrinhos, revistas de atividades e livros). 
  • 1969-1989 - Diretor do Centro de Criação de Quadrinhos da Abril. 
  • 1969 - Criação da Revista Recreio. 
  • 1978-1988 - Visitas frequentes aos estúdios Disney, Hanna & Barbera, Corrieri dei Piccoli, Snoopy Place, entre outras editoras e produtoras. 
  • 1982 - Criador da Revista Alegria e de seu personagem principal, o palhaço Alegria. 
  • 1990-2002 - Diretor e professor do Estúdio e Escola de Arte Igayara, em São Paulo. 
  • 1991 - Consultor Editorial da Ayrton Senna Promoções, para a Revista do Senninha. 
  • 1992 - Prêmio Ângelo Agostini de Mestre dos Quadrinhos pela AQC.


6 comentários:

Francisco Lopes disse...

Igayara foi um grande ilustrador e tentou deixar suas experiencias na história em quadrinho criando um curso de desenho por correspondência e também com aulas em classe.Precisaria ser mais valorizado pelo que fez para as HQ.

Luigi Rocco disse...

Tem toda a razão, Francisco! Obrigado pelo comentário. abs

Dyel disse...

O seu blog está cada vez mais FASCINANTE!! um verdadeiro GUIA DE REFERÊNCIA para aqueles que buscam pesquisar ou conhecer mais sobre autores e personagens da HQ brasileira que se encontram praticamente esquecidos. Gostaria de saber mais sobre dois artistas que se encontram praticamente esquecidos: PAZZELI,criador da tira PATROPI,publicada nos anos 1980,no finado jornal Última Hora; e MOLLICA,que nos anos 1970,participou do movimento das HQs alternativas no Brasil,através da revista O BICHO,com seu personagem,Felisberto - o Centauro,e nos anos 1980 tornou-se ilustrador do jornal O Globo. Desde já,muito obrigado!

edson tayrone disse...

nao conhecia esse blo. ótimo bog.

Luigi Rocco disse...

Olá, Dyel, obrigado pela visita.

Sobre Felisberto, o centauro, posso adiantar, pois ouvi do próprio Mollica, que a história havia sido realizada para ser publicada na revista Crás, da editora Abril. Com a mudança da linha editorial da Crás, que a partir do terceiro número mudou de formato e passou a privilegiar as histórias com temática mais infanto-juvenil, a publicação do Felisberto foi suspensa e só posteriormente saiu em O Bicho. abs

super-herós disse...

Muito bom